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Projeto Escolas em Rede

No documento betaniaribeirotavares (páginas 33-37)

1.2 As políticas, programas e experiências com o uso de tecnologias em Minas

1.2.1 Projeto Escolas em Rede

O Projeto Escolas em Rede surgiu em 2004 como forma de promover a cultura do trabalho em rede nas escolas estaduais e na incorporação das tecnologias no ambiente escolar. Através deste projeto, foram destinados computadores para todas as escolas do estado. O sistema operacional embarcado nos equipamentos era o Metasys Corporate (sistema livre).

Ao mesmo tempo, a SEEMG realizou parceria com o SENAC para promover os Cursos de Formação Inicial para o Trabalho (FIT), investindo na capacitação de

professores, que puderam se inscrever em cursos com duração média de uma a três semanas. Os cursos disponibilizados eram realizados nos diversos polos do SENAC e eram oferecidos nos turnos matutino e vespertino, conforme a disponibilidade da região. Dentre os cursos ofertados, destacavam-se: Multimídia na Educação – Impress, Computação Gráfica – Blender, Ilustração Digital – Gimp, OpenOffice Calc, OpenOffice Writer, Introdução a Banco de Dados – MySQL, Construção de Wesites – HTML e JavaScript, Informática Básica, Projeto Auxiliado por Computador – QCAD, Sistema Operacional Linux, Programação em Java, Editoração Eletrônica, Draw e Scribus.

A SEEMG abriu inscrições para que todas as escolas oferecessem os cursos disponíveis para os professores, mediante a necessidade de capacitá-los para o uso adequado das tecnologias. Com relação à esta formação,

[...] espera-se que os professores sejam formados de tal modo que possam contemplar a formação para a cidadania, como sujeito histórico e transformador da sociedade, e contribuir para a produção do conhecimento compatível com o desenvolvimento tecnológico contemporâneo. Desse modo, os professores poderão agir e interagir no mundo com critério, com ética e com visão transformadora (ALMEIDA et. al, 2009, p. 95).

A capacitação dos professores foi pensada como uma forma de incluí-los em um ambiente tecnológico, onde pudessem não somente aprender a utilizar os computadores com desenvoltura, mas ter acesso a todas as possibilidades pedagógicas que surgiriam a partir da utilização dessas tecnologias que os auxiliassem a potencializar os processos de ensino e aprendizagem, em sintonia com os modos de aprender das novas gerações. A partir destes novos processos pedagógicos, alunos e professores poderiam melhor interagir para construir novos conhecimentos, novas formas de pensar e interpretar o mundo.

(...) os computadores estão alterando a paisagem do nosso ambiente social e intelectual e, sem dúvida, vieram para ficar. Eles têm produzido mudanças nas formas de aprender e, portanto, no ensino. Não se trata apenas da ideia de estender a capacidade humana construindo ferramentas que farão parte do trabalho outrora feito por humanos, nem isso é exclusivo da era da computação. O que de fato acontece é que o resultado desse desenvolvimento é, não só a ampliação do binômio homem/máquina, mas também mudanças na natureza das habilidades intelectuais humanas exigidas para atuar no mundo (ALMEIDA et. al., 2009, p. 98).

Os computadores não surgiram apenas como uma “febre do momento”, que estaria fadada ao esquecimento. Esses equipamentos alteraram as formas de se pensar o mundo, pois promoveram alterações em todos os setores da vida moderna. A partir do surgimento dos computadores, o aprimoramento da comunicação e das tecnologias, aqui entendidas como equipamentos com processamento mais rápido e em menor tempo, softwares computacionais, sites e aplicativos, transformaram as formas de agir do homem frente ao seu ambiente, alteraram os processos industriais, as formas de produção agrícola, industrial e artesanal. A velocidade da informação, da transmissão de conteúdos sofreu avanços significativos, novas ferramentas surgiram e outras foram abolidas, novos modos de produção, de ensino, de utilização foram criados para mediar o trabalho do homem e sua interação com o mundo.O Projeto Escolas em Rede possuía metas audaciosas:

- Adquirir equipamentos de informática para todas as escolas estaduais;

- Conectar as escolas à internet, facilitando a comunicação, o acesso e a publicação de informações;

- Instalar o Centro de Referência Virtual do Professor/CRV, portal educacional com recursos destinados a apoiar o professor na organização, planejamento, execução e avaliação das atividades de ensino indispensáveis ao ensino de qualidade;

- Realizar cursos de capacitação na área de informática para gestores, inspetores, professores e servidores das escolas estaduais;

- Implantar Sistema Informatizado de Administração Escolar (SIMADE);

- Implantar Sistema Informatizado de Gestão de Projetos Educacionais (SIGESPE);

- Desenvolver projetos didáticos, via web, com finalidades de explorar as possibilidades pedagógicas abertas pelas novas tecnologias;

- Atualizar e adequar os equipamentos de informática existentes e instalar novos laboratórios nas escolas estaduais que ainda não os possuem (BRASIL, SEEMG).

No entanto, e apesar do interesse de muitos professores que realizaram a inscrição e participaram efetivamente dos cursos realizados no SENAC, muitos problemas foram identificados. Os cursos não eram oferecidos obedecendo-se uma gradação. Por exemplo, primeiramente, oferecia-se o curso de Informática Básica, depois os cursos de Open Office Writer, Calc e Impress. Só então, se partiria para os cursos de Construção de Website, Java e Banco de Dados. Entretanto, tal procedimento não foi feito porque os cursos tinham característica estritamente

instrumental, já que os professores que participavam desses cursos teriam que ministrar o conteúdo dos cursos aos alunos nos mesmos moldes que receberam.

Segundo Silva e Garíglio (2010), o caráter instrumental dos cursos FIT ficou evidente com a parceria entre SEEMG e SENAC-MG:

Ao terceirizar a formação continuada dos docentes via contrato com o SENAC-MG, o que a SEE-MG faz é reproduzir, quase que na totalidade, um modelo de qualificação ou capacitação profissional já constituído por essa entidade, e que privilegia a instrumentação de habilidades de informática básica (SILVA; GARÍGLIO, 2010, p. 489).

Professores que não possuíam o mínimo de conhecimento sobre tecnologias, informática ou mesmo a simples digitação, foram indicados para participar de cursos que demandavam um conhecimento elevado. O resultado foi que muitos professores receberam o certificado de participação no curso, mas não possuíam a mínima condição de repassar o conteúdo para seus colegas na escola e para os alunos.

Segundo Gonzaga e Santos (2010), os professores que fizeram a capacitação oferecida pelo SENAC em parceria com o governo do Estado de Minas Gerais foram unânimes em relatar, quando consultados, que a capacitação de que fizeram parte não foi satisfatória, uma vez que a duração do curso não foi suficiente, a matéria aplicada durante a capacitação não os preparou de forma eficaz para a implantação do projeto. Além disso, segundo os professores, eles não foram avaliados ao final do curso para saberem se tinham as condições adequadas para levar os conhecimentos trabalhados para suas experiências em sala de aula.

Outro dificultador foi o sistema operacional utilizado nas capacitações (Metasys Corporate). Os professores estavam habituados a utilizarem o sistema Windows e tiveram muita dificuldade em utilizar os computadores que chegaram à escola com esse sistema operacional. Isso contribuiu também para que os computadores que foram destinados às escolas fossem deixados de lado. Segundo Pinto (2012), o Metasys permite uma utilização relativamente simples pelo usuário até certo ponto. Quando é necessária a manutenção do equipamento, as dificuldades começam a surgir. O sistema também não permite a instalação de programas, o que compromete sua utilização. Diante das restrições impostas pelo sistema, de manuseio um tanto quanto difícil, somado ao fato de que, quando há necessidade de manutenção, o usuário precisa ter um conhecimento avançado o Metasys, fizeram com que os computadores com esse sistema ficassem parados

nas escolas, sem utilização. Em se tratando de professores, que não possuem um conhecimento avançado sobre este sistema, esse tipo de restrição se transformou em uma resistência na utilização do Metasys.

Mas, dentre as metas alcançadas pelo programa, estão a destinação de computadores para todas as escolas do estado (a quantidade de equipamentos destinados era proporcional ao número de alunos matriculados na escola), a criação do Centro de Referência Virtual – CRV (Portal com conteúdo educacional de apoio ao professor), o oferecimento de cursos de capacitação, a implantação do SIMADE e SIGESPE, e a instalação de novos laboratórios.

O Projeto Escolas em Rede foi abandonado em 2010 e os computadores do projeto foram, em sua quase totalidade, leiloados como bens inservíveis, já que a grande maioria não possuía HD interno, funcionando dependente de um servidor.

Com a extinção do Projeto Escolas em Redes, o PROINFO passou a fornecer equipamentos para as escolas de Minas Gerais, numa parceria entre governo federal e governo estadual.

No documento betaniaribeirotavares (páginas 33-37)