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Projeto I – Proteção solar e picadas de insetos em crianças

1.1. Proteção solar

1.1.1. Radiação solar e índice ultravioleta

A radiação solar influência significativamente o ambiente, tratando-se de um importante fator natural que contribui para o clima na Terra [34]. A emissão de radiação a partir do sol incluí luz visível, calor e radiação UV. Esta última divide-se em UVA (315-400nm), UVB (280-315 nm) e UVC (100-280 nm). A parte ultravioleta do espectro solar (UV) tem um papel determinante em muitos dos processos que ocorrem na biosfera. Contudo, se a quantidade de radiação UV exceder os limites de defesa que os organismos têm, e que são inerentes a cada espécie, pode causar danos muito graves.

Á medida que a radiação passa pela atmosfera ela vai sendo absorvida pela camada de ozono, pelo vapor de água, pelo oxigénio e pelo dióxido de carbono. Aproximadamente 90% da radiação UVC é absorvida ao passar pela atmosfera, a radiação que chega à superfície da terra é constituída, maioritariamente, por raios UVA, uma vez que é a componente menos absorvida, e por uma pequena parte da radiação UVB [34,35]. A radiação UVA e UVB contribuem para o envelhecimento da pele, danos na visão (incluindo cataratas) e para o desenvolvimento de cancro da pele. Além disso, esta radiação reduz a capacidade do sistema imune para combater estas e outras doenças [36]. Apesar de a radiação UVB ser mais intensa que a UVA, esta última é 30 a 50 vezes mais prevalente e está presente ao longo do dia e do ano. Os estudos indicam que a radiação UVA causa danos nos queratinócitos que estão presentes na camada basal da epiderme, o que pode contribuir para o desenvolvimento de cancro da pele. Pelo contrário, a radiação UVB tem ação nas camadas mais superficiais da epiderme e a sua intensidade varia ao longo do dia, do ano e da localização [36].

De forma a fazer chegar ao público em geral, de uma forma simplificada, a informação sobre a radiação UV e sobre os riscos associados à sua exposição, definiu-se um parâmetro indicador da exposição a esta radiação, o Índice Ultravioleta (IUV). O IUV consiste na medida dos níveis de radiação UV que contribui para a formação das queimaduras. A formação da

Mariana Ferreira Fonseca 23 queimadura está ainda dependente do tipo de pele e do tempo máximo de exposição com a pele desprotegida [34].

Tabela 3 – Índice Ultravioleta

1.1.2. Danos da radiação UV na pele e fotótipos de pele

A pele tem como principal função manter a homeostasia e fornecer uma barreira às agressões externas. Este mecanismo pode, por vezes, atingir o seu limite de ação, quando a exposição solar é constante ou excessiva, resultando em danos irreversíveis ao nível da estrutura da pele, inflamação crónica e, nas situações mais graves, a carcinogénese [37].

A exposição solar está associada a danos na pele e ao envelhecimento precoce da pele. Estudos indicam que o efeito da exposição solar na pele é maior nas crianças do que nos adultos. Uma vez que as crianças têm uma pele mais sensível ao sol, devido à menor concentração de melanina e à menor espessura do estrato córneo, e por isso têm maior risco de sofrer danos. Um estudo mostrou ainda que a exposição solar excessiva nos primeiros 15 anos de vida é um fator de risco determinante para o desenvolvimento de melanoma [38]. É, por isso, importante implementar desde cedo hábitos corretos de proteção solar, o que passa por informar e educar não só os pais, mas também as próprias crianças, de forma a prevenir o desenvolvimento de cancro de pele no futuro. Nem todas as peles reagem da mesma forma à exposição solar. Os danos e a sua intensidade dependem do tipo de pele. Pele escura tem um conteúdo maior de melanina e por isso está mais protegida [39]. A estes diferentes tipos de pele chamamos fotótipos e estão caracterizados na Tabela 4 [34].

Tabela 4 – Descrição dos fotótipos de pele [34].

Bronzeia Queima Cabelo Cor Olhos

I Nunca Queima Ruivo Azul

II Ás vezes Ás vezes Loiro Azul/Verde

III Sempre Raramente Castanho Cinza/Castanho

IV Sempre Raramente Preto Castanho

Índice UV < 2 Baixo 3-5 Moderado 6-7 Alto 8-9 Muito Alto >11 Extremo

Mariana Ferreira Fonseca 24 1.1.3. Fotoenvelhecimento

O fotoenvelhecimento consiste na acumulação de alterações na pele ao longo do tempo, que são induzidas pela exposição à radiação UV. Este processo depende do tipo de pele, da localização geográfica, da extensão da exposição solar e da aplicação ou não de medidas fotoprotetoras. Pode-se manifestar através de rugas, perda da elasticidade cutânea e por alterações na pigmentação e na textura da pele. Apesar de tanto a radiação UVA como a UVB contribuírem para o fotoenvelhecimento, a UVA tem maior impacto, uma vez que, além de penetrar mais profundamente na derme, atinge mais abundantemente a superfície terrestre (10 a 30x mais). A radiação UVB é absorvida na epiderme pelo DNA celular, sendo responsável por queimaduras solares. Já a UVA tem ação na matriz extracelular da derme, levando à produção de espécies reativas de oxigénio (ROS) o que conduz a danos no DNA, lípidos e proteínas, como o colagénio [39].

1.1.4. Radiação UV e risco de cancro

Estudos apontam para que 90% dos cancros de pele não melanoma e cerca de 86% dos melanomas, estejam associados à exposição à radiação UV a partir do sol [40].

A radiação UV é considerada, pela ONS, um carcinogéneo humano, uma vez que tem a capacidade de danificar o DNA celular da pele produzindo mutações genéticas que conduzem ao desenvolvimento de cancro de pele, além de que promove a expansão das células tumorais [36,41]. A radiação UV leva a alterações no DNA que incluem danos oxidativos nos pares de base, cortes nas cadeias simples de DNA, ligações DNA-proteínas e formação de dímeros de pirimidina. A radiação UV, ao ser absorvida pelo DNA, tem ainda a capacidade de gerar ROS, que por sua vez vão provocar novos danos em ácidos nucleicos, proteínas e lípidos. Normalmente estas alterações são reparadas ou resultam em morte celular, por esse motivo nem sempre conduzem a alterações genómicas permanentes que resultam no desenvolvimento de cancro [42]. O cancro pode ser do tipo melanoma ou não melanoma, dependendo do tipo de células envolvidas. O melanoma é o tipo de cancro de pele mais grave. Surge quando os melanócitos (células responsáveis pela produção de pigmentos como a melanina) sofrem agressões tornando- se malignos [43]. Na última década o número de novos casos de melanoma diagnosticados anualmente aumentou 53%, em Portugal, são conhecidos 700 novos casos anualmente. É um tipo de cancro com elevada mortalidade, sendo responsável pela morte de uma pessoa a cada hora [40,43]. O cancro de pele não melanoma pode ser classificado em diferentes tipos, dependendo da camada de queratinócitos afetada. Os 2 tipos mais predominantes são o carcinoma espinocelular e o carcinoma basocelular. Estes têm origem na exposição solar crónica e, normalmente, progridem a partir de queratoses actínicas (lesão pré-cancerígenas). Apesar de ser menos comum que o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular tem um pior prognóstico, uma vez que tem capacidade de formar metástases [44].

Mariana Ferreira Fonseca 25 O cancro de pele tem cura, especialmente se for detetado e tratado precocemente. O indicador mais frequente de cancro de pele são alterações na pele. Contudo, os tipos de cancro são diferentes e como tal não têm todos a mesma aparência. Há alterações a que devemos estar atentos tais como: nódulos pequenos, lisos, serosos ou opacos; nódulos vermelhos e duros; sinais vermelhos ou castanhos rugosos e espessos e que podem provocar comichão [45].

1.1.5. Proteção solar e outras medidas preventivas

Estudos apontam que, o uso diário de protetor solar com SPF de pelo menos 15, resulta numa redução de 40% do risco de desenvolver cancro espinocelular e numa redução de 50% do risco de desenvolver melanoma [40].

A nossa pele tem mecanismos de autoproteção. Um deles é a produção de melanina que, em conjunto com os queratinócitos, protegem o DNA da radiação que penetra na pele. A queimadura solar ocorre quando o dano nos queratinócitos é irreparável, levando por isso à apoptose destas células o que vai resultar numa reação inflamatória que conduz à pele vermelha característica das queimaduras solares. As queimaduras solares são o único fator de risco do melanoma que podemos prevenir [46].

O uso de protetor solar na idade adulta permite reduzir a incidência de queratoses actínicas, carcinoma espinocelular, fotoenvelhecimento e de infeções por vírus como o herpes labial. Nas crianças, o seu uso reduz o risco de desenvolver melanoma. As guidelines recomendam que todas as pessoas utilizem protetor solar com SPF igual ou superior a 30 e resistente à água. Nas crianças com mais de 6 meses deve ser usado um protetor solar cujos filtros sejam maioritariamente inorgânicos (zinco ou dióxido de titânio), uma vez que causam menos irritação na pele sensível. O protetor deve ser aplicado 20 minutos antes da exposição e deve ser reaplicado a cada 2 h e depois de períodos de transpiração ou de mergulho. Todas as áreas expostas devem ser protegidas com uma camada de protetor de aproximadamente 2 mg/cm2, dando especial atenção às orelhas, pescoço e costas das mãos [47].

Além do uso de protetor solar há outras medidas a ser adotas durante a exposição solar tais como: evitar a exposição entre as 10 e as 16 h, ter em atenção o índice UV quando planeamos atividades ao ar livre, estar à sombra sempre que possível, usar roupa que proteja da radiação UV, chapéu e óculos de sol [48].

1.1.6. Tratamento das queimaduras solares

Após uma queimadura solar, de forma a aliviar a vermelhidão, sensação de calor e sensibilidade ao toque, deve-se tomar um banho frio, pôr gelo ou panos humedecidos com água fria, aplicar cremes hidratantes e reparadores com substâncias como a cânfora ou Aloé Vera. Os cremes utilizados não devem conter vaselina, uma vez que esta tem efeito oclusivo levando à retenção de calor, nem benzocaína, pois pode causar irritação. Aquando da existência de bolhas, a zona queimada deve ser coberta com ligaduras secas de forma a prevenir a infeção. Em caso de

Mariana Ferreira Fonseca 26 dor pode ser utilizado um analgésico ou anti-inflamatório oral (paracetamol ou ibuprofeno) [49, 50].

1.2. Picadas de insetos

A maioria das picadas de insetos não é grave e os seus sintomas melhoram em apenas algumas horas. Os sintomas mais comuns são vermelhidão, comichão, inchaço e por vezes dor. Algumas pessoas podem desenvolver uma reação alérgica à picada, fazendo com que a área circundante da picada também fique inchada e vermelha, em casos mais graves pode ocorrer dificuldade em respirar e inchaço de outras partes do corpo como a boca e cara. A zona picada deve ser lavada com sabonete ou água, aplicar gelo ou compressas com água fria, de forma a reduzir o inchaço e evitar coçar para reduzir o risco de infeção [51]. Para aliviar a dor, dependendo da idade, pode-se usar paracetamol ou ibuprofeno. No caso de haver comichão podem ser utilizadas cremes ou loções contendo corticoides (hidrocortisona) e podem ser usados anti- histamínicos de administração tópica ou oral, quando há maior número de lesões. Podem ainda ser utilizadas loções contendo cânfora, calamina ou mentol de forma a aliviar os sintomas [51,52]. Para a prevenção das picadas, além do uso de roupa larga, de cor clara e que cubra a maior área corporal possível, pode ser ainda aconselhado o uso de repelentes [53]. Os repelentes podem ser usados diretamente na pele, na roupa ou em tecidos como as redes mosquiteiras e as tendas de campismo. Os repelentes devem conter DEET (N, N -dietil-3-metilbenzamida) 20-35%, IR3535 (éster etílico do ácido 3-(n-butil-n-acetil aminopropiónico) ou Icaridina (ácido 1- piperidinocarboxílico, 2 - (2-hidroxietil) - 1-metilpropilester) a 20% na sua constituição. Nas crianças (até aos 12 anos) deve-se optar por formulações com DEET a 10% ou Icaridina a 10%, não sendo recomendada a utilização de DEET em crianças com menos de 2 anos. Em crianças com menos de 6 meses não está comprovada a segurança dos repelentes e por isso não é recomendada a sua utilização [52,53]. Para proteção adicional podem ainda ser aplicados repelentes ou inseticidas como a permetrina no vestuário. O uso de ar condicionado, de sprays inseticidas e de serpentinas impregnadas com inseticidas permite proteger a habitação da presença de insetos e reduzir assim a probabilidade de ocorrer a picada [53].

1.3. Motivação e objetivos

A FM desenvolve, ao longo do ano, várias atividades com algumas associações da zona, sendo uma destas associações o Centro Social do Barredo. Estando eu a realizar o estágio no período de verão, em conjunto com os farmacêuticos da FM, achamos que seria importante e oportuno esta sensibilização. Principalmente, porque se trata de uma apresentação dirigida para as crianças (4-6 anos), sabendo que o risco de melanoma e de fotoenvelhecimento é maioritariamente influenciado pela exposição solar na infância. Esta é também uma população mais suscetível às picadas de insetos, devido às atividades ao ar livre comuns desta época do ano.

Mariana Ferreira Fonseca 27 Os objetivos deste projeto eram incutir nestas crianças a importância da proteção solar, garantindo que os hábitos de proteção que têm são os mais corretos, de forma a implementar desde cedo hábitos seguros e eficazes de proteção solar. Assim como, transmitir algumas formas de prevenção das picadas e do seu respetivo tratamento que são adequados a estas idades.

1.4. Concretização

No dia 16 de junho realizei uma apresentação intitulada “Verão com Diversão sem Picada e sem Escaldão” no Centro Social do Barredo (Anexo II). Esta apresentação contou com a presença de cerca de 30 crianças com idades entre os 4 e os 6 anos e com a presença de duas professoras e duas assistentes. A apresentação incidiu principalmente nas medidas de proteção solar e de prevenção de picadas de insetos fazendo apenas uma breve referência ao tratamento da picada e da queimadura solar. No final da apresentação distribuí um jogo didático sobre proteção solar para que, de uma forma mais divertida, possam recordar o que foi transmitido na apresentação (Anexo III). As crianças mostraram-se bastante participativas ao longo da apresentação e muitas delas demonstraram ter já bons conhecimentos ao nível da proteção solar. No final coloquei algumas questões e fiz um jogo de descobrir diferenças de forma a resumir os pontos mais importantes da apresentação e de forma a saber se a apresentação tinha cumprido os objetivos. Todas as perguntas foram bem respondidas pelo que considero que a apresentação atingiu o que era pretendido, ou seja, as crianças apreenderam os conceitos mais básicos e mais importantes sobre proteção solar, podendo agora ter uma exposição solar mais responsável e segura.

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