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5.5 C ONSOLIDAÇÃO DA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

5.5.2 Projeto Integrador

Esta pausa que dei agora sobre as descrições das oficinas – entre a primeira e segunda – foi para abordar o projeto que orientou a escola na última unidade do ano

letivo (terceira unidade) e que foi muito importante para a instituição escolar, como também para complementar o projeto de pesquisa o qual estou inserido. Esse trabalho sempre foi planejado, no início do ano, pela coordenação da escola e pelo corpo docente de todas as áreas do conhecimento como um instrumento que serviria para trabalhar temas e questões ligadas ao Dia da Consciência Negra, que, propositalmente, sempre coincidiu com as últimas unidades do ano letivo, já que se tratava do mês de novembro.

Nesse trabalho o objetivo foi o de apresentar elementos que chamassem a atenção dos alunos para a conscientização destes sobre se respeitar as heranças provenientes da diáspora africana, quer dizer, fazê-los compreender a relação entre o território Curuzu com essas heranças africanas e como este território mostra-se representativo na manutenção dessas heranças. Na visão de Silva (2016), ao relacionar à região da Liberdade e seu entorno, afirma que a principal característica desse território está na

Presença de uma imensa população de origem afrodescendente, um item bastante significativo no constructo da natureza étnica do bairro, por ser o traço que constantemente permite a constituição de um conjunto de sinestesias interpretativas de caráter empírico diante da presença das entidades de caráter étnico-representativo na luta contra o racismo. (SILVA, 2016, p. 86).

Dessa forma, a ideia de apresentar para o aluno o bairro como fonte de resistência através das entidades representativas que promovem o combate ao racismo e fazê-lo conhecer isso, já seria um grande passo. Apesar dessa concepção, o tema do projeto foi “Curuzu: o que tem esse território que pode melhorar a educação do século XXI”, mesmo tendo sido proposto pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia cuja a proposta seria a de compreender o bairro como formador de uma educação centrada numa epistemologia negro-diaspórica, não foi isso que aconteceu, porque a maioria dos profissionais entenderam que trabalharia com o tema voltado para elementos do bairro Curuzu, simplesmente, e não como esse território poderia ser responsável por formar cidadãos conscientes através de um olhar para as heranças negro-diaspórica africanas. Com o direcionamento voltado para as características do bairro e não como o bairro poderia aprimorar a educação, o projeto foi dividido por subtemas e por séries. A subdivisão da série e turma a qual eu trabalharia ficou em: A história do bairro, Personalidades do bairro, Localização do

bairro e Curiosidades sobre o bairro. Estes subtemas deveriam ser trabalhados e,

posteriormente, apresentados em sala – a produção e apresentação dos trabalhos só poderiam acontecer nas salas de estudo de cada turma –. Ficou estabelecido que a sequência de trabalho seria a seguinte: primeiro, o aluno deveria munir-se de uma pesquisa local ou através da internet sobre os subtemas; depois dessas pesquisas, eles deveriam decidir com os professores sobre que gênero ou gêneros se sentiam mais à vontade para trabalhar e apresentar no dia da culminância do projeto (murais, mapas, maquetes, dramatização etc). Essa atividade coletiva deveria servir como uma das verificações da terceira unidade49, já que o aluno seria avaliado pela sua

participação, compromisso e produção.

Apesar da importância do projeto para a escola, ele ainda se mostrou estanque na abordagem.

Embora ainda restrito às datas comemorativas, não há como negar que trabalhar pedagogicamente o 20 de novembro significou um passo a mais na superação da ideia reguladora e conservadora do 13 de maio como data da “libertação dos escravos”. (GOMES, 2017, p. 108 – 109).

A maioria dos professores trabalhou separadamente, já que cada um era responsável por uma sala e as atividades produzidas pelos alunos não poderiam ser mostrado ou discutido por outras salas da escola. Portanto, foi um trabalho de sala e não de escola. Muito longe, ainda, de se fazer uma intervenção mais significativa para que os alunos não pensassem nas questões da diáspora africana como uma ideia folclorizada e estanque a ser trabalhada apenas nesses períodos de atividades coletivas únicas e em outros períodos, de todo o ano letivo, essas questões passassem sem ser discutidas ou associadas normalmente como temas cotidianos e plausível de percepção, porque o professor não deveria só abordar as temáticas negro-diaspóricas africanas como um elemento que servisse de instrumento de verificação do aluno, mas o papel do professor deveria ser, segundo Ana Célia da Silva, o de “desmistificador das ideologias que a escola veicula como de ensino que evidencie os vários processos civilizatórios e culturais aqui existentes” (SILVA, 2004, p. 74).

49 Esse projeto, quantitativamente, teve valor de dois (2,0) pontos dentre os dez (10,0) pontos que estabeleciam

Como eu vi a possibilidade de inserir as discussões desse projeto na intervenção, por se tratar de elementos locais do bairro, então esse projeto da escola seria uma parte do projeto de intervenção, porque os textos, imagens, entrevistas seriam utilizados como recursos das discussões que eu já vinha fazendo sobre as questões negro-diaspóricas africanas. Inicialmente, pedi que todos os alunos da turma A do 6º. Ano fizessem pesquisas sobre os temas propostos, mas que fossem os mais pessoais possíveis, ou seja, que os alunos pudessem usar pessoas e entidades locais para levantar informações pertinentes e depois das pesquisas decidiríamos juntos quais seriam as ações que faríamos para o dia da culminância do projeto. Confesso que os alunos, a princípio, não levaram a sério e poucos trouxeram as pesquisas e quando o fizeram eram cópias produzidas por outros colegas. Acredito que essa atitude deva ter sido de experiências passadas sobre esses tipos de atividades. Eu expliquei aos alunos que as pesquisas seriam importantes para, além do projeto da escola, também servir para a produção de um possível memorial do bairro construído por eles. Falei dessa importância, a de que eles pudessem ser protagonistas dessa ação, porém, no início, muitos não se sentiram estimulados, mesmo eu informando que, institucionalmente, valeria alguma pontuação, portanto, como uma avaliação quantitativa. Eu sempre parava algumas aulas para explicar minuciosamente sobre o projeto e tomando ideias próprias deles, no entanto, de início, foi muito difícil. Mais adiante falarei como eu e os alunos conseguimos desenvolver esse projeto através da criação de uma oficina.

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