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Projeto “Lá Fora”: propostas educativas

PARTE III – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

1. Apresentação e análise dos dados

1.5 Projeto “Lá Fora”: propostas educativas

Como se referiu no tópico Abordagem Metodológica, inserido na Parte II deste estudo, o projeto surgiu a partir dos interesses e gostos das crianças, tendo sido estas as principais “protagonistas” ao assumir o que pretendiam realizar, como, quando e onde. Além disto, o projeto dividiu-se em diversas fases, destacando-se neste capítulo os diversos dados recolhidos em cada uma delas.

O projeto “Lá Fora” engloba uma perspetiva interdisciplinar e as diversas áreas de conteúdo contribuíram para a sua concretização, proporcionando às crianças aprendizagens significativas e determinantes.

Com as diferentes propostas educativas desenvolvidas no decurso do projeto, as crianças puderam: i) Procurar e organizar informação; ii) Observar e comparar imagens; iii) Manusear livros, ouvir testemunhos de outras pessoas; iv) Envolver-se em diversas tarefas e ganhar o gosto por aprender. Além disto, a estagiária no decorrer do projeto, para dar resposta às diversas questões, recorreu a recursos visuais, o que permitiu a interpretação de representações visuais e uma pesquisa mais autónoma por parte das crianças.

O projeto desenvolveu capacidades sensoriais e criativas, regendo-se por metodologias cooperativas. O seu carácter relacional, promoveu a colaboração e interdependência nas crianças, o que levou ao desenvolvimento de competências de comunicação oral, nomeadamente, utilizar a linguagem para interagir, resolver problemas e clarificar ideias. Importa salientar que no começo do projeto as crianças tinham dificuldades em comunicar as suas perspetivas e/ou opiniões pessoais, perante os e as colegas. No desenrolar do projeto, as crianças ganharam gosto em expressar-se e tomar decisões sozinhas e em grupo, relatando as aprendizagens e peripécias, durante as reuniões de grupo.

No que respeita ao domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita, por meio dos cadernos de exploradores/detetives, o grupo acentuou a sua ligação com o código escrito através dos registos concebidos. Este caderno foi uma forma da criança se expressar, criativamente, sobre o que observou/aprendeu, durante o projeto. Para

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além disto, o grupo teve acesso a diversos livros, sensibilizando-as para, no futuro, poderem descobrir o prazer da leitura. Como acima se afirmou, as crianças desenvolveram competências de comunicação oral, ao expressarem em grupo os seus acontecimentos, pontos de vista, ideias e sentimentos, sendo capazes de ouvir os outros.

Quanto ao domínio da Educação Física, através das corridas de obstáculo e das explorações no Parque Verde, as crianças desenvolveram competências pessoais e sociais, em situações de cooperação/competição. Para além de apelar ao contacto com o espaço exterior, também apoiou a necessidade de movimento da criança, conduzindo a comportamentos motores mais organizados e conscientes e à criação de referências do corpo.

Relativamente à Área de Conhecimento do Mundo, o projeto assentou na curiosidade natural da criança, permitindo o brincar, a interação e a exploração dos espaços e elementos naturais. Este contacto possibilitou a reflexão e compreensão das distintas características dos seres vivos (plantas e animais). Favoreceu o gosto pela exploração e privilegiou técnicas de descoberta do espaço através de um olhar sensível e da compreensão do meio envolvente.

Ao longo das Propostas Educativas observou-se uma maior procura e interação com a estante da Ciência, que se encontrava na sala. Nessa estante, as crianças podiam usufruir de material de exploração, especificamente de: lupas, recipientes, pinças, imagens e fotografias do mundo natural, livros e enciclopédias de ciências, elementos naturais (rochas, pinhas, frutos secos), entre outros. Antes do projeto, essa estante era quase invisível na sala, porém como se referiu, a presença das crianças naquela área foi cada vez mais assídua, passando a ser um espaço frequente de exploração.

Apesar do espaço exterior da instituição apresentar poucas oportunidades de desafio e de ação, tais como: trepar, deslizar, pendurar, brincar na água, possibilidade de estar sozinho e escondido em refúgios/esconderijos (Figueiredo, 2016, p. 14), denota-se ser um espaço com alguma dimensão e com elementos naturais (árvores, arbustos, pedras, paus e relva), onde as crianças podem explorar e brincar livremente com a natureza. É importante salientar que este espaço é público, o que, devido à

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burocracia, torna impraticável a possibilidade da sua transformação. No entanto, no decorrer do projeto, constatou-se uma grande evolução no aproveitamento deste espaço por parte do grupo. A maioria das crianças apenas frequentava o parque infantil durante as idas ao exterior, todavia, passaram a contactar regularmente com a natureza (correndo na relva e brincando com vários elementos naturais) e realizaram diversas atividades (plásticas, jogos) que antes ocorriam no espaço interior.

Para além dos espaços mencionados procurou-se um local natural e mais estimulante para as crianças. Desta forma as visitas ao Parque Verde, tornaram-se cada vez mais assíduas, sendo um assunto muito presente no grupo, pois questionava, frequentemente, a equipa educativa sobre o regresso ao local. Estas saídas regulares tornaram este espaço verde, mais deles/as, despertando um sentimento de carinho e proteção. No Parque Verde, para além da exploração, as crianças brincaram livremente pelo espaço e puderam realizar ações que não poderiam efetuar no espaço exterior do JI. Assim, procuraram-se locais onde não constassem parques infantis, mas que possibilitassem oportunidades desafiantes para as crianças. Ainda, no Parque Verde, foi possível observar modificações comportamentais ao longo do tempo, isto é: nas primeiras explorações neste local, algumas crianças mostravam não se sentir à vontade em sentar-se na relva/solo (episódio completo no apêndice III). Todavia com o passar das semanas, não só se sentavam no meio natural do Parque Verde, assim como se deitavam na relva da instituição (episódio completo no apêndice III).

Embora seja um estudo dedicado às crianças, os comportamentos dos/as adultos/as também “saltaram à vista”. Os/as adultos/as que inicialmente não tinham grande abertura para explorações com “sujidade”, paus, pedras e não permitiam que a criança se afastasse do seu olhar11, passaram a ser adultos/as mais observadores, permissivos/as, flexíveis e ainda, conseguiram divertir-se tanto como as crianças. Isto é, os momentos no exterior deixaram de ser um “bicho de sete cabeças”, e passaram a ser um momento de aprendizagens e diversão para todos/as.

O projeto caracterizou-se por momentos estimulantes, promotores de autonomia, liberdade e criatividade. A flexibilidade e possibilidade de inserção de

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novos elementos, mudanças de rumo, consoante as necessidades e/ou interesses das crianças foram tomadas em consideração. Além disso, a constituição de grupos por interesse, permitiu que as crianças fortalecessem relações, aprendendo a partilhar, escutar e a resolver problemas em conjunto. Permitiu ainda, romper com conceções existentes sobre o contacto com a natureza, ou seja, que o espaço exterior também é merecedor da mesma atenção que o interior e que não serve apenas para sujar, proporcionando diversos benefícios cognitivos, sociais, motores e fisiológicos que contribuem para a saúde e bem-estar. Permitiu ainda, enfrentar as adversidades existentes no meio natural, encontrando soluções que potenciaram e potenciarão, mais tarde, aprendizagens significativas a cada criança.