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Mapa 3 – Origem das galerias participantes da SP-Arte em 2018

3.3 Sobre a participação brasileira no circuito de arte internacional

3.3.2 O Projeto Latitude

As informações sobre o desempenho das galerias no circuito também são escassas. Sobre isso, o Projeto Latitude se fez importante. Conforme indicado anteriormente, o projeto foi realizado através da parceria da ABACT e APEX Brasil, e procurou levantar dados para medir o mercado de arte brasileiro e a participação brasileira no mercado internacional de arte através das galerias associadas. Os resultados foram publicados em relatórios anuais denominados “Pesquisa Setorial – O mercado de arte contemporânea no Brasil”, entre 2012 e 2016, e as quatro primeiras edições foram coordenadas pela pesquisadora Ana Letícia Fialho. Em artigo publicado na revista de arte Select em 2 de outubro de 2012 a pesquisadora comentou sobre a importância da pesquisa:

A necessidade de mapear o setor resultou na realização de uma pesquisa inédita visando conhecer o perfil, o tamanho, o grau de profissionalização e internacionalização das galerias do mercado primário. Encomendada pela Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) e o programa setorial integrado ABACT-

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APEX-Brasil, a pesquisa [...] aponta tendências e começa a jogar luz sobre um setor que, costumava-se acreditar, operava de forma pouco transparente, muitas vezes na informalidade e jamais revelava os segredos de seus negócios (FIALHO, 2012).

O último relatório da Pesquisa Setorial do Projeto Latitude foi lançado em 2016, referindo-se ao ano de 2015. Dessa edição participaram 29 galerias, em contraposição às 41 que foram consideradas no relatório de 2015 e indicando, portanto, uma diminuição do universo compreendido da pesquisa. A seguir, o gráfico 9 indica a distribuição das galerias por cidade referente ao relatório de 2016.

Gráfico 9 – Distribuição das galerias da Pesquisa Setorial Latitude 2016 por cidade

Fonte: Latitude (2016).

As galerias consideradas são provenientes em maior número da cidade de São Paulo, em seguida do Rio de Janeiro. Curitiba em terceiro lugar detém 7% das galerias, e 3% correspondem a Vitória, Salvador, Ribeirão Preto e Porto Alegre. Essa distribuição reflete a origem de galerias participantes da feira SP-Arte e a própria concentração desses estabelecimentos do circuito de arte no Brasil.

O relatório aponta alguns aspectos do comércio praticado pelas galerias no ano de 2015. Em relação ao número de obras, foram vendidas cerca de 4.300 obras, em maior parte pinturas, esculturas, fotografias e desenhos. Os valores totais das transações não foram divulgados, mas outras informações permitem analisar o perfil das vendas. Entre eles, a tabela 32 indica a média de vendas no mercado nacional e internacional, comparando-as com os outros anos abarcados pelo projeto.

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Tabela 32 – Média de vendas realizadas para o mercado nacional e para o mercado internacional entre 2011 e 2015

Ano Mercado nacional Mercado internacional 2011 84% 16% 2012 85% 15% 2013 85% 15% 2014 85% 15% 2015 80% 20% Fonte: Latitude (2016).

Há clara preponderância do mercado nacional frente ao internacional em todos os anos considerados, com um pequeno aumento nas vendas internacionais em 2015. Esse aumento coincide com um momento de crescimento da feira SP-Arte em relação às galerias internacionais, situação que sofreu alteração nas edições seguintes. Também em relação às vendas, o relatório aponta os perfis dos colecionadores que compraram obras das galerias, apontados na tabela 33.

Tabela 33 – Perfil dos colecionadores relativo às compras de obras de arte das galerias do Projeto Latitude (2016)

Perfil %

Colecionadores privados brasileiros 75,2% Colecionadores privados estrangeiros 15%

Instituições brasileiras 2,7% Coleções corporativas estrangeiras 1,6% Coleções corporativas brasileiras 0,8% Instituições estrangeiras 0,9%

Outros no Brasil 3,5%

Outros fora do Brasil 0,2%

Fonte: Latitude (2016).

A partir da tabela é possível constatar que a maior parte dos compradores de obras de arte são privados e brasileiros e, em menor parte, privados estrangeiros. No entanto, as compras referentes às coleções corporativas estrangeiras foram maiores do que aquelas realizadas por corporações brasileiras. As compras de instituições brasileiras, em terceiro lugar, somam apenas 2,7%. A seguir, a tabela 34 indica os países de origem dos compradores estrangeiros que adquiriram obras de galerias brasileiras.

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Tabela 34 – Países de origem dos compradores de obras de arte das galerias do Projeto Latitude (2016)

Número de galerias País

15 EUA 8 Reino Unido 4 Espanha e Suíça 3 Colômbia e Portugal 2 México e Venezuela 1

Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, China, Coreia do Sul, EAU, Holanda, Hong Kong, Itália, Líbano, Panamá, Peru, Filipinas, Singapura e

Turquia Fonte: Latitude (2016).

A tabela 34 reforça os dados fornecidos pela plataforma Comex Stat, uma vez que os EUA consistem no país de origem de compradores que mais negociaram obras de arte com galerias brasileiras, seguidos por Reino Unido, Espanha e Suíça. Nota-se a ausência da França, país cujas galerias diminuíram paulatinamente na SP-Arte, ausentando-se nas últimas edições da feira. Também, as feiras internacionais se mostraram importantes para as galerias, já que segundo o relatório 75% delas participaram de feiras em outros países em 2015.

Apesar do número de galerias consideradas pelo Projeto Latitude ser inferior ao do levantamento apresentado anteriormente com um total de 155 galerias, é necessário levar em conta o rigor e detalhamento que o relatório apresentou, permitindo visualizar de forma mais concreta o perfil e atuação destes estabelecimentos. Ele contribui para uma melhor compreensão do funcionamento e papel das galerias no circuito ao representar artistas e estabelecer uma complexa rede de relações. Estas ficarão ainda mais evidenciadas nas feiras, onde galerias de diversos países se estabelecem temporariamente em um local comum.

Também, o relatório do Projeto Latitude de 2015 ressalta os obstáculos apontados pelas galerias que prejudicam o desenvolvimento brasileiro no setor. Entre eles, estão a instabilidade econômica do país, a alta carga tributária sobre as obras de arte e a dificuldade em ter acesso a colecionadores institucionais, como os museus.

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3.3.3 Feiras de arte no Brasil, galerias brasileiras no exterior e participação de galerias