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O Projeto Mais Sucesso Escolar – Turma Mais no Agrupamento de Escolas Abel Varzim –

Relato de uma experiência de trabalho cola-

borativo

Maria Esperança Campos* Paulo Lisboa**

Conceição Lamela***

*. Coordenadora do PMSE-TM.

**. Assessor da Direção que acompanha o PMSE-TM. ***. Diretora do Agrupamento de Escolas Abel Varzim

que se insere o agrupamento ajudam a explicar este número e a perceber melhor com quem trabalhamos.

O AEAV é constituído por 1300 alunos, desde a educação pré-escolar até ao nono ano de escolaridade e abrange nove freguesias da zona sul do concelho de Barcelos. Trata-se de um meio rural, de baixa escolarização, em que o abandono escolar apresenta, desde 2008/09 até ao presente, um valor inferior a 1%. A maioria da população residente trabalha por conta de outrem, em pequenas unidades industriais do ramo têxtil ou na agricul- tura de subsistência, coexistindo com um elevado número de desempregados. De referir que várias escolas do agrupamento integram alunos de etnia cigana e crianças e jovens instituciona- lizados, oriundos do Centro de Acolhimento Temporário Paula Azevedo. Por último, salientamos o facto do nível de carência económica não ser negligenciável, na medida em que 46% dos alunos do ensino básico benefi ciavam, em 2008/09, de apoios socioeconómicos. Em 2011/12, com o agravamento da situação económica e o aumento do desemprego, a percentagem aumen- tou. Neste momento, situa-se nos 54%.

Os cento e quarenta e quatro alunos, distribuídos por sete turmas, que iniciaram o projeto não se destacavam do contex- to socioeconómico do agrupamento: cerca de 74% usufruíam da ação social escolar, o apoio familiar era limitado e as expectati- vas face à formação académica/futuro profi ssional eram baixas. A implementação do PMSE-TM constituiu uma oportunidade para uma geração que estava a iniciar o 3º ciclo e um desafi o para o corpo docente: desejávamos reduzir a taxa de insucesso e melhorar o desempenho escolar de todos os alunos, indepen- dentemente do contexto socioeconómico, dos seus ritmos de trabalho e das suas expectativas.

Após a contratualização com a DREN, foi atribuído um crédi- to horário de 24 tempos (aplicado nas disciplinas de Língua Por- tuguesa e Inglês) e estabelecida uma taxa de sucesso a atingir (88%), em função do histórico da escola, calculado a partir da média dos últimos quatro anos (82.10%). Tal como tinha sido acordado, no fi nal do ano letivo e nos seguintes, a continuidade no projeto estava dependente do cumprimento da meta de redução de 1/3 da taxa de insucesso escolar.

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No primeiro ano de implementação do projeto, as nossas preocupações estavam ainda muito centradas nas questões metodológicas: a seleção do ano de escolaridade, a escolha das disciplinas intervencionadas, a construção dos horários, a forma- ção dos grupos de alunos por nível de desempenho, a constitui- ção das equipas pedagógicas e a articulação do trabalho entre si, a divulgação do PMSE-TM junto dos encarregados de educação e dos seus educandos.

Contudo, no fi nal do terceiro período, deu-se um “terramoto pedagógico”, com a chegada de uma das mais pertinentes “cartas à escola”, da Professora Teodolinda Cruz, sobre a importância da monitorização dos resultados e da avaliação à luz da lógica de ciclo. A esta distância, pensamos que esta carta constituiu um momento de viragem, um ponto de não retorno, em relação à forma como a maior parte do corpo docente encarava a ava- liação no fi nal do ano letivo e, em consequência, a retenção ou transição dos alunos. As “ondas de choque” prolongar-se-iam no ano seguinte…

Em 2010/11, o projeto continuou no 8º ano, com cento e vinte alunos, distribuídos por seis turmas. Ao contrário do ano ante- rior, em que por questões de exequibilidade dos horários, não tinha sido possível atribuir a Turma Mais ao professor da turma de origem, desta vez, cada professor das disciplinas envolvidas tinha duas turmas de origem e uma Turma Mais. A meta a atingir era de 92%.

No segundo ano, resolvidas as questões do modelo organiza- cional, iniciámos uma nova fase, com a construção de diversos instrumentos de avaliação e a refl exão sobre as nossas práticas pedagógicas. Este processo teve início nos departamentos curri- culares, com uma profunda discussão sobre a avaliação (critérios, domínios, parâmetros e distribuição das percentagens), esten- deu-se ao Conselho Pedagógico e culminou com a aprovação de uma série de documentos e a construção de uma grelha de registo, que seria aplicada em todas as escolas do agrupamento, com adaptações em função do ano e da disciplina. Naturalmente, todos os intervenientes, professores, alunos e encarregados de educação, foram envolvidos nas mudanças que estavam em curso.

Desde o fi nal do primeiro período, começámos a aplicar a monitorização dos resultados escolares, envolvendo os alunos e os encarregados de educação num compromisso de corres- ponsabilização. Construímos uma grelha específi ca para o efeito, que seria preenchida ao longo do ano letivo, nos diferentes momentos intercalares e fi nais de avaliação.

Em relação às equipas pedagógicas, decidimos alargar o envol- vimento de todos os docentes dos conselhos de turma no proje- to, até então ainda limitado aos professores de Língua Portugue- sa e Inglês. Todos estavam comprometidos com a monitorização dos resultados escolares e com a avaliação inserida numa lógica de ciclo, mais sensibilizados para a necessidade de uma efetiva avaliação de caráter formativo e foram convocados para as reu- niões com a equipa de acompanhamento do PMSE-TM.

Por último, as docentes de Língua Portuguesa e Inglês envol- vidos no projeto tinham no seu horário um tempo semanal para coordenarem o trabalho entre si, desde partilha de informação às estratégias de ação. Com a experiência do ano anterior e a metodologia do projeto perfeitamente incorporada, o trabalho colaborativo desenvolvido foi, sem dúvida, de melhor qualidade. Em 2011/12, o projeto chegou ao 9ºano de escolaridade, com cento e dezoito alunos, distribuídos por seis turmas. Trata-se, como todos sabemos, do ano terminal de ciclo, em que, com- parativamente com os anos anteriores, é reduzida a margem de transição de ano e em que há uma componente da avaliação externa em duas disciplinas. Chegamos satisfeitos pelo facto de termos levado o maior número de alunos dos últimos anos até ao 9ºano, mas, ao mesmo tempo, sentimo-nos “pressionados” pela elevada taxa de sucesso contratualizada: 94,6%. Só será possível atingir esta meta se, em média, não reprovar mais do que um aluno por turma. Sem perder o otimismo, numa análise realista, temos consciência que este objetivo é bastante difícil de atingir.

No terceiro ano, decidimos estender algumas das práticas pedagógicas, nomeadamente, a monitorização dos resultados escolares, a todos os anos do 3º ciclo e, a título experimental, a duas turmas do 2º ciclo, uma do quinto e outra do sexto; continuamos a promover a avaliação de caráter formativo; reorganizamos os

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apoios educativos, alargando a sua frequência aos alunos com bom rendimento escolar; incentivamos a implementação de Planos de Desenvolvimento, a fi m de estimular os alunos com elevado rendimento a uma ou várias áreas do conhecimento; e discutimos nos órgãos e estruturas de gestão pedagógica as metas de sucesso a alcançar (no âmbito do PMSE-TM e do 20/15), confrontando com os resultados estabelecidos.