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5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 106 5.1 CONCLUSÕES

4 ESTUDO DE CASO

4.1 PROGRAMA MICROBACIAS: CONTEXTO HISTÓRICO

4.1.1 Projeto Microbacias

Favorecido pelas mudanças políticas, abertura democrática e maior participação das representações dos produtores rurais e da sociedade, o debate nacional sobre os problemas decorrentes da modernização da agricultura se intensificou no final da década de 1980. No caso de Santa Catarina, entra na agenda pública do Estado, ainda na década de 1970, a ideia de estabelecer medidas corretivas para os problemas decorrentes da modernização da agricultura. Entre estes estavam aqueles relacionados à degradação dos solos agrícolas e à poluição das águas, boa parte resultante das práticas preconizadas pelo modelo agrícola e adotadas pelos produtores rurais no Estado (MARCONDES, 2011).

Os problemas ambientais eram evidentes e não podiam mais ser negligenciados pelo Estado. Assim, a Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina (Acaresc) e a Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária S.A. (Empasc), organizações públicas que atuavam, respectivamente, na extensão rural e na pesquisa agropecuária catarinense, empreenderam iniciativas-piloto para estancar processos erosivos em alguns municípios do território catarinense.

Anteciparam e intensificaram o debate e as preocupações a degradação dos solos agrícolas, o assoreamento dos rios e a inundação de grandes proporções ocorrida na região do Vale do Rio Itajaí em 1983. Com o evento, o tema ambiental diretamente relacionado à atividade agrícola ganhou mais visibilidade social e política, o que redundou na busca de experiências que pudessem amenizar o problema.

Técnicos e lideranças do Estado utilizaram então, como primeira referência para uma ação estruturada, a experiência recente do estado do Paraná, que realizava um trabalho tomando a microbacia hidrográfica como unidade de planejamento para as ações de manejo e proteção do solo e da água.

Estudo recente realizado por Martini (2012) no âmbito das microbacias trabalhadas no Projeto Microbacias 1, nos ajuda a entender o que é uma microbacia, ou o que foi denominado pelo autor de “microbacia rural catarinense representativa”:

“Uma microbacia rural representativa de Santa Catarina apresenta área de aproximadamente 3000 hectares, altitude entre 400 e 600 metros e declividade média ao redor de 22%, que corresponde a um relevo entre ondulado a forte ondulado. No tocante ao sistema de drenagem, essa microbacia será de 3ª ordem, [...]. O comprimento do rio principal que drena essa microbacia representativa possui cerca de 11km, declividade média de 5% e sinuosidade ao redor de 20% (MARTINI, 2012).”

Com base nas características acima descritas se evidencia uma forte vulnerabilidade à erosão hídrica do solo da microbacia catarinense representativa. Sabe-se também que o número médio de famílias moradoras das microbacias trabalhadas pelos Programas em Santa Catarina foi de 170, envolvendo 3 a 4 comunidades rurais, em média (SANTA CATARINA, 2002).

No sentido de proporcionar uma melhor visualização da unidade de planejamento e de trabalho denominada microbacia hidrográfica, apresenta-se na figura 4 um mapa de um município com suas respectivas microbacias devidamente delimitadas, podendo se identificar os cursos d’água no seu interior.

Figura 4 – Mapa de município com a demarcação de microbacias hidrográficas.

Fonte: Google Imagens (2014).

A primeira experiência catarinense iniciou-se em 1984 em três microbacias- piloto, localizadas na Bacia do Rio Itajaí. Nos anos de 1985 e 1986 o trabalho foi ampliado e as estratégias técnicas visando ao manejo e à proteção do solo e da água passaram a ser desenvolvidas em 17 microbacias. No transcorrer da década de 1980, o trabalho em microbacias hidrográficas já tinha reconhecimento nacional. O Governo Federal, através do Ministério da Agricultura, criou o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas, que apoiaria a implantação de 4 mil microbacias-piloto localizadas no território nacional. Assim, na segunda metade dos anos 1980, o trabalho em microbacias hidrográficas se ampliou, alcançando 68 municípios catarinenses (SIMON, 2003).

Em 1987 o governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, desenvolveu seu primeiro plano de ação estruturado para o setor agropecuário do estado, construído a partir de consultas a pessoas e organizações da sociedade em geral. O Plano Agropecuário Catarinense (Planac) foi resultado de debates realizados em quase todos os municípios catarinenses, envolvendo

milhares de pessoas. Os principais problemas levantados confirmaram boa parte dos diagnósticos já feitos por técnicos e instituições, ou seja, os impactos negativos das atividades agropecuárias realizadas pelos agricultores catarinenses, tais como: erosão do solo, uso incorreto de agrotóxicos, contaminação da água por dejetos animais e humanos e o desmatamento. Assim, confirmaram-se os problemas identificados desde os anos 1970, que evidenciavam a necessidade de empreender ações com vistas a reduzir os impactos negativos gerados pela agricultura e pecuária sobre os recursos naturais (SIMON, 2003).

O governo estadual, através da Secretaria da Agricultura, lançava então o Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas, em parceria com o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), instituição financeira do Banco Mundial. Conhecido como Projeto Microbacias 1, contou com orçamento de US$71,6 milhões, dos quais US$33 milhões foram provenientes do empréstimo do BIRD e US$38,6 milhões do governo estadual (SANTA CATARINA, 2010).

O Microbacias 1 iniciou em 1991 e terminou em junho de 1999, período em que foram trabalhadas 534 microbacias hidrográficas. Teve como objetivo principal o aumento da produção, da produtividade e da renda das famílias rurais com base na adoção de tecnologias para a melhoria da estrutura e drenagem do solo, o controle do escoamento superficial das águas e a redução da poluição ambiental (SANTA CATARINA, 2010).

Esse objetivo, restrito ao aumento da produtividade e aos problemas ambientais, foi bem aceito no período inicial do Microbacias 1, mas alvo de críticas no seu andamento, já que relevava os problemas sociais que o meio rural explicitava nos anos de 1990. Isso foi levado em conta pela equipe que projetou o Microbacias 2, que trabalhou com a visão do tripé da sustentabilidade (social, econômico e ambiental), tema emergente no mundo à época (SIMON, 2003).