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O “Projeto Nós Propomos! Cidadania e inovação na educação geográfica” em São

No Estado de São Paulo (figura 16), as ações envolvendo o referido projeto foram desenvolvidas nos municípios de Marília, por meio do Centro de Pesquisas e Estudos Agrários e Ambientais (CPEA), sob coordenação da Professora Dr.ª Silvia A. S. Fernandes, e nos municípios de Ribeirão Preto, Mococa, Ibitinga e Serrana, por meio do grupo ELO, sob a

coordenação da Professora Dr.ª Andrea Coelho Lastória, conforme já explicitado anteriormente.

Consideremos as ações desenvolvidas com o IGOT e das duas instituições e grupos de pesquisa como sendo relevantes para o desenvolvimento das práticas pedagógicas dos professores. Desta forma, destacamos a importância da pesquisa colaborativa como “[...] atividade de co-produção de conhecimentos e de formação em que os pares colaboram entre si com o objetivo de resolver conjuntamente problemas que afligem a educação” (IBIAPINA, 2008, p. 25). Com este tipo de pesquisa, portanto, as coordenadoras do ELO e do CPEA puderam planejar, acompanhar e colaborar com o desenvolvimento e com a reflexão das práticas pedagógicas realizadas.

Houve significativo papel dos referidos grupos, assim como do GEOFORO para o contínuo diálogo e compartilhamento de experiências entre pares em prol sucesso do projeto nos municípios paulistas, focados nesta investigação.

Figura 16 - O “Projeto Nós Propomos! cidadania e inovação na educação geográfica” no estado de São Paulo

Em Marília-SP, o projeto teve início no ano de 2017, em parceria entre a Universidade Estadual Paulista (UNESP), a Faculdade de Filosofia e Ciências, de Marília-SP, o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), da Universidade de Lisboa e uma escola pública da rede estadual de ensino, a Escola Estadual Oracina Correa de Moraes Rodine. O projeto reuniu as ações de dois projetos de extensão, reconhecidos e financiados pela Pró- Reitoria de Extensão (PROEX) e pela Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) da referida Universidade, e um projeto de pesquisa, com financiamento pelo CNPq.

No caso de Marília-SP, o referido projeto foi realizado em conjunto com outros dois projetos de extensão: “Currículo de Geografia e práticas ambientais: a educação geográfica e o observatório do meio ambiente”, desenvolvido no âmbito dos Núcleos de ensino da UNESP, e “Meio Ambiente sob o olhar da mídia: a questão ambiental em Marília e região”, por meio de bolsistas integrantes do Centro de Pesquisas e Estudos Agrários e Ambientais (CPEA), coordenado pela Professora Dr.ª Silvia Aparecida de Sousa Fernandes, assessorados pelo Professor Sérgio Claudino, responsável pela criação do projeto em Portugal (LAVRATTI, 2018).

O projeto em Marília-SP iniciou-se no ano de 2017, no segundo semestre, na Escola Estadual Professora Oracina Corrêa Moraes Rodine. Foi desenvolvido pelo professor Gabriel, professor de Geografia da referida escola, nos oitavos anos (ano de 2017) e nos segundos anos do Ensino Médio, no ano de 2018. Com base nessas ações e em conjunto com alunos da licenciatura das Ciências Sociais, a discente Iara Milreu Lavratti realizou seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre as contribuições do projeto para uma Educação Emancipatória. Neste sentido, apresenta como contribuição do projeto Nós Propomos! a preparação dos alunos da Educação Básica (8ºanos e 2º anos do EM) para uma interpretação dos problemas sociais e sua formação em uma perspectiva de uma cidadania participativa para intervir no mundo social em que vivemos (LAVRATTI, 2018).

Em Ribeirão Preto-SP, a parceria foi realizada no final do ano de 2017, entre a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP/USP), por meio do Grupo de Estudos da Localidade (ELO) e o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), da Universidade de Lisboa, em Portugal.

Ainda no ano de 2017, o grupo ELO tomou contato com as práticas e pesquisa do “Projeto Nós Propomos! cidadania e inovação na educação geográfica” e iniciou-se um processo de levantamento de oportunidades de implantação do referido projeto por meio dos

professores participantes. As ações educativas se iniciaram no ano de 2018 em quatro municípios: Ribeirão Preto81, Mococa, Serrana e Ibitinga.

Em ambas as universidades, o projeto desenvolveu-se de forma produtiva e colaborativa, no qual os professores participantes envolvidos puderam dialogar, constantemente, com amplo apoio dos grupos de estudos para a realização das ações educativas do “Projeto Nós Propomos! cidadania e inovação na educação geográfica”. Desta forma, a colaboração dos envolvidos deu-se

[...] com o intuito de planejar, discutir e realizar práticas pedagógicas em escola pública e promover o aprendizado da educação geográfica e de temas curriculares mais amplos da educação básica, notadamente os temas vinculados às questões ambientais e aprendizagem sobre a localidade. (FERNANDES; LASTÓRIA; CLAUDINO, 2018, p. 154).

A pesquisa colaborativa à qual as autoras fazem referência diz respeito a uma pesquisa feita em conjunto entre professores participantes, alunos e componentes dos grupos de pesquisa envolvidos no projeto. Segundo Ibiapina (2008) a pesquisa colaborativa pretende agregar saberes teóricos e práticos diminuindo, assim, o denominado “abismo” entre os dois contextos.

Busca-se essa aproximação de forma que conhecimentos produzidos academicamente coadunem com as práticas docentes e a dialogicidade entre as experiências dos participantes sejam favorecidas pelos saberes científicos. Neste sentido, o diálogo permanente e a circularidade dos conhecimentos, saberes escolares e acadêmicos são pontos chaves presentes nas ações educativas.

81 O autor desta investigação realizou ações educativas do Projeto Nós Propomos! cidadania e inovação na educação geográfica em uma escola pública, no entanto não é objeto da investigação.

Figura 17 - As parcerias do projeto Nós Propomos! realizadas no estado de São Paulo

Fonte: elaboração do autor

Realizamos uma sistematização (figura 17) das parcerias realizadas entre o IGOT/UL, as instituições de ensino superior públicas USP e UNESP e as Escolas nas quais foram desenvolvidas as práticas pedagógicas pelos professores participantes do projeto Nós Propomos!.

Notamos ampla relação de trocas/compartilhamentos de conhecimentos, experiências docentes, ensino, extensão e de pesquisa (representadas pelas setas), na qual o ELO e o CPEA são mediadores das práticas ocorridas, respectivamente, em Marília-SP, Rincão-SP82, Ibitinga- SP, Serrana-SP e Ribeirão Preto-SP83.

A seta da UNESP está em direção à USP no sentido de explicitar que a coordenadora do CPEA é membro do ELO e assim estabelece constantes parcerias e diálogo para a reflexão das práticas pedagógicas com relação ao projeto. No caso de Mococa-SP, o ELO estabeleceu parceria com a instituição de Ensino Superior Privada Faculdade Universitária de Vida Cristã FUNVIC por meio da professora Rosani, que coordenou as práticas de dois professores de Geografia. Desta Forma, fica evidente na figura 17 a rede de parcerias pautada na forma de pesquisa colaborativa (IBIAPINA, 2008) nos municípios paulistas foco desta investigação.

82 As práticas pedagógicas realizadas em Rincão a partir de 2020 pelo professor Gabriel, sob coordenação da Dr.ª Silvia Aparecida de Sousa Fernandes, pela UNESP de Marília, não são alvo desta investigação.

83 Como já destacado, o pesquisador realizou práticas pedagógicas no referido município, no entanto o mesmo e suas práticas não é o objeto de estudo desta investigação.

Foi realizada em fevereiro de 2019, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/ USP, uma mesa redonda denominada “Participação do Grupo ELO no projeto Nós Propomos! Cidadania e inovação na educação geográfica”, na qual foram apresentadas e debatidas práticas pedagógicas feitas nos municípios84 de Mococa, Ibitinga, Serrana e Ribeirão Preto. Desse evento (Figura 18) e da sistematização das práticas houve a apresentação de um trabalho escrito por cinco professores no I Colóquio Internacional Enseñanza de la geografía y ciencias sociales85, em Bogotá, na Colômbia.

Figura 18 - Apresentação das práticas pedagógicas referentes ao projeto Nós Propomos! na mesa redonda

Fonte: arquivo pessoal do autor

Isto posto, alinhamo-nos à ideia de Carvalho Filho et al. (2019, p. 296) de que o grupo ELO

[...] está inserido no projeto Nós Propomos!, pois acredita na possibilidade de novas aprendizagens para superar as dificuldades atuais tendo em vista desenvolver a dimensão investigativa no campo educacional. A superação torna-se viável quando aprendemos juntos, em rede e a partir dos problemas concretos das diferentes localidades.

Até o presente momento, podemos refletir que o projeto se alinha ao combate à ideia de cidadão multifacetado (SANTOS, 2004), na medida em que instrumentaliza o aluno para entender os mecanismos legais e sociais que a democracia e as práticas da cidadania o 84 A professora coordenadora do projeto na UNESP de Marília estava presente, no entanto não apresentou a

prática e o professor de Geografia Gabriel não pôde comparecer ao evento.

85 O referido trabalho foi publicado como capítulo de livro com o título “O Grupo de estudos da localidade, o GEOFORO e as ações vinculadas ao projeto Nós Propomos!”. Para mais informações ver: http://www.ub.edu/ geocrit/geoforo_iberoamericano_2019.pdf.

permitem fazer para intervir de forma ativa na sua localidade. O projeto está sendo realizado de diferentes modos e tempos no Brasil, no entanto, sem perder a ideia central que é desenvolver a cidadania territorial e o senso crítico dos alunos quanto à realidade e às contradições da globalização no espaço geográfico local.

Na ibero-américa e, em especial no Brasil, o projeto introduz conceitos fundamentais do meio acadêmico ao aluno como lugar, justiça social, cidadania territorial e participação social. Tudo isso em uma perspectiva de construção de um sujeito autônomo (FREIRE, 2014) que pode utilizar as suas experiências (LOURENÇO FILHO; MENDONÇA, 2014), (DEWEY, 1976) para a promoção de uma sociedade mais justa e menos desigual.

As parcerias entre universidades, escolas, comunidade local e autarquias promovem o desenvolvimento e ampliação do projeto para várias localidades do Brasil. Assim, a universidade cumpre o papel de formação de professores com o Projeto, e as escolas de Educação Básica cumprem o papel de formação cidadã de jovens estudantes, por meio da educação geográfica.

Na próxima seção analisamos as entrevistas feitas com professores participantes do projeto em relação às contribuições do referido projeto para eles e para os alunos. Além disso, identificamos pontos marcantes, sob suas óticas, sobre as práticas desenvolvidas nos quatro municípios paulistas.

6 ANÁLISE DOS DADOS: AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES PARTICIPANTES

O sucesso deste projeto une-nos no objetivo comum de construirmos uma escola comprometida com as aspirações dos alunos e da sociedade e, por esta forma, comprometida com a formação de melhores cidadãos. (CLAUDINO, 2019a, p. 49)

Nesta seção, analisamos os dados coletados por meio das entrevistas com os cinco professores participantes do Projeto Nós Propomos! no estado de São Paulo, no Brasil. As entrevistas foram feitas seguindo um roteiro de perguntas (APÊNDICE A) que se alinha aos objetivos propostos de realização desta investigação, no âmbito da abordagem da pesquisa qualitativa.

Salientamos que, devido à quantidade de dados obtidos e às amplas possibilidades de análises e às várias leituras do material coletado, tornou-se indispensável definir três categorias de análise de conteúdo para haver uma interpretação coerente e produtiva nesta investigação. Criamos uma subseção para cada uma das três categorias analisadas a seguir.

a) O projeto e a formação cidadã b) Relevância da saída de sala de aula

c) Contribuições do projeto para os professores e os alunos

As entrevistas procuraram manter o diálogo livre, crítico e cordial para captar elementos substanciais e possibilitar o desenvolvimento do nosso objetivo central. As categorias foram criadas baseadas em duas fases, sendo a primeira o isolamento e a segunda a classificação (BARDIN, 2016). Observamos repetidos conceitos e noções presentes nas entrevistas e isolamos esses elementos para podermos, em um segundo momento, realizar a “[...] classificação: repetir os elementos e, portanto, procurar ou impor certa organização às mensagens” (BARDIN, 2016, p. 148, grifo da autora).

Usamos esses procedimentos para termos um material condensado como forma de representação dos dados brutos. Desta forma, realizamos as análises por meio de fragmentos das transcrições e um aporte teórico para justificar, de modo científico, a interpretação do material coletado para chegarmos a algumas considerações neste estudo. Apresentamos, em seguida, o levantamento da caracterização dos professores participantes entrevistados para facilitar a contextualização das análises feitas nessa seção. Tal caracterização foi realizada por meio de um quadro 1 na seção 4, no entanto, a retomamos aqui para facilitar as análises.

A primeira entrevistada é a professora Valquíria, que é graduada em Ciências Sociais na Fundação Santo André-SP (1994), com formação pedagógica em licenciatura em Geografia (1999). Possui Mestrado em Educação, pela FFCLRP, na Universidade de São Paulo (2014). Ela tem 51 anos, com 23 anos de atuação no magistério. Ministra aulas na Escola Estadual Professor Ângelo Martino, no município de Ibitinga. Desenvolveu as atividades desde a implantação do projeto (2018) até o ano de 2020. Para a investigação, consideramos as suas ações até o final do ano de 2019.

A segunda entrevistada é a professora Sonara, que é graduada em licenciatura em História pela Faculdade São Luís, em Jaboticabal-SP (2007), em licenciatura em Geografia pele Centro Universitário Barão de Mauá (2010) e em licenciatura em Pedagogia pela Universidade Metropolitana, em Santos-SP (2014). Possui especialização em Mídias na Educação pela Universidade Federal de São João Del Rei-MG (UFSJ). Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (2018). Possui 32 anos, com 13 anos de atuação no magistério. Ministra suas aulas na Escola Estadual Deputado José Costa no município de Serrana-SP e desenvolveu as atividades desde a implantação do projeto (2018) até o ano de 2019.

O terceiro entrevistado é o professor Gabriel, é graduado em licenciatura em Geografia pela Universidade Estadual Paulista, em Ourinhos-SP (2015) e é Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina, no Paraná (2019). Tem 31 anos, com 6 anos de atuação no magistério. Ministrou aulas no período analisado do desenvolvimento do projeto na Escola Estadual Prof.ª Oracina Corrêa Moraes Rodine, no município de Marília-SP e desenvolveu suas práticas desde a implantação (2017) até o ano de 2019.

A quarta entrevistada é a professora Rosani, é graduada em Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Católica, em São Paulo-SP (1988). Mestre em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1997). Tem 56 anos, com 20 anos de atuação no magistério. Ministra aulas na Faculdade Universitária de Vida Cristã – FUNVIC, em Mococa-SP, no curso de Pedagogia. Atuou como mediadora do projeto em duas escolas no município de Mococa-SP, desde a implantação em 2018 até o ano de 2019.

O quinto entrevistado é o professor Américo que é graduado em licenciatura em Geografia pelo Centro Universitário da Fundação Educacional, em Guaxupé (1995). Tem 47 anos, com 27 anos de tempo de atuação no magistério. Ministra aulas na Escola Estadual Justino Gomes de Castro Maestro, onde desenvolveu práticas pedagógicas do projeto nos anos de 2018 a 2019. Em seguida, analisamos trechos das entrevistas dentro das categorias criadas em conformidade com os objetivos e a questão levantada nesta investigação.