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CAPÍTULO 4 ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS NA

4.1 PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO

Na analise do projeto Pedagógico do Curso de Odontologia, os professores, em número de 56 (amostra constituída), trabalharam sob a forma de pequenas comissões. Quatro grupos de catorze pessoas foram constituídos.

A tarefa que desempenharam foi a de levantar questões relacionadas ao tema em foco (Projeto Pedagógico). Uma quantidade grande de perguntas foram elaboradas. Houve uma seleção delas: primeiro, nos pequenos comitês, e depois, no conjunto dos quatro agrupamentos, restando algumas delas sem repetição e com maior precisão.

Não houve discussão das questões elaboradas nos grupos, pois elas, por decisão coletiva, comporiam o conteúdo da formação continuada a iniciar, que se daria no processo simultaneamente com o transcorrer da avaliação institucional que acontecia. Os temas estudados seriam os dos conteúdos das questões.

Pensou-se, portanto, num procedimento de ensino que, vivenciado, já sugerisse inovação.

O princípio básico que fundamentou essa estratégia de trabalho foi a de que, quem questiona, sabe que quer saber. Sócrates aconselha que toda pergunta

demande uma resposta, atendimento ao conteúdo e à intenção.

Oliveira (1990) mostra que “as perguntas evidenciam a importância do perguntar como caminho de decisão, de escolha, de intervenção de comprometimento com a mudança na ação educativa”.

Igualmente, Faúndez (1999) reforça que:

O início do conhecimento, repito, é perguntar. Somente a partir de perguntas é que se deve sair em busca de respostas e não o contrário: estabelecer as respostas, todo o saber fica justamente nisso, já está dado, é um absoluto, não cede lugar à criatividade nem a elementos a descobrir.

E Freire (1980 apud SAUL, 2001, p. 46) afirma em relação a tarefa do professor:

Problematizar aos educandos o conteúdo que os mediatiza, e não a de dissertar sobre ele, de dá-lo, de entendê-lo, de entregá-lo, como se se tratasse de algo já feito, elaborado, acabado, terminado. Neste ato de problematizar os educandos, ele se encontra igualmente problematizado.

As questões formuladas pelos professores nesse momento foram: 1) O que é Projeto Pedagógico do Curso?

2) Por quem o da Odontologia foi elaborado? Quem deve elaborar o projeto?

3) Há necessidade em fazê-lo? Qual a sua importância?

4) Qual o conteúdo contido no projeto? Como elaborar o projeto pedagógico?

5) O perfil do profissional, no projeto pedagógico da Odontologia, está claro, bem delineado? Que critérios foram tomados no delineamento do perfil do profissional?

6) Que sentido tem a formação do profissional no contexto atual da sociedade brasileira? E sua projeção para o futuro?

7) Para que sociedade estamos formando o nosso profissional? De que maneira esse profissional pode (deve) atuar em sala de aula para torná- la melhor? Ou pelo menos mais próxima do que temos como ideal? A análise dessas questões aponta que, em comparação com os formulados

sobre o Projeto Pedagógico da Instituição, estão mais precisos, objetivos, pertinentes e válidos, demonstrando familiaridade com o tema (Projeto Pedagógico do Curso).

A explicação que se pode encontrar para o fato é, talvez, que essas questões, agora, são mais ligadas ao fazer diário do professor e o tema é, pelo menos, do domínio da prática dos profissionais/docentes.

Tardif (2002, p. 38) ajuda na compreensão deste fato quando diz:

[...] os próprios professores, no exercício de suas funções e na prática de sua profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento de seu meio. Esses saberes brotam da experiência e são por ela validados. Eles incorporam-se a experiência individual e coletiva sob a forma de "habitus" e de habilidades de saber fazer e de saber ser. Podemos chamá-los de saberes experienciais ou práticos.

O autor completa, dizendo:

O professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos a ciência da educação e a pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com alunos. Esse autor insiste que a formação acadêmica do professor, o saber que adquire, advém das seguintes fontes como se viu anteriormente: os saberes da formação profissional (das ciências da educação e da ideologia pedagógica); os saberes disciplinares (saberes sociais, definidos e selecionados pela instituição universitária pelas diversas disciplinas); saberes curriculares (correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos e se apresentam sob a forma de programas escolares que o professor deve aprender e aplicar. A esses saberes do docente, se acrescentam os saberes experienciais (saberes específicos, baseados no trabalho cotidiano e no conhecimento do seu meio).

Os docentes estabelecem para com os saberes chamados acadêmicos uma relação de exterioridade, pois advêm de fora, são externos a eles. Os saberes experienciais, ao contrário, são sentidos "como seu". A relação que se estabelece com eles é a de interioridade. São produzidos por si, são internos.

Gimeno Sacristán (1994 apud PACHECO, 1999, p. 52) diz que esse conhecimento experiencial e tácito. É impossível acrescentar-Ihe argumentos ou explicar como se dá e por quê. É ligado fortemente ao senso comum, possui lacunas, erros e sempre se apresenta incompleto, pouco seqüencial e sem visão de

totalidade. Uma formação de professor bem feita faz esse conhecimento resultar da relação dele com os saberes acadêmicos. Saber prático e teórico compor-se-iam intrinsecamente.

Assim, as questões formuladas anteriormente pelos professores de Odontologia sobre o Projeto Pedagógico da Universidade, por dizerem respeito à intenções e princípios que não são diretamente visíveis ou sentidos no dia-a-dia docente, são formulados com dificuldade e expressam não familiaridade. O desenvolvimento dessas intenções e princípios não compreendidos claramente prejudicam a formulação de questões ou permitem a formulação ingênua delas.