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3. MINHA CASA MINHA VIDA ENTIDADES

4.3 FÓRUM DE CORTIÇOS E SEM-TETOS E O PROJETO

4.3.2 Jabuticabeiras

4.3.2.3 O projeto e sua aprovação

Jabuticabeiras é um conjunto habitacional. A variação nas alturas do prédio entre quatro e nove andares, somada à não regularidade das plantas, produz uma área urbana menos geometrizada, mais humana e agradável. As galerias na parte de dentro do conjunto, e as portas de entrada ao longo delas, promovem vida na rua e controle social. Nos lados exteriores do prédio também é permitido bastante contato com a vizinhança no entorno, pelas janelas e travessias térreas. Bastante ênfase é dada à qualidade e acessibilidade das áreas coletivas. As figuras 12 até 15 mostram perspectivas do projeto da Fábrica Urbana, e são seguidas pelas figuras 16 e 17, que mostram a sua concretização em andamento. O conjunto consiste de apartamentos de seis tipologias diferentes. O projeto contem 67 vagas de estacionamento.

Fonte: Fábrica Urbana, 2015

Fonte: a autora, dezembro de 2016

A localização do Jabuticabeiras provavelmente não seja muito interessante para os futuros moradores. O local em si é vantajoso pelo fato de ser uma centralidade bem consolidada, (fig. 18), porém as pessoas vêm de lugares distantes, e elas terão que se adaptar em relação ao seu trabalho e outras atividades (PRADO, 2016b).

Figura 18 - Mapa da inserção – Jabuticabeiras

Fonte: Elaboração do Mario Kabilio e da autora a partir de imagem do Google Earth, 2017

O seguinte mapa mostra onde as famílias moram atualmente, em relação à localização da sua futura moradia, o conjunto residencial Jabuticabeiras.

Mapa 1 - Origem dos moradores do grupo do projeto Jabuticabeiras

Seguindo a contratação, a aprovação do projeto também foi demorada, levando mais dois anos, por razões burocráticas e técnicas. O projeto foi e voltou muitas vezes entre a Caixa e a Fábrica Urbana. A Caixa exigiu muitas (pequenas) mudanças, o que dificultou significativamente o processo de desenho (BARBOSA, 2017; GONZÁLEZ, 2016b). O seguinte detalhe dá uma ilustração das dificuldades que podem ocorrer. O projeto inclui um pilar não convencional, o qual sustenta uma parte do edifício (fig. 19).

Figura 19 - Perspectiva do conjunto residencial Jabuticabeiras

Fonte: Fábrica Urbana, 2015

Elevar a parte do prédio que o pilar sustenta foi necessário para satisfazer as exigências em relação ao número mínimo de unidades, por um lado, e a preservação da vegetação existente pelo outro (GONZÁLEZ; KROLL, 2012). O pilar ganhou um detalhe original para dar mais “charme” ao projeto (GONZÁLEZ, 2016b). O técnico da Caixa, encarregado da aprovação do projeto, não o aceitou. González explica isso através da simples razão de que, para a Caixa, o pilar seria um luxo, mesmo não fazendo diferença no orçamento do projeto. No final, o pilar foi aceito, mas para isso foi necessário estreitar os contatos com a Caixa em Brasília. Coincidentemente, e por sorte, o arquiteto tinha alguém de suas relações a quem apelou e que conseguiu intermediar o processo para resolver a questão. A Fábrica Urbana teve que abrir mão de outros detalhes do projeto, como por exemplo, do telhado verde do salão de festas: “Em Minha Casa Minha Vida não pode! “ (GONZÁLEZ, 2016b).

Há vários outros exemplos de exigências, as quais, segundo a assessoria técnica, vão além das necessárias. Por exemplo, as rígidas exigências dos detalhamentos construtivos das janelas não fazem muito sentido, sendo que no final, os construtores acabam usando as suas próprias janelas padrão de qualquer maneira. Um outro exemplo foi a necessidade de apresentar uma variedade de quatro orçamentos das janelas, para mostrar que o orçamento estava dentro do razoável. O desenho do guarda corpo das passarelas também teve que ser muito detalhado, mesmo que o construtor provavelmente fosse mudar esse desenho. E no final, a Caixa acaba aprovando o desenho da construtora, mesmo sendo muito pouco detalhado. A Caixa também pediu uma mudança muito pequena na medida das varandas, que teve grande impacto no projeto como um todo, exigindo vários redesenhos. A assessoria técnica perde muito tempo com essas exigências que muitas vezes são desnecessárias e improdutivas.

O projeto foi aprovado em dezembro de 2015.

O projeto ingressou na prefeitura com a construtora Concrelite, com a qual a Fábrica Urbana e o Fórum já trabalhavam. Em virtude de ela ter perdido o selo GERIC, não foi possível continuar com essa empresa. Possivelmente tenha sido uma sorte, pois a obra de um outro projeto, da mesma construtora, está apresentando vários problemas e atrasos graves. Optaram pela a construtora JCVITA, que a Fábrica Urbana conheceu por indicação e com a qual já estava trabalhando na construção do projeto Florestan Fernandes (GONZÁLEZ, 2016b).

A JCVITA está avançando rápido, para grande satisfação do grupo. A JCVITA espera concluir as obras em agosto 2017. Ter começado em agosto 2016, significaria que a obra levou um ano (GONZÁLEZ, 2017b). Para a empresa, é a (única) maneira de ter um projeto mais lucrativo. Porém, e como já foi mencionado na página 80, segundo o supervisor técnico da obra, este tipo de projeto é feito mais pelo interesse social e pela possível notoriedade que a JCVITA possa obter do que por fins lucrativos (HEIDTMANN, 2016).

As jabuticabeiras acrescentam qualidade ao projeto, e ao mesmo tempo, a presença delas foi um fator que dificultou o projeto, limitando a área construtiva. A liderança Kroll enfatiza muito o cuidado que os moradores precisam ter com as árvores.

Se forem cortadas, além de prejudicar a área, o Fórum e os moradores, esses, depois da transferência de propriedade, serão multados.

O arquiteto González (2016c), responsável pelo projeto, pode ser suspeito para falar, mas está muito contente com esse seu trabalho. Ele comenta bem-humorado: ”o projeto merece pelo menos uma menção honrosa” (GONZÁLEZ, 2016c). Segundo ele, os futuros moradores não são muito críticos sobre os aspectos arquitetônicos, porém, eles sentirão que o conjunto é diferente, de uma qualidade maior. Ele conta que o problema é o local impopular. Mesmo assim, ele relata que é possível perceber o orgulho dos moradores por esse projeto, e que isso é muito bom para eles (GONZÁLEZ, 2016c).