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Projetos de restauração nos Campos Sulinos

Capítulo 3 Práticas atuais de restauração em biomas florestais e não-florestais no Brasil

3.4. Resultados

3.4.4. Projetos de restauração nos Campos Sulinos

Entre outubro de 2013 e julho de 2014, foram examinados 25 projetos de restauração ecológica em 11 diferentes cidades no estado do Rio Grande do Sul (Figura 5, Tabela 11). Destes, seis foram visitados e seus responsáveis técnicos responderam a entrevistas (Tabela 12). Os 19 projetos restantes foram estudados por sua documentação na Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA em Porto Alegre e na Regional de Bagé, ou através de questionários preenchidos por seus executores, com o roteiro padrão desse trabalho (Anexo 1).

Dos 25 projetos situados em campos no Rio Grande do Sul, 22 estão dentro dos limites oficiais do bioma Pampa e outros três no bioma Mata Atlântica. No entanto, mesmo no domínio da Mata Atlântica, os projetos escolhidos localizam-se nos Campos de Cima da Serra, onde a vegetação campestre prevalece.

A respeito da natureza jurídica das entidades executoras, não foram encontrados projetos desenvolvidos por ONGs. A EMBRAPA desenvolve dois do total de projetos estudados, e os outros 23 estão vinculados à iniciativa privada: empresas ou proprietários de terras.

Em relação à motivação dos projetos, exigências legais determinam a vasta maioria (Tabela 13). As três exceções são destinadas a pesquisa científica, dois projetos da EMBRAPA nos municípios de Bagé e Dom Pedrito e a terceira, da empresa CMPC Celulose Riograndense no município de São Gabriel, todas no bioma Pampa. Dentre os projetos que atendem a exigências legais, as mais freqüentes são decorrentes de autos de infração por supressão de

vegetação sem autorização do órgão ambiental competente (13), ou para restauração de Reservas Legais ou Áreas de Preservação Permanente (5).

O tamanho das áreas em restauração variou entre 0,6 e 47 hectares, com média aproximada de oito hectares. Entre os 25 projetos examinados, 19 têm até 10 hectares e dois ocupam áreas entre 10 e 100 hectares. Nos quatro projetos restantes, os entrevistados não souberam informar o tamanho das áreas em restauração.

O uso do solo antes da restauração, como nos outros biomas, também foi bastante diverso, apresentando nove diferentes categorias (Tabela 14). Dentre os mais comuns, sete projetos são desenvolvidos em áreas onde antes havia pastagens (em alguns casos apontadas como nativas), abandonadas ou servindo ainda à pecuária; quatro projetos ocupam áreas divididas entre plantações e bovinocultura (duas de arroz, uma de arroz e soja e uma classificada apenas como “agricultura”); três iniciativas não forneceram esta informação.

O plantio de mudas nativas de porte arbóreo foi o método mais aplicado (em 20 dos 25 projetos avaliados; Tabela 15). Entre eles, ressalta-se a inclusão de “Plantio de Araucaria angustifolia” como uma categoria à parte. O método foi relatado pelos entrevistados por ter se tornado prevalente nos Campos de Cima da Serra (aqui representados por projetos em Cambará do Sul e São Francisco de Paula) visando evitar a extinção da espécie.

Além deste, notam-se categorias cujos métodos excluem-se mutuamente, como a manutenção ou a exclusão dos animais pastadores, em sua maior parte gado bovino, como estratégias para a restauração. Dos 17 projetos que mencionaram estratégias relacionadas ao gado, apenas dois optaram por manter os animais nas áreas.

O alinhamento ou o desalinhamento das mudas foram alternativas usadas com mesma frequência, nove dentre os 18 projetos que informaram como realizam o plantio total. Justificativas para a escolha de um ou outro residem na praticidade do processo do alinhamento ou da maior similaridade com a dinâmica espontânea da germinação e crescimento das plântulas no ecossistema dito “natural”.

Outros métodos recorrentemente aplicados foram o uso de iscas formicidas (11 projetos), o uso de adubos artificiais (9), a organização dos plantios seguindo algum tipo de arranjo pelas características sucessionais das árvores (7); replantios de reposição de mudas perdidas, ou plantios de enriquecimento (7) e transposição de solo/aterro (5). As gramíneas, tão importantes nos ecossistemas campestres, foram semeadas em apenas cinco dos 25 projetos examinados, por opção dos próprios restauradores. Em quatro destes cinco projetos, as gramíneas foram combinadas com o plantio total de mudas arbóreas. O único projeto que

utilizou as gramíneas como elemento central é desenvolvido pela EMBRAPA para fins de pesquisa científica.

3.4.4.1. Outras influências institucionais

No estado do Rio Grande do Sul, além da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMA e da Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM, agências governamentais voltadas à proteção e fiscalização ambiental, o Ministério Público do Estado também exerce influência sobre os projetos de restauração. A autuação de proprietários é a principal motivação dos projetos aqui examinados, mas o MPE também estabelece as técnicas a empregar e a forma como as áreas devem ser monitoradas. Seguem-se dois exemplos de comunicados feitos pelo órgão diretamente aos restauradores, antes mesmo do processo chegar a SEMA:

(1) município de Bagé (RS), área de três hectares. Projeto motivado por auto de infração pelo corte não autorizado de árvores e alvo de um Termo de Ajuste de Conduta com o MPE – RS.

 “As mudas a serem plantadas serão distribuídas, no mínimo, em cinco espécies florestais nativas da região”.

 “O espaçamento entre as mudas deve ser de aproximadamente 3x3m”.

 “O plantio deve ser efetuado no prazo de um ano, preferencialmente entre os meses de maio e setembro, devendo ser monitorado por um período mínimo de quatro anos, incluindo irrigação, tratos culturais e substituição das mudas que não vingarem, sendo permitido o limite máximo de 10% de falhas”.

(2) município de Itacurubi (RS), área de um hectare. Projeto motivado por auto de infração pelo corte não autorizado de árvores e alvo de um Termo de Ajuste de Conduta com o MPE – RS.

 “O projeto deverá prever o plantio de no mínimo 1172 mudas de essências florestais nativas da região, com altura mínima de 50 cm, distribuídas em pelo menos 10 diferentes espécies, com espaçamento 3x3, buscando reproduzir sua distribuição natural em formações florestais”.

 “O plantio deverá ser realizado (...) em locais com aptidão para o desenvolvimento de floresta”.

 “A área deve ser protegida e especialmente isolada no caso de áreas próximas para pecuária”.

 “Deverá realizar o monitoramento do desenvolvimento das mudas (...) incluindo adubação, irrigação, capinas, tratos culturais e substituição de mudas em mau estado fitossanitário, sendo permitido o limite máximo de 10% de falhas”.