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1.2 FORMAÇÃO DO CONTRATO DE CONSUMO ELETRÔNICO

2.1.2 Projetos de Lei em Trâmite

A questão do comércio eletrônico no Brasil é ainda incipiente. Atualmente estão em tramitação na Câmara treze projetos que versam, direta ou indiretamente, sobre transações eletrônicas e seus principais requisitos de segurança. São eles:

a) Projeto de Lei n° 4.102-A/1993, que busca dá definição aos crimes praticados por meio de computadores relacionados à inviolabilidade de dados e a informações;

b) Projeto de Lei n°4.906/2001, que dispõe sobre o valor probante do documento eletrônico e dá assinatura digital, regula também a certificação digital e institui normas para transações de comércio eletrônico. Tal projeto tramita em conjunto ao Projeto de Lei nº 7.093/2002, que trata da correspondência eletrônica comercial e proporciona aos receptores a escolha da suspensão do recebimento das mensagens eletrônicas comerciais, bem como estabelece sanções administrativas.97

Atualmente, esses projetos encontram-se sem tramitação na mesa diretora desde agosto de 2002.

O projeto de Lei 4.906/2001, que dispõe sobre o comércio eletrônico, é de suma importância para a uniformização das normas de comércio eletrônico em nível internacional. O artigo 2º do projeto supra tem como parâmetro o artigo 2º da Lei Modelo da UNCITRAL, que expõe o que seja mensagem eletrônica, intercâmbio eletrônico de dados, remetente e destinatário da mensagem. Os artigos seguintes

referem-se ao reconhecimento jurídico das mensagens, à exigência de informação escrita e assinatura e à obrigação da conservação das mensagens. Ainda nesse Projeto de Lei, há um capítulo específico sobre o contrato eletrônico, vislumbrando nesse tópico o lugar e momento da conclusão do contrato, em que mais uma vez se assemelha a proposta apresentada pelo modelo da UNCITRAL:

4) Salvo convenção em contrário entre o remetente e o destinatário, uma mensagem eletrônica se considera expedida no local onde o remetente tenha seu estabelecimento e recebida no local onde o destinatário tenha o seu estabelecimento. Para os fins do presente parágrafo:

a) se o remetente ou o destinatário têm mais de um estabelecimento, o seu estabelecimento é aquele que guarde a relação mais estreita com a transação subjacente ou, caso não exista uma transação subjacente, o seu estabelecimento principal;

b) se o remetente ou o destinatário não possuírem estabelecimento, se levará em conta a sua residência habitual.98

De acordo com os artigos que tratam do lugar da conclusão do contrato, considera-se recebida e expedida a mensagem eletrônica nos locais em que o remetente e o destinatário tenham seus estabelecimentos. Ainda que tal projeto seja de suma importância para o comercio internacional, este se encontra pronto para pauta desde agosto de 2002. Salienta-se que foram apensados a este projeto os Projeto Legislativos de números 1.585/99 e 1.483/99.

c) Projeto de Lei 7.316/2002, que disciplina o uso de assinaturas eletrônicas e prestação de serviço de certificação. Em julho de 2010, tal projeto teve o parecer favorável Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) - Parecer do Relator, Dep. Celso Russomanno (PP-SP), pela constitucionalidade, juridicidade, técnica legislativa e, no mérito, pela aprovação deste e do Substitutivo da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, nos termos do Substitutivo da Comissão de Defesa do Consumidor, com subemenda;99

d) Projeto de Lei 5298/2009: Quanto à necessidade de identificação dos usuários de serviços de correio eletrônico, há um Projeto de Lei 5298/2009,

98 LEI MODELO DA UNCITRAL

99 Lei 7316, que dispõe acerca o uso de assinaturas eletrônicas e a prestação de serviços de certificação. Disponível em: http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=96920. Acesso em 12 fev. 2011

apensado ao PL 5403/2000, que se encontra na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados desde junho de 2009.

Tal projeto está sujeito à apreciação do plenário em regime de tramitação em caráter de Urgência, conforme art. 155 Regimento Interno da Câmara dos Deputados (RICD).100

O regime de urgência determina que o projeto poderá ser incluído automaticamente na ordem do dia para discussão e votação imediata por versar sobre matéria de relevante e inadiável interesse nacional, a requerimento da maioria absoluta da composição da Câmara, ou de líderes, aprovado pela maioria absoluta dos Deputados.101

e) Projeto de Lei 979/2007: Um dos únicos projetos que versam sobre a proteção dos consumidores nos contratos celebrados por meio da internet, o PL 979/2007, que está apensado ao PL 1.176/2007, encontra-se na CCJC – Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

O referido projeto versa sobre o acréscimo de artigo à Lei nº 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor, determinando que fornecedores que ofertam ou comercializam produtos ou serviços pela rede mundial de computadores devem informar seu endereço para fins de citação, bem como o número de telefone e endereço eletrônico utilizáveis para atendimento de reclamações de consumidores.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 31A:

Art. 31 A Os fornecedores que ofertam ou comercializam produtos ou serviços pela rede mundial de computadores ficam obrigados a divulgar, no mesmo sítio, seu endereço para fins de citação, bem como número de

telefone e endereço eletrônico destinados ao atendimento de reclamações de consumidores.102

100 PL 5298, que Dispõe sobre a identificação dos usuários dos serviços de correio eletrônico. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=436188 acesso em 12 fev. 2011 101 Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Disponível em:

www.camara.gov.br/internet/.../regimento_interno/.../RegInterno.pdf acesso em 12 de fev. 2011 102 PL 979, que acrescenta artigo à Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para obrigar os

fornecedores que ofertam ou comercializam produtos ou serviços pela rede mundial de computadores a informarem seu endereço para fins de citação, bem como o número de telefone e endereço

eletrônico utilizáveis para atendimento de reclamações de consumidores. Disponível em http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=350595 acesso em 12 fev. 2011.

f) O Projeto de Lei 7.17/2007: Determina que o fornecedor, ao ofertar produto ou serviço pela internet, fica obrigado a disponibilizar, em seu sítio meio que possibilite ao consumidor cancelar sua aquisição, mediante o uso da internet103, bem como informar ao consumidor, em 24 (vinte e quatro) horas, mediante o uso da internet, o número do protocolo referente ao cancelamento solicitado.104

g) Projeto de Lei nº 104/2011: O Deputado Sandes Junior, do Partido Progressista de Goiás, apresentou um Projeto de Lei nº 104/2011 em 02 de fevereiro de 2011, que propõe a obrigatoriedade de as pessoas jurídicas brasileiras que comercializem produtos ou serviços pela Internet fiquem obrigadas a informar, em seu sítio eletrônico, de modo claro e destacado, o seu número no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, endereço completo de suas instalações físicas, inclusive o CEP, número de telefone fixo para contato e o número da inscrição estadual ou municipal.105

A justificativa para a propositura desse projeto de lei recai na proteção do consumidor que realiza compras na internet por meio de sítio eletrônico, em que consta apenas do nome de fantasia e de informações meramente virtuais.106

Diante da ausência de informações do fornecedor, o consumidor se vê impedido de apresentar reclamações ou exigir o cumprimento da oferta divulgada, quando se tratar de estelionatários. Da mesma forma, fica inviabilizada a apresentação de queixa aos órgãos de defesa do consumidor e a demanda judicial, porquanto não se conhece o nome da pessoa jurídica ou seu endereço, para convocar, citar ou intimar.

103 PL 717, que dispõe sobre a obrigação do fornecedor que oferece produto ou serviço pela internet a disponibilizar, em seu sítio, meio para o consumidor cancelar sua aquisição. Disponível em:

http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=347948.acesso em 12 fev. 2011 104 Idem

105 PL 104 que dispõe sobre a obrigação as pessoas jurídicas que comercializem produtos ou serviços pela Internet a informar seu número no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ, e o endereço e o telefone de suas instalações físicas. Disponível em:

http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=491057. Acesso em 12 fev. 2011

106 Projeto de Lei do Deputado Sandes Junior que dispõe sobre a obrigatoriedade de informar o CNPJ das pessoas que contratam pela internet. Disponível em

h) Proposta de Emenda Constitucional nº31/2007: Na tentativa de harmonizar as relações tributárias entre os Estados, busca-se, por meio da Proposta de Emenda Constitucional nº31/2007, modificar o regime de tributação nas operações interestaduais decorrentes de vendas para o consumidor não contribuinte do ICMS, inclusive por meio eletrônico, estabelecendo que, nas operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á a alíquota interestadual e caberá ao Estado de localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual107.

O inciso VII do § 2º do art. 155 da Constituição Federal passaria a vigorar com a seguinte redação:

VII - em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á a alíquota interestadual e caberá ao Estado de localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual.108

Com esse projeto de lei, por-se-ia fim à guerra fiscal entre os Estados da Federação, já que cada Estado traz para si a legitimidade de cobrança dos impostos. No entanto, mesmo diante de tamanha importância, o projeto encontra-se desde junho de 2008 na Comissão Especial destinada a proferir parecer à Proposta de Emenda à Constituição.109

h) O Projeto de Lei nº 7194/10: propõe a alteração do art.49 do Código de Defesa do Consumidor acrescentando no caput do artigo o termo internet, já a previsão atual somente se refere a desistência da compra realizada fora do estabelecimento comercial realizada por telefone ou a domicílio.

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre

107 Proposta de emenda à Constituição do Deputado Luiz Carreira acerca Alteração do Sistema Tributário Nacional quanto às Operações Interestaduais de Comércio. Eletrônico e dá outras

providências. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/539178.pdf 12/11/2011, acesso em 12 fev. 2011

108Idem

109 PEC 227 que dispõe sobre a alteração do sistema tributário. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=384060. Acesso em 12 fev. 2011

que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.110

i) Projeto de Lei 3.598/2008: Por diversas vezes os consumidores, usuários da internet são vítimas de mensagens eletrônicas comerciais que, de modo impertinente, ou entulham as caixas postais ou exibem-se nas telas sobrepondo textos ou informações. O Projeto de Lei 3598/2008 busca solucionar tal problema determinado que:

Art.6 A comunicação via internet, realizada por intermédio de

mensagem eletrônica (e-mail), só poderá ser remetida se obedecidos os seguintes critérios:

I - Identificação clara, no campo “assunto”, do objetivo da mensagem, bem assim, da pessoa jurídica que a envia.

II - Detalhamento, no corpo da mensagem, da razão social da empresa, do responsável pelo envio da mensagem e do número de registro da empresa no Cadastro Geral de Contribuintes – CGC, ou do CPF no caso de pessoa física.

III - Disponibilização de ferramenta para cancelamento de endereço, oportunizando ao receptor retirar seu e-mail do cadastro da pessoa física ou jurídica.111

Nota-se que o projeto determina a identificação da mensagem e a possibilidade de cancelamento de seu recebimento, uma vez que o usuário ao conhecer o remetente tem a liberdade de acessar ou não a mensagem, bem como o alvedrio de excluí-la.

j) A Medida Provisória nº 2.200-2, de 28.06.2001, reeditada em 28 de julho e 24 de agosto 2001: instituiu a Infra-Estrutura das Chaves Públicas (ICP-Brasil) e transformou o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação em autarquia, como forma de “garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações

110 PL 7194, que dispõe sobre a alteração do art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, o Código de Defesa do Consumidor. Disponível em:

http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=474817. Acesso em 12 fev. 2011

111 Projeto de Lei de autoria de Ayrton Xerez, que dispõe sobre disciplina das relações de contato comercial por intermédio de telefone – telemarketing e as comunicações publicitárias via informática, entre pessoas físicas e jurídicas e o cidadão. Disponível em:

habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras.112

Infraestrutura das Chaves Públicas (ICP) pode ser conceituada como um sistema que tem por finalidade precípua, mas não exclusiva, de atribuir certificados digitais a uma universo de usuários, além de gerenciar o seu tempo de vida, em face da necessidade de sua suspensão ou revogação, ou mesmo da emissão de novos certificados.113 A estrutura do ICP-Brasil tem como autoridade gestora o Comitê Gestor, responsável pela coordenação de funcionamento e definição de normas técnicas. De acordo com o sistema da ICP-Brasil, os certificados digitais podem ter como titulares pessoas naturais ou pessoas jurídicas, mas sempre tendo uma pessoa natural responsável pela utilização da chave privada relacionada à chave pública constante do certificado.114

A chave pública consiste num mecanismo de criptografia que tem por objetivo fazer reconhecer os atos praticados eletronicamente. A criptografia estuda o resguardo da privacidade e integridade da informação. Em outras palavras, disciplina os meios e métodos para a transformação de dados, de forma a proteger a informação contra acesso não autorizado ao seu conteúdo. Já a chave privada é mantida secreta pelo seu dono e usada no sentido de criar assinaturas para cifrar e decifrar mensagens com chaves públicas correspondentes. Desse modo, a chave pública serve para verificar uma assinatura digital que uma chave privada correspondente tenha criado.

O Comitê Gestor da ICP-Brasil exerce a função de autoridade gestora de políticas, vinculado à Casa Civil da Presidência da República, tendo por competência: adotar medidas necessárias e coordenar a implantação e funcionamento da ICP-Brasil, estabelecer a política e as normas técnicas para o credenciamento das autoridades certificadoras (AC), das autoridades de registro (AR) e dos demais prestadores de serviço de suporte à ICP-Brasil. As AC são

112 MARTINS, Guilherme Magalhães. Responsabilidade Civil por Acidente de Consumo na

Internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 120

113 MARTINS, 2008, p.122 114Ibidem, p. 123

entidades credenciadas a emitir certificados digitais, vinculando pares de chaves criptográficas ao respectivo titular. Já as ARs são entidades operacionais cuja competência visa identificar e cadastrar os usuários na presença destes, encaminhar solicitações de certificados às autoridades e manter registros de suas operações. Todo esse aparato técnico existe para garantir a autenticidade, integridade e validade jurídica do documento emitido em forma originariamente eletrônica (MP 2.200-2/01, art. 1º). Atente-se, ainda, que tal Medida Provisória é norma de caráter nacional, com aplicabilidade perante toda a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil, compreendida nessa a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal (CF/88, art. 18, caput).

Desse modo, não é facultado a qualquer ente político (Estados ou Municípios) criar infraestruturas de certificação próprias, ainda que sigam, por simetria, o modelo imposto na Medida Provisória, ou seja, apenas certificado ICP-Brasil e nenhum outro gera a certeza da validade jurídica do documento eletrônico, pois se sabe, com garantia legal, quem assinou (autenticidade) e que o documento não sofreu qualquer modificação entre o emissor e seu destinatário (integridade).

Não significa dizer, porém, que não possam existir outros certificados, já que a mesma Medida Provisória 2.200-2/01 (a partir de sua segunda edição) determinou, em seu artigo 10, § 2º, a possibilidade de utilização de outro meio de comprovação da autoria e integridade de documentos em forma eletrônica, desde que admitido pelas partes como válido ou aceito pela pessoa a quem for oposto o documento.

Tal medida busca segurança ao consumidor que somente é alcançada com a assinatura digital, considerada vital para o desenvolvimento do comércio eletrônico, sendo a criptografia a tecnologia garantidora do sigilo das comunicações eletrônicas e liberdade de expressão. Assim, a utilização da assinatura digital permite que os negócios realizados na nova plataforma ofereçam segurança, garantindo que os documentos eletrônicos identifiquem e responsabilizem as partes da operação, protegendo os usuários contra a fraude, vindo a certificação eletrônica equiparar o documento eletrônico ao físico, escrito e assinado.

Sem dúvida, é de suma importância a existência da Medida Provisória que regula ICP-Brasil: primeiro, por ser a única lei que regula a atividade digital e, depois,

por garantir segurança aos usuários da internet quanto às assinaturas e certificados digitais. No entanto, tal medida não é suficiente para oferecer um ambiente de tranquilidade ao consumidor do comércio eletrônico, por esse motivo, o Ministério Público Federal editou uma Carta de Princípio na tentativa de atenuar a deficiência de uma norma específica acerca de comércio eletrônico. É o que se passa a discorrer.

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