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1 A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE GEOGRAFIA EM

1.3 Projetos políticos do Curso de Geografia

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), no artigo 15, concedeu à escola progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira. Nas universidades não foi diferente. No artigo 12, inciso I, que vem sendo chamado o “artigo da escola”, a Lei dá aos estabelecimentos de ensino a incumbência de elaborar e

executar sua proposta pedagógica (Brasil, 1996). Também o inciso VII define que é:

Incumbência da escola informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. No artigo 13, chamado o ‘artigo dos professores’, aparecem como incumbências desse segmento, entre outras, as de participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso I) e elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso II). (BRASIL, 1996, não paginado).

Esta Lei entra para a história brasileira por ser a primeira a detalhar aspectos pedagógicos de gestão escolar, o que dá margem para alguma autonomia aos profissionais da escola. O projeto político de uma instituição tende a ser autônomo na sua condição de unicidade, já que apresenta caracteres geográficos, históricos, sociológicos, antropológicos e econômicos diferentes. Uma instituição de formação inicial de professores, seja na modalidade licenciatura ou de pedagogia, tem um grupo de instrumentos de gestão conectos às diretrizes nacionais, como carga-horária e unidades curriculares pré definidas. Todavia, envolve outra gama de atributos, da qual prevalece a singularidade do grupo de professores e alunos na efetivação deste projeto político.

Neste sentido, o projeto orienta a prática de produzir uma realidade. Para isso, é preciso primeiro conhecer essa realidade. Em seguida, reflete-se sobre ela, para depois planejar as ações para a construção da realidade desejada. É fundamental que, nessas ações estejam as metodologias mais adequadas para atender às necessidades sociais e individuais dos alunos. Nesta perspectiva, Vasconcellos (2002, p. 69) traça algumas finalidades do projeto político de uma escola:

a) Estabelecer diretrizes básicas de organização e funcionamento da escola ou do curso, integradas às normas comuns do sistema nacional e do sistema ou rede ao qual ela pertence;

b) Reconhecer e expressar a identidade da escola de acordo com sua realidade, características próprias e necessidades locais;

c) Definir coletivamente objetivos e metas comuns à escola como um todo; Possibilitar ao coletivo escolar a tomada de consciência dos principais problemas da escola e das possibilidades de solução, definindo as responsabilidades coletivas e pessoais;

d) Estimular o sentido de responsabilidade e de comprometimento da escola na direção do seu próprio crescimento;

e) Definir o conteúdo do trabalho escolar, tendo em vista as Diretrizes Curriculares Nacionais para ensino do curso, os Parâmetros Curriculares Nacionais, os

princípios orientadores da Secretaria de Educação nas instâncias estadual e municipal, a realidade da escola e as características do cidadão que se quer formar; f) Dar unidade ao processo de ensino, integrando as ações desenvolvidas seja na sala

de aula ou na escola como um todo, seja em suas relações com a comunidade. g) Estabelecer princípios orientadores do trabalho do coletivo da escola.

h) Criar parâmetros de acompanhamento e de avaliação do trabalho escolar. i) Definir, de forma racional, os recursos necessários ao desenvolvimento da

proposta.

Vasconcellos (2002) apresenta também uma proposta de estruturação do projeto político com três etapas, marco referencial, diagnóstico e programação. Todavia, outros autores como Libâneo (2004, p. 164-165) sugerem um roteiro de projeto pedagógico curricular que contempla nove grandes itens:

1. Contextualização e caracterização da escola; 2. Concepção de educação e de práticas escolares; 3. Diagnóstico da situação atual; 4. Objetivos gerais; 5. Estrutura de organização e gestão; 6. Proposta curricular; 7. Proposta de formação continuada de professores; 8. Proposta de trabalho com pais, comunidade e outras escolas de uma mesma área geográfica; e 9. Formas de avaliação do projeto.

Nos Projetos Políticos dos cursos de Geografia do Brasil, a legislação que os prevê são as Diretrizes Nacionais para curso de Geografia, que no artigo 2º diz que,

O Projeto político do curso de Geografia de cada Instituição formadora deverá explicitar: o perfil dos formandos nas modalidades bacharelado, licenciatura e profissionalizante; b) as competências e habilidades – gerais e específicas a serem desenvolvidas; c) a estrutura do curso; d) os conteúdos básicos e complementares e respectivos núcleos; e) os conteúdos definidos para a Educação Básica, no caso das licenciaturas; f) o formato dos estágios; g) as características das atividades complementares; h) as formas de avaliação. (BRASIL, 2002b, p. 1).

Portanto, na instituição tem-se plena liberdade por meio deste tipo de instrumento de se exercer a autonomia geográfica e cultural para desenvolver os cursos de formação do geógrafo brasileiro. O que se verifica nestes modelos de organização é que a realidade vivênciada pelos sujeitos pode estar presente em todas as etapas de formulação de um projeto político. Os sujeitos do projeto são os professores, alunos e gestores e eles compõem o perfil, caráter e a integridade da prática escolar.

Ao Conselho Federal de Educação compete prever a carga horária dos cursos de Licenciaturas, que são iguais para todas as áreas de licenciaturas plenas, através da Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002. Fica, assim, instituída a carga horária de 2800 (duas mil e oitocentas) horas, distribuídas em: 400 (quatrocentas) horas de prática, como componente curricular, vivênciado ao longo do curso; 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural; 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais. E se os alunos exercerem atividade docente regular na educação básica, poderá ter redução da carga horária do estágio curricular supervisionado até o máximo de 200 (duzentas) horas (Brasil, 2002c).

Os cursos portugueses não apresentam projetos políticos de cursos como no Brasil, mas, sim, normas regulamentares dos cursos de formação inicial de professores, da qual, os componentes de formação dos Mestrados em Ensino eram, em 2007: a) Formação educacional geral; b) Didáticas específicas; c) Iniciação à prática profissional; d) Formação cultural, social e ética; e) Formação em metodologias de investigação educacional; e f) Formação na área de docência. Segundo o artigo 14º do Decreto-Lei 43/2007, o ciclo de formação cultural, social e ética era o único que surgiam referências à cidadania em sua redação. Os seus objetivos eram:

a) A sensibilização para os grandes problemas do mundo contemporâneo; b) O alargamento a áreas do saber e cultura diferentes das do seu domínio de habilitação para a docência; c) A preparação para as áreas curriculares não disciplinares e a reflexão sobre as dimensões ética e cívica da atividade docente.(Diário da República, 1ª série, nº 38, 22 de fevereiro, p.1324). (Portugal, 2007, p. 1324).

Já no Decreto-Lei 79/2014, que substitui o Decreto-Lei de 2007, a concepção objetiva é redefinida, destacando-se que:

Cabe igualmente ao segundo ciclo assegurar a formação educacional geral, a formação nas didáticas específicas da área da docência, a formação nas áreas cultural, social e ética e a iniciação à prática profissional, que culmina com a prática supervisionada. (Portugal, 2014, p. 2819).

Portanto se retira a reflexão sobre as dimensões ética, cívica da atividade docente,

que se apresentou em 2007, para além de se atualizarem as designações das compeonentes de formação (nº 1 do Artigo 7º): Área de docência, Área educacional geral, Didaticas específicas, Área cultural, social e ética e Iniciação à prática profissional (que se mantém).

A partir do ano letivo 2011 e 2012, entraram em vigor na Universidade de Lisboa as Normas regulamentares do Mestrado em Ensino de História e de Geografia no 3.º Ciclo do

Ensino Básico e no Ensino Secundário17. Nestas normas estão contidos os regulamentos com as regras de admissão, funcionamento, estrutura curricular e plano de estudos, além das regras sobre relatório final, regime de procedência e avaliação de conhecimentos, prazos e composição de júri de avaliação de relatórios, prazos de inscrição e elementos obrigatórios dos diplomas.

Este documento é muito importante, pois configura a autonomia da instituição em administrar seu curso de formação inicial de professores de História e Geografia, da mesma forma que os Projetos Políticos dos Cursos no Brasil se fazem autônomos. Ressalta-se que cada instituição, seja ela pública ou privada, tem seu projeto político diferenciado em função das características específicas de cada instituição, só que, em Portugal, o projeto político do curso como se conhece legalmente e institucionalizado no Brasil, não existe. Porém, são configurados

17 Cf. Portugal. Universidade de Lisboa. Reitoria. Despacho nº 5384, de 19 de abril de 2012. Diário da República, n. 78, série I-A, p. 14195, 19 abr. 2012. Disponível em: < http://www.igot.ulisboa.pt/wp- content/uploads/2015/09/normas-regulamentares-mestrado-ensino-historia-Geografia.pdf>. Acesso em: 10 de maio 2016.

outros tipos de documentos que instituem as mesmas características dos Projeto político de Curso (PPC) e no Brasil. Os documentos nacionais servem como norteadores da construção e legitimação dos cursos e de suas necessidades; por isto, as composições das unidades curriculares são proximas e em muitas universidades até apresentam o mesmo nome e carga horária, ou número de créditos semelhantes.