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Pode-se observar, dos itens anteriores, que os autores da ciência da administração, no tocante ao projeto e implantação de um plano de cargos e salários, valorizam por demais a meritocracia. E estão certos. Em uma era em que o capital humano é considerado o bem mais precioso de uma organização, premiar e manter em seus quadros os profissionais que se destacam deve ser o objetivo de todo gestor de pessoas ou de talentos.

Mas é preciso não descuidar do aspecto jurídico de tais decisões. É sepulcral o silêncio dos autores analisados em relação a necessidade de prever promoções por antiguidade no PCS. O único a manifestar-se sobre o assunto foi Pontes (2005, p. 323) e que entende que a promoção por antiguidade, apesar de reduzir a rotatividade de pessoal, pode gerar desestímulo aos colaboradores mais produtivos por perceberem que “colegas seus, com fracos

desempenhos ou desempenhos medianos, são promovidos por força única e exclusiva de tempo de serviço".

Com todo o respeito merecido pelo renomado autor, esse entendimento não pode prevalecer. Primeiramente porque o empresário não está adstrito às rígidas amarras procedimentais a que o administrador público está sujeito em relação a pessoal, e que resultam na “excelência” da prestação de serviços oferecidos pelo Estado. E em segundo lugar, o poder de direção inerente ao direito de propriedade possibilita que todo colaborador

que não atenda às expectativas da organização seja promovido ao mercado, o que tende a inibir os desempenhos fracos ou medianos apontados.

Ademais, conforme já exposto no subitem 3.4, a alternância dos critérios de promoção é requisito obrigatório para a homologação do PCS perante o MTE.

Há inúmeros julgados como o abaixo listado, unânimes quanto à necessidade de promoções alternadas por merecimento e por antiguidade:

RECURSO DE REVISTA - EQUIPARAÇÃO SALARIAL - QUADRO DE CARREIRA SEM PREVISÃO DE PROMOÇÕES POR ANTIGUIDADE - HOMOLOGAÇÃO - RECONHECIMENTO PELO SINDICATO. De acordo com o entendimento consolidado pela OJ-SDI-1 nº 418, não constitui óbice à equiparação salarial a existência de plano de cargos e salários que, referendado por norma coletiva, prevê critério de promoção apenas por merecimento ou antiguidade, não atendendo, portanto, ao requisito de alternância de critérios, previsto no art. 461, § 2º, da CLT. Recurso não conhecido. (TST, Recurso de Revista n. 1276- 44.2010.5.03.0087)

Torna-se necessário, dessa forma, um diálogo mais próximo entre a gestão de talentos e a assessoria jurídica da organização quando da elaboração ou alteração de um Plano de Cargos e Salários.

CONCLUSÃO

Como se observou no primeiro capítulo, contemporaneamente, há um princípio geral de isonomia que se irradia para o ordenamento jurídico como um todo. O mesmo deve ser aplicado, além da regra da igualdade formal, para corrigir desigualdades materiais existentes. Verificou-se que a CRFB veda diferenças de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Para melhor entender o tema em exame realizou-se uma análise histórica da proteção ao trabalhador e da construção do princípio da isonomia, refletido no mundo jurídico pela equiparação salarial.

Ao final do capítulo, investigou-se o objeto da equiparação salarial, e distinguiram-se as diferenças conceituais entre salário e remuneração, detalhando seus elementos constitutivos bem como formas de estipulação, tanto no aspecto jurídico como no âmbito da gestão de pessoas. Constatou-se que as organizações começaram a perceber que os programas tradicionais de remuneração estavam se tornando obsoletos frente à nova realidade do mercado, e que novas medidas têm sido propostas objetivando uma maior eficiência na política salarial.

No segundo capítulo analisaram-se os requisitos legais e os aspectos jurisprudenciais para a caracterização da ocorrência da equiparação salarial, detalhando os conceitos de igualdade de funções, igualdade de empregador, igualdade de localidade, simultaneidade na prestação da atividade laboral e a igualdade de valor no trabalho realizado. Detalhou-se a dificuldade probatória da igualdade de qualidade técnica, notadamente em atividades não operacionais.

Ao final desse capítulo demonstraram-se os impedimentos à equiparação salarial: a vedação à adoção como paradigma de colaborador readaptado e a diferença de tempo na função superior a dois anos. Por fim, analisou-se a quem pertence o ônus probatório no processo de equiparação.

No derradeiro capítulo, detalhou-se o principal fator que obsta a equiparação salarial, o Plano de Cargos e Salários - PCS, mais conhecido no meio jurídico como quadro de carreira. Analisaram-se as possibilidades de sua gênese, destacando a necessidade de homologação deste junto ao Ministério do Trabalho e Emprego. Ressaltou-se a necessidade de

que este preveja promoções de forma alternada por merecimento e por antiguidade, sob pena de ineficácia em demandas judiciais.

Verificou-se que, apesar da inexistência de obrigatoriedade, a existência de um PCS é benéfica tanto para o colaborador, por blindá-lo de arbítrios ou distorções que possam ocorrer em sua remuneração, como para o empregador, por criar de um ambiente de trabalho preocupado com a motivação, a realização e o desenvolvimento profissional; além de ser meio de prova em eventuais pedidos de equiparação salarial.

Na parte final desse capítulo, pormenorizaram-se as principais características do PCS e a metodologia utilizada em sua implantação. Foram detalhadas as etapas da metodologia: planejamento e discussão do plano, descrição e avaliação dos cargos, dentre outras, enfatizando-se as promoções por meritocracia.

Conclui-se que os autores analisados, especialistas e referência na gestão de pessoas, priorizam ao extremo a meritocracia empresarial. Indubitavelmente, premiar o profissional que se destaca na organização com promoções e incrementos salariais é medida de acertada política de retenção de talentos. Entretanto, dos autores estudados, à exceção de Pontes, nenhum fez menção à necessidade de prever no PCS políticas de promoções alternadas por merecimento e por antiguidade, o que pode ser temerário ao empresário, em termos de segurança jurídica.

Essa deve ser uma preocupação presente ao gestor de pessoas, sob risco de criar- se um passivo trabalhista em virtude da ofensa ao princípio da isonomia.

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