possibilidades de financiamento para ajudar a mobilizar o investimento”198.
Em suma, pode afirmar-se que há uma considerável preocupação e sensibilização por parte dos agentes políticos portugueses em relação às temáticas marítimas, consubstanciada nas suas mensagens mas também nas suas ações concretas, em particular na aposta no setor dos transportes e vias de comunicação, extremamente importantes para fomentar a competitividade portuguesa. Além do mais, parece crer-se que a própria União Europeia também está ciente de que o mar é um tema estruturante e importante para a Europa, podendo este assumir-se como uma das saídas da atual crise económica e financeira que os Estados membros estão a atravessar.
2.1.3. Dimensão económica:
No que diz respeito à expressão económica, salienta-se o conceito hoje em dia muito em voga – O Cluster do Mar – ou o que alguns académicos e agentes políticos nomeiam como o “Silicon Valley português”. Com efeito, a lógica de cluster “pressupõe a criação de sinergias
entre diferentes atividades na cadeia de valor associado ao Mar, sendo o valor do conjunto claramente superior ao somatório das partes”199.
Ao nível das áreas de atuação do cluster do mar, pode-se referir áreas de atuação, nomeadamente: portos e transporte marítimo; pescas, indústria do pescado e alimentação de origem marinha; lazer e turismo marítimo; conhecimento, investigação e desenvolvimento; construção, manutenção e reparação naval; energias offshore e novos recursos do mar, uma vez que o “oceano tem o potencial para se tornar num dos principais fatores de
198
Direção Geral de Política do Mar (2014). Comissão Europeia apresenta nova estratégia europeia para promover o turismo costeiro e marítimo, Disponível em http://www.dgpm.mam.gov.pt/Pages/Not_CE.aspx, Acedido a 20 fevereiro 2014
199
VITORINO, A. (2014). Cluster do Mar. O eterno desígnio? Seminário Diplomático “Projetar Portugal”, 6 e 7 de janeiro de 2014, Sala do Senado Assembleia da República
82
desenvolvimento de Portugal, através dos seus recursos biológicos, geológicos, minerais, biotecnológicos e dos recursos energéticos renováveis, desde que devidamente valorizados e salvaguardados”200
. Em suma, as áreas de atuação no mar cruzam-se entre si tendo em conta que a relevância do mesmo não é um tema estanque.
Segundo a publicação do Instituto Nacional de Estatística (2013), “Influência do Mar na atividade económica”, salienta-se, conforme podemos verificar na tabela abaixo, o setor da pesca e de atividades conexas que representam um volume de negócios de 2 684 milhões de euros em 2012, com uma redução em relação ao ano anterior. Em 2012, estas atividades ocuparam cerca de 29 mil trabalhadores. De destacar a ótima performance do setor da construção e reparação naval que teve um aumento de 11,4% no seu volume de negócios em 2012 e uma especial atenção ao setor da restauração em zonas próximas da costa portuguesa com um decréscimo de 11,5 % em relação a 2011.
Tabela 2 – O mar e a atividade económica portuguesa201
Ainda de acordo com a mesma fonte, é de referir que, em 2012, existiam 10 764 empresas em atividades diretamente relacionadas com o mar, nomeadamente ligadas à pesca e aquicultura, transformação e comercialização de produtos da pesca, construção e reparação naval, transportes marítimos e outras atividades. E, segundo o estudo da SAER, “O Hypercluster da Economia do Mar”, estas e outras atividades relacionadas com o mar “representam um efeito direto no PIB de 2 142 milhões de euros, superior a 90% do total,
200
Ciência Viva. O Oceano e a economia portuguesa, Disponível em http://www.cienciaviva.pt/oceano/portugal/importanciamar/economia.asp, acedido a 1 março 2014
201
Instituto Nacional de Estatística (2013). Influência do Mar na Atividade Económica. O mar e a atividade económica portuguesa
Setor
Volume de negócios em 2012
(milhões de euros)
% em relação a 2011
Pescas e atividades conexas 2 684 - 2,3 Construção e reparação naval 245 11,4
Transportes marítimos 664 -2,9
Restauração em zonas próximas da costa portuguesa
83
sendo que os transportes marítimos, portos e logística pesam cerca de 48% do total, enquanto o efeito direto da pesca, aquacultura e indústria de pescado atinge os 42%”. Para além do
mais, Portugal tem a maior força de pesca da NAFO – Organização das Pescas do Atlântico Noroeste – com 45% do total da capacidade de pescas naquelas águas.
Não se pode deixar de referir que, nos últimos 15 anos, “os níveis de capturas
estabilizaram-se em torno das 200 000 toneladas por ano, dos quais cerca de 20% em águas de outros países”. Com efeito, “pescamos, em média, cerca de 23 kgs por habitante/ano – o
mesmo que os nossos congéneres europeus (…) e os portugueses consomem mais do dobro de peixe que a média dos europeus (cerca de 57 kgs/pessoa/ano)”202.
Além do mais, as capturas por embarcação e por pescador aumentaram consideravelmente entre 1997 e 2012, como podemos verificar na seguinte tabela203, pese embora as dificuldades geradas pelas intempéries climatéricas registadas neste inverno, as quais impossibilitaram a saída de embarcações para o mar:
Capturas no território português
Tipo 1997 2012
Capturas por embarcação 21 mil euros 60 mil euros Capturas por pescador 9 mil euros 17 400 mil euros
Tabela 3 – Capturas no território português
E se se focar a exportação e a balança comercial, os dados são ainda mais animadores, uma vez que “Portugal exportou, em 2012, mais de 800 milhões de euros em
produtos de pesca” e que “a maior parte das importações é de bacalhau, num montante que ultrapassou os 407 milhões de euros por ano, havendo ainda importação de peixe destinado às indústrias de conservas e de congelação”204
.
202
SAER (2009). O Hypercluster da Economia do Mar. Um domínio de potencial estratégico para o desenvolvimento da economia portuguesa. Relatório Final SAER
203
Ministério da Agricultura e do Mar (2014). Seminário Diplomático – Projetar Portugal, 6 e 7 de Janeiro de 2014 – Sala do Senado, Assembleia da República, Disponível em http://idi.mne.pt/images/docs/semin_diplo_2014/discursos/023.pdf, acedido a 1 março 2014
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