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Promover a mudança: o professor deve ajudar a preparar os estudantes para a en-

Pressupostos teóricos específicos para o desenho do projeto

6. Promover a mudança: o professor deve ajudar a preparar os estudantes para a en-

trada no mundo atual. Formar cidadãos críticos e culturalmente evoluídos é uma das metas do professor e, para o conseguir, deve preocupar-se com a atualização dos seus conhecimentos que lhe permitirá ter uma visão alargada e prospetiva da sociedade prevendo mudanças em diferentes áreas, em diferentes contextos, que influenciarão naturalmente a preparação dos seus estudantes, facilitando-lhes uma direção, um encaminhamento, podendo ele próprio ser

o motor da mudança. Isto significa que o professor deve ser capaz de organizar e de orientar as situações de aprendizagem, de gerir a progressão das aprendizagens, de implicar os estu- dantes no seu trabalho e de conceber e desenvolver mecanismos de diferenciação. A formação de professores na área da educação artística deve ser tão alargada e completa quanto a dos professores das outras áreas disciplinares, assumindo de forma consciente e intencional, as es- pecificidades da área, sob pena de se revelar inadequada na prossecução dos objetivos a que o ensino se propõe. Em todo este processo é importante o desenvolvimento de atitudes e capa- cidades de reflexão, pesquisa e investigação, a abertura a práticas de colaboração e a processos de inovação e mudança.

2.3 Relação com a realidade do estudante

Um outro eixo estruturante para a implementação do projeto que funcione como garante de eficácia da ação pedagógica-artística é direcionar/articular as atividades com a realidade e os

interesses dos estudantes para que estes se sintam motivados. Proporcionar-lhes atividades

que vão ao encontro da sua realidade e dos seus interesses impulsionará a sua atenção, a sua concentração, a sua empatia e a sua compreensão durante todo o processo de trabalho. Neste sentido, o estudante terá mais possibilidades de atingir os objetivos cognitivos/produtivos pre- vistos e obterá, certamente, um melhor aproveitamento.

É fundamental, para isso, o professor conhecer a realidade dos seus estudantes, as suas expe- riências de vida, as suas expetativas, a sua cultura, as suas caraterísticas e dificuldades, as suas necessidades de aprendizagem, para que a sua prática possa favorecer a autonomia, estimu- lando-os a avaliar constantemente os seus progressos e ajudando-os a tomar consciência de como é realizada a aprendizagem para que melhor entendam e possam atuar no mundo em que vivem. Saber respeitar os interesses dos seus estudantes e aproveitar as suas vivências e sabe- res adquiridos ajuda a produção do conhecimento e permite estabelecer uma relação pedagó- gica saudável entre o professor e os estudantes, facilitadora de aprendizagens significativas. Na verdade falamos de uma pedagogia “fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando” (Oliveira, 2005, p.10).

(Aguirre, 2007, p. 10)

O grande objetivo da educação é reconstruir a práxis, permitindo a ação e reflexão dos estudan- tes sobre o mundo para problematizá-lo e transformá-lo. E é aqui que surge a Pedagogia Liber- tadora que exige uma nova educação comprometida com a transformação social (Paulo Freire).

O professor e os estudantes tornam-se sujeitos cúmplices do processo educativo em comunhão e em participação. É a partir da valorização e do respeito pelo conhecimento que os estudantes já possuem que se irão estabelecer relações de ampliação e aprofundamento de conhecimen- tos e vivências. Nessa direção é possível pensar e recriar a sociedade a partir de novas bases culturais e humanas (Paulo Freire). Para tal o professor deve privilegiar o diálogo e o questio- namento como estímulo ao ato de pensar. O professor deve, sempre que possível, favorecer o envolvimento pessoal dos seus estudantes com o objetivo de facilitar a sua participação ativa em diversas atividades do processo educativo e de os levar quer à tomada de consciência acerca da importância de diferentes perspetivas, respeitando a opinião de cada um, quer auscultando a sua opinião sobre assuntos que diretamente lhes dizem respeito.

A formação artística propõe um modo de aprender e ensinar segundo Agra-Pardiñas,

(…) a través de una mentalidad más crítica, reflexiva y creativa; donde ofrecer, a los jóvenes, la oportunidad de comprender el arte como algo que tiene relación con su vida; como un puente entre dos maneras de conocer y representar el mundo. (2003, p. 71).

É necessário abrir itinerários artísticos de formação significativos e singulares aos estudantes que lhes proporcione e os anime a encontrar lugares de diálogo com a arte, com a educação e com a sociedade atual desde a sua realidade e desde um ponto de vista contemporâneo.

Face à sociedade em que estamos inseridos (nómada, dispersa, caraterizada pela mudança, pelo mo- vimento e pela flutuação constante dos seres que nela habitam) percebemos que a sua ação, as suas caraterísticas complexas e fragmentadas, influenciam a construção da identidade dos estudantes também ela pouco estruturada, fragmentada, complexa, sujeita às contingências atuais.

Temos plena consciência que a identidade não é herdada, mas construída; aprender a ir ao en- contro da identidade, do “eu”, é deixar de ser o que os outros querem que alguém seja (Acaso, 2009) é ter uma voz ativa perante diferentes situações com que nos deparamos.

Construir la identidad es construir valores y criterios para todos os ámbitos y hacer que convivan sin rechinar en el interior de cada uno. Adecuar, además, los espacios y ambientes de uno mismo con los espacios y ambientes de sus colegas, para generar lugares de encuentro que favorezcan la sintonía y no hagan las discrepancias insalvables. (Aguirre, 2007, p. 3)

Assim, a educação desempenha um papel fundamental na construção da identidade dos estu- dantes que reside na capacidade de proporcionar transformações pessoais, de formar critérios, de enriquecer a experiência estética, de ampliar o conhecimento dos estudantes de si mesmos e dos outros, ou seja, a capacidade de contribuir para uma construção identitária.

Para isso muito contribui a arte contemporânea na medida em que reflete nas suas práticas questões relacionadas com a identidade. Todo o objeto, imagem, ação ou discurso artístico con- temporâneo é suscetível de se relacionar com a biografia de alguém para se converter em expe- riência, estética ou não, mas que, sem dúvida, afeta a sua forma de ser e estar, despertando uma individualidade que, interligada a contextos e espaços variados com os quais estabelecem uma interação, produz então subjetividades, relações sociais e culturais.

E, como refere Aguirre, neste contexto atual “(…) las imágenes pueden convertirse en nutrientes de los imaginarios juveniles y en elementos activos en la configuración de su identidad.” (2007, p.17) E estas imagens têm impacto em todos nós. Não somos entidades independentes e fechadas, tal como diz Kincheloe (2001) “Somos esponjas sociales que ocultan bajo la superficie una ma- raña de fragmentos de personalidad. Somos, en parte, concursantes de televisión, predicadores,

tidade pessoal (Dominicé, 1986).

Italo Calvino (2000) pergunta:

“¿qué somos, qué es cada uno de nosotros sino una combinatoria de experiencias, de informa- ciones, de lecturas, de imaginaciones?. Cada vida es una enciclopedia, una biblioteca, un mues- trario de estilos donde todo se puede mezclar continuamente y reordenar de todas las formas posibles.” (pp.137-138).

Devemos ajudar os nossos estudantes a construírem a sua identidade a partir do desenvolvi- mento de uma série de competências que lhes permitam compreender e interpretar o mundo em que vivem e a sua própria vida.

Como disse Bauman (2007), “Aún debemos aprender el arte de vivir en un mundo sobresatura- do de información. Y también debemos aprender el aún más difícil arte de preparar a las próxi- mas generaciones para vivir en semejante mundo.” (p.46).

Por isso é necessário trabalhar a construção da identidade dos estudantes tendo para isso a arte contemporânea como conteúdo básico da educação artística, refletindo através de imagens que polarizam a nossa vida, liberdades pessoais e sociais que assumem um impacto crítico para uma educação democrática. Devemos sublinhar que a educação é um processo de construção de identidade e que todos nos vamos transformando à medida que aprendemos. A educação, para além disso, enriquece a vida dos estudantes, ajudando-os a criticar e a propor ideias relaciona- das com a cultura contemporânea e os seus significados. Logo, na educação artística é essencial ajudar os estudantes a analisar, observar e compreender o mundo visual que os rodeia.

3.