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O PRONAF COMO INSTRUMENTO DE AUXÍLIO AO

O PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura familiar) é um programa que se mostrou atuante para a agricultura, pois, destina-se ao apoio

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A partir das políticas tratadas até agora, podemos perceber que todas se tornam significativas para o desenvolvimento da agricultura familiar. Sabemos que existem outras, mas que não serão objetos de análise deste trabalho. Porém, uma das mais importantes políticas públicas utilizadas pelos pequenos produtores será o foco de nosso trabalho: o PRONAF, o qual apoia o desenvolvimento local.

financeiro para a agricultura familiar. Muitos estudos já foram elaborados sobre este tema, captando os efeitos dessa política tão significativa para a agricultura familiar. Dessa forma, o MDA (2014) identifica que

Através do decreto nº 1.946, de 28 de junho de 1996, cria o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, com a finalidade de promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria de renda (MDA, 2014, p. 11).

O programa surgiu baseado em duas motivações principais. A primeira diz respeito ao plano político e, a segunda, relativa ao plano econômico, no que diz respeito aos diversos estudos que apontavam a proporção da agricultura familiar e a sua participação no território nacional, de maneira que jamais poderia ser negligenciada como se fosse uma categoria irrisória (SILVA; JESUS, 2010).

Em função disso, a agricultura familiar deveria e poderia ser um meio para reduzir a pobreza e as desigualdades no país, mesmo com sua heterogeneidade, bastando estar estruturada e munida dos meios necessários, até porque traria bons resultados para a economia do país. A partir dessas reflexões podemos salientar os objetivos principais do PRONAF, os quais têm como finalidade promover o desenvolvimento rural sustentável. Segundo Cazella, Mattei e Schneider (2004) o objetivo geral consiste em

[...] fortalecer a capacidade produtiva da agricultura familiar; contribuir para a geração de emprego e renda nas áreas rurais e melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares. Quatro objetivos específicos complementam os propósitos do programa: a) ajustar as políticas públicas de acordo com a realidade dos agricultores familiares; b) viabilizar a infraestrutura necessária à melhoria do desempenho produtivo dos agricultores familiares; c) elevar o nível de profissionalização dos agricultores familiares através do acesso aos novos padrões de tecnologia e de gestão social; d) estimular o acesso desses agricultores aos mercados de insumos e produtos (CAZELLA; MATTEI; SCHNEIDER, 2004, p. 24).

O PRONAF ainda propõe suas ações através de quatro grandes linhas de atuação: a) financiamento da produção: o programa destina anualmente recursos para custeio e investimento, financiando atividades produtivas rurais em praticamente todos os municípios do país; b) financiamento de infraestrutura e serviços municipais: apoio financeiro aos municípios de todas as regiões do país para a realização de obras de infraestrutura e serviços básicos; c) capacitação e

profissionalização dos agricultores familiares: promoção de cursos e treinamentos aos agricultores familiares, conselheiros municipais e equipes técnicas responsáveis pela implementação de políticas de desenvolvimento rural; d) financiamento da pesquisa e extensão rural: destinação de recursos financeiros para a geração e transferência de tecnologias para os agricultores familiares (CAZELLA; MATTEI; SCHNEIDER, 2004).

Atualmente, é a Resolução nº 2.310 de 1996 que estabelece os critérios para definir o público alvo do programa. Desde sua criação, diversas alterações marcaram as linhas institucionais do PRONAF, propiciando mais abrangência em relação ao público beneficiário, redefinindo tipologias dos agricultores, taxas de juros e encargos financeiros, criando, entre outras ações, linhas especiais de crédito. Com base nas reflexões apresentadas, Nunes (2007) aponta os critérios para que os agricultores familiares consigam inserir-se no PRONAF

[...] parte da renda familiar proveniente da atividade agropecuária, variando de acordo com o grupo em que o beneficiário se classifica (30% no grupo B, 60% no grupo C, 70% no grupo D e 80% no grupo E); b) detêm ou exploram estabelecimentos com área de até quatro módulos fiscais, ou até seis módulos quando se tratar de atividade pecuária; c) exploram a terra na condição de proprietário, meeiro, parceiro ou arrendatário; d) utilizam mão-de-obra predominantemente familiar; e) residem no imóvel ou em aglomerado rural ou urbano próximo; f) possuem renda bruta familiar de até R$ 60 mil por ano; g) pescadores artesanais, pequenos extrativistas e pequenos agricultores [...] (NUNES, 2007, p. 2).

Ao longo da trajetória do programa, os recursos disponibilizados pelo PRONAF não abrangem de maneira igualitária a diversidade dos agricultores familiares, sendo os maiores beneficiados com os recursos do PRONAF os agricultores familiares que possuem uma maior renda. Isso se dá, pois estes têm maiores condições de acessar o sistema bancário, apresentando projetos viáveis do ponto de vista técnico, econômico e financeiro, oferecendo as garantias e as contrapartidas necessárias para obterem os financiamentos do programa (COSTA; GONÇALVES, 2012). A este respeito merece destaque as reflexões de Abramovay (2006) o qual comenta que o PRONAF representa um marco na luta pelo reconhecimento da agricultura familiar sendo

[...] uma das mais importantes políticas brasileiras de combate à pobreza, tem como principal característica interferir na matriz de distribuição de renda

por meio da ampliação do acesso ao crédito formal a populações que a ele não tinham acesso (ABRAMOVAY, 2006, p. 58).

Entretanto, depois de mais de uma década e meia de existência do programa, o que se observa, a partir dos trabalhos acadêmicos disponíveis sobre o assunto e dos dados disponibilizados pelas instituições governamentais (MDA, IBGE, BNB, IPEA), segundo Costa e Gonçalves (2012), é que o PRONAF

[...] vem imprimindo na agricultura familiar o modelo produtivista e de especialização das atividades agropecuárias vivenciado no Brasil a partir dos anos de 1970, contribuindo para o distanciamento entre os grupos que compõem a diversidade dos agricultores familiares, uma vez que os maiores beneficiados com os recursos do programa são os agricultores familiares mais abastados, que têm maior renda e consequentemente maior condição de perpetuar este modelo (COSTA; GONÇALVES, 2012, p. 93).

A principal diretriz do PRONAF é o argumento da sua importância para a agricultura familiar na produção de alimentos e na geração de empregos no Brasil. Para Toledo (2009), o acesso ao PRONAF pelos agricultores familiares no Rio Grande do Sul foi um fator que potencializou as iniciativas em investimentos produtivos. O crédito tornou-se um elemento fundamental para que os agricultores pudessem financiar a aquisição de novas tecnologias, para o aperfeiçoamento dos recursos de produção e para modernizar a infraestrutura produtiva, a fim de criar as condições para o desenvolvimento dos empreendimentos com vistas a geração de renda e suporte para o desenvolvimento rural.

Outro fator importante na elaboração do PRONAF foi o fortalecimento das instituições sociais que fazem parte da operacionalização do programa, como é o caso dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR), cooperativas, assistência técnica, movimentos sociais e instituições financeiras que auxiliam na elaboração dos projetos e na aplicação dos recursos captados (TOLEDO, 2009).

O PRONAF como política pública específica para a agricultura familiar deve ser considerado um avanço sem precedentes históricos no país, pois, até meados dos anos 1990, esta categoria social de agricultores sempre foi aliada das políticas públicas. Notadamente no período em que muitas destas unidades mais precisavam de apoio governamental que se dá o auge das transformações técnico-produtivas das décadas de 1970 e 1980. Contudo, o PRONAF ainda necessita de importantes ajustes para se converter em uma política de crédito rural que faça jus ao seu objetivo principal de gerar o fortalecimento da agricultura familiar (TOLEDO, 2009).

Nesse sentido, o programa ainda opera com um viés muito intenso no sentido de imprimir às unidades familiares um ritmo de incorporação do padrão tecnológico vigente, pela situação social de solapamento das estratégias tradicionais de reprodução social dos agricultores. Esta fragilização da agricultura familiar é notada quando se analisam os diversos índices de desenvolvimento humano, social e econômico, em que a maioria dos municípios figura abaixo da média estadual, em quase todos os indicadores (GAZOLLA; SCHNEIDER, 2004).

Assim, salientamos que alguns avanços foram conquistados desde a criação do PRONAF, mas que muito ainda deve ser feito. Apesar de ser uma ferramenta de fortalecimento da agricultura familiar, há obstáculos que precisam ser vencidos, no caso de uma melhor avaliação do programa, levando-se em considerações outros fatores que auxiliem para a melhoria e o desenvolvimento rural.