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Proporção de edições com manchetes Sarney Collor Itamar FHC-1 FHC-2 Lula-1 Lula-2 Dilma-

recente do País. Assim ele foi tratado pelas instituições legais de investigação e pelos jornais, merecendo, portanto, maior e melhores espaços na cobertura. Outro argumento, menos consistente, mas corriqueiro, se ampara no efeito decepção com o governo de um partido que prometia ser diferente.

A análise dos dados permite à pesquisadora um entendimento mais próximo ao de outros estudos empíricos e análises teóricas sobre o assunto (ALDÉ E VASCONCELOS, 2008; FERES JÚNIOR E SASSARA, 2016; GUAZINA, 2011; LIMA, 2006). Os dados e a análise do conteúdo sugerem que a mesma questão ideológica que levou os jornais a darem menos importância às irregularidades e malfeitos praticados nos governos do PSDB provocou uma mudança na cobertura do noticiário de denúncias nas gestões petistas. Essa questão fica nítida não apenas pela quantidade e pelo tom das notícias publicadas, mas também pelos editoriais e artigos destacados eventualmente nas capas, como será detalhado no tópico a seguir sobre o comparativo dos jornais.

No segundo mandato de Lula, o noticiário de denúncias caiu tanto em presença como em relevância, mas os indicadores permaneceram elevados. Foram superados, depois, pelos recordes registrados no período relativo à gestão da presidente Dilma Rousseff, quando um quarto das edições analisadas estampou em suas manchetes principais notícias relacionadas a corrupção. Foi, em toda série, o período de maior relevância dada ao assunto.

Vale relembrar os principais fatores que contribuíram para o crescimento das denúncias no período Dilma: os casos de corrupção envolvendo pelo menos sete ministros, a chamada faxina ética que marcou o início do seu governo; a estreia da Operação Lava Jato no último ano do primeiro mandato; o desgaste do projeto político do PT; os anseios da sociedade por mudanças; o amplo funcionamento das instituições legais de investigação e controle; e uma atuação mais efetiva e ofensiva da imprensa no papel de denunciar e valorizar a denúncia. Pode-se acrescentar um outro fator de ordem pessoal: a presidente Dilma não tinha o carisma e a experiência política de Lula.

A análise dos dados permite afirmar que a predileção dos jornais pela cobertura da política partidária e das campanhas eleitorais, identificada como predominante no primeiro ciclo da redemocratização do País (1985-1990), foi marcante também nos anos de eleição presidencial ao longo de 30 anos, com uma cobertura diferenciada apenas no último ano, 2014. A redução das notícias sobre corrupção nos anos de sucessão presidencial, sempre comparados com o ano anterior, ocorre em relação ao número de chamadas (presença) e de manchetes (relevância) capturadas pela pesquisa; e também na proporção de edições que publicaram denúncias. Esses dois indicadores serão detalhados a seguir.

Os dados indicam que o número de denúncias (chamadas e manchetes) sobre corrupção caiu em seis dos sete anos eleitorais, sendo 2014 a única exceção. Já o número exclusivo de manchetes caiu em todos os sete anos de eleição presidencial – 1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. A maior redução de manchetes, de quase 90%, ocorreu em 2002. E a menor, de 6%, em 2014. De forma a uma melhor ilustração sobre a presença e relevância, os Gráficos 26 e 27 apresentam os valores nominais de denúncias (chamadas e manchetes) e só de manchetes capturadas em anos de eleição e sem eleição.

Gráfico 26: número de denúncias (chamadas e manchetes) em anos com eleição e sem eleição

Fonte: levantamento próprio da pesquisadora nos endereços eletrônicos das publicações Gráfico 27: número de manchetes sobre corrupção em anos com eleição e sem eleição

234 4 0 50 100 150 200 250 1988-1989 1993-1994 1997-1998 2001-2002 2005-2006 2009-2010 2013-2014

NÚM ERO DE DENÚNCIAS

Fonte: levantamento próprio da pesquisadora nos endereços eletrônicos das publicações

A situação não muda muito quando se considera a proporção de edições com denúncias dentro do universo pesquisado a cada ano. Em cinco dos sete anos de disputa presidencial caiu o percentual de edições com denúncias (chamadas e manchetes), sendo que 2006 e 2014 foram exceções. Em 2006, embora tenha reduzido a quantidade de denúncias capturadas nas capas, aumentou o percentual de capas que trataram do tema, que ficou de fora de apenas um quarto das edições analisadas no ano. Em 2014, com a Operação Lava Jato já em cena, o resultado foi semelhante, com as denúncias ausentes em 30% das capas.

As maiores ‘abstinências’ do noticiário de corrupção ocorreram em 1989, 1998 e 2002, todos esses anos eleitorais com mais de dois terços das edições da amostra sem qualquer notícia deste tipo nas capas. Foram anos em que a atenção e a preferência dos jornais estavam voltadas quase que exclusivamente para as negociações políticas dos partidos e para a situação econômica, além da própria campanha.

Em 1989, o último de Sarney na Presidência, casos de corrupção ainda estavam sendo investigados, novas denúncias surgiam, mas o entusiasmo com a eleição direta de um novo presidente e a debilitada situação econômica predominaram nas capas e nas manchetes. Em 81 das 124 edições analisadas neste ano não foi capturada nenhuma

64 0 10 20 30 40 50 60 70 1988-1989 1993-1994 1997-1998 2001-2002 2005-2006 2009-2010 2013-2014

NÚM ERO DE M ANCHETES

chamada de capa sobre corrupção. No Gráfico 28, o percentual de edições com denúncias (chamadas e manchetes) mostra como a presença do tema corrupção varia entre anos sem eleição e com eleição.

Gráfico 28: edições com denúncias (chamadas e manchetes) em ano de eleição e sem eleição

Fonte: levantamento próprio da pesquisadora nos endereços eletrônicos das publicações

E quando as capas vinham com denúncias, elas estavam em chamadas menores, como ocorreu com pelo menos três matérias publicadas pela Folha de S. Paulo sobre ações suspeitas do presidenciável Collor durante sua gestão como governador de Alagoas. As três perderam a manchete e outras chamadas maiores para assuntos econômicos. Foi um dos anos eleitorais em que o noticiário de corrupção teve a menor relevância.

Na disputa presidencial seguinte, em 1994, a preferência dos jornais estava mais uma vez voltada para questões econômicas, com o lançamento do Plano Real, e a campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso. No início do ano ainda ecoava no noticiário de denúncias o rescaldo da CPI dos Anões do Orçamento de 1993, mas a proporção de edições com manchetes caiu quase a metade em relação ao anterior. A relevância dada ao assunto corrupção nos anos pré-eleitoral e eleitoral está no Gráfico 29, com a proporção de edições com manchetes principais para o tema.

Gráfico 29: proporção de edições com manchetes sobre corrupção em anos de eleição e sem eleição 42 74,63% 69 28% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 1988/1989 1993/1994 1997/1998 2001/2002 2005/2006 2009/2010 2013/2014

EDIÇÕES COM DENÚNCIAS

Fonte: levantamento próprio da pesquisadora nos endereços eletrônicos das publicações

No ano da reeleição de Fernando Henrique, em 1998, o noticiário sobre corrupção sumiu de dois terços das 131 edições analisadas (Gráfico 28). Na amostra, a Folha chegou a ficar 19 semanas seguidas sem publicar nenhuma denúncia na capa; O Globo e O Estado ficaram 20 semanas. E, de novo, quando a denúncia aparecia na capa, não tinha tanta relevância: menos de 8% das edições deram manchete para o tema (Gráfico 29).

Em O Estado de S. Paulo, por exemplo, uma decisão da Justiça de quebrar o sigilo da família de Paulo Maluf mereceu uma pequena chamada na mesma edição em que a manchete era sobre os resultados de mais uma pesquisa eleitoral. Em O Globo, uma notícia sobre uma acusação de desvios no BNDES, em novembro de 1998, perdeu espaço para uma manchete que tratava do otimismo do empresariado em relação ao ano seguinte.

Em 2002, ano da eleição de Lula, a situação econômica, agravada pela expectativa negativa do mercado financeiro em relação à eleição do petista, tirou o tema corrupção das manchetes: foram apenas duas (Gráfico 27), para casos regionais, detectadas em toda a amostra, que analisou 138 edições. Em 88 edições da amostra de 2002 os jornais não trataram de denúncias, chegando a ficar mais de 20 edições seguidas sem qualquer chamada na capa para o tema. As 54 chamadas sobre corrupção identificadas ao longo do ano (Gráfico 24) nos três jornais perderam espaço de destaque, na maioria absoluta das

10 46,37% 8% 2% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 45,00% 50,00% 1988/1989 1993/1994 1997/1998 2001/2002 2005/2006 2009/2010 2013/2014