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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.12. Proposição do gerenciamento dos recursos hídricos

Visando atender às demandas de organização institucional, trabalhou-se em um domínio maior com grupos de agricultores em várias comunidades da região. Dessa forma, não haveria centralização em apenas uma comunidade na representação das ações de gerenciamento. Para um estudo de gerenciamento local, o processo não poderia ser definido por apenas um grupo; por isso, as ações para o desenvolvimento da gestão participativa foram trabalhadas em três comunidades distintas da região: além do vale do Rio Mimoso, região de Mutuca; foram trabalhados os assentamentos rurais de Campo Alegre e a Fazenda Nossa Senhora do Rosário. As três áreas possuem em comum a prática da pequena agricultura irrigada, e são vulneráveis a problemas de escassez hídrica e de más práticas ambientais.

Uma nova concepção política tem sido implantada em todos os níveis organizacionais na convivência com o semi-árido. As ações de infra-estrutura emergenciais têm proporcionado maior espaço às ações de planejamento e gestão dos recursos hídricos de forma integrada, participativa e descentralizada em apoio às ações dos órgãos gestores locais e estaduais (SECTMA). Neste contexto, procurou-se identificar e otimizar todas as

77 formas e usos da água, desenvolvendo mecanismos e estratégias que garantissem o gerenciamento integrado e minimizassem os conflitos naturalmente gerados pela escassez do recurso hídrico.

Neste contexto foram propostas reuniões e oficinas de difusão tecnológica e integração social, que propusessem o intercâmbio de informações, a compatibilização de ações estratégicas e diretrizes entre as instituições que têm por área de atuação as comunidades envolvidas.

As ações foram focadas em temas norteadores seguindo as demandas de saberes dos agricultores e de problemas locais. Os temas discutidos foram:

1. Armazenamento e uso doméstico da água; 2. Água para agricultura;

3. Manejo do solo para um maior aproveitamento e retenção de água; 4. Aspectos institucionais e organizacionais do manejo da água subterrânea.

Ao primeiro tema foram contextualizadas mensagens associadas à vinculação da qualidade da água a problemas de saúde e pela integração de experiências de soluções alternativas para o fornecimento de água de boa qualidade para o uso doméstico. Em um enfoque agrícola, foram abordados métodos e processos de economia hídrica na produção, como a implementação de sistemas otimizados de irrigação e o incentivo à agricultura de sequeiro, que interligam os temas 2 e 3. O último tema apresentou os aspectos institucionais e legais dos recursos hídricos como as legislações vigentes, direitos e deveres do usuário de água, a resolução de conflitos ligados a água e a importância da organização social em busca da sustentabilidade num âmbito ambiental, além do arranjo institucional existente.

Em uma ação paralela, foram identificados pelas respectivas comunidades representantes com perfis de liderança, os quais em encontros mensais, discutiram os resultados obtidos. Esse grupo de líderes recebeu o nome de Grupo Consultivo. Nestas reuniões, os anseios das comunidades foram considerados relevantes no planejamento de ações futuras. Ainda, tem-se neste grupo a função de difusor de informações em seqüência ao treinamento especializado de gerenciamento integrado de recursos hídricos ao qual são submetidos. Esta ação participativa teve o apoio de organizações não governamentais, gestores municipais e estaduais diretamente ligados ao processo, inseridos no âmbito do Projeto KaR (DFID/UFPE/UFRPE) (Montenegro et al., 2005b).

78 Em outro plano, está a formação de agentes multiplicadores, através do treinamento num enfoque ambiental e de conservação dos recursos hídricos, dos agentes de saúde e dos professores da rede pública de ensino fundamental. Esse processo foi desenvolvido a partir de treinamento específico para professores e agentes de saúde, e pela integração de membros da comunidade em campanhas de monitoramento de variáveis. Esses indivíduos receberam destaque por possuírem educação escolar não elementar, diferente de grande parte da comunidade.

Atuando na integração de ações sociais com desenvolvimento técnico, a formação de recursos humanos foi conduzida considerando lotes piloto demonstrativos de irrigação localizada, com equipamentos de medição agrometerológica, como tanques evaporimétricos e pluviômetros, operados diretamente pelos agricultores. Adicionalmente, unidades foram instaladas nas escolas públicas de ensino fundamental e médio.

3.12.2. Gestão participativa – exemplo em lote irrigado

A participação da população foi dada a partir da inserção do agricultor nas atividades técnicas em diferentes níveis. Inicialmente um trabalho de conscientização foi desenvolvido e a discussão de conceitos de manejo integradas ao dia a dia da irrigação. Parte desse treinamento também foi procedida, além de outros conceitos nas oficinas temáticas.

O processo de conscientização foi desenvolvido respeitando a abertura tecnológica e a experiência do agricultor, inserindo-se conceitos de preservação de água e solo, estrutura do solo, movimento de água no solo, até se atingir um adequado manejo. O contexto das discussões esteve sempre diretamente ligado à problemática local dos lotes irrigados. Buscou-se então, incentivar a utilização de métodos de irrigação com menor consumo de água, seleção de culturas em consonância com a qualidade da água disponível, aplicação da quantidade de água adequada à necessidade das culturas, horário correto para a irrigação, diminuição do efeito da evaporação por utilização de cobertura morta e barreiras, controle da salinização, etc.

O agricultor irrigante recebeu orientação da importância do monitoramento agrometerológico para a otimização de sua produção. Assim, o monitoramento foi efetuado de forma simples, através da participação do indivíduo em leituras de evaporação,

79 precipitação e o manejo da irrigação era desenvolvido pelo produtor sob orientação técnica.

Conceitos de fluxo subterrâneo foram também tratados e visualizados através das réguas tensiométricas instaladas nos lotes irrigados.

Testes de lâmina de irrigação foram executados com a participação do agricultor em todos os lotes irrigados, objetivando desenvolver a percepção de consumo hídrico vinculado ao sistema de irrigação.

O agricultor preencheu inicialmente planilhas propostas de monitoramento, e posteriormente seguiu o modelo inicial, desenvolvendo suas próprias planilhas de registros pluviométricos e evaporimétricos, como também de tensiometria diários. Esse processo foi enriquecido por explicações técnicas da importância dos registros.

Um dos propósitos foi a criação de áreas reconhecidas como áreas demonstrativas pela instalação de módulos de irrigação, que proporcionem a comunidade o interesse na adoção de novas práticas otimizadas e pratique estas tecnologias em suas propriedades diminuindo os processos que danificam o meio ambiente pela contaminação do lençol freático. Nesses lotes o manejo foi incentivado de forma que o principal executor das ações tenha sido o agricultor local. Nessas áreas, módulos experimentais de baixo custo e de baixo consumo hídrico, como a microaspersão, foram implantados a fim de despertar o interesse da comunidade em geral na implementação de novas tecnologias.

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