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MOTIVOS DA EVASÃO DE SEUS ESTUDANTES

Após a definição da situação problema a ser investigada durante a realização deste trabalho, e após a identificação das causas e consequências da situação problema, por meio das entrevistas realizadas com os participantes da pesquisa, foi possível construir a Árvore do Problema, apresentada na Figura 13 a seguir:

FIGURA 13 - ÁRVORE DO PROBLEMA - CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE INFORMAÇÕES SOBRE OS MOTIVOS DE EVASÃO DE ESTUDANTES PARA UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO

Após a construção da Árvore do Problema, procedeu-se à “tradução” de cada uma das causas geradoras da situação problema em ações, levando à elaboração da Árvore dos Objetivos. A Árvore dos Objetivos apresenta uma proposta de possíveis áreas de ações que possam vir auxiliar a instituição de ensino pesquisada a superar as dificuldades na obtenção de informações sobre as variáveis associadas à evasão de seus estudantes. Na Figura 14 é apresentada a Árvore dos Objetivos:

FIGURA 14 - ÁRVORE DOS OBJETIVOS - PROPOSTA DE AÇÕES PARA UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERAR AS DIFICULDADES EM OBTER INFORMAÇÕES SOBRE OS MOTIVOS DA EVASÃO DE SEUS ESTUDANTES

A existência de informações a respeito das variáveis associadas à evasão de estudantes da instituição de ensino, fundamentando-se na resposta dos participantes desta pesquisa, teria melhores condições de ocorrência com ações voltadas a três grandes objetivos: aumentar o comprometimento da instituição com a evasão; reduzir as deficiências estruturais existentes e melhorar o relacionamento entre setores.

Para aumentar ou fortalecer o comprometimento com a evasão, é necessário fomentar a criação de uma política institucional de combate à evasão e melhorar o envolvimento dos servidores da instituição com as questões relacionadas ao fenômeno. Para aumentar o envolvimento dos servidores, a instituição tem que atuar no sentido de modificar a visão sobre o papel do servidor público, aumentar o conhecimento acerca do fenômeno da evasão, e adotar padronização e rotinas de trabalho para os servidores.

Com a finalidade de reduzir as deficiências estruturais, a instituição deve promover melhorias no sistema de gestão acadêmica institucional, de modo a reduzir as deficiências relacionadas tanto à funcionalidade quanto à utilização do sistema. Também é necessário implantar procedimentos operacionais padrão para coleta e análise de dados sobre evasão, aprimorando a atuação da CIPEE e da CSP nestas tarefas.

E, para melhorar o relacionamento entre setores, a instituição deve favorecer a atuação conjunta e a comunicação entre os setores que compõem sua estrutura organizacional.

Espera-se, com esse conjunto de ações, que a instituição possa construir um conhecimento sistematizado a respeito das variáveis associadas à evasão de seus estudantes, tendo como consequências positivas da produção deste conhecimento: a possibilidade de compreender o fenômeno da evasão na instituição; possibilidade de construção de um plano efetivo de combate à evasão; redução da evasão na instituição; e melhoria no funcionamento da instituição.

6 DISCUSSÃO

O estudo da evasão e seus determinantes em instituições de ensino superior brasileiras - públicas e privadas - tem sido, já há algum tempo, o foco de uma quantidade significativa de pesquisas (MERCURI; MORAN; AZZI, 1995; COMISSÃO ESPECIAL DE ESTUDO SOBRE A EVASÃO, 1997; POLYDORO, 2000; VELOSO; ALMEIDA, 2002; ANDRIOLA; ANDRIOLA; MOURA, 2006; ADACHI, 2009; BRISSAC, 2009; SCALI, 2009; SILVA FILHO, 2012; SANTOS, 2016). Mais recentemente, parte das pesquisas sobre determinantes da evasão tem buscado compreender como o fenômeno vem se manifestando nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia distribuídos pelos estados brasileiros (SILVA, 2011; JOHANN, 2012; AMARAL, 2013; FREDENHAGEM, 2014, SOUZA, 2014; NARCISO 2015). O surgimento dessas pesquisas é justificado pelos altos índices de evasão registrados nos Institutos Federais e escassez de estudos em relação a seus determinantes (TCU, 2012), como também pela natureza singular destas instituições – direcionadas à educação profissional e tecnológica nos diferentes níveis de ensino.

Os IFs, além de possuírem uma estrutura organizacional diferenciada em relação às IES, também ofertam outros níveis de ensino, demandando uma compreensão a respeito do como a evasão vem se manifestando nos diferentes grupos de estudantes atendidos por essas instituições. As inúmeras pesquisas que investigaram os determinantes da evasão em cursos de instituições de ensino superior, nacionais e estrangeiras, podem ajudar a compreender o fenômeno nos institutos federais, mas faz-se necessário investigações específicas para o conhecimento dos fatores associados à evasão nos IFs visando as ações de prevenção e de controle do fenômeno.

A análise dos documentos internos produzidos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, e as entrevistas realizadas durante esta pesquisa com servidores de um dos campi do IFSP, indicam que a instituição vem desenvolvendo ações com o propósito de conhecer os motivos da evasão de seus estudantes. Porém, apesar das diferentes iniciativas nesse sentido, os resultados dessas ações não foram considerados satisfatórios pelos participantes da pesquisa, já que a instituição ainda não conseguiu produzir um conhecimento

sistematizado a respeito dos determinantes do fenômeno, capaz de direcionar as ações de intervenção e assim reduzir seus índices de evasão.

Os servidores – docentes e técnicos administrativos - entrevistados durante a realização desta pesquisa também consideram que o desconhecimento dos motivos que têm levado seus estudantes a evadirem traz consequências negativas para a instituição. Duas delas - Impossibilidade de compreender o fenômeno da evasão na instituição e Impossibilidade de construção de um plano efetivo de combate à evasão – podem ser entendidas como consequências imediatas para a instituição. As outras duas - Perpetuação da evasão na instituição e Comprometimento do funcionamento da instituição – podem ser entendidas como consequências a médio e longo prazos para a instituição.

Uma vez que a instituição desconhece como o fenômeno da evasão tem se manifestado dentre seus estudantes, quais os fatores que têm atuado de forma mais determinante para que eles abandonem seus cursos, torna-se difícil elaborar um plano efetivo de combate à evasão. Conforme já apontado, a literatura que tem investigado as variáveis associadas à evasão no ensino superior pode auxiliar nesta tarefa, mas ainda assim corre-se o risco de se propor ações que não sejam as mais relevantes, pois a proposta não teve como base o conhecimento das variáveis associadas ao fenômeno naquela instituição em específico. O conhecimento das variáveis associadas à evasão em IES brasileiras, por exemplo, não elimina a necessidade de se conhecer as variáveis associadas à evasão nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, mais especificamente naquele IF onde o plano de combate à evasão será implementado.

O desconhecimento dos fatores que têm atuando mais fortemente em uma instituição impossibilita o planejamento de ações mais diretas. E isso pode gerar um descompasso entre as ações de intervenção que estão sendo desenvolvidas pela instituição e os motivos que têm levado seus alunos a evadirem, além de impossibilitar a avaliação da eficácia destas ações, como apontado pelo TCU (2012, p.111):

(...) não é possível avaliar o impacto dessas políticas de combate à evasão, em razão da inexistência de estudo que identifique as causas de evasão e o efeito das medidas adotadas. O desconhecimento das causas que determinaram o abandono impossibilita mensurar o impacto das ações mitigadoras, e em consequência, avaliar a eficácia das mesmas no

combate à evasão escolar. Com isso existe o risco de não redução da evasão em razão da adoção de medidas inadequadas.

Assim, são grandes as chances da evasão continuar ocorrendo, inclusive podendo aumentar sua incidência. Se a instituição desconhece o que tem levado seus alunos a evadirem, ela não tem como intervir diretamente, e isto acaba por comprometer seu funcionamento. Considerando que o IFSP é uma instituição de ensino pública, como nos alerta Andrade (2014, p.136), “a evasão, quando não controlada, reduz o que era inicialmente investimento, e passa a ser prejuízo ao erário público, consequentemente para a sociedade”.

Além disso, a redução do número de alunos causada pela evasão tende a impactar no orçamento da instituição. Quando o aluno abandona a instituição, esta perde receita, mas seu custo operacional permanece praticamente o mesmo. Para Silva Filho et al. (2007, p.642), a evasão, tanto no setor público quanto no setor privado, “é uma fonte de ociosidade de professores, funcionários, equipamentos e espaço físico”. A crescente queda no número de alunos de uma instituição tende a impactar negativamente na manutenção de sua estrutura de funcionamento, além de impossibilitar a promoção de melhorias.

Ao relatarem as consequências negativas do desconhecimento dos motivos que têm levado os estudantes a evadirem, os participantes reforçam a importância deste conhecimento para uma instituição de ensino. E, ao apontarem as causas para este desconhecimento, indicam os obstáculos a serem superados pela instituição para identificar as variáveis associadas à evasão de seus estudantes. A seguir, serão discutidas estas causas – agrupadas em três grandes núcleos.