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Proposta de derivação para línguas de Sujeito Nulo Consistente

Lista de Tabelas

S. Excia = Dr Oscar Ricardo Pereira

4.9.2 Proposta de derivação para línguas de Sujeito Nulo Consistente

De maneira geral, quantitativamente, os sujeitos nulos ocorrem com maior frequência em línguas de sujeito nulo consistente em comparações com línguas de sujeito nulo parcial. Esta tese mesmo mostrou esse fato no decorrer do terceiro capítulo. Existem contextos em que o sujeito nulo é opcional em línguas de sujeito nulo parcial e obrigatório em línguas de sujeito nulo consis - tente. Há ainda contextos em que o preenchimento do sujeito se faz de forma categórica em línguas de sujeito nulo parcial, de maneira praticamente obrigatória, enquanto em língua de sujeito nulo consistente estes contextos licenciam o sujeito nulo, sem qualquer problema.

Para exemplificar essa questão, apresentamos exemplos de Modesto (2000) a seguir: (124) a) O Pauloi convenceu o Pedroj proi/*j/*k que tinha que ir embora. (PB)

b) O Pauloi convenceu o Pedroj que elei/j/k tinha que ir embora. (PB)

c) O Pauloi convenceu o Pedroj proi/j/k que tinha que ir embora. (PE)

(MODESTO, 2000, p.152) Modesto explicita que na sentença (a), a única possibilidade de interpretação no PB para o sujeito nulo na oração encaixada é o antecedente mais acima “Paulo”. Já na sentença (b) teríamos uma ambiguidade de interpretações, onde o sujeito da oração encaixada pode ser interpretado tanto como “Paulo”, quanto “Pedro” ou como mesmo um terceiro referente. Em uma língua de sujeito nulo consistente, como o PE, por exemplo, a única interpretação para a letra (b) seria a de um ter- ceiro referente, diferente de “Paulo”. Para fazer referência a “Paulo”, obrigatoriamente o sujeito de- veria ser nulo, assim como na sentença (a), se a oração encaixada apresenta o preenchimento do su- jeito com o pronome “ele”, a interpretação é de um sujeito referencial fora do contexto apresentado.

Diante dessas diferenças de ocorrências e interpretações de sujeito nulo, Holmberg (2010) estipula que a distinção na derivação entre uma língua de sujeito nulo consistente e uma lín - gua de sujeito nulo parcial é que na primeira, T possui traços-D não interpretáveis (uD-features) e na segunda, T não possui traços-D não interpretáveis.

ocorre por incorporação em T. O sujeito pronominal nessa operação é um φP, ou seja, um pronome deficiente, sem traços-D. A incorporação que é possível pelo fato de o pronome ser um sub-conjun - to dos traços de T (Roberts, 2010)38

, tem como consequência a formação de uma cadeia entre esses elementos. O autor, seguindo Frascarelli (2007), propõe que o traço-D não interpretável de T é va- lorado por um Aboutness-shift topic (denominado de A-topic no texto do autor, e que aqui chamare- mos de Tópico-Temático para que não seja confundido como tópico em posição argumental –Tó- pico-A). O Tópico-Tematico é um tópico no Domínio-C. Ele tem a função de valorar os traços-D não interpretáveis presentes em T nas línguas de sujeito nulo consistente. Esse tópico pode ser nulo ou preenchido e encontra-se no contexto discursivo-gramátical, sem a necessidade de c-comandar o antecedente que será valorado. Além de valorar os traços-D, o tópico temático também é capaz de satisfazer o EPP39

. Abaixo apresentamos um exemplo de derivação de sujeito nulo definido de uma língua de sujeito nulo consistente, segundo as descrições desse parágrafo:

(125) Há comprato uma macchina nuova. Has bought a car new

[CP <DP1> [ TP ha + T [ D1, 3SG, EPP [ vP <φP [3SG, NOM1 > comprato …]]]

(HOLMBERG, 2010, p.105) A derivação acima contempla a terceira pessoa de sujeito definido em línguas de sujeito nulo consistente. Para a derivação contendo primeira e segunda pessoa do discurso, o processo de derivação seria basicamente o mesmo, a única alteração é que ao invés de termos um Tópico-

temático o autor argumenta que no Domínio-C o traço- speaker/addressee seria o responsável pela

valoração dos traços-D não interpretáveis.

Se o sujeito não é defectivo, ou seja, se é um pronome com traço-D ou um sujeito lexical,

38 Roberts (2010) trabalha com a hipótese de T ser um alvo defectivo, ou seja, T é capaz de carregar apenas subconjunto de traços. Nas palavras do autor, um alvo é defectivo quando ““[the] G[oal]’s formal features are a proper subset of those of G’s Probe P.” (Roberts, 2010, p.70)

39 Além da hipótese da checagem do EPP pela operação de valoração de T, o autor apresenta mais três possíveis hipóteses: i) em línguas de sujeito nulo consistente, o T não teria o traço-EPP; ii) outra hipótese é seria possibilidade do movimento de V para T chegar o EPP, como defendido por Barbosa (1995) and Alexiadou &

esses elementos não podem ser incorporados, pois não correspondem a um subconjunto dos traços de T. Dessa forma, o sujeito se movimenta para a posição de SpecTP. Ao realizar este movimento , o Traço – (uD) de T é valorado pela traço-D do sujeito presente no sujeito, pela relação especificador- núcleo (spec-head). O EPP também é checado nesse movimento.

O terceiro caso de derivação em línguas de sujeito nulo consistente, segundo Holmberg (2010), é das sentenças téticas, em que o verbo aparece em posição inicial e que não possuem um Tópico-temático para valorar os traços-D não interpretáveis de T. Neste caso o sujeito pós-verbal fica in situ e haveria um locativo nulo ou expletivo nulo na posição de SpecTP para satisfazer o EPP:

(126) a) Ha telefonato Gianni. (Italian) has telephoned Gianni

‘Gianni phoned.’

b)Chegou alguém ao colégio. (EP) arrived someone to-the school

‘Someone arrived at school.’

(HOLMBERG, 2010, p. 100) Após apresentarmos as propostas de derivações para as línguas de sujeito nulo consistente, apresentamos a seguir as propostas de derivações para as línguas de sujeito nulo parcial.

4.9.3 – Proposta de derivação para línguas de Sujeito Nulo Parcial

Para Holmberg (2010), diferentemente das línguas de sujeito nulo consistente, as línguas de sujeito nulo parcial não possuem o Traço-D não interpretável em T. Nessas condições um pronome deficiente incorporado em T não pode receber interpretação definida. Nas línguas de sujeito nulo parcial a interpretação é sempre de um sujeito nulo genérico40

. Neste caso, contudo, um tópico-tema não pode satisfazer o EPP, portanto é preciso que outra categoria cheque o EPP. Para exemplificar essa situação, Holmberg apresenta um exemplo de Rodrigues (2004):

(127) a) João me contou que na praia vende cachorro quente. b) João me contou que pro vende cachorro quente na praia.

(RODRIGUES, 2004)

Na letra (a), a interpretação do sujeito da oração encaixada é de um sujeito nulo genérico e o EPP é satisfeito pela presença da locução adverbial “na praia”; já na letra (b), devido à falta de uma categoria em uma posição mais alta para satisfazer EPP, interpreta-se o sujeito da oração encaixada como um sujeito nulo definido, ou seja, o sujeito seria o referente mais acima João41

.

Além de não possuir traços-D não interpretáveis em T, línguas de sujeito nulo parcial também não possuem um tópico-temático para satisfazer o EPP. Assim, o sujeito nulo definido nessas línguas ocorre em SpecTP para satisfazê-lo. O pronome sujeito carrega traços-D não interpretáveis que, mesmo após o movimento para SpecTP, precisam ser valorados. Apesar de não possuir um tópico-temático, línguas de sujeito nulo parcial precisam de um antecedente mais acima para que realizem o sujeito nulo em sua derivação. O antecedente deve c-comandar o sujeito nulo para que este possa ser apagado e valorar os traços-D do pronome.

(128) Jari1 ... [ CP että [TP uDP[ T´ istuu + T3SG, EPP [vP < uDP3SG> <istuu> mukavasti tässä]]]]

(HOLMBERG, 2010, p.106)

Quando se tem sujeitos lexicais ou pronominais realizados fonologicamente, a derivação em línguas de sujeito nulo parcial seria pelo movimento desses itens lexicais para a posição SpecTP. Nesta posição haveria a satisfação do EPP e os sujeitos são realizados fonologicamente.

4.10 – Sujeito nulo parcial e restrições de inversões no PB: proposta de análise

Ao fazer um retrospecto de nossos resultados de sujeitos nulos e inversões do sujeito, podemos apresentar o seguinte panorama: o PB teria sofrido uma mudança gramatical em relação

41 Há controvérsias a respeito da interpretação apenas como sujeito nulo definido na sentença (b). Existem falantes do PB consideram essa sentença com interpretação ambígua, tanto de sujeito nulo definido como de sujeito nulo genérico.

ao sujeito nulo do século 19 para o século 20: teria deixado de ser uma língua de sujeito nulo consistente e passado a ser uma língua de sujeito nulo parcial. Isso dito, observamos que mesmo com o aumento do preenchimento do sujeito nulo, principalmente pela estratégia que denominamos neste trabalho de Sujeito Lexical Anafórico, o sujeito nulo ainda é licenciado em vários ambientes sintáticos do PB.

Em relação à inversão, não se constatou uma diferença quantitativa entre o PB e o PE. Ou seja, a média de realizações em ambas línguas teve valores bem aproximados. As principais diferenças observadas foram em relação ao tipo de inversão. Enquanto em PE, VS e VSO permaneceram sendo contextos de realizações da inversão do sujeito; no PB, observou-se um decréscimo dessa ordem e uma preferência pelas ordens XVS e VOS em detrimento da ordem VS . A tendência do PB é não deixar a primeira posição com um verbo.

Após esse resumo geral de nossos resultados, apresentamos nesta seção a nossa proposta de formalização para os dados encontrados. A seguir apresentamos alguns exemplos de sujeitos nulos definidos encontrados em nosso corpus:

(129) a) Eles não sabem quando pro deverão ficar de pé ou de joelhos! (Tribuna de Ouro Preto,

1945)

b) As crianças refugiavam-se nos seios das mães quando o pro avistavam de longe.(Jornal

Mineiro, 1890)

c) O morto, caso lhe fosse permitido observar, iria satisfeito para a sua cova, porque pro via

que o acompanhavam na tristeza, no mutismo mortuário ... (Tribuna de Ouro Preto, 1947)

Em todas orações acima, o sujeito nulo apresenta uma interpretação definida e é c-comandado pelo sujeito da oração principal. Em (a) o sujeito “Eles” c-comanda o sujeito nulo da oração encaixada; em (b) “As crianças” c-comando o sujeito nulo da oração adjunta e em (c) “O morto” c-comando o sujeito nulo da oração explicativa.

Os exemplos acima mostram ambientes sintáticos em que, no PB, há ocorrências de sujeitos nulos definidos. Como proposta de derivação destes casos, seguimos Holmberg (2010). Dessa forma, por ser uma língua de sujeito nulo parcial, a projeção T não teria o traço-D não

interpretável. O pronome sujeito vai para o SpecTP, onde além de satisfazer o EPP , recebe a interpretação via um antecedente que o C-comanda e valora o traço-D (uD) presente no pronome .

Em línguas de sujeito nulo parcial, a posição pro das sentenças acima podem ter a opção de ser nula ou preenchida, já em línguas de sujeito nulo consistente, essa posição vem categoricamente nula. Essa diferença ocorre porque em línguas de sujeito nulo consistente, todos os pronomes sujeitos nulos são P, ou seja, são pronomes deficientes, por isso podem ser incorporados em T que possui o traço-D não interpretável e sua valoração ocorre pelo Aboutness shift topic (um antecedente temático presente na sentença seja ele nulo ou preenchido, sem a obrigatoriedade de C- comando).

Já em línguas de sujeito nulo parcial a presença/ausência de sujeito ocorre porque nessas línguas é o pronome sujeito quem carrega o traço-D não interpretável. Se o pronome carrega o traço-D não interpretável, ele será nulo em SpecTP, pois a necessidade de um antecedente o c- comandando em uma posição mais acima, permite o apagamento, caso contrário se o traço-D é interpretável ele será realizado e pronunciado na posição SpecTP.

4.10.1– Análise do sujeito nulo de primeira e segunda pessoa no Português Brasileiro

Como pôde ser visto no capítulo 3 deste trabalho, o comportamento do sujeito nulo de primeira pessoa é diferente do comportamento do sujeito nulo de terceira pessoa em nossos dados. É possível ainda verificar a presença de sujeito nulo de primeira pessoa e segunda pessoa sem qualquer tipo de referência anafórica, tal como os exemplos abaixo:

(130) a) pro Recordo-me e pro transcrevo a seguinte passagem curiosa e digna de prestar atenção, a

qual encontrei num velho livro que relata a glória dos aventureiros do século XIX. (Tribuna de Ouro Preto, 1946).

b)Meu povo, pro quereis que façamos isto por todos. (Tribuna de Ouro Preto, 1947)

Para explicar esses casos, três hipóteses são possíveis.

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