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Traço discursivo em C Nesta hipótese a primeira e a segunda pessoa possuiriam

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Hipotese 3: Traço discursivo em C Nesta hipótese a primeira e a segunda pessoa possuiriam

traços de pessoa (+ Pessoa) e a terceira pessoa possuiria traços (- Pessoa)- hipótese de Galves (1993). Assim, a primeira e a segunda pessoa vão para SpecTP e são apagados por um elemento mais alto que seriam os traços-speaker/addressee que valorariam os traços de pessoa existentes na primeira e segunda pessoa desta gramática.

Em relação à primeira hipótese, há dois problemas sérios em assumi-la: i) pelo fato de o prono- me ter o traço-D interpretável, esperar-se-ia que os sujeitos de primeira pessoa e segunda pessoa sempre fossem realizados lexicalmente, pois a realização destes, acontecem em SpecTp, onde tanto os traços-D já estariam valorados, como também satisfeito o EPP. A única motivação para o apaga- mento do sujeito nesta posição seria assumir a existência de um tópico em uma posição mais alta, tal como sugere Ross (1982). A hipótese da arbitrariedade em PF é algo vago e não apontaria as res - trições que verificamos em nossos dados; ii) por ter o traço-D interpretável, o pronome poderia ocorrer em qualquer contexto, o que não é verdade.Além disso, não fica clara a evidência de se ter

Traço-D interpretáveis nos pronomes de primeira e segunda pessoa e não ter na terceira pessoa. Por- tanto não consideramos interessante seguir essa hipótese.

A segunda hipótese é bastante interessante, pois da mesma forma que acontece com as línguas de sujeito nulo consistente, em línguas de sujeito nulo parcial, T teria traços-D não interpretáveis, na primeira e na segunda pessoa. Portanto, a derivação destes sujeitos nulos ocorreria por incorpora- ção dos pronomes sujeitos em T. A valoração desses traços ocorreria pela presença dos traços- spe- aker/addressee em posição mais alta, permitindo o apagamento do sujeito. Com esse processo, o su - jeito nulo de primeira e segunda pessoa deveria ocorrer sem restrições. Isso não se verifica. Nos resultados de sujeitos nulos de primeira e segunda pessoa em contextos de “ilhas”, ou seja em sen- tenças com operador “wh”, encontrou-se o seguinte resultado:

Tabela 55 - Distribuição do sujeito de primeira pessoa nas orações –wh/ relativas e clivadas nos jornais brasileiros

Jornais Sujeito Nulo Sujeito Preenchido

Recreador Mineiro (1845-1848) 65/73 89% 8/73 11% Jornal Mineiro (1890-1898) 35/45 78% 10/45 22% Tribuna de Ouro Preto (1945-1948) 17/36 47% 10/36 53%

Como pode ser visto nos dados acima, com o decorrer do tempo a preferência foi preencher os su- jeitos neste ambiente sintático no PB. Assumir esta segunda hipótese criaria um problema para ex- plicar dados como os apresentados nessa tabela. Além disso, se a primeira e segunda pessoa podem ser incorporadas em T, o que impediria que acontecesse com a terceira pessoa?

A terceira hipótese parece ser a menos problemática para assumirmos. Nesta hipótese, os prono- mes de primeira e segunda pessoa vão para SpecTP e são apagados por um elemento mais alto, que seriam os traços- speaker/addressee. Diferentemente da segunda hipótese, neste caso, não há incor- poração e o T continua não tendo traços não interpretáveis. No entanto, ainda pode ser feito o se- guinte questionamento: se os traços- speaker/addressee podem valorar os traços-D de primeira e se-

gunda pessoa, porque não poderia existir um tópico temático para valorar a terceira pessoa, assim como acontece com as línguas de sujeito nulo consistente? Além do mais, coloca-se novamente a questão da sensibilidade da primeira e segunda pessoa às ilhas.

Uma resposta possível é que a diferença reside justamente na distinção entre incorporação dos traços-phi dos pronomes em T e movimento para a posição Spec/TP. No primeiro caso, os traços en- contram-se em posição de núcleo, na segunda, em posição de especificador. Nesse último caso, uma categoria WH em “Comp” bloquearia a relação entre os traços speaker/addressee e o sujeito, por minimalidade (RIZZI, 1990). Pelo contrário, a relação entre C e T não seria bloqueada por um ele- mento em posição de especificador.

Por outro lado, a impossibilidade de um tópico nulo valorar os traços-phi em Spec-CP deve-se ao fato de que o elemento de terceira pessoa é [-Pessoa], como proposto por Galves 1993, assim, os traços de 3a

pessoa não podem ser valorados por um tópico, mas somente numa configuração anafó- rica, como acontece quando um NP c-comanda localmente o sujeito nulo.

Por levar em consideração esses dois últimos pressupostos, assumimos a hipótese 3 para a deri- vação da realização de primeira e segunda pessoas no PB.

4.10.2 – Análise da inversão do sujeito com verbos monoargumentais – inacusativos e inergati- vos

Verificamos acima uma diferença substancial na frequência de inversões dos verbos inacusativos e inergativos. Os verbos inacusativos, por selecionarem apenas o argumento interno, favorecem a posposição do sujeito, enquanto os verbos inergativos, por selecionarem apenas o argumento externo, não aceitam facilmente sujeitos pospostos.

Para explicar a derivação de inversões, assumimos a presença de um locativo/expletivo nulo nas construções inacusativas (SHEEHAN, 2010). Este argumento locativo nulo presente em estruturas VS seria o responsável por satisfazer o EPP desse tipo de sentença (AMBAR, 1992, PINTO, 1994;1997). Portanto, em sentenças com verbos inacusativos, como temos abaixo, a

derivação seria explicada devido à presença deste argumento nulo locativo:

(131) a) Nasceu EI-Rei Dom João II (Tribuna de Ouro Preto, 1945).

b) Existem poucas propriedades de casas com vidraças, (Recreador, 1846)

Nos casos acima apresentados, o verbo inacusativo gera um argumento nulo locativo que é movido para o SpecT, satisfazendo o EPP da sentença. Dessa forma, consegue-se manter a ordem da sentença. Sheehan (2010) estipula que quando há um PP na derivação, esta categoria é a responsável por satisfazer EPP. A autora apresenta o exemplo de Ambar (1992) para fundamentar sua hipótese:

(132) a) LOC chegaram os técnicos ontem b) A Lisboa chegaram os técnicos ontem.

(AMBAR, 1992)

Em (a) o argumento nulo locativo é o responsável por satisfazer o EPP da sentença, já em (b), o PP é responsável por satisfazer o EPP e não o locativo nulo.

Em nossos dados, observamos uma grande ocorrência da ordem XVS com verbos ina- cusativos. Este X, como pôde ser averiguado, geralmente é um elemento adverbial.

(133) a) 1º de abril chegou El rei à província. (RECREADOR, 1847)

Interpretamos a preferência nos dados do PB por construções como apresentada acima, como indícios de uma tendência por ter a primeira posição preenchida por algum elemento que pos- sa efetuar a função de um sujeito, mesmo que não seja o sujeito argumental da sentença. Esse indí- cio é importante, uma vez que há mais de 80% de ordem SV em nossos dados para o PB e, quando há inversões, essa ordem é a que possui maior frequência.

Em relação às sentenças inergativas, nossos dados apontam para um maior número de frequência para a ordem SV nesse contexto. Nos poucos dados que encontramos com inversão neste

ambiente, o verbo aparece em primeira posição, como pode ser visto nos exemplos abaixo: (134)

a) Fugiu da cadea da cidade um detento que achava-se recolhido à prisão, a espera de responder jury na visinha cidade de Marianna, em cujo municipio mostrou grandes habilidades em furtos animaes. (Tribuna, 1946)

b) Corre pela cidade a notícia, para nós muito auspiciosa, que, dentro em breve, voltará a funcionar a fábrica de alumínio do Saramenha.(Tribuna, 1947)

Proporemos uma derivação para esse tipo de inversão ao estudar os casos de inversão com verbos transitivos (VOS) na próxima seção.

4.10.3 – Inversões com verbos transitivos

Encontramos em nossos dados um número baixo de inversões com verbos transitivos. E dentro do número de inversões encontradas, o maior número concentra-se na ordem XVS (tabela 32, capítulo 4), ou seja, mais uma vez temos uma maior frequência de uma ordem que contemple algum elemento em frente ao verbo mesmo que o sujeito real da sentença esteja posposto.

Além de uma frequência maior com a ordem XVS, observamos um outro dado interessante : a frequência de ocorrências VOS é superior à frequência de dados VS. Nossos dados diacrônicos vão ao encontro dos casos descritos por Pilati (2002). Corroboramos a assertiva da autora que aponta que a ordem VSO em PB é bem mais restrita que a ordem VOS. Algumas sentenças encontradas em nossos dados, colocamos abaixo:

(135) a) Pede a palavra o Presidente do Diretório Acadêmico da Escola de Minas, acadêmico José Patrús que se congratula, em nome da mocidade estudiosa, com a Sociedade pelos trabalhos desta por Ouro Preto e pela Pátria (TRIBUNA, 1947)

b) vomitam insolências as nuvens: (TRIBUNA, 1948)

c) influyem desordens os astros. (TRIBUNA, 1948)

Pilati (2002) afirma que as orações com ordem VOS ocorrem em contextos pragmáticos mais restritos que os de ordem VS com verbos inacusativos. A autora separa em dois grupos as orações com verbos transitivos e sujeitos pós-verbais: i) orações com predicados contendo verbos-

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