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Proposta legislativa: Projeto de Lei do Senado, nº 606 de 201150

O Projeto de Lei do Senado nº 606 de 2011, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), pretende alterar e acrescentar dispositivos ao Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho, que dispõe sobre o cumprimento da sentença e da execução dos títulos extrajudiciais na Justiça do Trabalho. Tal proposta iniciou-se após a reforma do processo civil, com a promulgação da Lei 11.232/05, que alterou, por exemplo, o artigo 475 do CPC, e, foi inspirada em trabalho realizado pelo Tribunal Superior do Trabalho.

O referido projeto de lei coloca em pauta a discussão sobre a efetividade da execução trabalhista. Sua justificação diz quanto à necessidade de revisão dos trâmites do processo de execução trabalhista, em face do aprimoramento das normas do Processo Civil.

Destaca-se na justificação do projeto que a Justiça do Trabalho apresenta um índice de congestionamento na fase de execução da ordem de 69%. Sendo que número oficiais indicariam quase dois milhões e seiscentos mil processos em fase de execução no final de 2010. E, que em média, de cada 100 reclamantes que obtêm ganho de causa, somente trinta e um alcançam êxito efetivo na cobrança de seu crédito.

Situação esta, que estaria exigindo alterações profundas no plano da regulamentação do processo de execução.

Para o cumprimento da sentença, a proposição indica a mera intimação do obrigado, por meio de seu advogado e sob pena de acréscimo da condenação com multa – que varia de 5% a 20%, segundo a capacidade econômica da parte e de acordo com seu comportamento processual.

Em comparação ao art. 475-J do CPC o projeto de lei traz o art. 879-A, assim redigido:

Art. 879-A. As obrigações de pagar devem ser satisfeitas no prazo de oito dias, sob pena de multa de dez por cento, que poderá, a critério do juiz, ser aumentada até o dobro ou reduzida à metade, observado o comportamento processual da parte ou sua capacidade econômico-financeira.

§ 1º O prazo de 8 (oito) dias de que trata o caput é contado da intimação da decisão que homologou a conta de liquidação, por qualquer meio idôneo, inclusive na pessoa de seu advogado, pela via eletrônica ou postal.

§ 2º No prazo do caput poderá o devedor, reconhecendo o débito e comprovando o depósito de trinta por cento de seu valor, requerer o pagamento do restante em até seis parcelas mensais, com correção monetária e juros.

§ 3º O cumprimento forçado de acordo judicial prescindirá de intimação do devedor, iniciando-se pela constrição patrimonial.

§ 4º a inclusão dos corresponsáveis será precedida de decisão fundamentada e realizada por meio de citação postal.

§ 5º É definitivo o cumprimento de sentença pendente de recurso de revista ou extraordinário, salvo em casos excepcionais em que resultar manifesto risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação.

Ainda, traz previsão acerca do parcelamento do débito quando reconhecido pelo executado, da oportunidade de quitação da dívida até a homologação da expropriação, da desconsideração da personalidade jurídica da executada, dentro outras alterações.

Destaque também para o uso de ferramentas tecnológicas, como penhora on line e da penhora eletrônica, em atendimento à tendência de virtualização dos atos procedimentais ante a implantação do processo judicial eletrônico.

O projeto tem como propósito observar as garantias constitucionais do acesso à jurisdição, do devido processo legal adjetivo e da sua razoável duração, a fim de facilitar na conclusão da prestação jurisdicional. No entanto, por questões de imprecisões em alguns de seus artigos, o mesmo ainda está sendo discutido, sendo feitas audiências, apresentados pareceres e propostas de emenda ao projeto, a fim de que as reformas efetivamente atendam aos princípios constitucionais do devido processo legal, bem como ao princípio da ampla defesa e o contraditório.

Diante do que, verifica-se que estão se aproximando mudanças legislativas na execução trabalhista, reflexo das discussões no tocante a aplicação do art. 475-J do CPC à execução trabalhista realizadas no âmbito do Poder Judiciário, efetuando este, desta forma, inegável contribuição legislativa.

CONCLUSÃO

Diante do estudo realizado, objetivou-se ter uma melhor compreensão sobre aplicação do art. 475-J do Código de Processo Civil, relativo à fase de cumprimento de sentença que condena ao pagamento de quantia certa do processo civil à execução trabalhista.

Inicialmente, foi efetuada uma análise das particularidades do processo do trabalho a fim de saber quais são os princípios norteadores deste ramo específico do direito. Logo, verifica-se que cada doutrinador elenca quais seriam os princípios. Entretanto, adotando-se o entendimento de Sérgio Pinto Martins (2013), concluímos que o único e verdadeiro princípio, tanto do direito material como do direito processual do trabalho, é o princípio da proteção do trabalhador.

O princípio protecionista é a base que irá informar e inspirar as normas jurídicas do direito trabalhista. Aliás, foi com vistas à proteção do trabalhador que se originou o direito do trabalho. Neste princípio estão englobadas diversas peculiaridades, como por exemplo, o jus postulandi das partes, a irrecorribilidade das decisões interlocutórias, a obrigatoriedade de tentativa de conciliação, a petição inicial verbal, dentre outros.

Verifica-se ainda, que Consolidação das Leis do Trabalho, Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943, está completando 70 anos, sendo que, poucas foram as suas alterações normativas, em razão do que, muitas vezes o processo trabalhista socorre-se das normas do Processo Civil, porquanto este último é por

vezes atualizado, tendo em vista os avanços da sociedades e surgimento de demandas cada vez mais complexas.

A aplicação das normas processual cíveis ao processo do trabalho se dá pela expressa previsão do art. 769 da CLT, assim, diz-se que o referido artigo serve como uma ponte que liga o processo do trabalho ao processo comum, sendo mais usual essa ligação especificamente o processo civil. No entanto, o art. 769 exige dois requisitos para que seja possível a chamada aplicação subsidiária, quais são: a omissão e a compatibilidade.

Conforme analisado, considera-se atualmente que a omissão pode ser compreendida por lacunas normativas, que ocorre quando há ausência de norma jurídica reguladora; lacuna ontológicas, quando apesar de existente a norma ela não corresponde mais com os fato sociais, ou seja, está ultrapassada em razão do tempo; e, lacunas axiológicas, quando a norma existe, mas se aplicada acarretará uma solução insatisfatória ou injusta.

Para melhor compreensão do assunto, o presente trabalho fez o estudo da dinâmica processual trabalhista no tocante a execução, em específico da execução de sentença que reconhece a obrigação de pagar quantia, por ser essa notadamente a mais usual, onde, na maioria dos casos, há a condenação do empregador (devedor) a pagar ao empregado (credor) verbas trabalhistas de caráter alimentar.

Constata-se que existem poucos artigos na CLT tratando da execução, e que se aplica subsidiariamente as regras da Lei de Execução Fiscal, ou ainda, as regras de Direito Processual Civil, cumpridos os requisitos. Pode-se concluir que, apesar de haver entendimento divergente, a execução trabalhista caracteriza-se como processo autônomo, uma vez que, inicia-se com a citação do executado, a fim de que o mesmo cumpra a decisão no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ou, que garanta a execução, sob pena de penhora.

Ocorre que, na prática, este processo executório é longo, podendo se estender no tempo durante anos, ou mesmo, nunca lograr êxito.

O fato da execução trabalhista iniciar-se somente após a citação, que, em regra, deve ser pessoal, dificulta o andamento do processo, eis que, não raras vezes o devedor não é encontrado para ser citado, em outros casos, se utiliza da fraude, subtraindo de bens de seu patrimônio que deveriam garantir o adimplemento da dívida trabalhista, ou, ainda, se utiliza da série de recursos à sua disposição, ocasionando assim, maior delonga ao adimplemento do crédito. De modo que, atualmente, apenas 24% dos trabalhadores conseguem efetivamente alcançar satisfação na obtenção do crédito perseguido perante a Justiça do Trabalho, tamanhos são os percalços na busca de seus direitos.

Neste contexto, tendo-se por base as dificuldades na obtenção de êxito da execução trabalhista, as alterações legais no Código de Processo Civil, trazidas com o advento da Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de 2005, em específico quanto à fase de cumprimento de sentença, abordada no presente trabalho, a qual representou significativos avanços em relação à efetividade e à celeridade da prestação jurisdicional, foi sendo reproduzida no processo trabalhista por meio da aplicação subsidiária do art. 475-J do CP. Contudo, como visto, esta aplicação gera grande polêmica.

Apesar dos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais contrários à aplicação do art. 475-J do CPC, que se fundamentam na alegação de ausência de omissão da CLT, de afronta ao princípio do devido processo legal e da ampla defesa e de enfraquecimento da autonomia do Direito Processual do Trabalho, entende-se que deve ser adotado posicionamento favorável à aplicação do referido diploma nos pontos em que este confira maior efetividade e celeridade ao processo de execução trabalhista.

Verifica-se que a previsão de intimação da decisão que condena ao pagamento, ao invés da citação, e a imposição de multa legal de 10% no caso de não pagamento do valor da condenação, previstos no art. 475-J do CPC, são aplicáveis ao processo trabalhista, por imprimir celeridade e efetividade na satisfação do credito exequendo. A intimação por ser um ato de comunicação processual mais simplificado, podendo ser efetuado através do Diário de Justiça

Eletrônico ao procurador da parte executada, e, a multa por traduzir um meio coercitivo ao pagamento da obrigação pelo devedor, contribuem manifestamente para uma mais rápida concretização da decisão judicial.

Ademais, não assiste razão negar a aplicação subsidiária da multa de 10% ante o inadimplemento do pagamento de um verba alimentar sob o argumento de interpretação restritiva em relação a imposição de coerção econômica, porquanto o processo trabalhista aplica outras multas do processo civil de forma subsidiária, como exemplo da multa por ato atentatório ao exercício da jurisdição, por ato atentatório à dignidade da justiça, por litigância de má-fé, a imposição de astreintes e a multa pelos embargos de declaração protelatórios.

Ainda, a aplicação da fase de cumprimento de sentença civil ao processo trabalhista mostra-se compatível com os objetivos e peculiaridades do processo do trabalho, ou seja, vai ao encontro do princípio protecionista, porque visa tutelar os direitos de caráter eminentemente alimentar, atentando-se para a hipossuficiência do trabalhador. Infere-se, portanto, a execução trabalhista não pode ficar aquém da execução civil em termos de celeridade, tão somente observando de forma estática os avanços desta.

Por fim, espera-se que o Projeto de Lei do Senado nº 606 de 2011, ultrapasse as barreiras de ordem política e econômica presentes quando se trata da aprovação de normas no campo trabalhista, a fim de suprir as necessidades atuais quanto à regulamentação do processo de execução trabalhista, garantindo assim, tanto a celeridade e efetividade processual, quanto o princípio do devido processo legal e da segurança jurídica, evitando posicionamentos divergentes nos tribunais.

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