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6. RESULTADOS

6.2. REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS

6.2.2. PROPOSTA DE TIPOLOGIA DE REDE POLÍTICA

A primeira contribuição desse trabalho é a elaboração de uma proposta de tipologia de rede política passível de aplicação a qualquer rede de escolas, Todavia, ressalta-se que a referida tipologia é fruto de um processo representacional e classificatório e como todo processo desta natureza é um produto de uma construção que representa o estado e visão do conhecimento desta autora, especificamente relativo a escolas de educação profissional e tecnológica e baseada em revisão de literatura, especialmente as tipologias de Rhodes e Marsh, Van Waarden e Atkinson . (BONAFONT, 2004. p. 79 - 87). Ressalte-se que, ainda no corpo desta tese, no capítulo seguinte, outra tipologia, denominada Atlas da Rede Federal de Educação Tecnológica será apresentada. Por isso convém explicitar os princípios pelos quais tais representações foram construídas, sob óticas distintas. A presente tipologia - Tabela 1, caracteriza-se pelo foco nas informações relacionais de um conjunto de atores – os dirigentes da Rede Federal, em seus parâmetros relacionais que caracterizam redes sociais. Devido ao foco no relacionamento, esta tipologia não confunde-se com a seguinte, na qual, outros atributos e categorias de análise serão representadas.

Através da primeira abordagem, ao se analisar as conexões diretas e indiretas da rede, pode-se olhar para as propriedades relacionadas à sua estrutura e conectividade, na tentativa de obter tendências sociais decorrentes desta estrutura, ou ainda identificação de subestruturas importantes desta rede. Diversas propriedades podem ser obtidas e analisadas considerando-se a estrutura e conectividade da rede. Em geral são propriedades simples, mas que fornecem

informações relevantes para auxiliar na compreensão da população observada. Exemplos de medidas que avaliam a estrutura básica da rede e sua conectividade são tamanho, compatibilidade, recursos, dentre outros.

 Tamanho da rede: propriedade, aparentemente, simples, todavia, muito importante. O tamanho da população é uma das variáveis críticas na análise sociológica, como também no âmbito das ciências políticas. Podemos nos imaginar que no âmbito das políticas públicas, a gestão de um conjunto pequeno de escolas seria menos extenuante do que a coordenação do que um conjunto de 562 unidades exigindo colaboração de um grande número atores. O tamanho da rede é dado pelo número de atores e de relações.

 Ingresso, continuidade de participantes e o tipo de união: propriedades que descreve o mecanismo de entrada, com suas eventuais barreiras ou limites de entrada a participantes novos; o grau esperado de manutenção dos mesmos atores como participante da rede, bem como o grau de ordem na posterior participação em rede.

 Conectividade: a conectividade da rede pode ser avaliada a partir das relações das quais cada ator participa. O número de relações de que o ator participa na rede é o seu grau de conectividade. As medidas de conectividade ajudam a explicar certos comportamentos ou processos decorrentes da conectividade social, como solidariedade, densidade moral e complexidade da organização social.

 Compatibilidade dos membros: corresponde aos níveis de congruência de valores e de concordância sobre os objetivos. Nesse aspecto, o desafio está em conciliar o objetivo da rede com os objetivos particulares dos membros.

 Ambiente de mobilização de recursos: que corresponde à disponibilidade de fundos e o tipo de controle sobre esses recursos.  Ambiente social e político: que corresponde às bases de poder e ao

padrão de conflitos. Considera-se o conflito como uma consequência inevitável na relação de interdependência e deve ser aproveitado em

seus aspectos construtivos, como o “ajustamento” de poder e de recursos entre as organizações.

 Legitimidade e monopólio: reconhecimento, por parte dos agentes públicos, de sua interlocução e representação das necessidades de um coletivo. Existem uma ou várias organizações com acesso a arena política? E se o Estado escuta a todos os grupos igualmente, ou a alguns, escuta com maior intensidade? Esta característica representa a posição estrutural do grupo no processo de elaboração de políticas públicas.

 Estabilidade: a formação de redes tem sido frequentemente caracterizada como uma resposta à incerteza e instabilidade que caracteriza o ambiente organizacional. O ambiente incerto é gerado por recursos escassos e pela falta de um perfeito conhecimento das flutuações ambientais. A incerteza induz às organizações a estabelecer e gerenciar inter-relações na busca de uma maior estabilidade e previsibilidade do ambiente.

 Finalidade: a finalidade de uma rede expressa a sua razão de ser nas dimensões política, religiosa, filosófica, científica, econômica, cultural e social. A finalidade dá o significado aos objetos que são trocados na rede e se encontra por vezes incorporada aos indivíduos que participam da rede, orienta as escolhas da dimensão ética dentro do qual uma rede evolui e inspira seus projetos.

 Reciprocidade: a formação das relações está baseada na reciprocidade. Os eventuais motivos de reciprocidade enfatizam a cooperação, colaboração e a coordenação entre organizações, ao invés de dominação, poder e controle. Nessa perspectiva, as redes políticas ocorrem para o propósito de buscar interesses e objetivos comuns.

 Eficiência: a rede reduz a dispersão de esforços e permite um ganho de produtividade e eficiência. Reduz também o tempo de busca de novos objetos uma vez que a interconexão entre indivíduos significa agilidade no compartilhamento de objetos de interesses mútuos.

 Fluidez: significa a capacidade de flexibilidade e adaptabilidade das redes às novas dimensões do ambiente. Essa propriedade fundamental permite três tipos de inter-relações:

o Espacial: a rede permite colocar em relação subconjuntos ou unidades geograficamente dispersas;

o Temporal: a rede assegura a permanência das ligações entre indivíduos que participam da rede; e

o Social: a rede permite homogeneizar as relações de comunicação por parte dos atores sociais que possuem condições sociais diferentes, sem implicar na mudança dessa condição.

 Tipo de participação: entendida como a capacidade dos participantes de participar da decisão e gestão de um problema concreto. A rede caracteriza-se como horizontal ou hierarquizada? É usual a divisão e diferenciação em subgrupos ou redes específicas?

 Orientação política e autonomia: entendida como a postura política na definição dos objetivos e estratégicas em torno a problemas comuns à rede e o nível existente de autonomia.

Tabela 1-Tipologia de redes de políticas públicas

Dimensão

Tamanho da rede Reduzido Amplo

Ingresso (limites ou barreiras de entrada a participantes novos)

Apenas Dirigentes Aberto conforme demandas e interesses

Tipo de união Caótico Ordenado

Continuidade de participantes

Elevada Variável

Conectividade Elevada Reduzida ou ocasional

Ambiente de mobilização de recursos

Todos os participantes têm recursos que intercambiam em um plano de igualdade ou a

Recursos limitados e distribuídos de forma desigual

partir de um pacto Ambiente social e político:

consenso ou conflito

Consenso Elevado. Os participantes compartilham valores básicos

Existe um certo acordo porém o conflito está presente

Ambiente social e político: tipo de interesse

Político/orçamentário Existem muitos tipos de interesses, não há a predominância de nenhum

Legitimidade Elevada Reduzida ou ocasional

Monopólio em relação a representação do grupo

Existente Ausente

Estabilidade Incipiente Conquistada

Finalidades Predominam em negociações a defesa de interesse particular

Predominam em

negociações a defesa de interesse geral

Reciprocidade Ocasional Constante histórica e

crescente

Eficiência Existente. Incipiente Ausente

Fluidez: espacial Geográfica Setorial

Fluidez: temporal Periódica Ocasional

Fluidez: social Apoia a simetria de informações Assimetria de informações Tipo de participação:

regime

Voluntária Obrigatória

Tipo de participação: coordenação das tarefas e projetos comuns

Hierárquica Horizontal Consultivo Deliberativo

Tipo de participação: tomada de Decisão

Aberta, proporcionando informações sobreo conteúdo e acordos alcançados

Secreta. Opacidade quanto ao resultado das negociações

Tipo de participação: divisão em subgrupos ou redes específicas

Frequente e esperada Ocasional

Orientação política Muito politizada Pragmática Ideológica

Nível de autonomia Elevada Reduzida

Fonte: Elaboração da autora a partir de revisão bibliográfica e experiência profissional.

A partir desse esforço conceitual, podemos fazer algumas observações a título de conclusão desta seção e transpor o conceito simbólico de rede para usá-lo analiticamente como instrumento metodológico de compreensão de relações sociais entre indivíduos do CONIF.

A aplicação da tipologia em comento ao CONIF resultaria na tipificação, a seguir apresentada.

O Conselho Nacional de Instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica é uma rede política de tamanho elevado, com barreiras definidas de acesso, conectividade e autonomia elevada, de caráter pragmático e goza de legitimidade e monopólio junto a entidade governamental central. Ao longo de sua existência, este conselho adquiriu estabilidade, mecanismos de reciprocidade e fluidez, tendo acompanhado, inclusive, as transformações institucionais da Rede Federal mantendo seu espaço de interlocução e poder.

Esta rede política favorece seus laços de densidade por meio de um intenso regime de participação de seus componentes e da usual estratégia de divisão em subgrupos para estudo, acompanhamento e proposição de temas específicos. Possui uma estrutura de coordenação consultiva e horizontalizada. A participação de seus membros é obrigatória e o ambiente de mobilização de recursos é definido a partir de um pacto, especificamente as contribuições à matriz de alocação de recursos MEC. Na discussão de seus temas, percebe-se um consenso elevado, não sendo muito usual, a manutenção de conflito. Por fim o ambiente social e político desta rede configura-se pela predominância de interesses políticos e orçamentários e as negociações, geralmente, finalizam com a defesa interesses de ordem geral.