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Propriedades das proteínas

No documento SÉRIE EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR (páginas 44-48)

Por que e como purificar proteínas? Como armazenar proteínas? Como avaliar a purificação? Para entendermos e respondermos estas perguntas precisamos rever alguns conceitos importantes sobre como obter e manter proteínas de interesse em condições apropriadas para posteriormente se- rem submetidas aos ensaios experimentais. Assim, nos relembraremos al- gumas propriedades importantes das proteínas que ajudarão a entender seu comportamento.

3.1.1. Propriedades elétricas

As cadeias laterais de alguns aminoácidos possuem a capacidade de se ionizar em condição ácida ou básica. Desta forma, proteínas com composi- ção de aminoácidos diferentes poderão ter cargas distintas de acordo com a condição a que forem submetidas. Devemos lembrar que aminoácidos apresentam propriedades características quando isolados, mas formando um polipeptídeo eles podem interferir uns nos outros e conseqüentemente no comportamento total da proteína. As proteínas, assim como os peptídeos e aminoácidos, possuem pontos isoelétricos característicos, nos quais elas possuem carga líquida (soma das cargas positivas e negativas) igual a zero.

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MÉTODOS EXPERIMENTAIS NO ESTUDO DE PROTEÍNAS

Vol. 1

S É R I E E M B I O L O G I A C E L U L A R E M O L E C U L A R

3.1.2. Solubilidade

Diversos fatores podem influenciar a solubilidade das proteínas. A solubilidade é dependente diretamente da composição de aminoácidos da cadeia primária e de sua estrutura tridimensional, por influenciar no arranjo de cargas e dipolos presentes na molécula. Além das cargas deve- mos considerar o tamanho da molécula ou partícula dissolvida, lembran- do que em físico-química as diferenças entre solução verdadeira, coloi- dal ou suspensão estão diretamente relacionadas ao tamanho do agente disperso (no caso aqui a proteína), e à forma, em função da superfície de contato estabelecida entre a proteína e o solvente. Estes fatores mudam radicalmente com a formação de agregados ou de proteínas com estru- tura quaternária, devido aos contatos proteína-proteína.

Grupamentos prostéticos em proteínas, ou seja, a parte não protéica (lipídeos, carboidratos, fosfatos etc.), também afetam sua solubilidade. No caso de proteínas glicosiladas ou fosfatadas estes grupos, por serem polares, podem fazer interações com o solvente (aumentando a solubili- dade) ou mesmo facilitar a interação com outras proteínas. Grupamentos lipídicos, pelo contrário, geralmente não interagem bem com a água e, fre- quentemente, são responsáveis pela fixação de proteínas a membranas lipídicas, fazendo com que não sejam solúveis em água. A solubilidade de proteínas de uma maneira geral pode ser modificada por fatores como: pH

O pH afeta a natureza e a distribuição de cargas de uma proteína. Em geral, as proteínas são mais solúveis em pH baixos (ácidos) ou elevados (alcalinos) devido ao excesso de cargas de mesmo sinal, as quais irão produzir repulsão entre as moléculas, o que diminui a formação de agre- gados (por interação eletrostática) e, além disso, contribui para uma maior solvatação. Entretanto, valores extremos de pH podem induzir a uma desnaturação protéica, expondo regiões hidrofóbicas, o que pode- rá gerar agregados (por interação hidrofóbica) levando à precipitação. Por outro lado, quando uma proteína se encontra em meio com pH igual a seu ponto isoelétrico, ou seja, quando apresenta carga líquida nula, a repulsão eletrostática entre partículas diminui, possibilitando inte- rações proteína-proteína, gerando uma condição favorável para que as moléculas de proteína se aproximem, agreguem e precipitem.

MÉTODOS DE PURIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS

Cap. 3

Força iônica

A solubilidade de uma proteína pode variar de acordo com a concen- tração de sal a que ela é submetida. Em baixa concentração de sal, ob- servamos um aumento na solubilidade das proteínas com a presença de íons. Este fenômeno é chamado de salting in, onde ocorre uma interação entre os íons salinos e os grupamentos carregados das proteínas dimi- nuindo as interações eletrostáticas intermoleculares proteína-proteína (responsáveis pela diminuição da solubilidade protéica). Por outro lado, em elevada concentração salina, observamos uma redução na solubilida- de das proteínas. Este processo é chamado de salting out, aonde alguns sais, ao interagir com a água, removem a camada de solvatação das pro- teínas, o que facilita a formação de agregados e leva à sua precipitação.

Temperatura

Uma grande parte das proteínas é solúvel à temperatura ambiente. O aumento da temperatura até 40°C em geral favorece a sua solubilidade. O aumento da energia cinética favorece a interação do soluto com o sol- vente, fazendo com que se alcance um equilíbrio dinâmico, o qual permite que a mesma quantidade de solvente presente no sistema possa parti- cipar na solvatação de uma maior quantidade de soluto. Entretanto, de uma maneira geral, temperaturas acima deste valor podem desnaturar proteínas, o que na maior parte dos casos leva à formação de agregados e precipitação. É interessante observar que a desnaturação também pode ocorrer em baixas temperaturas, sendo que cada proteína terá uma determinada estabilidade para uma dada temperatura. Além disso, mu- danças bruscas de temperatura podem levar à desnaturação protéica afetando seu funcionamento e solubilidade.

3.1.3. Solução-Tampão

Um tampão é uma solução de um ácido ou de uma base fracos, a qual resiste a mudanças de pH quando se adicionam quantidades moderadas de ácido ou base. Esta solução consiste na mistura de um par conjugado ácido-base, capaz de doar ou receber prótons. Proteínas possuem certo efeito tamponante, devido a alguns grupos ionizáveis dos aminoácidos (COO-, NH

2 etc.), que são ácidos ou bases fracos. Entretanto, os valores

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que apresentam um grupo com pKa compatível com o tamponamento a pH fisiológico são a histidina e a cisteína. Adicionalmente, as proteínas apresentam um pequeno efeito tamponante, pois estão presentes em baixas concentrações.

3.1.4. Desnaturação protéica

Na maioria dos casos, o papel fisiológico de uma proteína está in- timamente ligado à manutenção da sua estrutura nativa. Entretanto, algumas análises bioquímicas necessitam que as proteínas estejam em sua forma desnaturada. A desnaturação protéica é resultante do desdobramento e da desorganização de sua estrutura tridimensional sem que ocorra hidrólise das ligações peptídicas. A desnaturação tem como resultado uma mudança na conformação das proteínas, por per- turbar as interações que estabilizam boa parte desta estrutura, o que irá alterar suas propriedades fisiológicas. Dessa forma, as proteínas se tornam menos solúveis. A desnaturação pode ser reversível e, nes- te caso, ao se retirar o agente desnaturante a proteína retorna à sua conformação nativa. Entretanto, as proteínas, em sua maioria, uma vez desnaturadas, ficam permanentemente alteradas (desnaturação irreversível).

As proteínas podem ser desnaturadas pela utilização de métodos físicos como aquecimento, agitação, radiações ultravioleta ou visível, raios x, ou de agentes químicos como ácidos e bases fortes, solventes orgânicos (como etanol ou acetona), detergentes, soluções concen- tradas de uréia e cloreto de guanidina e metais pesados (como chum- bo ou mercúrio).

Os fatores descritos nos itens anteriores são importantes para manter as proteínas em sua estrutura nativa (Figura 3.1), pois em condi- ções desfavoráveis as interações que as mantêm em sua conformação nativa (ligações de hidrogênio, interações eletrostáticas, interações de Van der Waals) poderão se desestabilizar, prejudicando a sua funciona- lidade.

O conhecimento das propriedades de uma amostra protéica pode aju- dar na manutenção de sua integridade, pois assim podemos evitar a sua exposição a condições desnaturantes.

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Cap. 3

Figura 3.1. Representação esquemática de uma proteína enovelada na sua forma nativa.

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