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PROPRIEDADES FONOLÓGICAS: 1 Frequente uso da aliteração e rima.

CAPITULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

PROPRIEDADES FONOLÓGICAS: 1 Frequente uso da aliteração e rima.

PROPRIEDADES LEXICAIS

Fazendo parte do conhecimento vital e humano, são parte integrante da cultura de um povo e o tema central é a sabedoria e a vida humana (Bragança Júnior, 1999). Este autor advoga que a sabedoria humana compreende a ciência especulativa, a ciência prática e

rectitude moral. Defende ainda que a sua transmissão é de extrema importância, e se não

se transmite de uns para outros, a mensagem não tem valor.

A particularidade dos provérbios reside ainda na possibilidade de configurar uma atitude que passaria despercebida, se os provérbios não chamassem a atenção para ela e a efi- ciência da sua mensagem está indissociavelmente associada à sua clareza (Bragança Júnior, 1999).

Os provérbios têm a função de: Produzir um efeito particular, uma mudança no estado de consciência nos ouvintes desejada pelo que fala e ainda a função de persuasão, admoes-

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tação, repreensão, Andrade (s/d) salienta que os provérbios englobam três dimensões fundamentais:

DIMENSÃO LINGUÍSTICA (é dotado de estrutura e significado. Verificam-se contudo transformações, fonológicas, sintácticas, morfológicas no que se refere ao uso e evolu- ção).

DIMENSÃO HISTÓRICA (No contexto de enunciação do provérbio – quem, onde e quan- do – é importante para compreender o conteúdo do mesmo).

DIMENSÃO SOCIAL (O provérbio é uma manifestação social. O seu uso é difundido nas várias camadas sociais e em diferentes áreas geográficas).

Os provérbios têm alvos intencionais bem definidos: acusando, definindo, defendendo, restringindo, edificando, estimulando, consolando, dando esperança e tranquilizando, propiciam ao ouvinte ou ao usuário, um carácter sábio, analítico, condimentando, gravado pela experiência e, acima de tudo, são conclusivos. (Lacaz-Ruiz,s/d). Para este autor é importante considerarmos que os provérbios, isoladamente e quando mal interpretados, podem ser perigosos, induzir ao erro, distorcer situações, justificar vícios ou encorajar maus costumes.

Todos nós somos capazes de citar prontamente pelo menos meia dúzia de provérbios, no entanto se nos perguntarem onde os ouvimos, não somos capazes de responder a não ser que os tenhamos ouvido com muita frequência à mesma pessoa, no entanto todos sabemos em que ocasião os devemos empregar e que partido podemos tirar deles. Os interessantes dos provérbios é que são muito parecidos nos mais diversos idiomas e cul- turas. Tal facto deve-se essencialmente a duas razões:

Primeiro porque somos uma só espécie humana e como tal as pessoas de todos os con- tinentes encaram os mesmos problemas na vida. De igual forma todos temos as mesmas características físicas e as mesmas emoções.

Relativamente às influências sociais, todos temos que conviver com o trabalho, o susten- to e as relações interpessoais. Uma outra razão porque os provérbios são muito seme- lhantes em diferentes países tem a ver com a história. Por exemplo, os provérbios dos idiomas de países da Europa têm muito em comum a relação com os Romanos. Vejamos o mesmo provérbio em idiomas diferentes: Latim – “sapienti satis verbum”; Português - “Para um bom entendedor meia palavra basta”; Castelhano - “Al buen entendedor pocas palavras” e em Inglês - “A Word to the weise is sufficient”. Para comprovar que os pro-

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vérbios são das expressões idiomáticas mais universais, Tirado (2004), refere estudos paramiológicos realizados por professores das Universidades de Duesto e Santiago de Compustela em que depois de realizarem uma busca de correspondências em Castelha- no, Vasco, Galego, Francês e Inglês, encontraram correspondência em 877 provérbios. Tais correspondências apenas, nalguns casos, apresentavam mudança de algumas palavras e estrutura gramatical, contudo com significado similar.

Uma das suas particularidades ou originalidades é a forma de expressão: em poucas palavras, resume-se numa ideia-força, por vezes em termos antinómicos ("Deus dá o mal e a mezinha"); são fáceis de decorar ("Espírito são em corpo são"); têm, por vezes um claro objectivo de crítica social ("Os erros do médico, a terra os come"); ou um simples- mente um propósito didáctico ("O mal do olho coça-se com o cotovelo"), moralizante ("À custa do doente come toda a gente") ou filosófico ("Queres conhecer o teu corpo ? Mata o teu porco"), conforme nos expõe Graça, L. (2000).

O recurso de ordem estética que mais caracteriza os provérbios é a aliteração, a repeti- ção, a harmonia vocálica, o ritmo, a metáfora e a ironia (Brasão, 2004). Este autor defen- de que a noção de provérbio que emerge da tradição paramiológica Portuguesa com- preende cinco características fundamentais traduzidas na fórmula BRSMN. B (Brevida- de); R (Ritmo que geralmente é binário); S (Simetria, tendendo a privilegiar a redondilha); M (Metáfora que é frequente mas não necessária) e N (Norma que é corrente e aparece como sugestão ou discreta advertência).

Para Fugikura (s/d) a importância dos provérbios como fonte de conhecimento da realida- de é fruto da própria forma de expressão da formulação e o modo como se diz algo torna- se importante. Este autor ressalva ainda que os provérbios constituem poderosos instru- mentos para a educação de novas gerações, podendo remeter para a posteridade uma série de preconceitos, que será tanto maior quanto “mais engenhosa for a sua formula- ção” A análise do provérbio deve ser feita no contexto em que ele é proferido. Como afir- ma o autor supra citado “ tal com acontece com as palavras ao ficarem prisioneiras do

dicionário, assim, os provérbios, retirados do contexto, perdem frequentemente a sua riqueza e até o próprio sentido”.

Na opinião de Miguel (2005), os provérbios são algo mais que a voz do povo. São expres- sões graciosas, depoimento, caracterização, explanação, descrição, justificação. Este autor considera no entanto que é bem possível que o mesmo provérbio tenha diferentes funções em diferentes contextos.

• Entretenimento ou educacional; transformando um instrumento para criar ou estabele-

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os provérbios de uma determinada sociedade desempenham para o seu sistema de nor- mas e valores. (Grzybek,1995) citado por Lacas-Ruiz (s/d).

• Para fazer reflexões comparativas entre factos ocorridos e o próprio provérbio. Podem

ser utilizados não para uma situação interactiva mas para se referir a uma situação. Dois indivíduos podem-se lembrar de um provérbio após conversarem sobre um facto ocorrido com terceiros. Lacas-Ruiz (s/d).

À guisa de conclusão, acrescentamos a ideia de Heda e Johnson citado por (Bragança Júnior, 1999), onde considera que o provérbio “pretende ensinar o ouvinte, critica o com- portamento humano, adverte dos perigos”. Na sua opinião o provérbio faz isto de duas formas:

• Ele dirige-se ao leitor directamente, dizendo-lhe como se comportar ou não comportar;

aconselha ou dá ordens ou proibições directas; adverte de perigos e armadilhas e critica o comportamento humano.

• Resume experiências de vida e deixa o ouvinte, ele próprio, tirar conclusões e aplica-

las no futuro para o seu comportamento.

2.2.3 Origem

Alguns são de origem bíblica, latina e erudita (Graça, 2000). A influência árabe (com sua multi-secular presença na Península) é visível em muitos planos, para além da mera tra- dução de diversos enunciados procedentes do património sapiencial oriental. Os Provér- bios remetem à experiência, ao passado. O árabe vale-se do passado até para expressar o futuro! O árabe vê o passado como um bloco homogéneo, vê o futuro como um bloco homogêneo". E o futuro é, para o árabe, determinado pelo passado como tal pode ser expresso em expressões proverbiais (Lauand, 2006). O autor acrescenta ainda que os provérbios são poderosos instrumentos para a educação das novas gerações: para ironi- zar os defeitos e desmistificar ilusões a respeito da realidade e do ser humano. Ribeiro (2003) é da mesma opinião quando realça o seu valor didáctico por serem verdades e evidências que exprimem de forma simples situações complexas. A grande força dos locuções proverbiais, reside na sua autoridade que é transferida por quem os pronuncia. A difusão, ocorre graças a dois factores. São eles os contactos e a propagação literária. Os contactos englobam os contactos pessoais, relações sociais e migrações, daqui a difi- culdade em determinar se um provérbio é genuíno ou não de determinado lugar ou região. A propagação literária envolve como é óbvio toda a difusão que é feita através de obras

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literárias (Andrade,s/d). Ao serem transportados de uma região para outra, vão-se adap- tando às variações linguísticas. Estas variações ocorrem, tal como já foi referenciado tan- to no plano fonológico, sintaxe, semântica ou léxico.

2.2.4 Provérbios e suas repercussões na saúde

“Conforme comemos, assim vivemos” Como já referimos , os provérbios ao serem frases curtas, insisivas, fáceis de memorizar, encerram conselhos sábios, licões de vida e preceitos definitivos.

No contexto específico da saúde, Azambuja (2004) diz que por serem frases curtas e conterem verdades aparentemente incontestáveis, são gravados instantâneamente por serem ouvidos no exacto momento de uma vivência. Ficam âncorados ao contexto do momento e permanecem no inconsciente. Assim sendo, numa próxima ocorrência do mesmo contexto são automaticamente relembrados pela pessoa e estabelecem o que fazer naquele momento. O autor supra-citado acrescenta que a maioria dos provérbios é ouvida na infância, geralmente vindos de figuras significativas para a criança, passam a funcionar como vereditos, como ordens a serem cumpridas sem apelação e sob pena de punição. Nesta linha de abordagem , formam-se crenças poderosas que governam a vida das pessoas, das quais só se conseguem livrar à custa de muita determinação e esforço, e assim, sentindo remorso ou culpa por contrariarem alguma figura de autoridade da sua vida. Esta opinião é partilhada por Andrade (s/d), ao afirmar que o facto de terem um significado condensado e estrutura bem formada “estão gravados com facilidade na mente do falante e são repetidos com força nova em cada circunstância de vida em comunidade”.

Em muitos dos provérbios que chegaram até aos nossos dias, na opinião de Graça (2000) há uma filosofia sobre a arte de viver com saúde em oposição à arte de curar, indo beber as suas raizes ao legado da medicina hipocrática e ao seu modelo salutogênico. Relativamente à sua importância, este autor alerta-nos para o facto de existirem provérbios que tem um conteúdo que se baseia no conhecimento empirico milenar dos povos mediterranicos e que é hoje em dia suportado pela própria investigação farmacológica e biomédica, nomeadamente a importância do consumo moderado de vinho (tinto) na prevenção de doenças cardiovasculares “(um copo de vinho

por dia mantém o médico à distância”) ou as propriedades terapeuticas do azeite

(“azeite de oliva o mal cura”). Azambuja (2004) corrobora desta opinião ao afirma que os provérbios têm grande repercusão na saúde em geral inclusivé a da pele, por terem

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algumas bases cientificas conforme as evidências da ligação mente-corpo, recentemente revelada pela psiconeuroimunologia”. Tendo em conta o descrito, este autor acrescenta ainda que eles “deveriam ser ensinados nas escolas e, com certeza, concorreriam para formar indivíduos mais voltados para melhorar a saúde em vez de esperar a ocasião de tratar-se de doenças”.

No que respeita à protecção e manutenção da saúde, a filosofia de senso comum é cép-

tica em relação ao papel da medicina ("O melhor médico é o que se procura e se não

encontra"), se não mesmo sarcástica ("Se tens físico teu amigo, manda-o a casa do teu inimigo"). Alguns preceitos simples, inevitavelmente associados a uma vida regrada, são recomendados para conservar a saúde e, por conseguinte, dispensar os serviços do

médico e do boticário (Graça, 2000).

Pelo contrário há provérbios que podem ser analizados como puros disparates (Graça,2000; Azambuja,2004). Graça (2000) dá como exemplos “abafa-te, abifa-te e

avinha-te” ou “antes embebedar do que constipar”. Nestes casos, e segundo a autora, os

conteúdos proverbiais, refectem crenças terapeuticas não fundamentadas. No domínio da nutrição , alguns também reflectem preconceitos que têm a ver com a nossa matriz Judaico-Cristâ ( “porco fresco e vinho novo, cristão morto”).

Não tendo a pretensão de fazer a análise individualizada dos provérbios mencionados ao longo do trabalho, não queremos deixar de fazer referência a alguns citados por Azambuja, (2004) onde justifica claramente as suas repercussões na saúde. Vejamos: “Rir é o melhor remédio” – O riso melhora o estado de saúde, trata a depressão e ajuda a curar as doenças. Quando há motivo para riso, o hipotálamo comanda a produção de endorfinas pela hipófise, substâncias que induzem o relaxamento, o bem estar . O autor destaca a terapia do riso como recurso ferapeutico que é potencializado quando em grupo.

“Pare de fumar enquanto vive” . Este lembrete que funciona como provérbio, encerra uma inegável realidade. O fumo é dos hábitos mais doentios que uma pessoa pode adquirir. O autor mencionado refere a pele como como alvo prevalente da diminuição do aporte de oxigénio causado pela inalação . A pele de quem fuma envelhece muito mais rápido, adquire um aspecto macilento e provoca rugas precoces. A nivel do orgânismo em geral o hábito de fumar tem associado um número elevado de neoplasias em diversos orgâos.

“Prevenir é melhor do que remediar”. A verdade absoluta contida neste provérbio, nem

sempre é seguida pelas pessoas e o que Azambuja (2004) considera mais grave, nem pelos médicos. O comodismo e o hedonismo leva as pessoas a abusar do corpo com a

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confiança que os médicos resolverão qualquer problema. Assim as pessoas, por exemplo, expoem-se demasiado ao sol provocando alterações na pele, consideradas por elas, como sinal da idade e que na realidade são situações muito mais graves.

“Vida é hoje, ontem já se foi, amanha talvez não venha”. Este provérbio indica que só

“o momento presente está sob nosso controle e que a vida é feita de momentos actuais”. As pessoas saudáveis vivem o agora, que é quando têm poder de opção. É pela atenção ao momento presente que podemos decidir o que é benéfico para nós ou se vamos viver imitando os outros , prejudicando o nosso orgânismo e “plantando” as bases das doenças e da senelidade.

“Recordar é viver” - O recordar é como que transportar para o tempo e local vivido, sentindo tudo pelos canais de percepção. Vendo o que vimos, ouvindo o que ouvimos e sentindo o que sentimos. Para o orgânismo, é como se estivesse vivendo novamente a mesma situação. As substâncias quimicas que a recordação produz ,são as mesmas que as produzidas na vivência original. Neste contexto, é positivo para a saúde recordar factos agradáveis, estimulantes, energisantes, calmantes que nos dêem confiança , capacidade, amor e prazer.

É preciso estar alerta contra recordações que deprimam o sistema imunitário e livrarmo- nos delas imediatamente, porque o cérebro não selecciona o que lhe é comandado. Acrescenta ainda que factos bons, efeitos saudáveis; factos negativos, efeitos mórbidos (Azambuja, 2004).

Considerando os provérbios integrantes do sistema de crenças pode dizer-se que provérbios impulsionadores de acções positivas , são modeladores de saúde, bem estar e felicidade e quanta mais emoção a a pessoa sentiu no momento em que ouviu determinado provérbio mais probabilidade de o reter definitivamente; quanto mais importante efectivamente a pessoa que o proferiu mais certeza de se tornar uma ordem interna poderosa. (Azambuja,2002 & Bragança Júnior, 1999).

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