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4. Metodologia Geral

5.1. CAPÍTULO I: Propriedade Intelectual no setor Agropecuário

5.1.7. Proteção de cultivar

Uma das principais formas de proteção no setor agropecuário é a proteção da cultivar, oriunda de melhoramento genético, uma vez que o investimento para a obtenção da cultivar é muito alto e demanda muitos anos de pesquisa. Por isso, espera-se um retorno que pode ser alcançado com a proteção de cultivar.

No Brasil, de acordo com a Lei de Proteção de Cultivares (Lei Nº 9.456/97 – BRASIL 1997), o conceito de cultivar refere-se à “variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que seja claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por margem mínima de descritores, por sua denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos descritores através de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo complexo agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e acessível ao público, bem como a linhagem componente de híbridos”.

No âmbito da propriedade intelectual deve-se considerar também o conceito de cultivar essencialmente derivada, o qual se refere a uma cultivar caracterizada por ser: a) predominantemente derivada da cultivar inicial ou de outra cultivar essencialmente derivada, sem perder a expressão das características essenciais que resultem do genótipo ou da

59 combinação de genótipos da cultivar da qual derivou, exceto no que diz respeito às diferenças resultantes da derivação; b) claramente distinta da cultivar da qual derivou, por margem mínima de descritores, de acordo com critérios estabelecidos pelo órgão competente.

No Brasil, a forma legal de proteger uma cultivar, incluindo a cultivar transgênica, é por meio da Lei de Cultivares que, de forma semelhante à patente, assegura ao seu titular o direito de impedir que terceiros produzam, com fins comerciais, ou vendam, sem a autorização do titular.

Para que a cultivar seja passível de proteção intelectual no Brasil, devem ser atendidos cinco requisitos básicos (BRASIL, 1997):

1) Novidade: não tenha sido oferecida à venda no Brasil há mais de doze meses em relação à data do pedido de proteção e que, observado o prazo de comercialização no Brasil, não tenha sido oferecida à venda em outros países, com o consentimento do obtentor, há mais de seis anos para espécies de árvores e videiras, e há mais de quatro anos para as demais espécies;

2) Distinguibilidade: cultivar se distingue claramente de qualquer outra cuja existência na data do pedido de proteção seja reconhecida através de descritores mínimos6;

3) Homogeneidade: cultivar utilizada em plantio em escala comercial que apresente variabilidade mínima quanto aos descritores que a identifiquem;

4) Estabilidade: cultivar reproduzida em escala comercial que mantenha a sua homogeneidade através de gerações sucessivas;

5) Denominação própria: denominação deve ser única, não podendo ser expressa apenas de forma numérica.

É importante ressaltar que, de acordo com a Lei de Sementes e Mudas (BRASIL, 2003), o conceito de comércio refere-se ao “ato de anunciar, expor à venda, ofertar, vender, consignar, reembalar, importar ou exportar sementes ou mudas”. Dessa forma, o requisito de novidade deve levar em consideração esse conceito.

6 Os descritores mínimos consistem de características morfológicas, fisiológicas, bioquímicas ou moleculares, que sejam herdadas geneticamente.

60 Ainda, para que uma cultivar possa ser protegida, ela precisa realizar os testes de DHE (distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade). Este teste é caracterizado por um procedimento técnico de comprovação de que a nova cultivar ou a cultivar essencialmente derivada são distinguíveis de outra cujos descritores sejam conhecidos, homogêneas quanto às suas características em cada ciclo reprodutivo e estáveis quanto à repetição das mesmas características ao longo de gerações sucessivas. Os testes são elaborados e realizados de acordo com cada espécie de cultivar e suas orientações podem ser encontradas no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A Proteção de Cultivares no Brasil tem vigência de 15 anos, exceto para videiras, árvores frutíferas, florestais e ornamentais, para as quais a proteção é de 18 anos.

No Brasil, a proteção de cultivar abrange o material de reprodução ou de multiplicação vegetativa da planta inteira e assegura ao seu titular o direito à reprodução comercial no território brasileiro, ficando vedados a terceiros, durante o prazo de proteção, a produção com fins comerciais, o oferecimento à venda ou a comercialização, do material de propagação da cultivar, sem sua autorização.

Atualmente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA é a maior obtentora de cultivares no Brasil, possuindo, até julho de 2017, 508 cultivares protegidas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, sendo 95 cultivares GM (Tabela 1).

Tabela 1 - Cultivares protegidas no Brasil, pela EMBRAPA, até julho de 2017. GM = Geneticamente Modificado CULTIVAR (NOME COMUM) CULTIVAR (ESPÉCIE) REGISTROS DE PROTEÇÃO – NÃO GM REGISTROS DE PROTEÇÃO – GM Abacaxi Ananas comosus (L.)

Merr.

2 0

Alface Lactuca sativa L 3 0

Algodão Gossypium hirsutum L. 24 7

Amendoim forrageiro

Arachis pintoi Krapov. & W. C. Greg.

1 0

Amora preta Rubus subg. Eubatus sect. Moriferi et Ursini

1 0

Arroz Oryza sativa L. 31 0

61

Azevem Lolium L. 1 0

Banana Musa L. 3 0

Batata Solanum tuberosum L. 4 0

Berinjela Solanum melongena L. 2 0

Braquiária Brachiaria brizantha 2 0

Brachiaria humidicola 1 0

Brachiaria ruziziensis x B. brizantha

1 0

Café Coffea canephora Pierre ex A. Froehner 2 0 Capim colonião Panicum maximum Jacq. 3 0 Capim elefante Pennisetum purpureum Schumach. 3 0 Pennisetun purpureum X P. glaucum 1 0

Cebola Allium cepa L. 4 0

Cenoura Daucus carota L. 2 0

Centeio Secale cereale L. 2 0

Cevada Hordeum vulgare L. 15 0

Feijão Comum

Phaseolus vulgaris L. 29 1

Feijão Caupi Vigna unguiculata L. 11 0

Girassol Helianthus annuus L. 3 0

Guandu Cajanus cajan L. Millsp.

1 0

Guaraná Paullinia cupana Kunth var. sorbilis

7 0

Mamona Ricinus communis L. 1 0

Mandioca Manihot esculenta Crantz

6 0

Maracujá Passiflora edulis Sims 8 0

Passiflora L. 1 0

Maracujá Ornamental

Passiflora L. 2 0

Melão Cucumis melo L. 2 0

Milheto Pennisetum glaucum (L.) R. Br.

2 0

Milho Zea mays L. 28 0

Pêssego Prunus Persica (L.) Batsch 6 0 Pimenta Habanero Capsicum chinense Jacq. 2 0 Pimenta tipo japaleno Capsicum annuum L. var. annuum 3 0

Soja Glycine max (L.) Merr. 93 87

Sorgo Sorghum Moench 32 0

Tomate Solanum lycopersicum L.

62

Trevo Branco

Trifolium repens L. 1 0

Trigo Triticum aestivum L. 41 0

Triticale Triticosecale Wittm. ex A. Camus

4 0

Videira Vitis L. 12 0

TOTAL 508 413 95

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados de MAPA, 2017a

A cultivar com maior número de OGM protegidas no MAPA é a soja, com diversos obtentores nacionais e internacionais, ressaltando a importância dessa cultivar no setor agropecuário.

5.1.8. Acesso a Recursos Genéticos e Conhecimento Tradicional