• Nenhum resultado encontrado

4. Metodologia Geral

5.2. CAPÍTULO II: Uso do sistema de patentes no setor agropecuário: panorama da proteção patentária no campo da biotecnologia

5.2.1. Proteção de plantas GM

De acordo com o ISAAA (2017), de 1996 a 2016 houve um aumento de 2 bilhões de hectares de cultivares GM produzidas comercialmente, compreendendo 1 bilhão de hectares de soja, 0,6 bilhão de hectares de milho, 0,3 bilhão de hectares de algodão e 0,1 bilhão de hectares de canola. No entanto, apesar dessa alta taxa de adoção, estudos mostram que provavelmente essas taxas não sofrerão alterações para os próximos anos visto que em algumas culturas como a soja e o milho, a adoção já atinge seu limite (CELERES, 2017).

No Brasil, o estado do Mato Grosso está em primeiro lugar dentre os estados brasileiros que adotam as plantas GM (13,8 milhões de hectares), seguido por Paraná (7,9 milhões de hectares) e Rio Grande do Sul (6,3 milhões de hectares) (GLOBO, 2016). Mostrando a importância da biotecnologia agropecuária para a região Centro-Oeste.

As plantas GM podem ser protegidas no Brasil através de um mecanismo sui generis denominado Proteção de Cultivar, regido pela Lei brasileira 9.456/97. Por essa legislação a proteção de cultivares tem vigência de 15 anos, exceto para videiras, árvores frutíferas, florestais e ornamentais, para as quais a proteção é de 18 anos. O órgão internacional responsável pela proteção de novas variedades de plantas é a UPOV (Union Internationale pour la Protection des Obtention Vegetales). Nos Estados Unidos as plantas com reprodução assexuada (exceto tubérculos) são protegidas pelo sistema de patentes enquanto que as plantas que possuem reprodução sexuada e tubérculos são protegidas pelo mecanismo da UPOV. No entanto, apesar de a Lei da Propriedade Industrial brasileira não permitir a proteção de plantas transgênicas (Artigos 10 e 18 da LPI Nº 9.279\1996), existem mecanismos de proteção pelo sistema de patentes que permitem a proteção de ferramentas e métodos para o desenvolvimento dessas plantas como: construções contendo genes de interesse, método de produção de plantas GM, genes sintéticos, dentre outros.

As plantas GM, por exemplo, não são passíveis de proteção por patente no Brasil, China e Índia, mas são passíveis de proteção nos EUA, Europa e Japão (ZUCOLOTO e FREITAS, 2013). Algumas das ferramentas utilizadas para o desenvolvimento de plantas GM, como genes e proteínas, também não são passíveis de proteção por patente no Brasil, mas podem ser protegidos por patente nos EUA, Europa, Japão e China. Essa dificuldade de proteção faz com

74 que a estratégia de proteção no Brasil seja diferente dos outros países. A legislação aplicada às invenções relacionadas ao desenvolvimento de cultivares (processo para obter planta GM, planta GM, variedade vegetal reproduzida sexualmente e variedade vegetal reproduzida assexuadamente) variam entre os diferentes países e estudos mostram que o padrão de proteção da propriedade intelectual do Brasil é idêntico ao padrão dos países em desenvolvimento como a Índia [(INPI 2007 in Rodrigues et al (2011)].

Na década de 70, com o advento da tecnologia do DNA recombinante, várias tecnologias foram geradas e patenteadas, incluindo a produção de sementes contendo genes de interesse. No entanto, à medida que as patentes envolvendo essas tecnologias expiraram, uma das estratégias abordadas pelas grandes empresas para manter o ganho sobre as sementes foi a venda casada da semente modificada, tolerante a um determinado herbicida, juntamente com o herbicida correspondente. Outra estratégia adotada pelas empresas do setor foi a fusão com algumas empresas e aquisição de outras para aumentar o portfólio de atuação das grandes empresas do setor, bem como a adoção de tecnologias de restrição (GUERRANTE, 2011). Essas tecnologias de restrição faziam com que o produtor ficasse dependente das empresas, uma vez que as sementes geradas das plantas GM eram estéreis. Além disso, diversas estratégias foram utilizadas por grandes empresas de semente como a MONSANTO: patenteamento de tecnologias de modificação genética de plantas; o uso do licenciamento; o recolhimento da taxa de utilização cobrada aos agricultores após a colheita; e o estabelecimento de contratos vinculando os agricultores à proibição de guardar sementes GM para plantio em safras posteriores (GUERRANTE, 2011). No entanto, em 2005 a Lei Brasileira de Biossegurança (BRASIL, 2005a) proibiu a utilização, a comercialização, o patenteamento e o licenciamento de Tecnologias de Restrição9. Dessa forma, as empresas passaram a adotar outras estratégias de proteção como no caso da Monsanto, a adoção da macho-esterilidade, que é menos polêmica, e pode ser reversível (GUERRANTE, 2011). Apesar de a Monsanto ter uma característica de autoperpetuação com perfil inovador, uma vez que está sempre desenvolvendo tecnologias dependentes das tecnologias anteriores, fazendo com que a empresa esteja sempre à frente do mercado biotecnológico agrícola e

9 De acordo com a Lei de Biossegurança, tecnologias de restrição dizem respeito a qualquer processo de intervenção humana para geração ou multiplicação de plantas GM para produzir estruturas reprodutivas estéreis, bem como qualquer forma de manipulação genética que vise à ativação ou desativação de genes relacionados à fertilidade das plantas por indutores químicos externos.

75 mantendo a dependência dos agricultores pelas tecnologias geradas, é importante verificar como está sendo a estratégia de proteção dessas empresas frente às restrições impostas pelo sistema de proteção por patentes no setor agrobiotecnológico. Sendo o Brasil hoje o 3º maior exportador de produtos agrícolas (WTO, 2017), é de suma importância se estudar uma estratégia de atuação do Brasil frente à produção de biotecnologias relacionadas a esse setor. Outra questão importante para ser abordada com relação à proteção intelectual envolvendo as plantas GM é a transparência da proteção das tecnologias para o agricultor, uma vez que o mesmo deve saber o que está embutido nos royalties pagos pela cultivar transgênica. Existe um cenário complexo envolvido na proteção intelectual das cultivares GM pelas grandes empresas do setor, dificultando, para o agricultor, o conhecimento de até onde os direitos de propriedade intelectual são válidos para aquela cultivar adquirida. O trabalho de Rodrigues et al (2011) mostrou que, no caso da soja RR®, existem várias patentes envolvidas, com diferentes datas de validade e diferentes tipos de cobertura de proteção, dificultando o conhecimento do alcance dos royalties cobrados por determinada cultivar contendo a tecnologia RR®.

Um estudo do panorama de proteção do setor biotecnológico brasileiro torna-se necessário para entender como esse tipo de tecnologia está sendo protegida no Brasil e quem são os principais detentores para se observar forma de gestão das empresas e instituições brasileiras para se lidar com as especificdades do sistema de inovação nesse setor.

No item seguinte será abordado o estudo feito do panorama da proteção patentária no campo da biotecnologia agropecuário no Brasil, e o mesmo será relatado no formato da revista para o qual o artigo será encaminhado, para facilitar o entendimento do tema pelo leitor.

76

5.2.2. Artigo intitulado “PANORAMA DA PROTEÇÃO PATENTÁRIA