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As rochas proterozóicas abrangem a maior parte de Goiás, cobrindo aproximadamente 50% da superfície do território do estado. Importantes municípios do ponto de vista político (Goiânia), econômico (Catalão) e natural (Cavalcante e Alto Paraíso de Goiás) estão situados sobre as rochas proterozóicas (Figura 3).

Figura 3 – Terrenos proterozóicos sobre o mapa de municípios do estado de Goiás. Fonte: Base dos dados: SIEG, disponível em http://www.seplan.go.gov.br/sieg/, acesso em 15/01/2010.

No éon proterozóico já haviam se formado grandes massas continentais (NEVES, 2003). O supercontinente Columbia, uma dessas grandes massas, abrigava os terrenos proterozóicos atualmente encontrados no Brasil central (ROGERS & SANTOSH, 2002; ZHAO et al., 2004). Como se tratava de um grande continente, diversos ambientes geológicos também já se encontravam ativos, como bacias sedimentares, desertos e vulcões.

37 Conforme apresentado no Quadro 1, o éon proterozóico é dividido em três períodos, paleoproterozóico, mesoproterozóico e neoproterozóico. Esses períodos foram marcados por grandes modificações na dinâmica da Terra. O paleoproterozóico é marcado pela grande oxigenação da Terra ocasionada pela proliferação organismos procariontes e eucariontes, que consumiam carbono e liberavam oxigênio para atmosfera (HOLLAND, 2009). Os organismos eucariontes, existentes naquele período da história, são denominados como acritarcas. A atmosfera sofreu profundas alterações passando de um ambiente redutor para oxidante.

O continente Columbia, onde se encontravam grande parte das rochas que formariam o estado de Goiás, se fragmentou pela ação da tectônica de placas. Nesse processo de fragmentação, a crosta sofreu um adelgamento, o que permitiu a ascensão de magma através da crosta e a formação de novas intrusões graníticas e atividades de vulcanismo. Essas intrusões são observadas hoje na região de Monte Alegre de Goiás e são conhecidas como a Província Estanífera de Goiás, por ser um complexo de depósitos de estanho (PIMENTEL et al., 1999) (Figura 4).

38 Figura 4 – Província Estanífera de Goiás. Fonte: Base dos dados: SIEG, disponível em http://www.seplan.go.gov.br/sieg/, acesso em 15/01/2010.

No paleoproterozóico, o continente Columbia era influenciado por um clima árido de ambiente desértico. Esses desertos estão associados a ambientes deposicionais de dunas, sabkas8 e vulcanismo. Os vestígios desses ambientes são encontrados no norte do estado de Goiás, nos municípios de Monte Alegre de Goiás, Campos Belos e Nova Roma, em rochas com estruturas sedimentares preservadas. Com o avanço do movimento de divergência de placas, Columbia começa a romper, e, a água do oceano invade o continente. Extensas deposições de sedimentos em ambiente costeiro são encontradas na

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39 região de Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante, denominados de Grupo Araí (FUCK et al., 1988, MARTINS et al., 2002; DARDENNE et al., 2004). Estruturas primárias, como marcas de ondas, comprovam a gênese dessas rochas em um ambiente litorâneo.

Figura 5 – Marcas onduladas, indicando a formação dessas rochas em ambiente litorâneo, no município de Cavalcante - Goiás. (Foto do autor. 29/05/2011).

Com a entrada definitiva do mar e a separação do continente Columbia inicia-se, já no mesoproterozóico, a deposição da unidade geológica conhecida como Grupo Paranoá. Trata-se de uma sequência sedimentar completa também depositada em ambiente litorâneo. Essa sequência tem a sua base no vale do rio São Miguel, em Alto Paraíso de Goiás, e seu topo na região norte do Distrito Federal (FUCK et al., 1988; FARIA, 1995). A base está exposta na localidade conhecida como “Vale da Lua”, onde afloram conglomerados de matriz carbonática (CAMPOS et al., 2009). Por serem de origem química, esses conglomerados indicam a sua formação em um ambiente deposicional subaquático, com declividade bentônica mais acentuada. A matriz carbonática, pelo fato de ser solúvel na água, é a responsável pelas formas arredondadas das rochas que lembram a Lua, uma das atrações turísticas do município de Alto Paraíso de Goiás. No topo, os calcários, atualmente explorados pela indústria cimenteira no Distrito Federal, formavam uma espécie de recifes de corais, depositados em águas limpas e quentes. Há ainda, resquícios de um mar profundo que existiu no Neoproterozóico, que atualmente representam as rochas argilosas encontradas na região dos municípios de Pirenópolis, Abadiânia, Goiânia, Anápolis, Piracanjuba e Caldas Novas. As rochas formadas nesse mar profundo são conhecidas como Grupo Araxá.

40 Os grupos Paranoá, Araxá, Bambuí e Araí são os que têm maior representatividade territorial no estado de Goiás. A Figura 6 mostra a distribuição dessas unidades geológicas no estado.

Figura 6 – Principais grupos proterozóicos no estado de Goiás. Fonte: Base dos dados: SIEG, disponível em http://www.seplan.go.gov.br/sieg/, acesso em 15/01/2010.

No início da era neoproterozóica, a Terra estava integralmente recoberta por neve. Esse fenômeno é conhecido como snow ball earth (HOFFMAN et al., 1998). Os vestígios do derretimento dessa grande massa de gelo estão expostos no município goiano de Bezerra e são conhecidos como Formação Jequitaí (GUIMARÃES et al, 1986; ALVARENGA et al 2007, UHLEIN et al, 2011). Com a entrada do mar forma-se um mar interno ou continental, conhecido como Grupo Bambuí. Essa unidade geológica é bem representada na região norte de Goiás, nos municípios de Monte Alegre de Goiás e Nova Roma.

Por fim, o movimento das placas tectônicas, no contexto do estado de Goiás, atuou em sentido reverso. Continentes que haviam se separado tornam a se chocar, comprimindo os sedimentos depositados em faixas litorâneas. Esse fechamento promoveu a formação de uma cadeia de montanhas, similar a que ocorre atualmente no Himalaia. Essa cadeia de montanhas, conforme mencionado anteriormente, é conhecida como Faixa de Dobramentos Brasília (DARDENNE et al., 2000; FUCK et al., 2005). O novo continente formado após o

41 choque das três placas tectônicas (crátons São Francisco, Amazônico e Paranapanema) formou o continente Gondwana (NEVES, 2003). Desta forma, as unidades geológicas descritas anteriormente, como os grupos Paranoá, Bambuí, Araxá e Araí, originalmente formadas por camadas sedimentares (plano-paralelas), foram dobrados em função da compressão das placas tectônicas. Essas estruturas dobradas tiveram forte influência na configuração do relevo acidentado, atualmente observado em algumas regiões do estado de Goiás (Ex: municípios de Monte Alegre de Goiás, Campos Belos, Cavalcante, São João da Aliança, dentre outros).

Uma feição importante para este trabalho, decorrente da formação da Faixa de Dobramentos Brasília, é a unidade geológica denominada de Complexo de Niquelândia (FERREIRA FILHO et al., 2010). Trata-se de um grande bloco, de origem vulcano- sedimentar, que ficou amalgamado por esta cordilheira. Nesse complexo ocorre uma das maiores jazidas de níquel do mundo.

O final do éon proterozóico, há 540 milhões de anos, é marcado pelo aparecimento da fauna ediacariana. Ela é considerada um marcador estratigráfico, porque a sua existência estaria restrita a este período. Esse grupo de animais se compunha de 31 espécies, incluindo formas de vida consideradas ancestrais de celenterados, anelídeos, artrópodes e equinodermos de corpo mole (CONDIE & SLOAN, 1998). No Brasil central, fósseis desses animais foram descobertos em Corumbá, Mato Grosso do Sul, e classificados como pertencentes ao gênero Cloudina (FAIRCHILD, 1978). Esse grupo antecede o fenômeno da explosão da vida ocorrida no cambriano.

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