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2.2 Modelagem e Simulação

2.2.3 Protocolo Padrão ODD

O protocolo ODD foi proposto por Grimm et al. (2006) em 2006 e já passou por aper- feiçoamentos desde então (Grimm et al., 2010). A sigla ODD sintetiza os três grandes blocos desse protocolo padrão para a descrição de IBM ou ABM: Overview, Design Con- cepts e Details. Sem essa padronização, os modelos que aplicam essa técnica são difíceis de entender e replicar. Isso acontece, principalmente, porque os modelos baseados em indivíduos são mais difíceis de comunicar do que os modelos tradicionais analíticos, que são formulados, em geral, em linguagem matemática. O protocolo ODD propõe uma es- trutura para a comunicação de IBMs, com o objetivo de torna-los menos ambíguos, mais completos e acessíveis. A idéia básica é estruturar a informação dos modelos sempre na mesma sequência explicitada na Figura 2.8, que consiste de sete elementos que podem ser agrupados nos três grandes grupos já citados.

O primeiro grande bloco da metodologia, a Visão Geral (Overview) é composta de três elementos que fornecem uma visão do propósito geral e da estrutura do modelo. Com essa descrição é possível captar contexto, o foco do modelo, sua resolução e complexidade. O bloco que descreve os conceitos de Projeto (Design concepts) não descreve o modelo em si, mas os conceitos que regem o projeto do modelo. São considerações estratégicas, que têm por objetivo esclarecer quais são as diretrizes definidas pelos pesquisadores em termos das interações possíveis entre os indivíduos,

Finalmente, em Detalhes (Details) são apresentados todos os pormenores que foram omitidos na visão geral e nos conceitos de projeto. Os submodelos que implementam

Figura 2.8: Os três blocos do protocolo ODD e seus elementos (adaptado deGrimm et al.

(2006).

os processos do modelo são descritos detalhadamente. Nesse bloco, o pesquisador deve fornecer todas as informações requeridas para a reimplementação do modelo ou para a simulação de cenários básicos.

Com esse conjunto de informações, qualquer leitor, mesmo não familiarizado com a técnica, poderia apontar as funcionalidades e propósitos de um modelo apresentado. Os principais requisitos que devem ser elicitados em cada um dos elementos, são:

• Propósito - apresenta uma clara, concisa e específica formulação dos objetivos do modelo. Informa qual a necessidade da construção do modelo complexo e o que será feito dele;

• Entidades, variáveis de estado e escalas - uma entidade é um objeto ou ator distinto que se comporta como uma unidade que pode interagir com outras entidades e afetar ou ser afetado por fatores externos. Uma variável de estado é um atributo que distingue uma entidade da outra. Esse elemento informa qual é a estrutura do sistema do modelo. Por exemplo, quais entidades são descritas, como elas são descritas, se existem relações de hierarquia, além de explicitar quais são as resoluções espaciais e temporais e quais são os elementos bióticos e abióticos descritos no modelo. As escalas devem ser definidas e as dimensões do modelo explicitadas; • Visão geral do processo e programação - elicita quais são os processos individuais

e ambientais embarcados no modelo e quais são os seus efeitos. A programação dos processos também deve ser descrita, ou seja, a ordem em que os processos são executados, quando as variáveis são atualizadas, quem executa cada processo, como o tempo é modelado no IBM, se existem eventos dinâmicos no modelo e que ações são executadas de maneira atômica, dentre outras características relevantes;

• Conceitos de Projeto - os autores fornecem uma lista de elementos, que podem ser utilizados pelo desenvolvedor do modelo para explicitar as características subjacen- tes à implementação. Nem todos os conceitos listados pelos autores são aplicáveis a qualquer modelo. São eles:Princípios Básicos - quais os conceitos gerais, hipóte-

ses ou teorias subjacentes ao modelo; Emergência - quais características surgem da interação dos indivíduos, e quais fenômenos são impostos; Adaptação - quais traços adaptativos o modelo possui para influenciar a função utilidade de cada indivíduo; Aptidão - quais são os objetivoss de cada agente; Objetivos - quais são os obje- tivos que influenciam as decisões de cada agente; Aprendizagem - se as diferentes sequências de experiências modificam o padrão de ação do agente; Predição - como as entidades estimam ou predizem as consequências futuras das suas decisões; Per- cepção - quais variáveis são percebidas ou já sabidas e consideradas pelo agente na tomada de suas decisões; Interação - quais interações entre os indivíduos são espe- radas; Estocasticidade - se ela existe no modelo e porque; Coletivos - se as entidades são agrupadas em algum tipo de agrupamento social; Observação - Como os dados são coletados do IBM para teste, entendimento e análise;

• Inicialização - trata de questões tais como quando e quem são os indivíduos criados no início de cada simulação, se as variáveis de inicialização são aleatórias ou baseadas em dados e se a inicialização é sempre a mesma ou se existe variedade entre as simulações;

• Dados de entrada - quais são os dados de entrada que serão avaliados no modelo, como eles foram gerados e como podem ser obtidos;

• Submodelos - todos os processos explicitados no elemento ‘Visão geral do processo’ representam os submodelos que necessitam ser detalhados e seus parâmetros descri- tos. Os submodelos podem ser descritos em linguagem matemática, quando possível, ou têm suas regras e parâmetros exemplificados.

Todo o processo de modelagem é influenciado pela escolha da área de estudo. Algumas características da área de estudo selecionada para ser o alvo da pesquisa, o bioma Cerrado, são apresentadas na Seção 2.3.