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Será analisado, em seguida, o provérbio (XII): (XII) Lê o passado e ficarás preparado para o futuro.

Unidades de informação: 1) Lê o passado

2) e ficarás preparado para o futuro

Texto 9

Águas passadas movem moinhos

Lê o passado e ficarás preparado para o futuro

Francisco Gomes Nas últimas décadas temos assistido a grandes inovações tecnológicas que modificaram definitivamente a nossa forma de estar no mundo. Certamente, hoje em dia, já não será fácil imaginar as nossas vidas sem internet, sem telemóveis, sem ar condicionado, sem televisão, etc. Sem nunca termos

a verdade se cala. Quando o dinheiro

fala

grande noção da velocidade a que tudo isto se processa, a verdade é que continua a existir uma grande ânsia de estar ainda mais à frente no tempo e de anteciparmos o nosso destino. Esta enorme vontade de prever o futuro fez com que, desde sempre, existissem crentes interessados em contactar com astrólogos, adivinhos, tarólogos ou espíritas para prever o sentido da evolução das coisas.

Apesar de haver pessoas que gostariam de poder antecipar o tempo, face à enorme velocidade a que tudo isto se está a processar, é cada vez mais notório que muitos desejariam que o tempo parasse ou até mesmo voltasse para trás. Começam a surgir cada vez mais indivíduos que sentem uma verdadeira nostalgia da época em que as coisas eram mais calmas e mais simples. Não é por caso que nasce o interesse pelas imagens a preto e branco, o gosto de séries

televisivas como é o caso do ―Conta-me como foi‖, das feiras das velharias e até de festas e encontros de antigos alunos, antigos funcionários… Fruto desde

saudosismo crescente muitas organizações aproveitaram este novo comportamento social e pegando em lembranças de outros tempos fizeram com que determinadas tendências passadas voltassem a ficar na moda. Se pensarmos no surgimento de bandas como é o caso do grupo Nouvelle Vague que, inspirando-se em bandas de sucesso dos anos 80 como os Violent Femmes, Sex Pistols, Joy Division, The Clash, e Depeche Mode, tiveram o sucesso garantido, é fácil verificarmos que a inspiração no passado tem sido uma verdadeira fórmula mágica.

Ainda no domínio musical podemos referir o crescente número de compradores de vinil ou o surgimento de rádios ou de gira-discos digitais semelhantes aos que habitualmente víamos na casa dos nossos pais. Não será certamente por acaso que surgem armários em forma de jukebox, carteiras em

forma de cassetes…

Contudo, este gosto pelo revivalismo não fica por aqui. Se pensarmos em exemplos como o novo New Beatle, o Fiat 500 ou o Mini, verificamos que também a indústria automóvel acompanhou de forma muito explícita esta tendência. Mesmo com preços acima da média, a verdade é que estes modelos têm conseguido, sem recurso à magia negra, conquistar o coração de muitos compradores que procuram reviver emoções passadas que tiveram ao volante de um carro semelhante ou até mesmo superar as frustrações de quem em novo sonhou com aqueles modelos e que na altura não os puderam ter.

Este gosto pelas ligações ao passado como é o caso do eterno sucesso das Allstar, do clássico fato de treino da Adidas, dos óculos de sol Ray-Ban, das Bombocas, das pastilhas Gorila ou mesmo dos Sugos faz que com possamos afirmar com certeza que existem águas passadas que ainda movem moinhos.

As orações – lê o passado e ficarás preparado para o futuro – são ligadas pelo conectivo e; por isso, em uma análise tradicional, muitos gramáticos classificariam a segunda oração como coordenada sindética aditiva. Para Halliday (1985, 2004), a segunda oração que compõe o provérbio no eixo tático seria paratática e, no lógico-semântico, seria do tipo extensão com valor aditivo. Já para Matthiessen e Thompson (1988), levando em conta que a articulação de orações é uma gramaticalização das relações retóricas, as orações se configurariam como paratáticas, mas expressariam relações retóricas do tipo núcleo-satélite.

Além das classificações citadas, entre essas porções de textos, nota-se também uma relação de conseqüência, demonstrando, uma vez mais, que o conectivo e não estabelece apenas relação de adição ou adversidade e que os conectivos não são fatores determinantes para que se definam as relações que ocorrem entre as partes textuais.

O autor do texto procura demonstrar como o passado exerce influência no futuro:

Não será certamente por acaso que surgem armários em forma de jukebox, carteiras em forma de cassetes. Nesse sentido, apresenta argumentos que confirmam que o ato de ler o passado, o qual pode ser exemplificado por diversas partes do texto, tais como determinadas tendências passadas voltassem a ficar na moda –, prepara para o futuro: possamos afirmar

com certeza que existem águas passadas que ainda movem moinhos. Portanto, essa leitura no

passado estaria mais relacionada a observar aquilo que fez sucesso e marcou de alguma forma épocas anteriores e, devido a isso, pode repercutir no futuro, contribuindo para que negócios de vários tipos, seja na área de música, seja de vestuário, seja de automóvel, obtenham resultados positivos, ao se basearem no passado.

Pensando em todos os aspectos elencados, na situação discursiva em que o provérbio se encontra e em todos os exemplos que demonstram como o passado pode contribuir para diversos tipos de investimentos no futuro, acredita-se que a relação é de condição, já que a intenção do autor parece ser realmente afirmar que aquele que ler o passado ficará preparado para o futuro. Assim, a realização da parte 2 (núcleo) depende da parte 1(satélite). Além disso, antes do título do texto, encontra-se Águas passadas movem moinhos que constitui uma paródia à Águas passadas não movem moinhos e contribui para reafirmar

que a retomada ao passado pode garantir vantagens no futuro e, também, para reforçar a relação de condição, permitindo pensar que se as águas passadas movem moinhos, então, o passado pode ser uma condição para um futuro prodigioso.

Ao se observar a forma em que o provérbio se apresenta – a primeira parte no imperativo Lê o passado –, pode-se hipotetizar que esse modo verbal contribui também para que a idéia de condição se manifeste de forma predominante.