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CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2. PROVÍNCIA PEGMATITICA ORIENTAL DO BRASIL

No século XX, durante e após a Segunda Guerra Mundial, os pegmatitos tornaram-se importantes depósitos minerais do Brasil, devido aos esforços para aumentar a produção de mica, berilo e quartzo para a indústria militar. Esse desenvolvimento foi acompanhado por estudos geológicos e com isso vários minerais foram descobertos. Assim em 1946, Paiva agrupou os pegmatitos em Província Pegmatítica Oriental, Província Pegmatítica do Norte e Província Pegmatítica do Sul. Estas províncias foram definidas principalmente com base na distribuição geográfica dos pegmatitos, porque naquela época o Brasil carecia de mapas geológicos, mesmo para uma abordagem regional (Pedrosa-Soares et al. 2011).

A Província Pegmatítica Oriental do Brasil (PPOB) ocorre numa faixa com cerca de 150.000 km2, estendendo-se de NNE para SSW ao longo da região nordeste de Minas Gerais, Sul da Bahia,

oeste do Espírito Santo e noroeste do Rio de Janeiro, estando situada na Faixa Araçuaí e no Cinturão Atlântico (Figura 2.2). Desde Paiva (1946) os limites e subdivisões da província foram redefinidos e refinados, de acordo com mapas mais detalhados e dados analíticos (por exemplo, Correia-Neves et al. 1986; Pedrosa-Soares et al. 2001b, 2009; Morteani et al. 2000; Netto et al. 2001; Pinto & Pedrosa- Soares, 2001). Pelo menos 1000 pegmatitos foram minados nesta província desde os anos 40 (por exemplo, Sá 1977; Pedrosa-Soares et al. 1990; Grossi-Sad et al. 1997; Pedrosa-Soares 1997; Pedrosa- Soares & Oliveira 1997; Pedrosa-Soares & Grossi-Sad 1997; Morteani et al. 2000; Netto et al. 2001).

Figura 2. 2- Mapa de localização da Província Pegmatítica Oriental do Brasil, reunindo os limites propostos por Paiva 1946, Putzer 1976 e Schobbenhaus et al. 1981 e 1984, com a localização dos distrito pegmatíticos descritos por Pedrosa-Soares et al. (2011).

Inúmeros pegmatitos PPOB cristalizados a partir de 630 Ma a 490 Ma, ou seja, durante o evento Brasiliano, ao longo do orógeno Araçuaí. São de dois tipos: anatéticos (formados diretamente a partir do derretimento parcial das rochas do campo) ou pegmatitos residuais (o silicato rico em fluido derrete, resultante da cristalização fracionada dos granitos originais). A distribuição de ambos os tipos de pegmatitos, suas relações com as rochas hospedeiras e granitóides-mãe, bem como suas idades e principais recursos minerais, permitem distinguir onze distritos da PPOB no orógeno Araçuaí (Tabela 2.3).

Tabela 2. 3: Distritos pegmatíticos da PPOB no orógeno Araçuaí (Pedrosa-Soares et al. 2009).

Distrito e idade Mineral principal e de coleção Tamanho do pegmatito(*), tipo e classificação (**) Rocha fonte e hospedeira

Pedra Azul; ~ 497Maa Água-marinha, topázio, quartzo

Muito pequeno a pequeno, residual,

elemento raro

Granitos G5

Padre Paraíso; ~519Mab Água-marinha, topázio, quartzo, goshenita Muito pequeno a pequeno, residual, elemento raro Granitos G5 e Charnockito Araçuaí; 525-500Mac.d Espodumênio, granito ornamental, gemas de turmalina, berilo e quartzo, feldspato industrial, schorl, ambligonita, albita, petalita, cleavelandita, apatita, fosfatos

raros, cassiterita, columbita- tantalita, bismutinita, adulária

Muito pequeno a pequeno, residual, elemento raro Granito G4; mica xisto, metawacke, quartzito, rocha metaultramáfica

Ataléia; ~519Mab Água-marinha

Muito pequeno a pequeno, residual,

elemento raro

Granito G5

São José da Safira;

~535Mae

Feldspato industrial, turmalina, minério de berilo, muscovita, água-marinha, granada, albita, cleavelandita, apatita, heliodor,

Mn-tantalita, bertrandita, microlita, zircão

Muito grande a médio, residual, elemento raro a

muscovita Granito G4; mica xisto, metawacke, quartzito, rocha metaultramáfica Conselheiro Pena, ~582Maf

Feldspato industrial, variedades de gemas de turmalina, berilo e

quartzo, minério de berilo, trifilita, fosfatos raros e kunzita

Muito grande a médio, residual, elemento raro

Granito G2; mica xisto, metawacke,

quartzito, rocha metaultramáfica

Malacacheta, ~535Mag Alexandrita, crisoberilo, muscovita, berilo Pegmatito residual e sistema hidrotermal Granito G4; mica xisto, rocha ultramáfica

Santa Maria de Itabira, ~650-500Mah,i

Esmeralda, alexandrita, água- marinha, amazonita Pegmatito anatético e sistema hidrotermal Xisto ultramáfico, formação de ferro, migmatito

Caratinga, ~575Maj Caulim, coríndon, berilo Anatético, abissal Migmatito, paragnaisse

Espera Feliz, ~500 Mak água-marinha, topázio, quartzo

Muito pequeno a pequeno, residual, elemento raro granito G5 Espírito Santo, 575- 490Mal

Caulim, quartzo; água- marinha, topázio

Maioria anatético; Muito pequeno a pequeno,

corpos residuais

Migmatito, paragnaisse e

granito G5 Legenda: Referências das idades:a, Pedrosa-Soares et al. (unpubl. data); b, Noce et al. (2000); c,

Whittington et al. (2001); d, Silva et al. (2008); e, Petitgirard et al. (2009); f, Nalini et al. (2000); g, Basílio et al. (2000); h, Ribeiro-Althoff et al. (19

Segundo Bilal et al. (2000), os pegmatitos dessa província podem ser classificados em dois grupos: (i) pegmatitos de qualidade gemológica – ricos em turmalinas e zonas de Li; (ii) pegmatitos com berilo, algumas vezes com qualidade gemológica e cerâmicos. O primeiro grupo resulta de uma cristalização fracionada e está relacionado a granitos sin-tectônicos, associados a fase compressiva de deformação (D1). Esses pegmatitos localizam-se nos distritos de Araçuaí, Ataléia, Conselheiro Pena, Espera Feliz, Padre Paraíso, Pedra Azul, São José da Safira. O segundo grupo é associado a fase D2 do brasiliano. Durante essa fase ocorreu a fusão parcial da crosta e simultaneamente a geração de leucogranitos porfiríticos e o segundo grupo de pegmatitos. Esse grupo está nos distritos Caratinga, Santa Maria de Itabira e Espírito Santo. Esse grupo está encaixado também em orto e paragnaisse (idade 2,6 Ga) ou em granitos. Esses corpos apresentam uma distribuição zonada em torno de regiões anatéticas que mostram Uma maior evolução quando intrudidos em níveis mais altos da origem anatéticas. Esses pegmatitos possuem um range em torno de 0,5 para 10 m e as vezes maiores. Esses corpos possuem morfologia predominantemente tabular ou em lentes. Apresentam um zoneamento interno especialmente em corpos maiores. Um terceiro grupo de pegmatitos pobres em turmalina e ricos em berilo foi descrito por Pedrosa-Soares et al. (2001a), sendo associados a diápiros pós- tectônicos que gradam de gabro a granitos pertencentes à Suíte G5, sendo fonte importante de berilo gemológico.

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