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Prova específica nas infiltraçoes policiais e todos os seus trâmites

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3 Prova específica nas infiltraçoes policiais e todos os seus trâmites

A consolidação do Estado Democrático de Direito garantidor dos direitos individuais e coletivos passa pela superação de entraves de toda ordem: econômicos, políticos, sociais e jurídicos. Tendo como base essa colocação, a infiltração policial em organizações criminais acarretam diversos aspectos para a obtenção do êxito nas colheitas de provas. A junção dos poderes policiais, a força jurídica e a transparência estatal são de suma importância para a realização de um trabalho bem sucedido. Em consonância a essa imposição, a exigência de um mecanismo de alta eficácia é altamente necessária para combater o crime organizado.

Consiste nessa tarefa um celeste planejamento, capaz e sucinto de guiar os profissionais atuantes no sistema. Vem por meio de suas palavras, dissertar Frederico de Andrade Gabrich:

“Planejar é, em síntese, construir cenários possíveis, com objetivo de antever ou antecipar o futuro, para a concretização dos objetivos estabelecidos antes. Nesse sentido, o planejamento implica a elaboração de um conjunto de ações voltadas para implementação dos objetivos pré-determinados” (GABRICH, 2015, p.34).

Adentrar áreas de extrema periculosidade é questão de grande dificuldade, sendo assim, são usadas técnicas de investigação baseadas em indícios, delações, falhas e deslizes em uma ou várias das fases da cadeia das operações criminosas. A infiltração do agente de polícia obtém inovações técnicas de aquisições de provas, ofertando ao Estado uma postura eficiente, abrindo margens para a possibilidade de conhecimento estrutural da organização criminosa em sua integridade, e não de forma setorizada, assim como esclarece Marcelo Batlouni Mendroni:

“Consiste basicamente em permitir a um agente da polícia ou de serviço de inteligência infiltrar-se no seio da organização criminosa, passando a integrá-la como se criminoso fosse-, na verdade como se um novo integrante fosse. Agindo assim, penetrando no organismo e participando das atividades diárias, das conversas, problemas e decisões, como também por vezes de situações concretas, ele passa a ter condições de melhor compreendê-la para combatê-la através do repasse das informações as autoridades”. (MENDRONI, 2012, p.118-119).

Rente ao esboço supracitado, a técnica de infiltração policial vem sendo extremamente aceita, pois, não enxergam outro meio mais útil em desvelar articulações

criminosas. Ainda que obtida uma considerável crítica sob o viés arriscado dessa técnica, a infiltração é modalidade vantajosa nos proveitos probatórios, considerando que outra forma não oferece vantagem tão proativa quanto. Embora não tivesse total amparo do ordenamento jurídico brasileiro, e tampouco sendo a sua utilização, não era possível denotar a amplitude dos feitos das infiltrações já citadas. Entretanto, após a regulamentação da Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/13), aumentou-se as margens para a efetividade e a utilização de institutos como este, o que o fez com que se tornasse uma das grandes inovações legislativas do Direito Penal e Processual Penal.

Posto toda avaliação expressa, é de muita pertinência relatar as figuras dos agentes ligados diretamente nas ações infiltradas. Assim destacam as diferenças posturais dos agentes infiltrados e do agente provocador. Num primeiro sentido, o agente infiltrado submergido na organização criminal, deverá submeter-se em observância das atividades ilícitas, tendo sua participação assim se for necessário, das delituosas atividades que já se encontram em movimento quando sua chegada. Ainda por esclarecer sua função, o agente não pode iniciar ideias conjuntas com os investigados, as atividades delituosas partiram dos membros das organizações criminais e jamais do investigador. Motivo esse que perdura a interferência do agente como não essencial e nem determinante para a prática dos crimes. Respeita-se assim, as palavras de Alberto Silva Franco, “agente infiltrado é o funcionário da polícia que, falseando sua identidade, penetra no âmago da organização criminosa para obter informações e, dessa forma, desmantelá-la” (FRANCO, 1994, p. 217).

Por sua vez, o agente provocador é reconhecido por induzir ou instigar o evento e compete decisivamente para o crime, resultando ao mesmo tempo em que encoraja o autor a sua prática, providencia a sua prisão em flagrante. No trabalho desse profissional, a ação é aspectos fundamentais, consubstanciados na espontaneidade do querer, na exclusividade da ação criminosa e na autenticidade do fato tido como típico pela legislação penal material”. (TUCCI apud JAMILE, online, 2010).

Ao se deparar com as técnicas desenvolvidas pelos agentes nas infiltrações policiais, nota-se que a prática do ilícito está diretamente envolvida. Em concordância, ainda que efetuados atos puníveis pela legislação brasileira, a indução realizada não é punida, caracterizando essa como crime impossível, por força do entendimento jurisprudencial e

doutrinário. Ou seja, a interferência do agente provocador não se consagra crime tendo como auxílio a intervenção estatal. Assim, as prisões aderentes das circunstancias praticadas pelos agentes provocadores, recebe o nome de flagrante provocado, tão bem demonstrado por Rogério Lauria Tucci:

“o estado de flagrância delitiva forjada, provocado, forçado, em que se cogita de antepor, propositadamente, um fato orientador da conduta do criminoso. Daí por que esta, ao invés de desenrolar-se espontaneamente, é dirigida à efetuação de determinada infração penal”. (TUCCI apud JAMILE, online, 2010).

O entendimento desse ensejo foi adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, como expressado na seguinte leitura da Súmula 145: “Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.

Destarte ao esboço expresso, condiz a manifestação que, nas hipóteses delitivas devindas de incitações policiais, não há possibilidade clara e concisa de prisão do imputado, não tendo crime configurado, considerando a impossibilidade da consumação do delito.

Obstante a uma maior segurança legislativa, algumas leis foram vigoradas em prol do tema elaborado. Atenta-se assim, a lei 12.850/13, onde translada definições conceituais de organizações criminosas e regulamentam as infiltrações dos agentes policiais. Translada em seu primeiro artigo:

“Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.

§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”.

Assegura ainda em seus traços:

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites”.

...

“Art. 14. São direitos do agente:

I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;

II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art.

9º da Lei nº 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas;

III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial em contrário;

IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia autorização por escrito”.

Consubstanciando o último esquema alinhado, a infiltração dos agentes policiais é

definida e adequada vigorosamente pelo ordenamento jurídico brasileiro, sendo disposta aos serviços estatais brasileiros em afrontar e redundar as células criminosas ameaçadoras da soberania e instituições do país.

Mantendo atenciosamente a atenção legível da lei, captam-se as circunstâncias em que poderá ser requisitada a infiltração policial pelo delegado de polícia, a participação do Ministério Público no feito assim como a atuação do magistrado, devendo respeitosamente autorizar e motivar sua decisão com base no sigilo à operação, rente a garantias dos resultados. Tangível ao tratamento imposto para a ação do agente infiltrado, enumera um rol não taxativo de direitos inerentes para a prestação dos serviços, bem como questões importantes aos riscos à segurança pessoal e jurídica, sendo certificado que não sofrerá condenação ou punição por alguma eventualidade praticada no exercício do trabalho, se lhe obtiver inexigibilidade de conduta adversa.

A mencionada lei é fator de suma importância no avanço normativo de retratação procedimental, sendo em obtenção de provas, quanto na fase investigativa, tanto em juízo.

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