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3. O CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

4.4 Fase de realização das provas

4.4.5 Provas de capacidade física

É lícito à Administração Pública estabelecer exigências quanto à capacidade física do candidato, desde que as atribuições do cargo justifiquem a exigência, sendo muito comum na seleção das carreiras policiais, militares e de bombeiros. Contudo, o administrador público há de observar que tais exames devem se pautar nos princípios constitucionais, mormente a razoabilidade e a isonomia. Além de que, nessa fase, a Banca Examinadora deverá ser conduzida por profissional com habilitação plena em Educação Física.

Não raro, o edital de concurso público que disciplina o assunto determina que todo e qualquer candidato que não compareça na data estipulada para os testes físicos será eliminado. Entretanto, existem exceções.

Em caso de lesão física de algum candidato, embora o instrumento convocatório se constitua lei do concurso entre a Administração Pública e os candidatos, os tribunais têm corretamente admitido a alegação de caso fortuito ou força maior. Assim, a cláusula editalícia fica afastada, desde que o candidato demonstre a sua impossibilidade de realizar a prova até o momento da execução desta.

131 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região – TRF1. AG 200701000340107/DF, MARIA ISABEL GALLOTTI RODRIGUES, Sexta Turma, DJ de 01/09/2008.

108 Ora, nada mais justo, afinal é flagrante a violação do direito constitucional da igualdade quando, no processo seletivo, um candidato em situação excepcional é simplesmente eliminado do concurso por não ter tempo hábil para se recuperar após um tratamento, pois o candidato machucado, lesionado, é diferente e, portanto, deve ser tratado de forma diferente.

Nesse sentido, a jurisprudência pátria assim se manifesta:

CONCURSO PÚBLICO. POLÍCIA FEDERAL. PROVA DE APTIDÃO FÍSICA. REPROVAÇÃO NA PROVA DE SALTO. ARGÜIÇÃO DE CASO FORTUITO PARA FUNDAMENTAR O INSUFICIENTE APROVEITAMENTO. CONCESSÃO DE NOVA OPORTUNIDADE PARA A REALIZAÇÃO DE UMA TENTATIVA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO EDITALÍCIA. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA.

1. A aplicação de teste de aptidão física para a habilitação ao cargo de Delegado da Polícia Federal é uma exigência legal, encontrando respaldo no Decreto-lei 2.320/87.

2. O item 2.3 da Instrução Normativa nº 1/93 diz expressamente que "não será concedida segunda chamada. Os casos de alteração psicológica ou fisiológica (estados menstruais, gravidez, contusões, luxações, fraturas, etc.) que impossibilitem o candidato de submeter-se aos testes ou diminuam sua capacidade física e orgânica não serão aceitos, em nenhuma hipótese, para fins de tratamento benevolente por parte da Administração."

3. Não obstante, a comprovação de fato exógeno ou imprevisível que altere a capacidade fisiológica do candidato pode ser levada em consideração de modo a ensejar outra oportunidade, desde que tenha sido alegada e comprovada contemporaneamente ao momento da realização da prova .

4. Não sendo a hipótese, o candidato reprovado não terá direito à segunda chamada, haja vista a inexistência de previsão dessa natureza no Edital, o qual vincula a Administração aos seus termos.

5. Apelação e remessa oficial providas.133

(sem grifos no original)

Contrariamente, alguns entendem haver quebra da paridade a pretensão à segunda chamada de prova física, não oportunizando nova data para a realização dos testes nem mesmo para mulheres grávidas, o que, a nosso ver, configura violação à proteção que o Estado deve dispensar à família e à maternidade (CF, arts. 6º e 226). Contudo, é possível encontrar jurisprudência nas duas linhas de pensamento, isto é, a favor ou contra. Vejamos:

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EXAME FÍSICO. CANDIDATA GESTANTE. 1. Comprovado nos autos, mediante exames médicos, que a candidata encontra-se gestante, impossibilitada, portanto, de

133 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região – TRF1. AC 01000599239 - TERCEIRA TURMA SUPLEMENTAR - Rel. JUIZ FEDERAL CARLOS ALBERTO SIMÕES DE TOMAZ (CONV.) - DJ in 12/06/2003.

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realizar a prova física, inclusive por orientação técnica, não se apresenta razoável o desejo de compeli-la à realização da prova. 2. A pretensão de impedir a recorrida de prosseguir no certame significa dar tratamento de maneira desigual àquela que por certo se encontra em peculiar situação. 3. Não fica a recorrida dispensada da realização da prova, devendo, no entanto, para a aferição, ser designada nova data. 4. Recurso a que se nega provimento.134

APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CAUTELAR. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. POLÍCIA CIVIL. PROVA DE CAPACITAÇÃO FÍSICA. GRAVIDEZ DA CANDIDATA. O EDITAL MENCIONA AS REGRAS DO CONCURSO, VINCULANDO A ADMINISTRAÇÃO E OS CANDIDATOS. Não pode a administração oportunizar tratamento diferenciado a candidata, mesmo grávida, eis importa em violar o princípio da igualdade. Apelo do Estado provido. SENTENÇA REFORMADA. PREJUDICADO O REEXAME. VOTO VENCIDO.135

Por fim, os critérios e os tipos de avaliações físicas realizadas, geralmente, testes como barra fixa, impulsão horizontal, corrida e natação, para serem admitidos e aceitos como legais e, portanto, válidos, devem ser ladeados pelos princípios da reserva legal, razoabilidade e proporcionalidade. Referido entendimento é ratificado, praticamente de forma uníssona, na jurisprudência pátria, conforme se vislumbra dos termos das seguintes decisões:

Concurso público. Agente de polícia civil. Prova de aptidão física: decisão que não negou a necessidade do exame de esforço físico para o concurso em causa, mas considerou exagerado o critério adotado pela administração para conferir a tal prova, sem base legal e científica, o caráter eliminatório: inexistência de afronta ao art. 37, I da Constituição, que assegura que "os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em Lei, assim como aos estrangeiros, na forma da Lei" e falta de prequestionamento dos artigos 2º e 5º, caput, da Constituição.(Súmula 282).136

MANDADO DE SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO - POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL - CAPACIDADE FÍSICA - FLEXÕES DE BARRA FIXA - PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. NECESSIDADE DE CITAÇÃO DOS DEMAIS CANDIDATOS APROVADOS, LITISPENDÊNCIA e NULIDADE DA R. SENTENÇA EM RAZÃO DE JULGAMENTO ULTRA E EXTRA PETITA. RECURSO VOLUNTÁRIO - ATO ADMINISTRATIVO - ATENDIMENTO AOS CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1. Faculta-se ao jurisdicionado o direito de submeter ao crivo do Poder Judiciário a legalidade do ato apontado como coator, porquanto, conforme estatuído na Carta Magna, a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

1.1 Obséquio ao Princípio da inafastabilidade da jurisdição.

134 BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios – TJDF. APC 20010110245422 DF. Relator MARIO-ZAM

BELMIRO. 1ª Turma Cível. Julgado em 06/02/2004. DJ 31/08/2004 p. 122.

135 BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul –TJRS. Apelação Cível Nº 70000438838. Quarta Câmara Cível.

Relator: Vasco Della Giustina. Julgado em 07/06/2000.

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(...)

5.A investidura em cargos ou empregos públicos depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou provas e títulos com preenchimentos dos requisitos exigidos em lei, sendo lícito à administração pública estabelecer exigências quanto à capacidade física, moral e profissional do candidato;

5.1. Contudo, o administrador público há de observar que tais exigências tem como parâmetro os princípios constitucionais;

5.2. No caso dos autos, a exigência de realização de flexões de barra fixa às candidatas fere os princípios da legalidade, da proporcionalidade e, ainda, da razoabilidade, uma vez que privilegia os candidatos em razão de sua maior aptidão física.

6. Sentença mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos.137