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3. O PRESENT PERFECT

3.1 AS FUNÇÕES DO PRESENT PERFECT

3.1.5 PrP: Relevância Atual

3.1.5.1 PrP: Hot News

3.1.5.1.1 PrP: Narrativa Vívida

Palmer (1968, p.75) declara que a língua inglesa seria muito mais rica se fosse possível dizer: They have come last Monday, pois, dessa forma, se poderia, em uma única frase, combinar dois tipos de informação, a saber, (i) a sua chegada em um tempo específico no passado e (ii) a sua relevância atual. Conforme Engel & Ritz (2005, p.1), em seus detalhados estudos sobre o PrP no inglês australiano, esse tempo verbal tem se tornado mais rico no sentido apresentado por Palmer, visto que o PrP está sendo utilizado em contextos em que outras variantes do inglês poderiam preferir o simple past.

Podemos iniciar esse estudo sobre a subdivisão do Hot news com a pesquisa de Portner (2003, p.500), pois, sob a perspectiva pragmática, a sentença com PrP é considerada como se estivesse dando a entender que o evento que ela descreve está no extended-now estabelecido pelo contexto; também introduz uma pressuposição modal, isto é, pressupõe uma relação de necessidade epistêmica entre a questão mais geral que é debatida no discurso (o tópico) e a sua resposta.

Importa esclarecer que o termo narrativa vívida (tradução minha para vivid narrative use) foi apresentado nas pesquisas de Engel & Ritz (2005a, p.2), a fim de descrever mecanismos aparentes no PrP que têm a intenção de localizar os receptores em um presente virtual ou torná-los observadores virtuais de um evento de fala presente virtual. Muitos dos dados apresentados pelas autoras provêm de programas de bate-papo no rádio. Nesses programas, os apresentadores e até mesmo os membros do público que participam das conversas para contarem suas histórias, estão interessados em alcançar um determinado efeito; eles são, portanto, mais suscetíveis de fazer uso de

recursos que atraiam e mantenham a atenção dos ouvintes; por isso, neste trabalho, aparece como uma subdivisão do Hot news.

As autoras (2005b, p.9) explicam que se pode aplicar determinado princípio pragmático: as sentenças no PrP dizem algo a respeito do tempo da enunciação (time of utterance - TU) e não do tempo de situação (time of situation - Tsit). Em pesquisas anteriores, Klein (1992, p. 535) já havia introduzido a noção de tempo do tópico (topic time – TT) para capturar essa distinção. Ele a define como sendo a duração de tempo à qual se restringe a asserção feita em determinada ocasião.

Dessa forma, de acordo com Engel & Ritz (2005b, p.9), as sentenças no simple present têm o seu TT em Tsit, ao passo que no PrP elas têm o seu TT incluindo o TU. Além disso, o TT para o PrP tem uma posição definida no eixo do tempo. Vejamos exemplos citados pelas autoras (2005b, pp28-29) sobre o uso do PrP em uma notícia que foi veiculada no mesmo dia em um website da polícia e transmitida por uma rádio australiana:

(35) The victim in this case is a 15-year-old Wattleup boy who was on his way to school, […]. As reached the steps leading to the shops he has been tapped on his shoulder. As he has turned around a young man has punched him to the face and a wrestle/fight has taken place during which the victim has dropped his wallet. The offender has grabbed the wallet and run off, removing the money and dropping the wallet as he ran. (M. Cough, Sergeant, Police Media, 29.06.2004; 94.5 FM Radio, Perth, 29.06.04)

Como explicam Engel & Ritz (2005b, p.29), tal mistura de tempos verbais é típica de narrativas orais, e isso não é esperado em uma linguagem mais cuidadosamente planejada. Parece às autoras que o uso do PrP não deve ser entendido como uma narrativa, mas como se o policial tivesse selecionado alguns eventos no seu reportar com o intuito de torná-los mais evidentes. Ainda segundo as autoras, uma possível representação do PrP nesses usos é a de que o TT está no TU real, novamente: o produtor, no caso o que lê as notícias, está nos contando que nós estamos agora em um tempo posterior a certos eventos que ocorreram em uma seqüência particular, portanto tornando esses eventos mais enfáticos. Algo que também pode ser notado é o uso de tipos de advérbios e orações de tempo como as e during which, as quais sinalizam mais uma simultaneidade e inclusão, respectivamente, do que uma progressão.

Em outra notícia transmitida por um programa de rádio e incluído na mesma referência teórica de Engel & Ritz (2005b, p.31), percebemos uso semelhante:

(36) When the alarm clock has gone off, the burglar has climbed on

the roof. (92.9 FM Radio, Perth 2.3.98).

Sob a ótica de continuidade, Engel & Ritz (2005b,p.32) interpretam tal sentença como se o ladrão ainda estivesse no telhado no momento em que o boletim de notícias estava sendo transmitido e o alarme ainda estava soando. Parece óbvio para as autoras, por outro lado, não estar se referindo ao TU, mas, nesse caso, o apresentador das notícias estaria apresentando os eventos novamente sob a perspectiva de TU, dizendo que nós estaríamos naquele momento em um estado posterior ao momento em que ocorreu o fato relatado. O que muda nesse caso é a que/ a quem esse estado posterior melhor se aplica: ele não se aplica ao alarme ou ao ladrão, mas sim ao produtor das notícias e seus ouvintes que estão no estado posterior a esses eventos ocorridos.

De forma metafórica, Engel & Ritz (2005b, p.34) referem-se ao uso mais vivo da narrativa com o PrP, isto é, como se o seu uso nos provesse de uma fotografia. Isso parece extremamente relevante, se lembrarmos de alguns exemplos aqui anteriormente apresentados, como: The Pope has died. Fica fácil perceber a opção do produtor em revelar um evento novo, do mesmo modo que em uma fotografia. Dito de outra forma, é como se, ao proferir tal sentença, automaticamente se produzisse uma fotografia; uma representação virtual do que foi dito.

Além disso, conforme nos explicam as autoras (2005b, p.44), a narrativa vivida do PrP é capaz de atingir duas coisas ao mesmo tempo: sinaliza um olhar retrospectivo sob a situação de passado, enquanto proporciona um tempo posterior (post-time) no qual outros eventos ou situações podem ser localizadas. Portanto, nesse caso, temos conexões mais próximas entre os eventos reportados no discurso, demonstrando que esses eventos ocorreram em uma rápida sucessão (principalmente quando os verbos télicos são usados) ou que os eventos se sobrepuseram (especialmente com verbos de atividades). Segundo as autoras, um exame dos verbos utilizados nas narrativas com PrP em relação aos seus aspectos lexicais, revelou que a

classe mais comum representada é a das atividades seguidas pelos verbos de execução (achievements). Suas características mais comuns, isto é, o fato de serem ambos durativos e conter parte do processo, pode explicar em parte a sensação que os receptores têm de estarem sendo colocados no meio da situação descrita. Ao mesmo tempo, seqüências de verbos télicos no PrP capacitam o produtor a transmitir uma idéia de que os eventos relacionados ocorreram em uma sucessão muito rápida.

Nesse sentido, por causa do uso do PrP em inglês australiano, em particular na mídia escrita e no rádio, mais especificamente, com seus apresentadores fazendo uso de certas funções do PrP para atrair a atenção dos ouvintes e expressar-lhes um sentimento de solidariedade, pode-se perceber, segundo as pesquisas de Engel & Ritz (2005b, p.45), que esse uso do PrP nas narrativas confirma a topicalidade do tempo de fala (topicality of speech time) em sentenças com o PrP e o sentido de um possível passo para mudança.

Finalmente, em acordo com Nishiyama & Koenig (2005, p.1), inferir as relações discursivas entre vários segmentos do discurso não depende unicamente do conteúdo informacional. Depende, também, da estrutura gramatical que os produtores escolhem para comunicar esse conteúdo. Os autores (2006, p.11) acrescentam, ainda, que determinar a natureza do estado do PrP não é o fim da história. Os PrPs servem funções adicionais em textos e são essas funções que este trabalho vai analisar e discutir nos próximos capítulos, à luz dos dados coletados. Antes, porém, é fundamental abordar como o contexto de análise deste trabalho, o discurso jornalístico, está organizado, para que possamos adiante descrever as funções do PrP presentes nesse tipo de discurso na mídia digital.

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