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CAPÍTULO 3 – A PSICOLOGIA E SUAS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS

3.2 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM

No que se refere à Psicologia da Aprendizagem, conforme os estudos de Ferreira (1986, p. 49), suas origens subjetivistas e objetivistas se encontram na filosofia antiga.

“Na filosofia moderna, Descartes retoma a tradição dicotomizadora da natureza

humana, canalizando, através do paralelismo psicofísico, para as duas versões empiristas e nativistas na psicologia, principalmente, através da influência de Locke e

Leibniz”.

John Locke se opôs ao racionalismo vigente na sua época, afirmando a não existência de idéia na mente, que não fosse resultado da experiência sensorial. Para ele, as idéias equivaleriam a elementos mentais simples que se agregam, formando idéias complexas que refletem mecanicamente os acontecimentos do mundo exterior.

Segundo a estudiosa acima, Leibniz ressaltou que os elementos simples e

indivisíveis de todos os seres são as “mônadas”, um tipo de construto interno que se

acha fechado às influencias externas. O comportamento e a aprendizagem estariam sujeitos a esses arranjos e disposições interiores.

Todavia, de acordo com Ferreira, alguns autores organizaram as diversas teorias de aprendizagem em duas grandes abordagens, conforme os critérios que cada uma delas adota para explicar a aprendizagem e os modelos de homem utilizados. Na abordagem comportamental, que se deriva do empirismo de Locke, encontram-se organizadas todas as teorias que conceituam a aprendizagem como uma mudança nos comportamentos observáveis do indivíduo.

Para a autora citada, as teorias de condicionamento do comportamento se posicionam em favor de um homem como ser passivo e neutro, considerando a aprendizagem como uma mudança observável no comportamento do indivíduo. Porém, o condicionamento clássico que Pavlov observou, ao pesquisar a fisiologia animal, foi o mais revelado e que se tornou mais público. Outro teórico do condicionamento, citado por Ferreira (Ibid.), foi Thorndike, que baseado nas idéias associacionistas determinou uma relação entre eventos físicos e mentais. Segundo ele, a aprendizagem seria um método de associação e escolha de respostas a determinados estímulos, principalmente pelas decorrências agradáveis ou não que poderiam daí resultar.

De acordo com a estudiosa acima, Watson, ao contrário de Thorndike, sugeriu uma psicologia voltada, sobretudo para o comportamento que abrange os acontecimentos físicos. A psicologia científica que posteriormente tornou-se quase

somente uma ciência do comportamento foi fortemente influenciada pelas idéias de Watson, cuja posição era ambientalista e adepta do tradicional condicionamento clássico. De acordo com ele, a aprendizagem constituía-se basicamente num processo de substituição de estímulos, a despeito do condicionamento clássico em animais, que determina uma mudança de comportamento.

Em Skinner (1980), encontra-se uma teoria da aprendizagem, com orientação comportamentalista mais amplamente utilizada. De acordo com ele, a partir de evidências já constatadas, todo homem controla e é controlado. Na análise do comportamento, a perspectiva skineriana considera apenas processos que tenham

evidências “palpáveis”.

O ensino equivale ao arranjo ou à ordenação de contingências para uma aprendizagem eficaz. Tal arranjo depende de dados observáveis diante dos quais ocorre o comportamento. Elogios, graus, notas, prêmios, prestígio, etc., são os condicionantes reforçadores comumente utilizados para conseguir os comportamentos desejados dos alunos, sendo da responsabilidade do professor assegurar tal aquisição, levando em consideração determinados fatores como: esforços, custos e economia de tempo.

Nesse caso, assegura-se a aprendizagem, pela sua programação, uma vez que, para este autor, é possível programar o ensino de qualquer disciplina utilizando-se a

teoria do reforço. A “tecnologia educacional”, proposta por Skinner, é produto da

sociedade capitalista, atrelada às exigências de invenção de novas formas de maior lucro para o capital. Portanto, parece que esse é um dos meios mais solicitados pelo

capitalismo avançado para “treinar” e “disciplinar” a mão-de-obra de que precisa.

Ferreira (1986) também aponta que o reducionismo skinneriano e o idealismo que envolvem as teorias subjetivistas humanistas da aprendizagem encontram-se atreladas à esfera da produção capitalista, servindo desde as suas origens, contraditoriamente, a interesses de classes. Para ela, algumas dessas teorias são produtos sociais historicamente determinados, que mantêm na sua base a luta de classes pela apropriação do saber.

A doutrina do crescimento natural, que tem em Rousseau (1992) o seu principal expoente, valoriza o desenvolvimento espontâneo do indivíduo, em detrimento do papel da aprendizagem. Nesse sentido, as instituições sociais, tal como a escola, podem corromper o indivíduo se o contexto social no qual se encontrar inserido for negativo.

Na Psicologia Educacional, a maioria das concepções de aprendizagem da vertente subjetivista se apóia na fenomenologia, cuja visão filosófica possui como um

dos seus pressupostos, a concepção da experiência humana rica em significados, que tem origem no próprio indivíduo. O humanismo, fundamentado nessa idéia, posteriormente constituiu-se num movimento em psicologia, denominado de a “terceira

força”, em oposição às visões ambientalistas dominantes.

Um dos grandes intérpretes dessa virada, que trouxe contribuições à esfera educativa foi Carl Rogers. Para ele, a aprendizagem é um processo que tem início no interior da pessoa com a influência de uma outra variável: o tipo de relação humana que ela estabelece com as outras pessoas que lhe são próximas. Rogers (1985) denomina de

tendência atualizante a capacidade interna de realização, um desejo não somente de sobreviver fisicamente, porém, uma força que o ser humano possui e o impulsiona levando-o a produzir, diferenciar funções e reproduzir. Na escola, o professor é o facilitador de aprendizagem. A principal função do mestre é a de favorecer a criação de um clima através do qual as potencialidades do aluno possam aflorar. Fundamentalmente, o professor deve confiar na tendência atualizante dos seus alunos.

Uma das críticas mais contundentes, que têm sido feitas às idéias rogerianas, é a inviabilidade da aplicação de seus princípios na esfera educativa. Se considerarmos as condições vigentes em nosso país, tendo em vista que as escolas existentes não oferecem as condições básicas para o seu funcionamento, a aplicação da proposta de Rogers pode induzir a um maior descaso pela educação. Além disso, talvez esta seja uma outra forma de encobrir a verdadeira relação indivíduo-sociedade, traduzida na psicologia educacional humanista, como uma questão de oportunizar o desenvolvimento pleno do ser humano.

A psicologia da Gestalt formulada primeiramente na Alemanha por Wertheimer (1978), e, em seguida, por Köhler e kofka, nos Estados Unidos, é outra variante subjetivista, que acompanha a tradição de Leibniz, mas que se diferencia, ao acatar algumas formas de empiricismo e experimentação no estudo dos processos psíquicos, e também se opõe à perspectiva comportamentalista na Psicologia. Um dos principais conceitos dessa abordagem é o Insight, que quer dizer uma “tensão para” alguma coisa

ou a apreensão das relações do todo percebido. Para a Gestalt, a aprendizagem é um processo de percepção e obtenção de novos insights.

Posteriormente, a teoria de campo Gestalt se desenvolveu com a psicologia de Kurt Lewin, o qual se interessava pelo estudo e pesquisa da motivação humana.

“Aplicou os seus conhecimentos à área de ensino e aprendizagem como esferas em que

física, Lewin é subjetivista” (FERREIRA, 1986, p. 57). Para a autora citada, a teoria de

campo, que se posiciona como uma tentativa de composição entre o subjetivo e o

objetivo, também se enquadra na vertente idealista subjetivista. Segundo ela: “Essa “síntese emergente” não deixa de ser também uma representação formal da relação

indivíduo-sociedade, que preconiza em educação conhecimentos acerca da aprendizagem de maneira abstrata e a-histórica” (Id., Ibid., p.58).

Enfim, a Psicologia Educacional, tem sido criticada por se fundamentar em concepções reducionistas de Psicologia, adequando-se às necessidades da sociedade capitalista e, em decorrência disso, instaurando no interior de seus estudos a dicotomia entre indivíduo e sociedade.