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Psicologia nas organizações

No documento Psicologia Das Organizações (páginas 51-55)

Embora o termo “organizações” esteja muito além dos limites do traba- lho, tradicionalmente, a nomenclatura Psicologia Organizacional se restrin- ge às atividades laborais dos indivíduos e grupos. Contudo, a sociedade se constitui de uma série de agentes organizadores básicos, como a família, vizinhança, religião, política.

Segundo Strauss (2003), a constituição do parentesco, por meio da proibição do incesto funda a sociedade e nos torna humanos. Com a organização dos diferentes sistemas de parentesco, o homem age pela regularidade das regras. Estas fazem circular indivíduos de um grupo que estabelecem aliança social com indivíduos de outros grupos, por meio do casamento. Ele é a instituição mais antiga e inaugura a cultura, já que o

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homem, a partir da existência da regra, não age mais guiado pelos impulsos, mas sim pela obrigação de obedecer a regra. A proibição daquilo que cada sociedade estipula como seu “grau” de incesto é uma proibição universal. A única em que parece haver uma concordância acerca da sua universalidade. A função da proibição é deixar as fêmeas livres para que elas possam circular em outros grupos. O macho fica impedido de copular com as fêmeas da sua própria prole, liberando-a para o casamento exógeno. Todas as sociedades casam e todas as sociedades se organizam entorno desse grande sistema de circulação de pessoas que, na concepção do antropólogo Lévi-Strauss, é a principal estrutura das organizações humanas.

Numa perspectiva macroscópica, a cultura seria o maior agente organi- zador da vida humana e seu estudo mereceria um capítulo à parte. Tradi- cionalmente, é a Antropologia que tem se ocupado dos estudos culturais. Pessoalmente, tenho uma simpatia profunda pelo diálogo entre a Psicolo- gia e a Antropologia. O leitor certamente deve ter percebido que, durante toda transcrição deste trabalho, nada mais fizemos do que convocar insis- tentemente a presença da Antropologia como pano de fundo deste texto. As contribuições da Antropologia são indispensáveis para as Ciências Sociais e humanas. No Brasil, a Psicologia tem estado muito distante dos estudos da cultura e dos seus vizinhos preteridos, os antropólogos.

Reduzindo o campo das “organizações” para o campo do trabalho, temos algumas considerações a fazer sobre a sua relação com a Psicologia.

A Psicologia Organizacional no Brasil teve três movimentos distintos no âmbito empresarial. Num primeiro momento, a função do psicólogo esteve restrita à seleção, ao recrutamento de pessoal e à aplicação de testes seleti- vos. Em seguida, o psicólogo se aproxima da Administração para:

planejamento de cargos; desenvolvimento de carreiras; desenvolvimento de equipe; mudança da cultura organizacional.

Dado um passo à frente, há um enfraquecimento da aplicação das teses psicológicas, e a Psicologia e a Administração lutam juntas para superar o conceito de trabalho que passou de uma atuação restrita ao plano das

Psicologia e organizações desenvolve-se, sobretudo, nos Estados Unidos, mas caiu em desuso. Na Europa, o termo Psicologia Organizacional e do Trabalho tem sido usado com mais frequência. As nomenclaturas que aludem ao trabalho vão se mo- dificando, na medida direta em que se modifica a visão do trabalho.

O modelo tradicional da Psicologia nas organizações fazia o psicólogo atuar como um gerador de relações verticais que apenas centralizava o poder, sob forma de hierarquias. Essa concepção está ligada à “cultura da empresa”, isto é, ao conjunto de valores que dirigem o trabalho. Anterior- mente, dissemos que o Brasil é uma sociedade tremendamente hierárqui- ca. De fato, a nossa história marca um Brasil onde o governo e a sociedade sempre estiveram desarticulados, ou ainda, o que é pior, o governo em cima e a sociedade embaixo. Tivemos também a marca da escravidão, do coronelismo e da ditadura militar. Hoje, vemos nas esferas hierárquicas do governo, em plena democracia, a institucionalização da corrupção e do apadrinhamento. O trabalho, no Brasil, sempre foi “lugar de sofrimento”, lugar de se “ralar”. Alia-se a isso, a herança etimológica da palavra trabalho. Diferentemente da tradição anglo-saxã, em que work designa agir e fazer, na tradição latina, a palavra trabalho vem de tripalium, instrumento que na Roma Antiga era usado para castigar escravos (DAMATTA,1993). O sonho de consumo do brasileiro é ganhar na loteria e parar de trabalhar, enquan- to que um europeu, ou um americano, quando ganha um bilhete premia- do, faz o caminho inverso: investe no seu trabalho. Temos aí um problema cultural fora e dentro das empresas. A Psicologia caminhou a passos lentos na medida em que se afastou do contexto histórico e cultural brasileiro, isolando-se em dimensões como “motivação” e “desempenho” dos funcio- nários para o lucro da empresa, estabelecendo uma cisão: funcionários de um lado, empresa de outro.

Hoje as visões são outras. O psicólogo pode ajudar a organização a pensar. Deve ser o agente de mudança da empresa. O lucro é o resultado de condições anteriores a ele: o desenvolvimento das pessoas. A empresa precisa investir no desenvolvimento do seu grupo. Se a empresa tiver lucro, e as pessoas não crescerem, então esse lucro será passageiro. A noção de de- senvolvimento implica na busca do conhecimento amplo em outras áreas, como o campo da cultura, dos afetos e da ética, através de uma “visão com- partilhada”. Mais recentemente, a última nomenclatura que surgiu nesse contexto é o da “saúde mental no trabalho”. Esta cuida dos efeitos psíquicos e psicossomáticos do trabalho, como neurose do trabalho, fadiga mental e estresse laboral.

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Em tópicos anteriores, vimos que a Psicologia possui diferentes aborda- gens teóricas. Essas diferenças refletem na maneira pela qual certas corren- tes teóricas ou ideológicas vão atuar na empresa. Por exemplo: a Psicosso- ciologia estreita relações com a Psicanálise e com a Antropologia, por isso enfoca aspectos da transferência e da contratransferência institucional. Seu enfoque é na “clínica social”, expressão utilizada por ela, e na cultura. Daí o diálogo com a Antropologia.

Já a abordagem da Psicologia Sócio-Histórica, por ser conduzida pelo materialismo histórico e pela dialética, afasta-se da clínica e da cultura para analisar a dimensão política e histórica na qual o trabalho e a empresa estão mergulhados. Seu caráter marxista faz com que essa abordagem coloque o trabalho como categoria central da vida humana. Wanderley Codo e Odair Furtado são dois expressivos representantes dessa tendência no Brasil. Pre- ferem usar a expressão Psicologia do Trabalho porque defendem a noção de trabalho, dentro da empresa, sob o ponto de vista e a partir do trabalha- dor e não da empresa. A corrente Sócio-Histórica, critica a transformação do trabalhador em mercadoria e em lucro para os administradores de empresa através de uma visão capitalista. Essa abordagem da Psicologia não com- pactua com o termo Psicologia Organizacional porque o seu ponto de vista seria também o do trabalhador. Assume uma posição militante e em defesa do trabalhador, organizando-se em torno dos sindicados e dispositivos de políticas trabalhistas a favor da classe operária.

Essa defesa é justificada pelo seguinte argumento: Marx dizia que a Re- volução Industrial provocou a divisão da sociedade em duas classes. Os que estão do lado de cima da sociedade, isto é, os donos de empresas e indus- triais e os que estão do lado de baixo, os empregados. Isso equivale dizer que nas mãos da burguesia ficaram os retentores da força de produção e nas mãos do proletariado ficaram os mantenedores da força de produção: o operariado. A previsão histórica de Marx era a de que a revolução do ope- rariado pudesse produzir uma sociedade sem classes. Mesmo que isso não tenha sido possível, os psicólogos de Abordagem Sócio-Histórica esperam encurtar as diferenças entre essas duas classes. A estratégia é uma posição de “luta” entre essa contradição classista, colocando a ciência a favor dos des- favorecidos, como queria Marx. A crítica ao capitalismo e ao lucro concen- trado é a força que move esse tipo de abordagem, mais sociológica do que propriamente psicológica.

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No documento Psicologia Das Organizações (páginas 51-55)