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A Internet é um veículo de comunicação de massa, não há dúvidas. O uso da publicidade virtual consegue promover uma grande exposição, indução e comercialização de produtos. Sobre essa forma de publicidade no mercado, posiciona-se Marília Mazon (2011, p. 226-227):

Resta claro, então, o poder e a influência que a publicidade pode exercer no setor econômico, pois ao anunciar os produtos [...] oferecidos com suas técnicas de persuasão, estimula o consumo e atinge seu objetivo comercial de venda, resultando a relação de consumo.

[...]

Diante desse fenômeno, instrumento de dominação e manipulação de comportamento em massa, e dada sua importância para o mercado consumidor, surge o interesse jurídico pelo tema, pois é imprescindível a delimitação e controle de seus poderes, regulamentando sua prática e utilização e assim protegendo a parte mais vulnerável da relação comercial, o consumidor.

A publicidade no mercado virtual ganhou força nos últimos anos, interferindo sobremaneira no jeito do consumidor comprar, possibilitando-lhe fazer aquisições, sem sair do conforto de sua casa ou escritório.

Esse procedimento diferenciado rompeu com o tradicional e vem aumentando na proporção que a Internet ganha espaço e as empresas postam seus produtos em sites publicitários.

Além do Código, Mazon (2011, p. 227) aponta outras formas legais que norteiam e fiscalizam a publicidade:

É necessário, então mencionar os órgãos responsáveis pela fiscalização, controle e prevenção, tais como o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), órgão estatal de Proteção do Consumidor (Procon) [...] cada qual com seu campo de atuação e competência.

É evidente que a publicidade no mercado virtual tem objetivos específicos, ou seja, alcançar o consumidor alvo, influenciar na aquisição e ao fim, obter retorno financeiro em larga escala. Mazon (2011, p. 239) define que “[...] a publicidade tem objetivo comercial,

financeiro, econômico, como anteriormente mencionado, torna conhecido dos consumidores um produto [...]”

Mesmo não havendo na lei especial artigos específicos que versem sobre o comércio eletrônico, o Código de Defesa do Consumidor irradia seus princípios norteadores, traduzindo-se no equilíbrio e na proteção da relação entre o consumidor e o fornecedor. Aliás, a publicidade recebe destaque no Código de Defesa do Consumidor.

2.2.1 A publicidade no Código de Defesa do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor trata nos artigos 36 a 38 da publicidade. Pertinente lembrar que há época em que o referido Código entrou em vigor, a Internet no Brasil estava em seu início. Hodiernamente, a publicidade da relação de consumo é regida através dos artigos descritos e, nos casos mais complexos, pela interpretação e julgados.

A publicidade é uma forma de levar ao conhecimento geral determinada ideia ou produto, em especial ao conhecimento de um público alvo. O artigo 36 do Código de Defesa do Consumidor diz que “a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor fácil e imediatamente, a identifique como tal.”

Marques (2004, p. 58) comenta sobre a publicidade no Código do Consumidor:

Concorde-se com Lorenzetti, quando afirma que a prática negocial de ofertar produtos e serviços pela Internet, em seus diversos modos, interativos (on- line) e estáticos (por e-mail), é oferta de consumo, e o contrato daí resultante, concluído por meio eletrônico e à distância, é um contrato de consumo e será regulado pelo Direito do Consumidor.

O Código de Defesa do Consumidor busca prevenir danos ao consumidor frente à publicidade enganosa ou abusiva, pois esse é a parte mais vulnerável da relação. Aliás, é o que preconiza o comando inserto nos §§ 1º, 2º e 3º do artigo 37, in verbis:

Art. 37: É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a

respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

§ 2.º: É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. (VADE MECUM, 2012, p. 777)

O fornecedor de produtos pela Internet tem por objetivo chamar a atenção do consumidor através da publicidade, com uma forma interativa e fácil, característica básica da Internet.

Para o consumidor não ser uma vítima da publicidade enganosa ou abusiva, postada na Internet com intuito de prejudicar, deve estar atento às propostas consideradas fáceis ou com preço de bagatela, devendo dar preferência à publicidade de sites confiáveis ou quem sabe, seguir indicações de conhecidos.

2.2.2 A publicidade enganosa ou abusiva na Internet

O consumidor não está obrigado a fazer publicidade, mas deve estar consciente que ao fazê-la deverá respeitar regras dispostas na lei especial que vela pelas relações de consumo.

A publicidade com a finalidade de lesar deve ser coibida na forma da lei. A leitura feita por Marques (2004, p. 160) é que, “segundo o CDC, estão proibidas – como ilícitas – as publicidades abusivas e enganosas dos arts. 36 a 38, as práticas comerciais listadas no art. 39 e as cláusulas abusivas listadas exemplificativamente nos arts. 51 a 53 [...]”

Na internet, pode ser caso de publicidade enganosa quando o fornecedor põe na oferta determinado produto e posteriormente acaba não entregando ao consumidor, alegando falta de estoque. É premente que se questione tal atitude, haja vista, principalmente sendo oferta com o objetivo chamar atenção do consumidor e captar seus dados pessoais.

Obviamente que em virtude da massificação da Internet e da velocidade que as informações são alteradas, cabe ao consumidor fazer a prova do inadimplemento do fornecedor, pois a publicidade enganosa em meio tão fluído pode passar até despercebida.

Nesse sentido Limberger e Barreto (2011, p. 102) dizem que “[...] a informação circula a uma velocidade que a inteligência humana não consegue assimilar, criando um verdadeiro descompasso temporal com o elemento humano e informático.”

Ao encontro desse entendimento, Pedro F. Silva – Ruiz (2011, p. 93-94, tradução nossa) assevera que

[...] consideram-se cláusulas abusivas todas aquelas disposições que, a despeito da exigência de boa fé, causam um desequilíbrio dos direitos e obrigações das partes que derivem em detrimento do contrato de consumo. [...] São nulas [e] devem ser tratados como cláusulas abusivas ou estipulações as seguintes:

(a) A que não é redigida de maneira clara, completa e legível.

(b) As cláusulas que reservam ao [fornecedor] que contrata com o consumidor um prazo excessivamente longo [...] para satisfazer uma oferta contratual ou da prestação devida [...]

(c) A reserva em favor do [fornecedor] das faculdades de interpretação ou modificação unilateral do contrato sem motivos validos especificados no mesmo [...]

[...]

(f) A prestação de prazos indicativos que são condicionadas apenas à vontade do [fornecedor]

(h) A estipulação ou aumento de preço no momento da entrega do bem ou serviço [...]

[...]

(k) A exclusão ou limitação sem justa causa dos direitos legais do consumidor por violação total ou parcial ou cumprimento defeituoso do [fornecedor].

O fornecedor ao demonstrar um produto, deve preocupar-se com os princípios fundamentais trazidos pelo ordenamento, sejam eles a “identificação da publicidade a vinculação contratual, a veracidade e a boa-fé, a não abusividade, a inversão do ônus da prova [...]” (MAZON, 2011, p. 242)

A respeito das cláusulas abusivas, aduz a doutrinadora Mazon (2004, p. 184):

[...] a caracterização como abusiva [...] de outra prática de fidelização muito usada na Internet [...] é a de assegurar acesso ou possibilidade

de compra somente a pessoas que se ‘afiliarem’ ao grupo, empresa, movimento, ONG, cooperativa, [...] Dois aspectos, porém, podem ser destacados, que tornam a prática abusiva: 1) se for ‘venda casada’, isto é, se a pertença a este grupo for de alguma maneira ‘remunerada’ diretamente pelo consumidor (mensalidades etc.), ex vi art. 39, I, do CDC; ou 2) se os dados colhidos levarem a qualquer discriminação do consumidor, violando o art. 39, II, do CDC.

A insigne doutrinadora Marques admite que a informação

[...] tem que ser previamente colocada à disposição do consumidor (arts. 30, 31 e 46 do CDC), oportunizando a informação sobre o texto contratual e suas condições gerais contratuais, os riscos daquele tipo de contrato, os custos extras etc. [...] Aqui há de ser clara e não obscura ou manipuladora a informação prestada (arts. 30, 46 e 54 do CDC), a publicidade (identificada como tal).” (MARQUES, 2004, p. 144)

As práticas abusivas mais recorrentes são conhecidas no meio virtual como spam. Aliás, essas práticas são realizadas sem autorização dos consumidores.

Com o uso maciço da Internet, os fornecedores utilizam artifícios para continuar mantendo contato com os usuários que realizaram visita ao site, seja de forma eventual ou intencional. Muitos sites solicitam o endereço para o cadastro dos dados pessoais e envio de ofertas, caracterizando uma tática que o fornecedor encontra para enviar posteriormente mensagens com o propósito de atrair o consumidor.

Diante do exposto, fica cristalino que a publicidade enganosa e abusiva presentes no meio virtual trazem infortúnios e prejuízos aos usuários vulneráveis. Gise-se que, ocorrendo situações características da publicidade desvirtuada, o consumidor deve estar atento para identificá-la, requerendo nos casos pertinentes, seus direitos, na forma lei.

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