• Nenhum resultado encontrado

3 HIPÓTESES E TEORIAS DO CONSUMO RESPONSÁVEL

3.3 Informação, Conhecimento e Ignorância

3.4.1 QI e Consumo responsável

Sabendo que o aumento de QI significa um aumento da capacidade cognitiva que pode ser observado em vários contextos da vida de um ser humano, espera-se que o QI tenha uma relação com o Consumo Responsável. Pode-se considerar, por exemplo, que indivíduos com QI mais alto tem maior probabilidade de tomar uma decisão de compra mais racional, a ler os rótulos dos produtos antes de comprá-los, preocupar-se com a sociedade porquê sabe que isso pode afetá-lo de diversas maneiras, direta ou indiretamente.

3.5 Hipercultura

Seguindo o paradigma da “Mediação Cognitiva” (SOUZA, 2004), que adota uma abordagem construtivista, pode-se dizer que a cognição ocorre pela interação homem- objeto. Segundo Roazzi e Souza (2002, p. 47) “os seres humanos adquirem conhecimento acerca de objetos através da interação e por meio da ajuda de estruturas no ambiente que fornecem capacidade de processamento adicional aos do cérebro”. Neste processo, as tecnologias de informação assumem papel essencial como uma nova forma de mediação cognitiva que alcança patamares nunca antes atingidos pelo homem.

Um fenômeno onde “os mecanismos externos de mediação passam a incluir os dispositivos computacionais e seus impactos culturais, enquanto que os mecanismos internos incluem as competências necessárias para o uso eficaz de tais mecanismos externos” (ROAZZI; SOUZA, 2002, p. 46). Fenômeno este denominado de “Hipercultura”. Basta ver as mudanças o modo de pensar e agir das pessoas que foram trazidas pelo avanço tecnológico e invenções como a internet e as redes sociais.

Expressões como “Era Digital”, “Era da Informação”, “Revolução Digital” são frequentemente utilizadas para denominar um período pós mudanças tecnológicas, como a invenção do microprocessador, do computador pessoal e da fibra ótica. Essas novidades tornaram-se parte integral da vida das pessoas a partir da década de 70 (SOUZA, 2004).

Computadores e internet estão presentes em vários aspectos das sociedades urbanas e cada vez mais são fundamentais na forma como as pessoas se comunicam e realizam coisas. Souza (2004) lembra que a chamada Revolução Digital levou a mudanças na sociedade e fez surgir novos conceitos, lógicas, valores e hábitos socioculturais. Há uma abundância de informação nunca antes encontrada capaz de criar novos e múltiplos significados para tudo (MULDER, 1999). Outro fator relevante ocorrido no século XX foi que a produção científica anual aumentou exponencialmente (HAWKING, 2001);

O papel das tecnologias digitais de informação no pensamento humano é de uma nova forma de mediação cognitiva. É um novo padrão de funcionamento mental, com consequências no funcionamento da cognição. Este fenômeno é denominado hipercultura e envolve uma forma nova de funcionamento individual e coletivo (ROAZZI; SOUZA, 2000; SOUZA, 2004; MEIRA; SPINILLO, 2006).

Hipercultura pode ser entendida como um processo de mudança nos mecanismos que um indivíduo utiliza para aumentar suas atividades intelectuais. Esse processo produz diferenças na dinâmica dos fenômenos cognitivos, interferindo nas variáveis psicológicas, tais como motivação, emoção e comportamento (SOUZA, 2004; SOUZA; ROAZZI, 2003).

Sobre a Revolução Digital, Xiberras (2010) argumenta ter sido esta capaz de produzir competências especializadas e afinadas que em conjunto formariam a chamada “Hipercultura”. Propõe ainda entender este fenômeno é como

um conjunto de tecnologias conjugadas produz um conjunto de práticas, ameaçando ou contestando a viabilidade e/ou a legitimidade das normas

socioculturais e dos quadros jurídicos relacionados. Modos de comunicação e de troca de informações remodelam o saber em novos formatos, métodos para adquiri-lo e transmiti-lo. Novas competências do “saber-ler”, “saber- ser”, e “saber-fazer”, densas e complexas são descobertas (XIBERRAS, 2010, p. 258-259).

Indivíduos com pensamento denominado hipercultural apresentam características específicas como: “lógica matemático-científica, representações visuais, formas elaboradas de classificação e ordenamento; estratégias eficazes para identificar o essencial e desprezar o resto, algoritmos eficientes para “varrer” ou “folhear” grandes conjuntos de informações e conhecimentos” (SOUZA, 2004, p. 86).

Os impactos da hipercultura no modo de vida das pessoas significa dizer que “todas as habilidades, competências, conceitos, modos de agir, funcionalidade e mudanças culturais ligadas ao uso de computadores e da Internet constituem um conjunto de fatores que difere substancialmente daquilo que, tradicionalmente, se percebe como cultura” (ROAZZI; SOUZA, 2002, p. 48).

Segundo Souza (2006), a Hipercultura está associada a determinadas mudanças na dinâmica do funcionamento psicológico. São elas:

 Alterações no desenvolvimento cognitivo, com maior tendência a um processo mais precoce e complexo do que no contexto cultural tradicional, levando ao surgimento de novas estruturas lógicas;

 Um funcionamento cognitivo caracterizado por uma ênfase na lógica matemático- científica abstrata;

 Aumento geral da sociabilidade e da propensão a interagir com os demais tanto no ciberespaço quanto no mundo real;

 Maior nível geral de desempenho cognitivo, particularmente no que se refere a tarefas envolvendo lógica abstrata, pensamento matemático-científico e sobrecarga cognitiva;

 Um significativo abismo entre gerações, com os nascidos na Era Digital apresentando padrões mentais substancialmente distintos daqueles de gerações anteriores tanto em termos de modo de funcionamento quanto no que se refere ao desempenho.

Estudos realizados com adolescentes de classe média confirmaram uma manifestação do fenômeno da hipercultura em nossa sociedade, uma associação da hipercultura com vantagens cognitivas, uma relação causal da hipercultura sobre diferenças estruturais no funcionamento da mente humana (ROAZZI; SOUZA, 2002).

Além das mudanças cognitivas, novas competências sociais estão sendo criadas. Mudanças de profissões e no âmbito do trabalho em geral (imprensa, escrita), mudanças econômicas (Net Economy), de comunicação (Facebook, Orkut, Twitter) e jurídicas também vem sendo cada vez mais frequentes e necessárias (XIBERRAS, 2010).

Considerando-se a abrangência, profundidade e intensidade das mudanças associadas à Hipercultura segundo apontado pela Teoria da Mediação Cognitiva (SOUZA, 2006), é natural supor que a sua chegada esteja relacionada a impactos também no que se referem a valores, crenças, motivações, atitudes e outros elementos relacionados à cultura. Os achados de Papadakis e Collins (2001) e de Tapscott (1998, 2003) dão suporte a essa noção.

Tapscott (1998, 2003) realizou pesquisas investigando indivíduos nascidos na Era Digital, chamados por ele de Geração-N, com o intuito de caracterizar os padrões típicos de pensamento e ação. Os resultados indicaram a existência de uma nova geração, por crescer cercada das novas mídias, as quais constituem sua “atmosfera de desenvolvimento”, apresenta um domínio tecnológico muito acima daquele das gerações anteriores e está criando uma nova cultura baseada em: independência, senso de liberdade e autonomia; abertura intelectual e emocional via Web; inclusão social via tecnologia e orientação global; liberdade de expressão; desejo de inovar e expectativa de mudanças constantes; preocupação com a maturidade; investigação e compreensão da tecnologia; velocidade, interatividade e

instantaneidade; sensibilidade aos interesses do mundo corporativo; ciência da necessidade de autenticação, validação e confiança.

Ainda segundo Tapscott (1998; 2003), como uma consequência direta desse novo ambiente de desenvolvimento e da nova cultura, os indivíduos que nasceram em plena Era Digital apresentam características psicológicas específicas, tais como:

 Grande aceitação da diversidade (gênero, orientação sexual, religião, política etc.);  Grande curiosidade geral e presença de um desejo de exploração e investigação;

 Assertividade e autoconfiança oriunda do potencial impacto do indivíduo sobre a coletividade;

 Uso intensivo da rede, com sintomas de abstinência quando o uso é interrompido;

 Aprendizagem global via múltiplas interações com uma coletividade diversificada;

 Busca de diversão interativa e autodirigida no ciberespaço via jogos e outros meios;

 Nova forma de trabalhar baseada no compartilhamento descentralizado de conhecimentos e competências;

 Ideologias valorizando direitos e liberdades individuais.

É possível dizer que tais mudanças estruturais no pensamento afetam a dinâmica dos fenômenos cognitivos, interagindo e influenciando efetivamente variáveis psicológicas como, valores, a personalidade do indivíduo, os níveis de QI, estratégias, preferências e escolhas individuais e coletivas.