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3 INOVAÇÃO SOCIAL

3.2 Dimensões da inovação social – estudos analíticos

3.2.1 Quadro de análise de Cloutier (2003)

Segundo CRISES (2015), a inovação social é definida por possuir uma natureza inovadora, seja através de novos produtos, novos serviços, novos arranjos sociais ou institucionais, tendo um propósito social explícito advindo de iniciativas, voluntárias ou não, de indivíduos ou de grupos, com o objetivo de atender a uma necessidade, solucionar um problema, propor novas orientações culturais, ou transformar uma ação em uma oportunidade para mudar as relações sociais. Segundo o mesmo Centro de Pesquisa, as iniciativas de inovação social podem levar a transformações sociais.

Dentre os estudos publicados por pesquisadores do CRISES, destaca-se o trabalho de Cloutier da Universidade de Quebec em Montreal. Segundo Cloutier (2003), a inovação social é um conceito equivocado, pois responde por diferentes realidades, de acordo com o interesse de estudo do pesquisador. Com o intuito de apresentar e destacar semelhanças e diferenças entre definições, a autora realizou um apanhado teórico conceituando a inovação social como uma resposta nova, definida na ação e na mudança sustentável, para uma situação social considerada insatisfatória, que busca o bem-estar dos indivíduos e/ou comunidades e o desenvolvimento do território (local de vida) ou da empresa, através da participação de usuários, em graus variados, durante o processo de criação e implementação da inovação social. Em seus estudos, como forma de identificar as dimensões de análise da inovação social e características específicas, Cloutier (2003) propõe uma classificação da inovação social baseadas em três tipos: (a) centrada no indivíduo, (b) orientada sobre o ambiente (território), e (c) gerada nas empresas. Estes níveis de análise foram elaborados de acordo com o agrupamento de estudos revisitado pela pesquisadora, e que possuíam definições implícitas ou explícitas da noção de inovação social. Para o desenvolvimento das quatros dimensões principais Cloutier (2003) embasa-se no estudo de conceituação de Chambon, David e Devevey de 1982, abordando a inovação social em quatro classificações principais: (1) quanto à forma, (2) quanto ao processo de criação e implementação, (3) quanto aos atores, e (4) quanto aos objetivos de mudança. Vide Quadro 3.

Quadro 3: Visão geral das dimensões e tipos de análise da inovação social de Cloutier (2003). Classificação Centrada no indivíduo Tipo de inovação social Orientada pelo meio Realizada nas empresas

Forma Imaterial, se opondo à noção de “produto” Imaterial (novas relações

sociais) Novas formas de organização do trabalho

Processo

Interação e cooperação entre os envolvidos, desde a tomada de consciência da necessidade e, a concepção do projeto, até a execução.

Criação de novas instituições ou

modificação do papel das existentes.

Desenvolvimento de novas estruturas de produção.

Atores envolvidos Indivíduos Sociedade e poder público Direção e colaboradores

Objetivos da

mudança Solução de problemas sociais. Melhoria da qualidade de vida.

Perspectiva instrumental: necessidade de um rearranjo que facilite a criação do conhecimento e a inovação tecnológica; Perspectiva não- instrumental: melhoria da qualidade de vida no trabalho.

Fonte: Adaptado de Patias et al. (2017).

Conforme Quadro 3, (a) a inovação social centrada no indivíduo, condiz com a produção de mudanças duradouras no indivíduo para desenvolvê-lo a recuperar o poder ao longo da própria vida, já que as mudanças esperadas se manifestam primeiramente no nível individual; (b) a inovação social orientada sobre o ambiente (território), visa desenvolver o território a fim de melhorar a qualidade de vida de uma comunidade, sendo que duas abordagens podem ser visualizadas: (b.1) a abordagem de desenvolvimento territorial, em que as instituições modificam as relações sociais permitindo uma melhor qualidade de vida, seja com a criação de novas instituições ou da mudança do papel das instituições existentes, e (b.2) a abordagem de consumo, em que a mudança de hábitos de consumo de uma determinada categoria (saúde, transporte, entretenimento, entre outras) interfere no bem-estar de uma sociedade; e (c) a inovação social gerada nas empresas, está ligada as novas formas de organização do trabalho e desenvolvimento de estruturas de processo, sendo que duas perspectivas podem ser visualizadas: (c.1) a perspectiva instrumental, em que a inovação técnica está vinculada a reorganização do trabalho com a promoção de um novo arranjo social, mas não ao bem-estar dos funcionários, e (c.2) a perspectiva não instrumental, em que a reorganização do trabalho é vista como inovação social pois melhora a qualidade de vida no trabalho.

Para cada tipo de inovação social existe uma forma de análise (classificação). Sendo assim: (1) quanto à forma, refere-se a como fazer as ações e práticas da inovação, que é considerada imaterial, representando uma solução para determinado contexto; (2) quanto ao processo de criação e implementação, refere-se ao processo que vem desde a consciência da

necessidade da inovação social com a participação dos usuários (protagonistas) até a implementação do projeto, sendo que o usuário não é um beneficiário, mas sim um ator do qual ele reconhece o projeto como próprio; (3) quanto aos atores, refere-se aos diversos tipos de atores, além dos usuários, envolvidos na inovação social por diversos ângulos de necessidade; e (4) quanto aos objetivos de mudança, refere-se as metas de mudança que visam resolver problemas sociais no sentido de satisfazer as necessidades não atendidas.

Quadro 4: Dimensões de análise da inovação social, com base em Cloutier (2003). Classificação

(Dimensões) Especificação das Dimensões

Tipo de inovação social Centrada no

indivíduo Orientada pelo ambiente Realizada nas empresas

Forma Natureza/ O quê? Objeto em si/

Su bd im en sõe s

• Tangibilidade (processual/ organizacional/ institucional/ produto/ tecnologia)

• Novidade/ caráter inovador (solução nova/ desproporcional e importância das mudanças – extensão e profundidade)

• Objetivo global Processo Processo de criação e implementação/

Como?

• Diversidade de atores (pelo menos 1/ diversidade) • Grau de participação do usuário (consciência do

problema, criação, implementação, avaliação) Atores

envolvidos mudanças/ Onde? Destino das Indivíduo Território Empresa Objetivos da

mudança

Resultados obtidos/ Por quê?

• Bem-estar de indivíduos e comunidades (resolver problemas/ prevenir problemas futuros/ aspirações) • Resultados produzido (qualidade relativa dos

resultados)

Fonte: Elaborado pela autora (2017), com base na leitura em Cloutier (2003).

No geral, as características da inovação social que constituem as dimensões de análise de Cloutier (2003) podem ser expostas conforme Quadro 4. Segundo Cloutier (2003), a inovação responde principalmente por sua natureza inovadora como uma nova resposta a uma situação social considerada insatisfatória, que se manifesta em todos os setores da sociedade, sendo a natureza inovadora uma condição essencial e não suficiente para que a inovação social ocorra. Dessa forma, a inovação social destrói estruturas que inibem a tomada de decisões e reconstrói estruturas consideradas libertadoras que encorajam ações deliberadas, como solução para um determinado contexto (CLOUTIER, 2003).

A inovação social não é definida como um objeto com características distintas, mas, como umas das soluções originais que implica em mudanças positivas em um determinado território (CLOUTIER, 2003). Para tanto, nesta perspectiva, as dimensões de análise podem ser vistas como uma ferramenta para verificar se determinados requisitos de uma inovação, relacionados à criação, implementação e funcionamento, podem considerá-la como uma inovação social.