A evolução das políticas públicas
QUADRO 1 CONSTITUIÇÃO DE 1891: DISTRIBUIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS TRIBUTÁRIAS
União • Sobre a importação de procedência estrangeira;
• Direitos de entrada, saída e estada de navios, sendo livre o comércio de cabotagem às mercadorias nacionais, bem como às estrangeiras que já tenham pagado imposto de importação;
• Taxas de selo;
• Taxas de correios e telégrafos federais e
• Outros tributos, cumulativos ou não, desde que não contrariem a discriminação de rendas prevista na Constituição.
Estados
• Sobre a exportação de mercadorias de sua própria produção;
• Sobre imóveis rurais e urbanos;
• Sobre a transmissão de propriedade;
• Sobre as indústrias e profissões;
• Taxas de selo quanto aos atos emanados de seus respectivos governos e negócios de sua economia;
• Contribuições concernentes aos seus telégrafos e correios e
• Outros tributos, cumulativos ou não, desde que não contrariem a discriminação de rendas prevista na Constituição.
Municípios • Atribuição de competências a cargo dos Estados. Fonte: Constituição Brasileira de 1891 apud (OLIVEIRA, 2010, p.10).
À guisa do caráter federalista, os demais Estados por não terem uma importante participação no comércio exterior1 passavam continuamente por dificuldades financeiras e pela razão diretamente proporcional da precária arrecadação (quadro 1).
No sentido de buscarem novas fontes de arrecadação, os demais Estados federados descentralizados e autônomos utilizaram-se dos impostos interestaduais como forma de incrementação de suas receitas e instituindo alguns dos tributos que até hoje operam entre os Estados, como, por exemplo, a circulação e trânsito de mercadorias nos seus territórios.
Lopreato (2002) registra que devido à fragilidade tributária da maioria desses Estados, circuncidados e amarrados aos impostos interestaduais e com precário índice de atividade interna.
Tornava-os incapazes de criar fontes promissoras para aumento da renda levando-os a impor medidas de entrave ao desenvolvimento do mercado
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interno fazendo-se do uso de novos impostos e taxas; chegando a 1904, com o Decreto-Lei nº 1.185 proibindo a cobrança dos impostos interestaduais, contudo o decreto tornar-se-ia uma “letra morta” haja vista que adentrava o regime de competência e autonomia dos Estados.
Com a crise econômica e o esgotamento do quadro político da República Velha, principalmente pela insipiente economia cafeeira, a Revolução de 1930 vai inaugurar uma nova etapa da federação brasileira.
Em que o Estado amplia seu aparelhamento estatal criando uma nova lógica em que o governo central passa a intervir na esfera econômica e social e, sobretudo, com a superação do movimento de descentralização dos anos seguintes à promulgação da Constituição de 1891, desdobrando e marcando- se numa nova fase da federação brasileira.
Nesse momento, inaugura-se, no Brasil, uma centralização do poder e de desenvolvimento do Estado “nacional-capitalista”, embora ainda sem a autonomia no campo fiscal e tributário, como afirma Lopreato (2002). Assim como ainda no ano de 1922 seria criado o Imposto sobre Vendas Mercantis (IVM), precursor do Imposto sobre Vendas e Consignações (IVC), de 1934.
Dessa forma, a nova configuração de Estado baseado numa centralização revelou-se muito mais numa expansão das articulações da atividade do poder central, bem como de sua capacidade de formulação de políticas nacionais do que uma significativa perda dos poderes estaduais.
Com o advento da Constituição de 1934 (quadro 2), alterações foram implementadas quanto à competência tributária dentro da descentralização do poder do Estado. Para a União as alterações, segundo Lopreato (2002), limitaram-se à cobrança do Imposto de Renda e proventos de qualquer natureza, salientando que sua instituição legal se deu em 1923 e aplicabilidade (princípio constitucional) a partir do ano seguinte à data de sua aprovação.
Os Estados foram contemplados com os impostos de transmissão de propriedades inter vivos e causa mortis, vendas e consignações - IVC,
propriedade territorial (exceto urbana), consumo de combustíveis de motor de explosão, indústria e profissões, exportação.
QUADRO 2 - CONSTITUIÇÕES DE 1934 e 1937: DISTRIBUIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS TRIBUTÁRIAS
Distribuição das competências tributárias
Constituição de 1934 Constituição de 1937
União União
• Importação;
• Renda, à exceção da renda cedular sobre imóveis;
• Consumo, exceto os combustíveis de motor a explosão;
• Transferências de fundos para o exterior;
• Selo sobre atos emanados do
governo e negócios de sua economia;
• Impostos de competência residual, proibida a bitributação e
• Taxas.
• Importação;
• Renda;
• Transferências de fundos para o exterior;
• Consumo;
• Sobre atos emanados do governo e negócios de sua economia;
• Impostos de competência residual, proibida a bitributação e
• Taxas.
Estados Estados
• Propriedade territorial, exceto a urbana;
• Transmissão da propriedade causa mortis;
• Transmissão da propriedade
imobiliária, inter vivos, inclusive a sua incorporação ao capital e sociedade;
• Consumo de combustíveis de motor a explosão; vendas e consignações;
• Exportação, à alíquota máxima de 10%;
• Indústrias e profissões, dividido em partes iguais com os municípios;
• Selo sobre atos emanados do
governo e negócios de sua economia;
• Impostos de competência residual, proibida a bitributação, prevalecendo o cobrado pela União e
• Taxas.
• Propriedade territorial, exceto a urbana;
• Transmissão da propriedade causa mortis;
• Transmissão da propriedade
imobiliária, inter vivos, inclusive a sua incorporação ao capital e sociedade;
• Transferido para a competência da União e integrado ao Imposto de consumo;
• Vendas e consignações;
• Exportação, à alíquota máxima de 10%;
• Indústrias e profissões, dividido em partes iguais com os municípios;
• Selo sobre atos emanados do
governo e negócios de sua economia;
• Impostos de competência residual, prevalecendo o criado pela União e
• Taxas.
Municípios Municípios
• Licenças;
• Imposto predial e territorial urbano;
• Diversões públicas;
• Imposto cedular sobre a renda de imóveis rurais; e
• Taxas.
• Licenças;
• Imposto predial e territorial urbano;
• Diversões públicas;
• Transferido para a União e Integrado ao IR; e
• Taxas. Fonte: Constituição Brasileira de 1934 e 1937 apud (OLIVEIRA, 2010, p.20).
A inovação trazida pela atualização constitucional foi para os municípios a assimilação dos impostos territorial urbano e à transferência do IVC, criado em 1923 de competência Federal, sobre vendas mercantis e cobrado segundo valores fixos proporcionais aos preços de transação a mercadoria.
Passando-se à esfera Estadual sendo transformado em um imposto do tipo cascata, ou seja, cobrado a cada operação de venda ou consignação pelo valor total da mercadoria de acordo com uma alíquota fixa ad valorem, o que traz a:
[...] discussão a respeito da cobrança do IVC nas operações interestaduais obrigou a intervenção do governo federal, pelo Decreto-Lei nº. 915, de 01/12/1938, emendado posteriormente pelo Decreto-Lei nº. 1.061 de 20/01/1939 [...] o decreto estipulava [...] quando da transferência de mercadoria para outra praça coma finalidade de formação de estoques, o imposto seria pago adiantadamente por ocasião da saída da mercadoria do Estado produtor [...] essa mercadoria não seria tributada na primeira operação do Estado consumidor [...] se o preço de venda fosse superior ao de transferência, o imposto sobre a diferença seria creditado à unidade produtora (LOPREATO, 2002, p.30).
Para Lopreato (2002), mesmo sob uma nova estrutura tributária, com o advento da constituição de 1923, não se diferenciou no que se refere à “distribuição regional e intergovernamental” da receita tributária.
Pois mesmo com uma nova formação de uma nova modalidade de aparelhamento de Estado com uma forte característica centralizadora, como também de intervenção, regulação e controle, não trouxeram no seu bojo processual mudanças estruturais no campo tributário e fiscal, ainda permaneceram os Estados com uma total e preservada autonomia, bem como se mantendo inalterada, “ou similar” à participação no valor da receita tributária total, o controle da distribuição regional da receita fiscal, permanecendo-se por meio das transferências ad hoc e dos gastos orçamentários do governo central.
Como demonstra a tabela 1 uma substancial alteração no perfil da arrecadação no Brasil se deu muito mais em função de uma nova dinâmica da economia, com o crescimento da renda nos centros urbanos, da crise externa recente (1929), do que por uma estrutura tributária, seja da União ou dos Estados. O que fica bem salientado é que o IVC - Imposto sobre vendas e consignações torna-se distinto perante o imposto de exportação, em que este imposto apenas perde em sua substancial participação na receita tributária dos Estados pelos efeitos decorrentes da guerra.
TABELA 1 – PARTICIPAÇÃO DO IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO E DO IMPOSTO