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QUADRO II ANÁLISE DA RESPOSTA DOS FREIRES

QUADROS ANEXOS

QUADRO II ANÁLISE DA RESPOSTA DOS FREIRES

1. Uma vez que o rei quer fazer regressar a Ordem à sua primitiva instituição – “(...) como é ra- zão e a dignidade dela requer (...)” – torne ao convento a vigararia e sua jurisdição, o que per- mitirá poupar na sua administração; igualmente, considera necessário reformar o estado dos cavaleiros, no temporal e no espiritual:

“(...) pois há disso tanta necessidade, assim nas confissões como nas visitações, e na perda que há também no temporal. E devia haver visitação de dois em dois anos ou de três em três, o que se podia fazer pelo dom prior, podendo, ou por outra pessoa a que o cometer com outra que Sua Alteza nomeasse.”

2. No que toca às escolas, o que se estipula já é praticado (1), podendo ordenar-se algumas melhorias, convindo acabar-se o mosteiro e colégio de Coimbra.

3. Quanto aos rendimentos, afirma-se não se saber qual foi a informação que teve o rei, mas que lhes são todos necessários e que até às vezes têm dívidas; confessa-se não se saber que número projecta o rei, mas que, quando o souberem, darão o seu parecer;

4. Afirma-se desconhecerem os religiosos os estatutos e ordens que o rei tem feito e ordenado, que serão certamente os mais convenientes e que darão o parecer quando os conhecerem; 5. Inicia-se o quinto ponto da seguinte forma, contestando-se o sistema proposto dos cinco

freires nomeados definidores pelo rei, os quais elegerão o prior:

“(...) Parece já que Sua Alteza tem respeito à conservação da nossa reformação que el rei seu avô nesta ordem fez (...)”, uma vez mais parecendo não ser senão uma subtil ironia (tal como no início, ainda mais que na margem está assinalado: “Mentem nisto porque não pretendem mais que tornar-nos clérigos”) (2); continua:

“(...), deve respeitar-se para a Ordem de Cristo, no que toca às eleições, o que se respeita para a maior parte das religiões e que é o que lhe está estabelecido nas bulas e estabelece o concílio tridentino” (3).

6. Contesta-se a remoção dos definidores pelo rei sempre que o entender, pelas perturbações internas que tal poderá causar, pelas informações que, contra a caridade, se poderão a todo o momento dar ao rei por maus religiosos que apenas busquem os seus interesses (4). 7. Quanto ao que se afirma para que a obrigação de rezar e outras não impeçam as lições,

declara-se que o presente regimento parece favorecer os que estudam (5); mais explícito é o que os religiosos anotam à margem: “Isto alude a não haver coro como os apóstolos” (6). 8. Quanto ao prorrogar do tempo da profissão, declara-se que lhes parece dever o rei respeitar as orientações que se usam (7); e quanto à admissão dos noviços à profissão manifesta-se dever confiar o rei esta matéria ao prior (8).

9. Querendo o rei transferir para a Ordem os mosteiros de África, a Ordem os deverá aceitar, desde que o rei as faça prover do necessário, como o fazia às outras instituições.

10. Quanto à casa da Luz, pelo muito que nela se tem feito, pelos religiosos que poderá ainda receber para a Ordem, pela conveniência de nela também poderem receber o hábito os cavaleiros, deverá manter-se, e com os religiosos que decentemente forem necessários. Contra a limitação a um número de seis refere-se que o cardeal terá dito em Sintra, a Fr. Vicente e ao Pe. Fr. Thomé, não se opor a que ficassem quinze ou vinte (9).

11. Quanto ao hábito, pode ser usado nos benefícios, mas são do parecer que se não altere; quanto à remoção dos que tiverem os benefícios deverá ser feita pelo prior e pelos definido-

res que dão a informação para que sejam apresentados, e vistas as informações das suas vidas e das visitações. Deverá logo taxar-se qual a côngrua que se atribuirá aos benefícios. Quanto à visitação, deverá caber ao prior e, quando o não puder, deverá delegar num religio- so indo juntamente outro, conforme o regimento apresentado (subentende-se: um religioso da Ordem nomeado pelo rei, com parecer do prior e definidores).

12. Quanto às visitas das casas, do colégio e do dom prior, deve guardar-se o que se pratica e que está conforme ao concílio tridentino.

13. Contesta-se que o rei possa remover o dom prior por se aplicar aqui, com muito maior peso, as razões invocadas no ponto 6º quanto à remoção dos definidores; aliás, estabele- cem já as constituições da Ordem os casos em que pode o prior ser deposto.

14. Quanto às lições que se lerão, parece haver na Ordem mestres adequados; e quando for necessário alguém de fora, o prior o informará ao rei; e para melhor cumprir os desejos reais, por ser a Ordem “(...) muito dilatada em seus reinos e senhorios (...)”, pede-se ao rei a mercê e esmola de uma casa na Índia, outra nas ilhas e outra no Brasil (10).

NOTAS:

(1) “E quanto ao segundo apontamento assim se faz no que toca às escolas.” Witte 1988, 415. (2) Witte 1988, 417 (3).

(3) Afirma-se: “Pelo que parece razão não privar deles aos presentes. Ao que mais diz no dito apontamento |a nomeação dos cinco definidores, certamente| parece que se devem eleger no capítulo geral dois ou três e Sua Alteza os mais.” (4) Sugestivamente refere: “(...) segundo a experiência nos agora ensina de religiosos inquietos (...)”.

(5) Witte 1988, 415. (6) Witte 1988, 417 (4).

(7) E refere-se: “(...) parece que no primeiro ano deviam guardar a mortificação e observância com que até agora os nossos noviços se criaram (...)”; ou seja, numa linha certamente muito distante da praticada entre os jesuítas. Witte 1988, 416. (8) Menciona-se: “(...) parece que Sua Alteza deve confiar isso de dom prior e convento como se ora faz, sendo examina- dos pelo dom prior e definidores antes de o propor à comunidade.” Witte 1988, 416.

(9) Especifica-se que para a Luz poderão ir os padres mais idosos.

Refere-se também o papel que tiveram os religiosos face, nomeadamente, às romagens à Senhora da Luz: “(...) conside- rados os desconcertos que antes de vir a nós havia e o serviço de Deus que se ao presente faz e a não haver nesta casa mais inconvenientes que nas outras de romagem deste reino e fora dele há (...)”. Witte 1988, 416.

(10) Witte 1988, 417.