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QUADRO 6 MOTIVOS E JUSTIFICATIVAS PARA A ESCOLHA DA CRECHE

Mães Como soube da creche? Por que escolheu esta creche?

Carmem Mãe é do bairro; próxima a casa. Próxima ao trabalho e gosta muito das educadoras

Beth Próxima a casa Próxima a casa

Ivete Indicação de alguém da família Boa fama e já conhecia

Armelinda Indicação de amigas do bairro Boa fama

Rosina É antiga no bairro; boa fama. Já conhecia, é antiga, todos falam bem e é próxima.

Emília É antiga; família da mãe é do bairro. Já conhecia como funcionava, todos falam bem

Evelina Indicação de vizinhos Experiência anterior com outro filho

Olímpia Indicação de conhecidos do bairro Boa alimentação, professoras, diretora e limpeza da

creche; todos falam bem.

Floriza Indicação de amigas que frequentaram

na infância

É a melhor que tem, todos falam.

Genária Indicação de colega costureira Ouvia falar e queria a melhor para sua criança

Marlene É antiga; família da mãe é do bairro. Seu irmão frequentou

Mimi Conhece o bairro e por indicação de

familiares

Saiu a vaga e é de fácil acesso para o trabalho Fonte:Pesquisa Direito à creche: um estudo das lutas das mulheres operárias no município de Santo André

A maioria das mães operárias ressaltou o pertencimento ao bairro como um fator de

reconhecimento da creche. Moradoras há mais de dez anos no subdistrito65 de Capuava,

acompanharam a consolidação da educação infantil em creche pública nessa região, desde sua inauguração, em 1992, através de familiares ou de pessoas conhecidas, configurando, assim, sua “boa fama” reconhecida por oito das doze mães como o motivo principal de sua escolha.

É importante ressaltar ainda a presença nessa região de outras três creches públicas em bairros do Distrito de Capuava, além de uma antiga unidade assistencial. No momento da inscrição os responsáveis escolhem a creche de sua preferencia.

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A divisão administrativa da cidade de Santo André apresenta 3 subdistritos: Sede (1º Subdistrito), Capuava (2º Subdistrito) e a distante Paranapiacaba. A Prefeitura Municipal adotava, também, como uma das principais divisões territorial, as 19 regiões do Orçamento Participativo. A maior parte dos bairros do Distrito de Capuava concentrou-se na região E.

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Figura 8 – Distrito Sede (maior) e Capuava (menor) da cidade de Santo André

Figura 9 – Bairros que compõem o Distrito de Capuava

É no Parque Capuava, bairro onde está situada a creche, que se concentra metade das mães entrevistadas. Outras duas mães também lá passaram sua infância, mas hoje residem em outros bairros próximos à creche, como a Vila Curuça e o Jardim Santo Alberto. Uma das

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mães aponta que organiza a vida familiar de acordo com a proximidade da oferta dessas instituições, conforme apontado brevemente:

Reny: Quando sua criança estava na creche, a mais velha, você também morava aqui?

Rosina: Não.

Reny: Você morava no bairro?

Rosina: No bairro, mas não nessa casa. Reny: E era pertinho também?

Rosina: Também. É praticamente na frente. Reny: É importante essa proximidade?

Rosina: É. Eu sempre procurei casa por aqui mesmo por causa disso. Reny: Por causa da creche?

Rosina: É.

(Entrevista realizada em 16/12/2009, p. 3)

É também no Parque Capuava, onde se situa o núcleo habitacional Capuava, que, há mais de dez anos, a prefeitura desenvolveu um projeto junto a outros três núcleos

habitacionais na cidade66, visando promover a inclusão social através de vários programas

executados de forma integrada.

A escolha dessas áreas teve como um de seus critérios a significativa participação

popular no Orçamento Participativo - OP67, ressaltando a característica organizativa de sua

população, tanto individual como coletivamente, no sentido de uma interferência qualitativa em sua própria realidade.

Com resultados significativos, desde sua implementação, em 1998, o “Programa Integrado de Inclusão Social” ou PIIS, depois chamado Santo André Mais Igual, foi considerado um dos dez melhores programas do mundo pelo Centro das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU/Habitat) em 2002.

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São eles: Sacadura Cabral (Bairro Sacadura Cabral), Tamarutaca (Vila Guiomar) e Quilombo II (Vila Palmares).

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O Orçamento Participativo marcou as quatro gestões do Partido dos Trabalhadores na cidade de Santo André. Considerado como um espaço de cogestão no qual comunidade e governo decidem juntos onde e como investir os recursos públicos. No período de 1989-1992 foi instituído de forma consultiva, ou seja, a população era consultada sobre obras e serviços a serem realizados na cidade. A partir de 1997 passa a ser deliberativo, institui- se o Conselho Municipal de Orçamento e a figura do Agente de Participação Cidadã, elo de comunicação com o Governo. Os conselheiros passam por um processo de formação sobre o funcionamento da administração pública e passam a visitar as regiões da cidade para identificar as demandas eleitas. Sofreu duas interrupções nos períodos de 1993-1996 e 2009-2012.

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Porém, sua dimensão social se voltou para a Alfabetização de Jovens e Adultos, não contemplando a construção de creches, apenas um programa de orientação às famílias com crianças de 0 a 6 anos, visando seu desenvolvimento saudável, denominado Ciranda Comunitária (Santo André, 2002, p. 31).

No entanto, a reivindicação por construção e ampliação de creches na cidade vem crescendo ao longo da última década. Só no período de 2003 a 2008, nove das dezenove regiões do OP levantaram tais demandas, foi o caso da creche escolhida para esse estudo, conforme já mencionado na p.73.

Relacionando-se tempo de moradia no bairro e frequência à creche é possível notar um maior número de familiares (10) que frequentaram anteriormente a creche pública, indicando que, provavelmente, as famílias constituíram seus próprios indicadores de qualidade, conferindo, assim, a denominada “boa fama” ao bairro.

Genária: É eu escolhi essa creche porque eu ouvia fala que essa creche era muito boa, a mãe da outra criança falou também, mas não só ela, muitas pessoa falava da creche, que a creche era boa, sabe. Colocava a creche lá em cima, então eu escolhi aquela creche.

Reny: Você sabe que tem outras por aqui? Tem a Gonzaguinha mais perto e tem o Santo Alberto...

Genária: É, o Santo Alberto acho que é mais longe, tem a Gonzaguinha, tem a outra aqui, né?, bem pertinho [Capuava II], mas só que assim, pra mim, eu queria o melhor pra minha criança. Algumas pessoas falava assim: “aí, mas você é louca de subir lá em cima, sendo que tem uma creche aqui perto, porque você não transfere!” Eu falei: “Não, eu quero o melhor! E lá eu já confiava, entendeu? Lá eu já tinha mais confiança, e aqui não, aqui eu não conhecia. E lá [creche escolhida] assim, muita gente tinha me falado que era boa e aqui eu nunca ouvi fala que era boa, aí eu tinha assim, aquele receio.

(Entrevista realizada em 06/01/2010, p. 11-12)

Através da fala de Genária se pode verificar que a possibilidade de escolha por creche mais próxima é relegada em razão da priorização do que é considerado “melhor” para sua criança. Com o Quadro 7, pretende-se aproximar o olhar para a dimensão interna da família quanto à opção por creche pública municipal.

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