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QUADRO 14 – REGISTRO DOS CONTEÚDOS DAS CADERNETAS DO PRIMEIRO E SEGUNDOS SEMESTES ETNOGRAFIA DO BRASIL 1956 –

3ª SÉRIE

ALUNA ESTER ALMEIDA VALADARES

MÊS DIAS ASSUNTO

MARÇO

12 As pesquisas do (?) homo primigenius no Brasil, em correlação com o homo americanos

14 Arqueologia brasileira: cerâmica amazônica. Interpretação 16 Cerâmica de marajó, (santarém), Maracá e cunani

18 A aluna não compareceu

21 Estratigrafia arqueológica marajoara (casal meggers) - (muraquitaão). Ídolos líticos. Miracanguera. (Insenções) rupestres.

23 Introdução do estudo do índio brasileiro.

MÊS DIAS ASSUNTO

ABRIL

4 Os Tupi. Origens, distribuição, classificação.

6 Os Tupi. Organização social.o grupo local. Classes de idade. Parentesco e matrimônio.

9 Sem aluno

11 Cultura material Tupi. Alimentação, vestuário. Significado sociológico das guerras entre os Tupi.

13 A figura do pajé (shamane?) . mitologia tupinambá: Ritos ; dualismo

16 Sem aluno

18 Antropologia ritual entre os Tupi. O depoimento de Haus Stadeu e os povos circunstanciais. Ritos de passagem entre o Tupi

20 Aula de seminário

23 Os Gê. Origens. Distribuição. Localização. O tipo físico de Botucudo classificação.

MÊS Ñ registrou Os Gê. Cultura material. Mitologia.

MAIO

Ñ registrou Os Ge. Ritos de passagem. Organização social Ñ registrou Os Aruac. Origens. Migração. Problemas ligados a

esses povos.

Ñ registrou Os Aruac. Vida e economia. Habitação. Organização social. Mitologia do milho e da mandioca.

Ñ registrou Trabalho de estágio

Ñ registrou Conferência do centro acadêmico

Ñ registrou Os Caribe. os estudos de Steinen sôhe o Bacairi? Ñ registrou Os Borôro. Do material colhido por Steinen (?), Levi

Strauss

MÊS Ñ registrou O negro no novo mundo. Aspecto histórico

JUNHO

Ñ registrou O negro no novo mundo. Aspecto etno-sociológico. Ñ registrou O negro nos Estados Unidos.

Ñ registrou Culturas negras no Haiti, em Cuba, na Guiana holandesa

Ñ registrou A aluna não compareceu. Ñ registrou A aluna não compareceu

MÊS Ñ registrou O negro no novo mundo. Aspecto histórico

AGOSTO

Ñ registrou O negro no novo mundo. Aspecto etno-sociológico. Ñ registrou O negro nos Estados Unidos.

Ñ registrou Culturas negras no Haiti, em Cuba, na Guiana holandesa

Ñ registrou A aluna não compareceu. Ñ registrou A aluna não compareceu

MÊS Ñ registrou O negro no Brasil. A escola de Nina Rodrigues SETEMBRO Ñ registrou Etno-sociologia do negro brasileiro.

Ñ registrou Cultura nagô gêge e sua sobrevivência no Brasil. Ñ registrou Cultura fanti-ashauti e suas sobrevivências no Brasil. Ñ registrou Cultura islamizada E suas sobrevivências no Brasil. A

guerra santa dos malês

Ñ registrou A cultura bântu e suas sobrevivências no Brasil Ñ registrou Aula de seminário.

MESES Ñ registrou Origens étnicas do povo português. O homem de Muge. O melting-pot da penísula ibérica

OUTUBRO E NOVEMBR O

Ñ registrou O português que povoou o Brasil. Seu tipo antropológico.

Ñ registrou O português que povoa o Brasil. Os trabalhos de Gilberto Freire, (?) viana, e Sérgio Buarque de Olanda Ñ registrou Participação dos elementos Espanhol e Francês na

formação do brasileiro. Discussão.

Ñ registrou Participação do elemento italiano na formação do brasileiro

Ñ registrou Participação do elemento germânico na formação do povo brasileiro.

Ñ registrou Trabalho de estágio.

Ñ registrou O Judeu. O Japonês. O sírio- Libanês Reflexo na formação do brasileiro.

Ñ registrou Participação do elemento eslavo no Brasil.

Fonte: Quadro produzido com fundamento nas cadernetas da disciplina Etnografia do Brasil sob a titularidade do Professor Felte Bezerra durante os dois semestres do ano de 1956 – FCFSe

Foi possível perceber as tormentas se assentando sobre uma cronologia que parecia perfeita, conduzida pelo ordenamento estático, enquadrado e plácido, que se dava em volta da disciplina de Etnografia do Brasil, ser abruptamente, rompido pela agitação das oscilações dos atos que compõe a vida. O Regimento Interno cai por terra e o titular da disciplina passa a não registrar os conteúdos e tampouco cumprir a totalidade da exigência do programa.

Da inserção da Etnografia do Brasil na terceira série até a derrocada do Professor Felte Bezerra, seja por suas pretensões fora do universo acadêmico, seja por deliberação da administração da FCFSe, os fatos se compuseram para encadear-se no mosaico da História da Disciplina Acadêmica em Sergipe. Assim a temporalidade de Felte Bezerra no ensino superior em Sergipe fechou essa marca dos três últimos anos em Etnografia do Brasil.

O desafio lançado ao pesquisador da história da educação em construir a História de uma disciplina acadêmica sem balizar-se em modelos precedentes ou, em categorias ou conceitos que definam esse termo, constitui-se uma dificuldade primária de construção da narrativa. Primeiro pela ausência de um estrutura teórica que subsidie os acontecimentos; Segundo, a operação hermenêutica se assemelha a decisões tomadas em uma ilha inócua, o que em muito impossibilita a construção em síntese dos fatos.

Diferente das disciplinas escolares onde os ícones desta linha de análise já esgotaram pesquisas e modelos, a História das disciplinas acadêmicas necessita de

ampla circulação. É inegável que ambas trabalham com o conhecimento acampado numa matriz curricular. Trata-se de um conhecimento de bases epistemológicas, mas que na História não descarta qualquer outro conhecimento que o cerca, como aqueles do cotidiano. Neste sentido, ao catalogarmos as fontes que poderiam construir essa história, pensamos em, necessariamente, abordar as veredas de passagem do conhecimento produzido para o conhecimento ensinado. Assim, a necessidade de contar uma breve trajetória da Etnografia (ciência) para Etnografia do Brasil (Disciplina Acadêmica).

Restou-nos claro o perigo que incorre o historiador da educação em sair da dimensão do campo e incorrer na história da ciência, mas não há necessidade do regresso ad infinitum, mas de uma pincelada nas origens, não negando as contribuições anteriores. Douta forma, incorremos em outro risco de associar imbricadamente as contribuições do homem/professor com as formatações da disciplina. Esta é uma associação possível, por ser uma relação simbiótica e estruturada do homem como ser e agente da história; objeto e construtor dos fatos.

A passagem pelos campos da autobiografia, da história de uma vida estabelecida entre tantas outras vidas, como a de suas alunas, de seus pares, de seus familiares, corroboram o registro de fatos que tatuam as singularidades no todo. O fato não pode se desvencilhar da narrativa da vida.. Devemos lembrar que a história é configurada, dependente do lugar de onde se escreve e de quem a escreve; dos seus interesses e do interesse da rede de inteligibilidade envolvia. Nesses interstícios surgem as questões nada desinteressadas. Optamos por formulações que pudessem colaborar com a construção dos fatos da História da Disciplina Etnografia do Brasil, visando os vestígios que poderiam nos permitir as respostas, como a utilização exaustiva dos Relatórios da Inspetoria Federal da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. “Sempre que formula uma questão, o historiador já tem em mente uma ideia preliminar, cuja verificação pode ser tentada a partir do documento que ele será capaz de utilizar (COLINGWOOD, 1986, P. 281).

Na condução de Febvre (1953) em que tudo é documento para História, idealizamos falar das práticas pautados nos depoimentos de ex-alunas, nesse segundo capítulo, o que restou prejudicado, tendo em vista as inúmeras tentativas e as dificuldades em encontrar alguém com vida e disponível para o ato. Não poderíamos incorrer no universo da divagação sem o ato probo do fato. A história precisa ser comprovada ou ao menos verificada como afirma Bloch

[...] Com efeito, fora dos lances livres da fantasia, uma afirmação só tem o direito de existir com a condição de poder ser verificada; e cabe ao historiador, no caso de utilizar um documento, indicar, o mais brevemente possível, sua proveniência, ou seja, o meio de encontra-lo equivale, propriamente falando, a se submeter a uma regra universal de probidade. (BLOCH, 1960, p. 40).

Com a possibilidade de comprovação montamos nosso plano de análise e escrita. É inegável que os elementos utilizados por Viñao Frago (2008) para composição de sua análise de uma disciplina escolar, serviu-nos pelos mesmo vieses. Assim como na dimensão escolar, a disciplina de Etnografia do Brasil tem elementos que lhes são intrínsecos, senão vejamos:

Conteúdos

Durante os três anos a disciplina obedeceu um programa de conteúdos copiado da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil. De posse dos relatórios e atas, tivemos acesso sem dificuldade a esses elementos. Para além disso, Felte Bezerra era obrigado a cada semestre a apresentar uma relação de pontos que fundamentariam as provas parciais;

Qualificação do Professor

A autobiografia trouxe os percursos de formação de Felte Bezerra. Odonto- cirurgião, Professor e autodidata em Antropologia; Pesquisador, Escritor, Bancário, dentre outras, formam os estágios dos capitais necessários a intervenção na formação de outrem por transposição didática e transmissão de herança cultural.

Os exames, provas, trabalhos de estágio e pesquisa

Desde o Regimento Interno até os boletins onde constavam as notas das alunas, tudo foi construído de forma mecanizada e resguardado nos acervos da FCFSe. As interpretações e questionamentos sobre essas fontes permitiu-nos analisar a posição do docente , da disciplina e da instituição sobre os interesse de incorporação daqueles conteúdos eleitos a serem apreendidos pelos futuros professores.

As cadernetas

Dos elementos talvez a que tivesse a possibilidade de maior compreensão de falar das práticas, mas necessitaria de contraposição do que não restou alunas e, como já anunciado,não tivemos a possibilidade do entorno da história oral. Todavia, lá estão os registro por dia do que aparente ou realmente era fruto das discussões ou das imposições do conhecimento formalizado em sala de aula. Além disso, observa-se o

movimento de frequência de alunos e professores, a negação dos registros, as lacunas da história.

Desta forma, essa análise , deste último capítulo, nos apontou para uma possível discussão ulterior de como balizar a construção da narrativa da História de uma disciplina acadêmica. Restou-nos observar que as intenções não ficaram claras entre homem/professor – instituição/disciplina. Parecem se servir mutuamente desse jogo de desejos de ocupação de espaços e prevalência de forças, marcadas pela doce e bela condição do conhecer.