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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.2 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

3.2.1 Quais os tipos de conhecimentos existentes?

O conhecimento pode ser definido de acordo com as características e a origem dos conceitos interpretados. O conhecimento popular ou senso comum é um conjunto de concepções de um meio social que se conquista na relação direta entre as coisas e/ou os seres humanos. É, pois, uma forma de conhecer sem aprofundar sua análise, sendo reconhecido pelo sujeito por meio de seus próprios valores, imbuindo-se, assim, valores ao objeto. Mesmo sendo um conhecimento reflexivo, contém limitações, uma vez que não foi analisado e testado

Revisão da Literatura 41 cientificamente, sendo, portanto falível e inexato, pois se satisfaz com conceitos passados de pessoa a pessoa (MARCONI; LAKATOS, 2007).

O pensamento empírico, derivado direto da atividade sensorial do homem sobre os objetos da realidade, é, indiscutivelmente, a forma primária de pensamento, levando ao conhecimento do imediato da realidade, isto é, ao conhecimento da realidade em suas manifestações exteriores. Pautando-se em princípios da lógica formal, o conhecimento empírico é absolutamente racional, revelando aspectos do objeto que se expressam pela categoria da existência presente, a exemplo de quantidade, qualidade, propriedade, medida, classe (ABRANTES; MARTINS, 2007).

O conhecimento filosófico caracteriza-se por hipóteses que não são submetidas à observação, por ser racional e sistemático. É entendido como infalível e exato, desenvolvido por ideias, relações conceituais e exigências lógicas. Assim sendo, a filosofia utiliza-se do método racional, no qual prevalece o sentido dedutivo, na busca de respostas gerais, de indagações universais (MARCONI; LAKATOS, 2007). Procura compreender a realidade sobre um âmbito universal, por meio da atitude fundamental de refletir sobre esse saber, interrogá-lo e problematizá-lo (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2006).

O conhecimento religioso ou teológico é baseado em conceitos revelados de forma dogmática, sendo, por isso, considerados infalíveis e indiscutíveis. Os indivíduos absorvem esse conhecimento por um ato de fé, acreditando na revelação divina (MARCONI; LAKATOS, 2007). A fé teológica é entendida dentro desse conhecimento, caracterizando-o como advindo do que está oculto ou de um mistério que é revelado por alguém (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2006).

O conhecimento tácito, de acordo com Machado (2001), caracteriza-se pelo conhecimento implícito no ser humano e não está escrito em nenhum lugar. O autor afirma que todo indivíduo possui em seu interior duas formas de conhecimento: o explícito e o implícito. O conhecimento explícito é transpassado de maneira formal e sistemática, enquanto que o implícito é definido como pessoal, não sendo possível representá-lo totalmente por registros e explicações.

Schön (2000) apresenta o conhecimento tácito como espontâneo, intuitivo, experimental e cotidiano. Entretanto, apesar deste tácito fazer parte do conhecimento global, muitas vezes não é reconhecido nem valorizado. Machado (2001) aborda a subvalorização desse conhecimento pelas pessoas em detrimento do conhecimento explícito.

O conhecimento científico é sistemático, trabalha e estuda de forma ordenada e lógica, sendo considerado falível e verificável. Trata-se de um conhecimento não definitivo e

Revisão da Literatura 42 as afirmações não comprovadas por meio de experimentos não são consideradas ciência (MARCONI; LAKATOS, 2007). Segundo Cervo, Bervian e da Silva (2006), esse conhecimento ultrapassa o empírico, objetivando definir, além do fenômeno propriamente dito, suas origens e leis. Logo, essa área consolida a busca constante de respostas e explicações mediante as experiências revisadas e avaliadas.

Esse tipo de conhecimento é o único meio de se obter a verdade, e esta verdade científica, absoluta e irrefutável, ainda hoje, parece estar presente no pensamento de vários profissionais tanto nas instituições de ensino, como de prática (DOMINGUES; CHAVES, 2005).

No estudo de Domingues e Chaves (2005) realizado com um grupo de enfermeiras de um hospital em São Paulo, elas expressaram que o conhecimento é um dos valores de grande importância para o agir profissional. Referiram ainda que o conhecimento científico confere a elas segurança na tomada de decisões, tanto com relação ao paciente quanto com sua equipe ou, ainda, em relação às atividades administrativas da própria unidade. Nesse sentido, o conhecimento traz para essas enfermeiras a certeza de que a forma como estão agindo é a correta e mais adequada, pois fundamenta suas habilidades e confere-lhes domínio para agirem de forma cientificamente consensual.

Ferreira (2003), em seu estudo com enfermeiros, no Rio Grande do Norte, sobre a análise dos conhecimentos utilizados no processo de cuidar na unidade de terapia intensiva, detectou, com base nas narrativas, que um dos conhecimentos mais marcantes foi o científico, predominante pelo saber individual, presente no campo do ensino, da prática e da pesquisa.

Todavia, da mesma forma que cresce a importância do conhecimento científico nos processos de formulação de decisões, este começa a se confrontar com outros interesses envolvidos no processo, que, ao terem sua influência diminuída ou contrariada, passam a se constituir em forças de oposição ao conhecimento científico ou à própria ciência (BARRETO, 2004).

Para Barreto (2004), um exemplo disso são os avanços no conhecimento científico no campo da reprodução humana, que têm se confrontado com dogmas religiosos com forte influência nas políticas dessa área. É notória a influência política de diferentes correntes religiosas no campo da interrupção da gravidez ou do controle da natalidade, e a manutenção de posições dogmáticas que contrariam evidências consolidadas da ciência.

No que diz respeito à nossa realidade, as universidades brasileiras, por meio dos programas de pós-graduação, são as responsáveis pela produção do conhecimento científico e tecnológico nacional, transformando seus pesquisadores e alunos de mestrado e doutorado nos

Revisão da Literatura 43 protagonistas do processo de criação desse tipo de conhecimento. Dessa forma, dentre as atividades que mais intensamente estão relacionadas à criação de novos conhecimentos, podem-se relacionar: pesquisas científicas realizadas por pesquisadores docentes, atividades e pesquisas realizadas por grupos de pesquisa, orientação e desenvolvimento de teses e dissertações. Todas essas atividades envolvem um elevado grau de compartilhamento de conhecimento, que na maioria das vezes é realizado em grupos de pesquisa e não individualmente, utilizando-se do conhecimento tácito e explícito (LEITE, 2006).

Essa realidade é representada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq), revelando que as universidades públicas concentram 80% da pesquisas científicas realizadas no Brasil (LEITE, 2006).

Em termos comparativos, o Brasil está entre os 20 países que mais publicam artigos científicos em revistas internacionais, frente aos países como Áustria, Polônia, Coreia ou Taiwan. Consequentemente, são as próprias universidades públicas que geram a produção científica brasileira, visto que são mais proficientes do que as instituições de ensino e pesquisa privadas (FAPEPI, 2004).

Enfatizando o crescimento do conhecimento científico, o último censo divulgado sobre a atividade científica brasileira, realizado no ano de 2006 pelo CNPq, constatou a presença de 21 mil grupos de pesquisa distribuídos em 403 instituições, englobando 90.320 pesquisadores e 128.969 estudantes. Esses números representam um importante crescimento em relação ao censo anterior de 2004, quando foram registrados 19 mil grupos e 77 mil pesquisadores (BRASIL, 2007).

Com relacao à Enfermagem, a produção científica permaneceu latente por várias décadas, no entanto, sua evolução vem encontrando apoio não só nos programas de pós- graduação, mas também nos órgãos de classe da profissão, especialmente da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), e também dos órgãos de fomento da atividade de pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (MARQUES; TYRREL; OLIVEIRA, 2006).

É essencial que esses conhecimentos sejam reconhecidos e valorizados, possibilitando o aprendizado e a educação na Enfermagem. Sendo assim, a seguir descreveremos sobre o conhecimento em Enfermagem.

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