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A pesquisa bibliográfica sobre o assunto revelou alguns conceitos distintos para a qualidade do conjunto de alternativas, orientados pela área de estudo. Assim, na psicologia, uma parte significativa da atenção dada para geração de alternativas está voltada para a criatividade. Nessa área, em geral, o critério de qualidade, segundo Johnson e Graab (2003), confunde-se com a quantidade de alternativas que é gerada. Diferentemente, em análise de decisão, em

geral, são feitas recomendações para se gerar um bom conjunto de alternativas, mas, o conceito de bom conjunto de alternativas raramente é apresentado.

Keeney (1994; 1996) recomendou que se invertesse a ordem natural das etapas do processo de decisão, estruturando os objetivos da decisão para somente depois gerar as alternativas. Essa inversão, segundo o autor, permitiria uma qualidade melhor do conjunto de alternativas. Para o mesmo é impossível determinar se um conjunto de alternativas contém boas opções sem uma extensa análise formal e como isso, em geral, não é viável, recomenda-se que seja gerado um conjunto promissor de alternativas. Um conjunto promissor de alternativas é o resultado de um processo de estruturação do problema.

Nutt (2001) relacionou a boa decisão com uma boa tática de gerar alternativas, própria para um determinado tipo de decisão. O critério para julgar a qualidade da decisão foi o sucesso ou fracasso alcançado pela mesma. A medida do sucesso ou fracasso de uma decisão foi feita levando-se em conta três fatores: adoção, valor intrínseco e tempo requerido para implantação. Obviamente, a avaliação de sucesso ou fracasso e, conseqüentemente, da qualidade de decisão, no caso de decisões estratégicas só é possível alguns anos após o início do processo decisório. Essa limitação temporal, no caso do estudo desenvolvido pelo autor, era irrelevante, uma vez que os dados estavam disponíveis quando da realização da pesquisa, mas, em geral, é um forte impedimento para a maioria das pesquisas.

Scherer e Billings (1996), apud Butler e Scherer (1997), operacionalizaram em sua pesquisa a qualidade de uma alternativa de decisão como sendo o poder de resolução de conflitos. Esse poder foi definido, de acordo com Upshaw (1975), apud Butler e Scherer (1997), como o grau no qual uma alternativa resolve os principais aspectos conflitantes do problema.

Outra forma empregada em pesquisas para se medir a qualidade da alternativa, assim como a qualidade da decisão, é a opinião de especialistas no assunto relacionado com o problema de decisão. Assim, Klein et al. (1995) recorreram aos especialistas no jogo de xadrez para julgar a qualidade das alternativas geradas por jogadores de xadrez em um experimento, enquanto Johnson e Graab (2003) utilizaram o conhecimento de experientes jogadores de handebol para avaliarem outro experimento. Essa solução para avaliação da qualidade de um conjunto de alternativas, aparentemente, não é aplicável em problemas não estruturados, conforme experimento relatado por Adelman et al. (1995).

Uma forma que tem se mostrado mais adequada para avaliar a qualidade de um conjunto de alternativas é a árvore hierárquica. Engelmann e Gettys (1985) empregaram o método de árvore hierárquica para comparar o desempenho de dois grupos distintos na geração de alternativas para um problema não estruturado. Gettys et al. (1987) desenvolveram uma metodologia própria para medir o desempenho dos participantes de um experimento na geração de alternativas. Essa metodologia tem como base uma árvore hierárquica produzida com as alternativas geradas pelos próprios participantes do experimento. Adelman et al. (1995) também fizeram uso de uma árvore hierárquica para analisar a qualidade de alternativas geradas para um problema não estruturado.

Tendo em conta as características da pesquisa e as referências teóricas, mencionadas anteriormente, achou-se conveniente, no presente estudo, a criação de um construto para definir a “qualidade do conjunto de alternativas”. Esse construto tem como base a tabela de estratégias mencionada por Howard (1988) e o método de análise hierárquica, desenvolvido por Saaty (1991), que tem a árvore hierárquica como o resultado dessa análise. A árvore hierárquica apresenta de forma organizada uma classificação ou estrutura hierárquica das

alternativas de solução do problema. A sua construção em detalhes é exposta em metodologia da pesquisa, no capítulo 3.

A partir da construção de uma árvore hierárquica ideal ou completa do problema de decisão definiu-se a qualidade do conjunto de alternativas como sendo a resultante dos fatores: completude, originalidade e viabilidade. A completude é uma propriedade exclusiva dos conjuntos de elementos. Ela exprime o quão completo é um conjunto de elementos em relação a algum padrão referencial, que, no caso desse estudo, é a árvore hierárquica completa ou ideal. A idéia é simples e surgiu com a observação feita por Keeney (1996) sobre conjuntos de alternativas. Segundo o autor, avaliar se um conjunto de alternativas é melhor ou pior do que outro é muito difícil. A dificuldade advém do fato de que a qualidade do conjunto estaria sendo considerada sempre antes da avaliação cuidadosa de cada uma das alternativas. Se a avaliação das alternativas estivesse disponível seria fácil eleger a qualidade de um conjunto de alternativas; bastaria nesse caso adotar a qualidade da melhor alternativa como a qualidade do conjunto. Como essa informação não está disponível, para Keeney (1996) é imperativo admitir que um pequeno conjunto de alternativas nunca poderá ser melhor do que um conjunto maior que contenha o menor. Em outras palavras, quanto mais completo um conjunto de alternativas, maior a probabilidade de conter a alternativa ideal para os objetivos do decisor. Essa medida de quanto o conjunto de alternativas é completo foi chamada, nesta tese, de completude. O detalhamento sobre o cálculo da completude para o conjunto de alternativas é apresentado em metodologia da pesquisa, no item “Qualidade do conjunto de alternativas”.

O segundo fator levado em conta para determinar a qualidade do conjunto de alternativas no presente estudo, foi a originalidade do conjunto. Nesse caso, diferente da completude, as avaliações são feitas para cada alternativa isoladamente e, na sequüência são somadas para

compor a originalidade do conjunto. Essa avaliação só é possível devido a existência da árvore hierárquica, construída previamente, caso contrário prevaleceria o argumento de Keeney (1996) de que não é factível avaliar a qualidade a priori. A originalidade do conjunto de alternativas foi definida, nesse estudo, como a média das originalidades de cada alternativa que, por sua vez, é função da freqüência de seu surgimento na árvore. Quanto maior a freqüência, menor a sua originalidade e vice-versa.

A originalidade de uma alternativa, na forma proposta, representa o ineditismo ou o quanto existe de novidade nela. Essa propriedade está intimamente ligada à idéia de criatividade, no sentido de valorizar a fase divergente do pensamento. Conforme observado por Basadur et al. (1982), a maior parte das pessoas sente mais dificuldade para lidar com a fase divergente do pensamento do que com a fase convergente. Isso ocorre, segundo os autores, devido ao fato de as ações convergentes, como avaliação e cálculo, serem premiadas pela sociedade enquanto as ações divergentes, em geral, são relegadas ao esquecimento. O exemplo do problema do elevador, oferecido por Ackoff (1969), apud Matheson (1990), mencionado anteriormente, ilustra o quanto pode ser importante a originalidade da alternativa para solução de um problema.

O terceiro componente escolhido para compor o construto “qualidade do conjunto de alternativas” foi a viabilidade. Esse fator determina o quanto a alternativa é viável de ser implantada e operada. Na avaliação da viabilidade das alternativas, feita nesta tese, levou-se em conta o recurso necessário para a implantação e operação da alternativa, bem como, as eventuais restrições de ordem técnica, política ou administrativa. Os detalhes sobre o cálculo desse elemento estão expostos no item “A qualidade do conjunto de alternativas”, em metodologia da pesquisa.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Nesse capítulo é feita uma descrição do planejamento da pesquisa adotado para se estudar as questões relativas ao conjunto de alternativas que os executivos brasileiros geram quando tomam decisões estratégicas não estruturadas. Para apresentar a metodologia da pesquisa foram selecionados os seguintes tópicos: escolha do planejamento, unidade de análise e amostragem, descrição do experimento, desenho do experimento, teste piloto e análise dos dados.