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1.2. Qualidade de Vida

1.2.1. Qualidade de Vida e Saúde

A saúde é um conceito igualmente difícil de definir. Inicialmente era avaliada em termos de sobrevivência, sendo posteriormente associado a ausência de doença e visto como algo de positivo, no entanto existem diversas formas de definir saúde (Figura 3) (Ferreira, 1998)

Figura 3.Definições de saúde. Fonte: Ferreira (1998)

A saúde pode então ser definida num contexto mais oficial e num contexto mais popular. O primeiro é mais voltado para as perspetivas dos profissionais de saúde. O segundo é relativo à perceção das pessoas, de quem não está envolvido nas áreas da saúde. No entanto, apesar de distintas, coexistem e muitas vezes a opinião popular é utilizada pelos profissionais de saúde (Ferreira, 1998).

Numa definição oficial, Ferreira (1998) refere que a saúde pode ser apresentada sob uma perspetiva negativa ou positiva. Analisar a saúde do ponto de vista negativo diz respeito à ausência de doença ou ausência de sensação de se sentir doente, ou seja sugere que as pessoas são saudáveis até ao ponto em que apresentam sinais de problemas. Relativamente a uma perspetiva positiva existem cinco teorias principais de definição de saúde: o estado ideal (completo bem-estar físico, mental e social), um bem (fornecido através de cuidados de saúde), o ajuste físico e mental (estado de capacidade ótima para o desempenho das tarefas desejadas), força interior ou capacidade (resposta positiva aos problemas e sofrimentos da vida) e por último, base

para potencial pessoal (saúde composta por vários fatores que permitem uma realização pessoal máxima) (Ferreira, 1998).

Além da definição oficial existe também uma opinião popular que neste contexto considera os fenómenos de sentir-se saudável ou doente, com enfoque na capacidade da pessoa lidar com os problemas de saúde. Neste argumento popular devem-se considerar convicções dos sujeitos referentes à saúde e o contexto cultural em que se encontram (Ferreira, 1998).

Apesar de várias definições a OMS a definiu saúde, em 1948, como:

“Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doença” in WHO, 2002, pág.12.

Este conceito capturou o reconhecimento da importância da qualidade de vida. No entanto a QdV apenas aparece na literatura médica, com maior expressão, a partir dos anos 60. Nos anos 70 era avaliada nos ensaios clínicos e como complemento aos tratamentos oncológicos (Bond & Corner, 2004; Canavarro & Serra, 2010; Pimentel, 2006; Smith, Avis, & Assmann, 1999).

Também a carta de Ottawa refere a saúde como:

“Um recurso da maior importância para o desenvolvimento social, económico e pessoal e uma dimensão importante de qualidade de vida” in Carta de Ottawa, 1986, pág.2.

A relação entre Saúde e Qualidade de Vida tornou-se de tal forma significativa que surge nos anos 90 uma revista que tem por missão o estudo científico da QdV relevante para a saúde e cuidados de saúde – “Quality of Life Research” (Canavarro & Serra, 2010; Seidl & Zannon, 2004).

Quanto ao conceito do termo QdV na área da saúde são reconhecidas duas tendências: qualidade de vida (conceito genérico influenciado por estudos sociológicos) e qualidade de vida relacionada com a saúde (QdVRS) (Seidl & Zannon, 2004).

Para Ferreira (1998) a qualidade de vida relacionada com a saúde é definida como:

“Um subconjunto dos aspetos de qualidade de vida relacionados, na existência individual, com o domínio da saúde” in Ferreira, 1998, pág.17.

Por outro lado Bullinger (2007) define a QdVRS como:

“Denota a percepção do paciente de bem-estar e função em domínios físicos, emocionais, mentais, sociais e de vida a cada dia” in Bullinger, Schmidt, &

Naber, 2007, pág.67.

A QVRS é utilizada em várias vertentes, desde estudos clínicos (para avaliar os resultados do tratamento), estudos epidemiológicos (para descrever a saúde da população), para documentar a qualidade do atendimento e na investigação económica em saúde (para avaliar os benefícios de saúde) (Bullinger et al., 2007).

A QdVRS traduz a forma como as pessoas percebem a sua saúde - auto perceção de saúde, - e é um conceito multidimensional, que traduz o bem-estar subjetivo do doente em várias vertentes, nomeadamente física (capacidade de realizar tarefas), psicológica (bem-estar emocional e mental) e social (capacidade de se relacionar com as pessoas) (Pimentel, 2006).

Uma definição multidimensional é apresentada por Naughton & Shumaker (2003) referindo que:

“A QdVRS engloba os atributos valorizados pelos pacientes, incluindo: o seu conforto ou sensação de bem-estar resultante; a medida em que são capazes de manter uma função física, emocional, e intelectual, razoável; e do grau em que eles mantêm a sua capacidade de participar de atividades dentro da família, no local de trabalho, e em comunidade” in Naughton & Shumaker,

2003, pág.73.

Esta definição aponta para a existência de dimensões fundamentais para avaliar a QdVRS (Tabela 4).

Tabela 4.Dimensões da QdVRS

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Fonte: Naughton & Shumaker (2003)

A opinião dos especialistas Naughton & Shumaker (2003) é que para a avaliação da QdVRS devem constar no mínimo as dimensões primárias. Como função física definem a capacidade para realizar as tarefas do dia-a-dia, como função social definem a capacidade para interagir com família, amigos e comunidade. A função psicológica é definida como bem-estar emocional do individuo e deve avaliar quer efeitos negativos (depressão, ansiedade) quer efeitos positivos (alegria). A satisfação geral com a vida/bem-estar representa a perceção de uma pessoa de sua sensação geral de bem-estar. A perceção do estado de saúde deve ser distinguida da situação atual de saúde do individuo devendo questionar-se em comparação há um ano atrás (Naughton & Shumaker, 2003).

Analisando as alterações inerentes ao processo de envelhecimento (físicas, psicológicas e sociais), e tendo em conta as dimensões primárias necessárias à avaliação da QdVRS, percebe- se que cada vez mais a auto perceção do estado de saúde seja valorizada com o intuito de melhorar a qualidade de vida da população idosa. Além disso, a caracterização das condições de saúde requer informações detalhadas sobre as vertentes mencionadas, e uma das formas de obter esta informação é através do levantamento da perceção dos idosos sobre o seu próprio estado de saúde (Alves & Rodrigues, 2005).

Além da definição de saúde (WHO, 2002), nos idosos, dá-se especial enfase à capacidade funcional dos mesmos, ou seja a capacidade para realizarem as tarefas do dia-a-dia. A capacidade funcional está intimamente ligada à manutenção da autonomia e independência, que por sua vez está ligada à QdVRS (Kalache et al., 1987; Ramos, 2003). Segundo a OMS autonomia é [a capacidade percebida para controlar e tomar decisões pessoais sobre como se

Dimensões Primárias Dimensões Secundárias

Função Física Função Neuropsicológica Função Social Produtividade pessoal Função Psicológica Intimidade e função sexual Satisfação geral com a vida/bem-estar Distúrbios do Sono

Perceção do estado de saúde Dor Sintomas Espiritualidade

vive no dia-a-dia, de acordo com as suas regras e preferência], e a independência é [a habilidade para executar funções relacionadas com a vida diária] (WHO, 2002, pág.13). À medida que as

pessoas envelhecem torna-se fundamental que se mantenha a autonomia e independência, sendo estes conceitos a chave principal (para os indivíduos e marcadores de política), para um envelhecimento ativo (WHO, 2002).

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