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1.4 QUALIDADE DE VIDA NO CONTEXTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

A institucionalização do idoso deve garantir a qualidade de vida fora do seu ambiente familiar (POVOA, 2010). Assim, são necessárias medidas que avaliem e investiguem o quanto a ILPI favorece ou não a qualidade de vida (QV) para seus moradores.

O construto QV apresenta intersecções com aspectos biológicos, como condição de saúde, sono, status funcional e incapacidade/deficiência (BOWLING, 2005); vertentes psicossociais, como bem-estar, satisfação e felicidade (LAWTON, 1991; DIENER; SUH, 1997; LYUBOMIRSKY; KING; DIENER, 2005; SKEVINGTON; LOTFY; O'CONNELL, 2004) e fatores econômicos (BOWLING, 2005; LAWTON, 1991).

O World Health Organization Quality Of Life Working Group (WHOQOL-

Group) definiu qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição

na vida, no contexto de sua cultura e no sistema de valores em que vive e em relação a suas expectativas, seus padrões e suas preocupações” (WORLD HEALTH ORGANIZATION QUALITY OF LIFE WORKING GROUP, 1995, p.1405). Assim, QV é um conceito bastante amplo, que incorpora vários domínios como saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações sociais, crenças pessoais e relação com aspectos significativos do meio ambiente (WORLD HEALTH ORGANIZATION QUALITY OF LIFE WORKING GROUP, 1995).

Uma pesquisa com objetivo de comparar a QV de 70 idosos independentes e residentes em instituições e 210 não institucionalizados, na região metropolitana de Vitória (ES), que utilizou como instrumento o WHOQOL-bref mostrou que os idosos residentes em ILPI apresentaram pior qualidade de vida quando comparados aos idosos não institucionalizados. Os autores concluíram que a institucionalização foi um fator determinante da QV (OLIVEIRA; GOMES; PAIVA, 2011).

Na avaliação da QV do idoso é necessário considerar e adotar múltiplos critérios de natureza biológica, psicológica e socioestrutural, uma vez que vários elementos são apontados como fundamentais ou indicadores de bem-estar na velhice, como: longevidade, saúde biológica, saúde mental, controle cognitivo, competência social, renda, continuidade de papeis familiares, ocupacionais e continuidade de relações informais com amigos (NERI, 1993).

Traduzir os vários aspectos dos componentes da QV em valores quantitativos é uma tarefa difícil, pois implica na necessidade de avaliar dimensões múltiplas, com avaliação de itens múltiplos de cada dimensão. A consequência desta complexidade é o desenvolvimento, nos últimos anos, de um grande número de instrumentos de medida (KURTNER, 1994).

Houve na última década uma proliferação de instrumentos de avaliação de qualidade de vida e afins, tais como SF – 36, o WHOQOL -100 e o Quality of Life Index (SEIDL; ZANNON, 2004). Foram encontrados estudos onde se mensurou a QV de idosos residentes em ILPI, porém utilizando-se para isso instrumentos genéricos (GOMES et al., 2014; MALDEREN; METS, GORUS, 2013; OLIVEIRA; GOMES; PAIVA, 2012).

Deve-se considerar que preservar e promover a qualidade de vida de idosos residentes em ILPI é um desafio constante de saúde física e mental no cuidado de longa duração, entretanto existe a escassez de instrumentos específicos que avaliem a qualidade de vida no contexto institucional, tendo-se conhecimento, até o momento, de um único instrumento com essa finalidade (KANE et al., 2003). Autora americana elaborou e validou um instrumento específico para avaliar a qualidade de vida de idosos institucionalizados, denominado ‘Escala de Qualidade de Vida para Idosos Residentes em Instituições de Longa Permanência’ (KANE et al., 2003). Trata-se de um instrumento composto por 11 domínios considerados fundamentais no âmbito institucional: o conforto físico, a competência funcional, a privacidade, a autonomia, a dignidade, as atividades significativas, a satisfação com alimentos, a individualidade, os relacionamentos, a segurança, e o bem-estar espiritual. Este instrumento foi recentemente traduzido e adaptado culturalmente para uso no Brasil (OLIVEIRA, 2014).

Este instrumento apresenta grande importância para os idosos institucionalizados pois é o único instrumento encontrado na literatura internacional

e nacional que apresenta o propósito de avaliar os aspectos sociais e psicológicos específicos dos residentes. Até mesmo para as pessoas com alterações cognitivas, os itens da Escala QV – ILPI se mostraram de fácil compreensão (MARTIN; PÓVOA, 2013).

JUSTIFICATIVA

Diante do exposto, é necessário que os profissionais de saúde atualizem seus conhecimentos e sua prática assistencial acerca das alterações que ocorrem no sono com o envelhecimento, pois estas são frequentemente encontradas nas ILPI, fato que pode ter como consequência o prejuízo cognitivo, funcional e clínico dos idosos institucionalizados (PAPP et al., 2014).

Deve-se enfatizar que a institucionalização parece acentuar a tendência às alterações específicas que ocorrem no sono com o envelhecimento, inclusive prejudicando sua consolidação e aumentando a tendência aos cochilos diurnos, podendo causar danos na qualidade de vida dessa população (ROMDHANE; OUANES, MELKI, 2014; FIENOL; SOYUER; FIENOL, 2013; ARAÚJO, CEOLIM, 2010; VOYER et al., 2006).

Desta forma, este estudo espera contribuir com esta temática, investigando a qualidade do sono, os cochilos e a qualidade de vida de idosos residentes em ILPI, bem como as relações dessas variáveis com o desempenho cognitivo, a independência nas atividades de vida diária e os sintomas depressivos.

Embora existam, na literatura, estudos a respeito da qualidade do sono e cochilos no ambiente institucional, são insuficientes as pesquisas que abordam suas relações com a qualidade de vida do idoso institucionalizado. Contudo, não foram encontradas, até a finalização desta tese, publicações em que fosse utilizada uma escala de avaliação de qualidade de vida específica para o ambiente da ILPI, como a que foi empregue no presente estudo. O uso de um instrumento com esse enfoque deve permitir relacionar a qualidade do sono a aspectos específicos do contexto institucional, alguns dos quais poderiam, futuramente, ser objeto de intervenção. Além disso, este estudo se propôs investigar os diferentes tipos de cochilo (intencional e não intencional) e suas relações com a qualidade de vida e a qualidade do sono do idoso. A literatura é escassa nessa abordagem, em geral considerando somente a ocorrência de cochilos, deixando uma lacuna sobre o efeito dos diferentes tipos de cochilo na qualidade do sono e, de forma abrangente, na qualidade de vida.

Este estudo foi norteado pela seguinte questão: A qualidade do sono, a presença e o tipo dos cochilos estariam associados à qualidade de vida dos idosos institucionalizados?

OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO PRINCIPAL

Analisar as relações entre a qualidade do sono, os cochilos e a qualidade de vida de idosos residentes em instituições de longa permanência, considerando a influência do tempo de institucionalização, estado civil, desempenho cognitivo, desempenho nas atividades de vida diária e sintomas depressivos.

3.2 OBJETIVOS SECUNDÁRIOS

 Caracterizar os idosos residentes em ILPI quanto ao desempenho cognitivo, desempenho de atividades de vida diária, e presença de sintomas depressivos;

 Analisar a qualidade do sono e seus componentes;  Avaliar os domínios de qualidade de vida;

 Identificar os fatores associados à má qualidade do sono;

 Verificar as associações entre os componentes da qualidade de sono e os domínios de qualidade de vida;

 Descrever a prevalência de cochilos, intencionais ou não;

 Identificar associações entre a prevalência do cochilo, intencional ou não, e os domínios de qualidade de vida e os componentes de qualidade do sono;

 Avaliar o tipo de cochilo como variável mediadora entre a presença de sintomas depressivos e o grau de independência nas atividades de vida diária.

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