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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Encontram-se relatos nos ensinamentos de Euclides (300 a.C.) de Alexandria sobre qualidade de vida no trabalho através dos princípios da geometria

que serviram de inspiração para a melhoria do método de trabalho de agricultores à margem do rio Nilo, na África. Também encontramos nos ensinamentos do grego Arquimedes, através da Lei das alavancas1, projeto concebido por meio de roldanas, veio a diminuir o esforço físico de muitos trabalhadores, principalmente os marinheiros em 287 a.C.

No século XX, encontramos em Helton Mayo, pesquisador importante para o estudo sobre a satisfação do indivíduo no trabalho, em conformidade com Rodrigues (1999), Ferreira, Reis e Pereira (1999) e Hampton (1991) sobre o estudo do comportamento humano, da motivação dos trabalhadores para a obtenção das metas organizacionais e da qualidade de vida do trabalhador. Essas pesquisas tiveram como ponto de partida a Western Eletric Company na cidade de Hawthorne, Chigaco, no inicio do século 20, que resultaram no surgimento da escola de Relações Humanas.

Observamos na literatura científica (CARVALHO et al., 2013; ANDRADE, 2012; SUMARIVA, OURIVQUE, 2010; BORTOLOZO e SANTANA, 2011; CHIAVENATTO, 1999) a constatação da relação entre motivação, atividades laborais e qualidade de vida, sendo a primeira fundamental dentro das organizações, pois afeta diretamente o comportamento do trabalhador, bem como a motivação é essencial para melhoria do desempenho e comprometimento das atividades laborais dos colaboradores. É fato de que as instituições que motivam seus colaboradores apresentam maior produtividade e propicia um ambiente mais agradável entre seus funcionários, bem como melhor qualidade de vida dos trabalhadores (ANDRADE, 2012).

A literatura científica argumenta que abordagem da qualidade de vida laboral tem relação com algumas medidas estruturais como motivação, satisfação, bem estar, saúde e trabalho. Estes modelos revelam indicadores da satisfação dos colaboradores com a situação de trabalho bem como abordam também a satisfação que esses trabalhadores tem em suas atividades laborais (CARVALHO et al., 2013).

1 Arquimedes de Siracusa (287 a.C. 212 a.C.) foi além de astrônomo, físico, engenheiro,matemático, inventor.Arquimedes projetou um sistema de roldanas. Baseado num princípio da alavanca para levantar objetos que teriam sido demasiado pesados para serem movidos de outra maneira. Todas as alavancas seguem o mesmo princípio: com uma força P aplicada no braço maior (b) é possível equilibrar uma força maior, R, que esteja na ponta do braço menor (a), já que o produto P x b é igual ao produto R x a

Para Walton (1973) que enfatiza que a humanização de determinada a organização acontece quando ela atribui responsabilidades e autonomia aos seus trabalhadores. Essa atribuição varia conforme o cargo ou posição hierárquica, cujo enfoque estar no desenvolvimento pessoal do colaborador facultando, assim, melhor desempenho e provável ascensão hierárquica dentro do organograma da instituição.

Na prática, segundo Chiavenato (1999), os critérios do modelo de Walton podem ser definidos em oito categorias distintas, mais que se contemplam entre si e favorece a vida do trabalhador. A seguir apresentaremos as características de cada uma detalhados da forma resumida (CARVALHO et al., 2013):

1 - Compensação adequada e justa: baseia-se na remuneração adequada do trabalhador de acordo com suas atividades laborais. Essa categoria avalia e compara, também, as diferentes remunerações entre os vários cargos e funções hierárquica dentro da instituição; compara a remuneração do colaborador com outros profissionais fora da empresa através de pesquisa de mercado.

2 - Condições de trabalho: Essa categoria quantifica as condições do ambiente de trabalho, bem como a jornada laboral dos colaboradores, desde que não tragam malefícios à saúde do colaborador ou proporcione perigo ao mesmo.

3 - Desenvolvimento de capacidades: caracteriza-se especificamente aos conhecimentos que os funcionários possuem para exercer sua função e o que ele adquiriu durante o trabalho, como também a prática e a destreza de seus funcionários.

4 – Crescimento e segurança: Nessa categoria oportuniza condições de crescimento e segurança, com base no organograma da empresa a progressão vertical e horizontal de cargos e funções dentro da instituição. Destaca-se também as oportunidade ofertada pela empresa para crescimento e desenvolvimento tanto profissional, quanto pessoal de seus funcionários.

5 - Integração social: refere-se ao ambiente de trabalho, a relação com seus pares, respeito, ambiente harmônico, apoio mútuo, colaboração, sentido de equipe e ausência de preconceitos e diferenças hierárquicas na instituição.

6 - Constitucionalismo: Diz respeito às leis e normas legais, jurídicas, técnicas e a legislação pertinente ao trabalhador.

7 - O trabalho e espaço total de vida: caracteriza-se pela constatação de equilíbrio entre a vida laboral e a vida pessoal.

8 - Relevância social: Nessa categoria tem como base a responsabilidade social da empresa. Objetiva averiguar o desempenho da empresa na sociedade e sua responsabilidade perante ela, implantação de programas sociais tanto para o trabalhador,quanto a família e sociedade.

As pesquisas do psicólogo Abrahan H. Maslow (1982) merece destaque, pois concebeu a hierarquia das necessidades, representada pela figura geometrica do triângulo, transformado em pirâmide. Essas necessidades são transformadas em níveis composta de cinco necessidades fundamentais, são elas as fisiológicas, segurança, amor, estima e auto-realização. Conforme seu conceito de premência relativa, uma necessidade é substituída pela seguinte mais forte na hierarquia, na medida em que começa a ser satisfeita. O que se denominou de pirâmide da hierarquia de Maslow (MONTANA, CHARNOV, 2010). Maslow separa estas cinco necessidades em patamares mais altos e mais baixos, sendo essas últimas representadas pelas necessidades fisiológicas e de segurança e as de caráter sociais, de autoestima e de auto realização são classificados como nível alto. À medida que cada uma dessas vai sendo atingida ou suprida a próxima se torna a mais importante e precisa ser alcançada (ROBBINS, 2009).

De acordo com França (1997, p. 80).

Qualidade de vida no trabalho é o conjunto das ações de uma empresa que envolvem a implantação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a empresa e as pessoas como um todo, o que chamamos de enfoque biopsicossocial. O posicionamento biopsicossocial representa o fator diferencial para a realização de diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados para a preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho na empresa.

Entendemos que, para que haja qualidade de vida no trabalho, é imperativo olhar a empresa, instituição como um todo, não apenas as questões materiais, mais o ser humano que esta interligado. Esse olhar mais completo do indivíduo com o trabalho será peça fundamental para o conceito do homem biopsicossocial. Mais antes destacamos que na década de 1950, alguns pesquisadores estudaram um modelo macro que agrupasse o trinômio, trabalho, indivíduo e organização, que mais tarde passaria a ser denominada de qualidade de vida no trabalho (QVT), segundo Mendes e Leite (2008). Essa qualidade de vida no trabalho, levando sempre em consideração o trinômio, seria décadas depois a base, segundo

Fernandes (2009) da aplicação concreta da filosofia humanista, que objetivava criar uma nova situação, mais favorável à satisfação dos colaboradores da empresa modificando um ou vários aspectos do meio ambiente de trabalho. Faz parte também dessa nova técnica QVT, dois fatores que se baseiam na preocupação do êxito organizacional e da a preocupação com o bem-estar do trabalhador. Além disso, as resoluções dos problemas de trabalho com a participação do próprio colaborador e a sua participação nas decisões e são importantes para a QVT. O autor destaca ainda que o êxito da qualidade de vida no trabalho fundamenta-se na redução ou eliminação do stress e do sedentarismo, favorecendo um maior equilíbrio entre trabalho e lazer que resultará em uma qualidade de vida melhor.

Com base nos ensinamentos da medicina psicossomática (especialidade da medicina e da psicologia que entende e interpreta o homem em corpo e mente estreitamente interligado) que se deu origem ao conceito do homem biopsicossocial. Esse conceito propõe uma visão holística e integrada do ser humano, existindo ai uma relação das doenças somáticas com sua origem emocional. Reforça ainda que para essa interpretação lograr sucesso é importante considerar sua história de vida analisada sob concomitantes influências biológicas, psicológicas, culturais e sociais (FERNANDES, 1996). Essa fundamentação opõe-se ao modelo cartesiano que não compreende o homem interligado (corpo e mente) e sim divide o ser humano em partes. O homem biopsicossocial em sua inteireza, além das influências internas constante em seu organismo, como a carga genética, doenças congênitas, defeitos estruturais, presença viral e bacteriana, possui sua percepção própria das experiências vivenciadas de mundo e captadas por meio de sentimentos , pensamentos e ações e, por último mais não menos importante seu convívio com os diversos grupos aos quais ele pertence, a família, seus amigos, a sociedade. Ao longo de toda a sua existência o homem biopsicossocial recebe diferentes influências e vale destacar que elas são importantes para a análise do comportamento humano, tais como: afeto, família, amizades, convívio social, trabalho, lazer, religiosidade, hábitos, ambiente, entre outros.

E conclui,

No contexto do trabalho esta abordagem pode ser associada à ética da condição humana. Esta ética busca desde a identificação, eliminação, neutralização ou controle de riscos ocupacionais observáveis no ambiente físico, padrões de relações de trabalho, carga física e mental requerida para cada atividade, implicações politicas e ideológicas, dinâmicas da liderança

empresarial e do poder formal até o significado do trabalho em si, relacionamento e satisfação no trabalho (FERNANDES, 1996, p.96).

A sociedade atual, permeada de regras e condutas, estabelecem novos paradigmas de modo de vida, que influenciam o ser humano como um todo, interligado a ele mesmo e ao ambiente a seu redor. Segundo França (1995) e Albuquerque e França (1997), essa nova sociedade pode trazer como consequências, novos valores e mudanças na qualidade de vida relacionada ao trabalho e principalmente ao trabalhador. Os autores enfatizam que nos estudos de qualidade de vida no trabalho pode ser necessária a contribuição de outras ciências para sua efetivação como constructo de melhoria, tais como:

 Saúde – Para que de fato essa ciência contribua com a melhoria da qualidade de vida no trabalho é necessário que seja estabelecido novas finalidades do que de fato é saúde. Para tanto é imprescindível considerar a preservação e a integridade física, mental e social do ser humano e não apenas uma saúde que atue sobre o controle de doenças. Entendemos que assim, gera maior expectativa de vida.

 Psicologia – É fundamental o entendimento do homem biopsicossocial, para que essa ciência efetive sua participação na melhoria da QVT. Entender as perspectivas de vida de cada individuo em seu trabalho, em seu ambiente social e pessoal, principalmente as influências externas e internas que nortearam seus passos.

 Sociologia – Baseia-se num contexto antropológico e cultural e suas implicações nesse diversos contextos apropriando-se da dimensão simbólica do que é compartilhado e construído socialmente. Importância de seu papel na sociedade atual.

 Ecologia – Caracteriza-se pela importância de desperta no homem, que ele é parte integrante de um ecossistema e o principal responsável pela preservação e destruição da fauna e da flora.

 Ergonomia – Ciência do dia a dia do trabalhador, visando oferecer condições de trabalho favorável ao seu desempenho, sem lhes causar danos físicos, mentais e/ou emocionais. Fundamenta-se em outras ciências como a medicina do trabalho e a psicologia.

 Economia – Desperta a importância para o consumo consciente, sem excessos, de forma equilibrada e responsável, evidenciado que os bens são finitos.

Em pesquisa realizada no sul do Brasil com professores universitários, Silvério et. al., (2010) enfatizaram a importância das interações sociais saudáveis com vizinhos e colegas de trabalho, bem como a existência de variadas situações construídas no processo de trabalho docente, as quais tem consonância com as representações de qualidade de vida.

Silva e De Marchi (1997) enfatizam os benefícios para o individuo e para a empresa da implantação de programas de promoção da saúde e adoção de programas de qualidade de vida, dos quais se destaca a diminuição do estresse, consequentemente maior estabilidade emocional, aumento da motivação, eficiência no trabalho, melhor auto-imagem e melhor relacionamento entre pares (profissional) e pessoal. Os benefícios acima listados evidenciam o trabalhador, no entanto as empresas serão beneficiadas com uma força de trabalho mais saudável, menor número de acidentes, menor custo de saúde assistencial, menor absenteísmo/rotatividade, um melhor ambiente de trabalho, e, por último aumento de produtividade (VASCONCELOS, 2001).

A expressão “qualidade em educação”, de acordo com Davok (2007), admite variadas interpretações. A autora apresenta um mosaico dessas interpretações, das quais, resumidamente apresentamos a seguir. Educação de qualidade vai desde o domínio eficaz dos conteúdos até a obtenção de uma cultura científica e/ou literária, até mesmo a capacidade de servir ao sistema produtivo ou ainda aquela que enaltece o pensamento, a ação, a crítica cujo compromisso com a sociedade fortalece seu papel transformar (SCREMIN, 2009).

Historicamente a educação e a universidade passarão por transformações que durante muito tempo caracterizava as universidades em um padrão de similaridade, com modelos bem identificados, com grande homogeneidade, o que diferenciava eram as variações regionais. A partir da Reforma Protestante, a diversificação começa a tomar forma, e seu aprofundamento e importância ganha maio espaço nos séculos XIX e XX. No Brasil as universidades também sofreram profundas transformações, especialmente quando nos referimos as questões econômicas e culturais. Recentes medidas administrativas abriram a possibilidade

de uma maior diversificação de modelos e de instituições de ensino superior, como centros universitários e faculdades (ROSSATO, 2011).

Ainda no campo da educação, alem das transformações administrativas acima detalhadas, as transformações políticas e econômicas também tiveram e têm profundas influências nas instituições de ensino superior. Destacamos como ponto de partida dessas mudanças, as recentes tendências da globalização e do capitalismo no Brasil e no mundo. Quando falamos de qualidade da educação superior, não podemos deixar de enumerar a primeira Conferência Mundial sobre o Ensino Superior, organizada pela UNESCO no ano 1998. Esse encontro foi a grande referência da qualidade da educação superior, o qual objetivou discutir, numa dimensão mundial, as grandes questões da educação superior. Essa finalidade foi alcançada por meio da publicação de um conjunto de documentos onde são elencadas as grandes tendências da educação superior para o século XXI. O destaque desse documento fica por conta das novas exigências e novos desafios se colocam no horizonte das universidades para os próximos anos. Segundo a UNESCO as novas universidades necessitarão estar abertas às novas exigências de culturais, sociais e políticas, bem como adaptar-se as novas formas de estudos, devendo esses, terem uma maior flexibilidade (ROSSATO, 2011). Em 2009, a UNESCO realiza outro importante a WCHE/UNESCO 2009 – Conferência Mundial de Educação Superior/UNESCO, 2009, e evento e publicações da OECD (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) que destacam a importância do conceito de Garantia de Qualidade (Quality Assurance) da educação superior.

Segundo Morosini (2010) o estado de conhecimento sobre qualidade na educação superior nacional, tem sua influencia baseada nas perspectivas internacionais por conta da globalização. As concepções de qualidade enumeradas pela autora são isomórfica - qualidade de modelo único; da especificidade (particular, especifico) e da equidade – julgamento justo, igualitário. A pesquisadora destaca a posição da UNESCO e de suas ramificações, como a IESALC (ramo da UNESCO para a América Latina e Caribe) e a GUNI (Global University Netword of Innovation), na associação do conceito de qualidade da educação superior para o desenvolvimento sustentável. Atualmente pauta de muitas Instituições superiores. Existem três tipos de qualidade, apesar do predomínio do tipo isomórfico. A autora parte do princípio que a qualidade é um construto interligado às sociedades e,

portanto a seus modelos ou paradigmas, o que influencia em no entendimento dessa qualidade de vida e principalmente o papel da educação superior na construção de um mundo melhor e sustentável.