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A NBR 9648:1986, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), define como esgoto sanitário todo despejo líquido constituído de esgoto doméstico e industrial, água de infiltração e contribuição pluvial parasitária. Essa norma também define o esgoto doméstico, entendido como o despejo líquido resultante do uso da água para higiene e necessidades fisiológicas humanas. Já o esgoto industrial é definido como o despejo líquido resultante dos processos industriais (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1986a) (SANTOS, 2020).

O tratamento dos efluentes domésticos é realizado nas Estações de Tratamento de Esgotos (ETE), que têm como principal objetivo reduzir as cargas poluidoras do esgoto sanitário. Em síntese, em uma ETE são removidos sólidos suspensos, compostos orgânicos biodegradáveis e organismos patogênicos, além de nutrientes, metais pesados e sólidos dissolvidos inorgânicos (SANTOS, 2020).

As características das concentrações máximas permitidas para uma água de qualidade são dispostas nas seguintes resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama):

 Resolução nº. 357, de 17 de março de 2005;

 Resolução nº. 396, de 3 de abril de 2008;

 Resolução nº. 430, de 13 de maio de 2011 (SANTOS, 2020).

Essas resoluções tratam das classificações e diretrizes ambientais que estabelecem as condições e padrões de lançamento de efluentes (SANTOS, 2020).

Von Sperling (2014) elucida as principais características físicas, químicas e biológicas dos efluentes domésticos. Veja no Quadro 1, a seguir.

Quadro 1. Características dos efluentes domésticos

Característica Parâmetro Descrição

Física Temperatura - Ligeiramente superior à da

água de abastecimento.

Física Cor - Esgoto fresco: ligeiramente

cinza. sulfídrico e a outros produtos da decomposição.

Física Turbidez - Causada pela grande

variedade de sólidos suspensos.

- Em esgotos mais frescos ou mais concentrados, há geralmente maior turbidez.

Química Sólidos totais - Em suspensão: fração de

sólidos orgânicos e inorgânicos que são retidos em filtros de papel de 0,45 a 2,0 μm.

- Dissolvidos: fração de sólidos orgânicos e inorgânicos que não são retidos em filtros de papel de 0,45 a 2,0 μm. Os

Química Matéria orgânica - Demanda Bioquímica de

Oxigênio (DBO): fração

Química pH - Indicador das características

ácidas ou básicas do esgoto.

- Uma solução é neutra em pH 7.

- Os processos de oxidação biológica normalmente tendem a reduzir o pH.

Química Nitrogênio total - Inclui nitrogênio orgânico e

amônia (NTK), nitrito e nitrato.

- Produto final da oxidação da amônia.

Química Fósforo - Forma orgânica e inorgânica.

- Combinado à matéria orgânica.

- Ortofosfato e polifosfatos.

Química Alcalinidade - Indicadora da capacidade

tampão do meio (resistência às

abastecimento e dos dejetos humanos.

Química Óleos e graxas - Fração da matéria orgânica

solúvel em hexanos.

Biológica Organismos patogênicos - Os principais organismos encontrados nos esgotos são típicas do intestino do homem e de outros animais (mamíferos).

Um dos principais indicadores para a análise tanto da água como dos esgotos é o oxigênio dissolvido. Com ele, é possível avaliar a concentração de matéria orgânica presente no líquido. Nesse sentido, a análise da DBO ou da DQO contribui para a análise do oxigênio presente em uma amostra de esgoto. A seguir, veja uma definição, em linhas gerais, da DBO e da DQO (MENESES, 2006).

DBO: representa a quantidade de oxigênio necessária à oxidação da matéria orgânica por ação de bactérias aeróbias. Dessa forma, indica a quantidade de oxigênio necessária para as bactérias aeróbias consumirem a matéria orgânica presente em um líquido (água ou esgoto). Logo, também é possível definir a DBO como um índice da concentração de matéria orgânica presente em um volume de água.

DQO: indica a quantidade de oxigênio necessária para a oxidação da matéria orgânica por meio de um agente químico (SANTOS, 2020).

Esses dois parâmetros analisam a quantidade de oxigênio necessária para a oxidação dos compostos orgânicos, ou seja, o oxigênio dissolvido. Porém, apenas a DQO utiliza agente químico. Dessa forma, a DQO avalia a quantidade de oxigênio dissolvido em meio ácido que leva à degradação da matéria orgânica, sendo ela biodegradável ou não. Já a DBO mede apenas a quantidade de oxigênio necessária à oxidação da matéria orgânica biodegradável. Logo, a DQO tende a ser maior do que a DBO. A grande vantagem da DQO é o tempo para a obtenção dos resultados (aproximadamente 2 horas, enquanto a DBO leva cerca de cinco dias) (SANTOS, 2020).

Em esgotos domésticos brutos, a relação DQO/DBO se enquadra na faixa de 1,7 a 2,4. Essa relação diz muito sobre que tipo de oxidação será efetivo na destruição da carga orgânica presente. Se a relação DQO/DBO de dado efluente é menor do que 2,5, esse efluente é facilmente biodegradável. Segundo Jardim e Canela (2004), se a relação for 5,0 < DQO/DBO > 2,5, o efluente vai exigir cuidados na escolha do processo biológico para que se tenha uma remoção desejável de carga orgânica. Já se DQO/DBO > 5, o processo biológico tem pouca chance de sucesso (SANTOS, 2020).

Saiba Mais!

De acordo com Chernicharo (2007), os esgotos sanitários contêm aproximadamente 99,9% de água, e a fração restante inclui sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, bem como microrganismos. Portanto, é devido a essa fração de 0,1% que há necessidade de tratar os esgotos.

Considere 1.000 mg/L dos sólidos totais presentes no esgoto bruto; desse total, 350 mg/L estão em suspensão e 650 mg/L encontram-se dissolvidos. Veja na Figura 1, a seguir (SANTOS, 2020).

Figura 1. Sólidos totais presentes no esgoto bruto

A Deliberação Normativa Conjunta Copam/CERH nº 1, de 5 de maio de 2008 (CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL, 2008), estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes em corpos de água superficiais.

Além disso, estabelece critérios para quatro tipos de classes de águas que recebem esses efluentes. A seguir, veja quais são essas classes (SANTOS, 2020).

Classe 1: águas destinadas ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário (natação, esqui aquático, mergulho, etc.); à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvem rentes ao solo e que são ingeridas cruas sem remoção de película; e à proteção das comunidades aquáticas em terras indígenas.

Classe 2: águas destinadas ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário; à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas, parques, jardins e campos de esporte e lazer com os quais o público possa ter contato direto; à aquicultura, à atividade de pesca; e à pesca amadora.

Classe 3: águas destinadas ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; à recreação de contato secundário; e à dessedentação de animais.

Classe 4: águas destinadas à navegação; à harmonia paisagística; e aos usos menos exigentes.

Para cada uma dessas classes, existem critérios de qualidade de água. Os principais deles, que englobam as quatro classes, são: temperatura, pH, DBO, DQO e sólidos em suspensão total (SANTOS, 2020).

O pH deve estar situado entre 6,0 e 9,0. Por sua vez, a temperatura deve ser inferior a 40 ºC, sendo que a variação de temperatura do corpo receptor não deve exceder 3 ºC no limite da zona de mistura. A DBO deve ser de até 60 mg/L, ou deve haver tratamento com eficiência de redução de DBO em no mínimo 60% e média anual igual ou superior a 70% para sistemas de esgotos sanitários e de percolados de aterros sanitários municipais, além de tratamento com eficiência de redução de DBO em no mínimo 75% e média anual igual ou superior a 85% para os demais sistemas.

Já a DQO deve ser de até 180 mg/L. Por fim, a quantidade de sólidos em suspensão totais deve ser de até 100 mg/L (SANTOS, 2020).

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